-->

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Eu sei, mas não devia - Clarice Lispector


Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia. A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E porque não abre as cortinas logo se acostuma a acender cedo a luz. E a medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão. A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduiche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia. A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto. A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagará mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra. A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias de água potável. A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se a praia está contaminada a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se o trabalho está duro a gente se consola pensando no fim de semana. E se com a pessoa que a gente ama, a noite ou no fim de semana , não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado. A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que gasta de tanto se acostumar, e se perde de si mesma.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Ilusões


Existem muitas pessoas que não conseguem ver além do seu próprio nariz. Olham para a palma da mão a uma distância de um centímetro dos olhos. São auto-centradas demais. Pensam que o único sofrimento existente no universo é o delas próprias. Às vezes, estão tão desorientadas dentro de si mesmas que não vêem o mal que causam a si e aos outros. Sua única preocupação é o próprio ego, a pior coisa que carregamos conosco, nosso maior fardo. Dizem uma coisa envolvendo outras pessoas e depois as decepcionam agindo de forma totalmente avessa ao que foi dito. Ferem e por isso, muitas vezes, sofrem um karma tão imediato que não vêem que elas estão assim por sua única responsabilidade. Não adianta culpar o outro. Agindo dessa maneira, afugentam os amigos e passam a viver reclusas dentro de casa, depois dentro do quarto e depois sobre uma cama. Debaixo das cobertas, tomam refúgio na tela de uma televisão a cabo, seguindo seriados idiotas que as levam a reflexões também idiotas. Ao serem procuradas por amigos, não os vêem mais como amigos. Ao soar da campainha, abrem uma greta da porta de entrada e perguntam o que querem como se agora fossem inimigos, estranhos, gente perigosa. Iniciam uma paranóia, tomam medicamentos para dormir, fugir, achando que, agindo assim, serão menos infelizes. Mas quando acordam, desapontam-se, pois estão no mesmo plano. Não têm coragem para transitar no sofrimento, vivê-lo bem e reconhecê-lo como aliado para sair do lado negro para a claridade. Estas pessoas estão gravemente enfermas de uma doença terrível chamada ignorância. Precisam de extrema ajuda para serem apresentadas à impermanência - melhor companheira da paciência - para perceberem que tudo é ilusão e vai passar como uma nuvem, uma rajada de vento para depois, lentamente, cair no vazio. Passam-se as dores assim como as alegrias também passam. Ambas são idênticas, vindas da mesma essência e possuem o condão de curar, fortalecer, enrijecer e encorajar as pessoas para enfrentar as vicissitudes da vida como sendo suas amigas. A única ajuda que se pode dar a essas pessoas é rezar muito a fim de que possam alcançar alguma fresta de luz nos seus caminhos tortuosos. Aliás, todos os caminhos são tortuosos. Não só os delas.

15 de janeiro de 2004

Ser

Ser como as cinzas que, se já se queimaram, não se queimam mais. Ser como as cinzas que já não temem o fogo.

Curei-me da superficialidade, do hábito de não pensar e não refletir. Não acredito em tudo que me contam. Penso e raciocino com minha própria cabeça. Não acredito em tudo só porque está escrito ou porque me foi dito como verdade.

Mudar de idéias, alterar opiniões não significa fraqueza, mas evolução e crescimento.

Já enfrentei muitas dificuldades e obstáculos nesta minha vida e os compreendi adequadamente. Por isso, descobri a força que precisava para superá-los.

Ainda tenho medo, mas também adquiri coragem suficiente para experimentar o sofrimento, pois ele é o que me deixa mais forte; é dele que extraio as lições das dificuldades; é dele que ganho o destemor.

29 de janeiro de 2001

Estou

...me sentindo triste, cansada, desanimada. Poderia acrescentar deprimida, mas não gosto mais dessa palavra. Ficou muito banal. Está na moda. Todo mundo está ou fica deprimido. É muito normal. Queria que alguém cuidasse de mim e meu mapa astral fala isso o tempo todo. É assim que sou. Disseram que posso mudar, mas não tenho mais forças para lutar. Estou com sono. Estou com vontade de sumir. Estou querendo silêncio. Estou sentindo dores pelo corpo. Minha perna esquerda parece que quer ir embora e toda hora arruma uma reclamação. Nem minha menstruação, coisa abominada por muitas mulheres, não quer saber de mim esse mês. TPM? O que antes eu fazia com facilidade e destreza, já não consigo mais. Acho que a dor é mesmo na alma por que estou sofrendo muito e nem consigo chorar. Estou com o espírito machucado. Estou ficando velha.
Belo Horizonte, 26 de dezembro de 2003.

Com força e com vontade

Passei uma semana de cão. Tive depressão e pânico. Fiquei duas noites sem dormir e três dias sem comer. Mas sabia que era a minha mente aprontando mais uma das suas e sabia mais ainda que era tudo impermanente. Ia passar. Ontem, depois que cheguei do cursinho – foi uma luta assistir à aula - tomei um remédio para me refazer que minha médica receitou. Putz! Dormi cerca de vinte horas seguidas! Mas, quando acordei... ah, cara, foi demais! Sumiu tudo, a disposição não podia ser melhor: arrumei cama, lavei, passei e guardei roupas, varri chão, lavei vasilhas, enfim, arrumei a casa. A de fora e a de dentro. Estou nova em folha. E estou pronta para o que der e vier, com força e com vontade.

Hello, Mr. Nicholson!


Hello, Mister Jack Nicholson!
Hello... miss...
(Yelling) Don’t miss me!!! (Back to the low voice tone and smiling) Sorry. It’s only a pun, a play of words.
(Laughing) I’ll never miss you. And don’t mister me! Call me Jack.
Oh, no! It’s a very common name. By the way, Mister Nicholson: are you son of some guy called Nichol?
Are you trying to imitate me, my dear? You’re being so clever!
I’m not trying to imitate you, Mister Nicholson for I’m not only clever. I’m intelligent too. It’s different.
Well, may I at least know your name?
My name ir Carmen. Not Carmen as you say it in English but Carmen as you say it in Spanish.
Wake up!!!!
This was a dream I had on July, 16th, 2002

O Alvo


Remexendo em coisas guardadas procurando uma que precisava, não achei. Achei isso que escrevi a 4 de junho de 1990:
"Observe o gato: antes de um salto, encolhe-se e prepara os músculos para pular. Olha fixamente para seu objetivo e não se deixa perturbar por nada. Se, por ventura cair, sempre cairá de pé."

Tal negócio. Quem procura o que não perdeu, só encontra o que não guardou e, quando acha, não reconhece.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Escrevi depois que li o livro.


Não adianta ocupar 100% do nosso tempo com coisas para fazer. Não faz sentido ficar o dia inteiro fazendo coisas. Estas coisas que fazemos têm que ter uma prioridade. As que não são importantes, as coisas desnecessárias, inúteis e fúteis, devem ser postergadas ou até mesmo, pela sua absoluta falta de objetivo, devem ser abandonadas, riscadas definitivamente de nossa agenda.

Existem pessoas que, frente a um determinado problema, resolvem que devem preencher a maior parte de seu tempo, trabalhando de manhã, de tarde e de noite. Existem profissionais, principalmente na área de saúde que, depois de trabalhar o dia todo, fazem plantão madrugada afora.

Isso não passa de uma fuga. Não é senão uma forma de se evitar olhar para dentro de si mesmo, de viver o problema e assim resolvê-lo ou, se não houver solução, aprender a conviver com ele.

As prioridades devem ser, antes de tudo, fazer aquilo que vai ajudar o outro em detrimento até mesmo de nós mesmos. Porém, observando através de uma lupa, veremos que, mesmo o que fazemos para ajudar o outro, tem uma conotação egoísta. Basta fazermos uma lista e observá-la com estes olhos. Ajudamos o outro de acordo com o nosso ponto de vista. Não nos colocamos no lugar dele. Muitas vezes até atrapalhamos, porque o outro não quer a nossa ajuda ou nem precisa. Fomos nós que, egoisticamente tomamos esta decisão. Isso é muito comum entre os pais e os filhos ou entre amigos de longa data.

Então, é hora de parar. É hora de olhar para dentro de nós sem fazer absolutamente nada. É hora de contemplar nossa mente, nossos pensamentos e sentimentos e ver o que deve ser mantido e o que deve ser descartado. Esta é a essencial arte de parar.

sábado, 03 de novembro de 2007.

E eu não fiz assim...


Extraído de Trinta Conselhos Vindos do Coração, de Longchenpa

[10] Em tempos de degenerescência, podemos reprovar pessoas grosseiras à nossa volta. Apesar de acharmos que isso será de utilidade para elas, essas atitudes não passam de pensamentos venenosos. Apenas pronuncie palavras pacificadoras — este é o meu conselho do coração.

[11] Com uma boa motivação e cheios de afeição, podemos apontar às pessoas os seus defeitos, apenas desejando seu bem. Ainda assim, apesar de ser verdadeiro o que dizemos, isto vai amargurar os seus corações. Limite-se às palavras amáveis e construtivas, este é o meu conselho vindo do coração.

[12] Com a motivação de preservar a pureza dos ensinamentos do Buddha, podemos entrar em debates, defendendo nosso ponto de vista e contradizendo os pensamentos de outros. No entanto, seguindo este caminho, estaremos induzindo a pensamentos impuros. Mantenha seu silêncio— este é o meu conselho do coração.

[13] Acreditando estar contribuindo para o Dharma, podemos apoiar de uma maneira partidária a linhagem e as visões filosóficas do Lama. No entanto, honrar uns e menosprezar outros fortalece os nossos apegos e raivas. Mantenha-se afastado dessas coisas — este é o meu conselho do coração.

[14] Tendo contemplado profundamente o Dharma, podemos chegar à conclusão de que compreender os erros alheios é a prova de que manifestamos a sabedoria discriminativa. No entanto, pensando desta maneira, apenas acumulamos deméritos. Olhe tudo como verdadeiramente puro — este é o meu conselho do coração.

[15] Fixando-se na vacuidade e ignorando a lei da causa e efeito, podemos pensar que a não-ação é o verdadeiro ensinamento do Buddha, o ponto último do Dharma. No entanto, o abandono das duas acumulações extinguirá a prosperidade da nossa prática. Una esses dois pontos, a ação correta com a compreensão da vacuidade — este é o meu conselho do coração.

O que é a morte?


Você está completamente ciente que a morte está à mão.
Seja um pessoa muito corajosa.
Mantenha uma mente tranqüila e prepare-se para a morte.
A morte não é um erro.
A morte é uma transição e um despertar do sonho da vida.
A reincarnação é um fato.
A alma renasce vez após vez chegando cada vez mais perto da iluminação.
Não importa se você tenha nascido como um monge, um trabalhador, um cientista ou um fazendeiro, tente desenvolver seu espírito interno.
Se você não se render à raiva e á crueldade nesta vida, você subirá mais um degrau da escada na próxima vida.
Assim, tente se tornar como o Buda o máximo que puder.
Viva em paz e encontre o renascimento porque a morte é sempre seguida pela renovação e pela vida.
Os seres humanos encaram quatro sofrimentos principais.
Eles são partes inseparáveis da vida: nascimento, doença, velhice e morte.
É muito importante saber porque você encara esses problemas na sua vida.
Se você reconhece e entende estas coisas elas te ajudarão a manter uma atitude positiva.

Lama Tuvam

domingo, 22 de fevereiro de 2009

What's death?

"You are completely aware that life is near hand.
Be a very courageous person.
Keep a calm mind and prepare for death.
Death isn't a failure.
Death is a transition and an awakening from the dream of life.
Reencarnation is a matter of fact.
The soul is reborn over and over again getting closer to enlightening each time.
Wether you were born a monk, a labour, a scientist or a farmer you must try to develop your inner spirit.
If you do not surrender yourself to anger or to cruelty in this life, you will climb a ladder one more step in the next.
In this way you try to become as much as the Buddha as possible in each life you live.
Leave in peace and find rebirth because death is always followed by renewed and life.
Human beings face four main sufferings.
They are parts impartial of life: birth, sickness, old age and death.
It's very important to know why you face these problems in your life.
If you realize and understand these things, it helps you to maintain a positive attitude."

Lama Tuvam

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Mente e Emoção no Budismo Tibetano


Se hoje estamos aqui agora, é porque somos velhos amigos. Existe uma ligação cármica. Neste momento, vivemos esta experiência. A raiz da experiência que nós vivemos agora é a mente. A mente é que dirige o corpo e a fala. Se nós olharmos para a nossa mente e perguntarmos de que ela é feita, de que substância, de que cor, ninguém saberá dizer. A mente não nasce e a mente não morre. Olhando para este mundo, vemos pessoas doentes e saudáveis, ricas e pobres, emoções desequilibradas. Por que é assim? Ninguém escolheu sofrer, ser pobre. Quando sentimos as emoções da mente costumamos culpar os outros, nossos pais, o ar que está poluído, a alimentação ruim. Mas, a raiz não é isso. Ela está na própria mente. Como a mente cria as expectativas de vida? Alguns pensam que é Deus, mas Deus não pune, não causa mal. Em qualquer tradição, eles devem ter grande sabedoria. Eles têm um grande amor, uma grande compaixão, eles são auxiliadores. Eles não auxiliam somente as pessoas que rezam. Um Deus olha a todos com equanimidade de amor e compaixão. Mas, por que muitas pessoas sofrem se Deus tem tanta compaixão? Faço uma comparação com o sol. Se nós entramos dentro de um buraco, não vamos sentir a luz do sol. Se não recebemos ajuda dos seres iluminados é porque cortamos a relação com eles. Por que, então, temos problemas? A razão é o carma. Na mente surgem pensamentos negativos. Então, as palavras serão negativas, as ações serão negativas e a energia será negativa. Se causarmos sofrimento a outros seres ela volta para nós. É como um pêndulo e o pêndulo é o apego. Nós pensamos de forma errada, temos apegos errados. Pensamos que tudo que temos na vida, objetos, experiências serão para sempre e isto é um erro. Precisamos nos lembrar que tudo isso é impermanente e, se pensarmos assim, quando perdermos algo ou alguém, não sofreremos tanto, a emoção não será tão grande.
Por Sua Eminência Chagdud Tulku Rinpoche - Dia 21 de março de 1996.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

As Cinco Coisas a Serem Lembradas Constantemente


1. Minha natureza é envelhecer. Eu não superei a velhice. Isso é para ser lembrado constantemente.
2. Minha natureza é adoecer. Eu não superei a doença. Isso é para ser lembrado constantemente.
3. Minha natureza é morrer. Eu não superei a morte. Isso é para ser lembrado constantemente.
4. Tudo aquilo que é meu querido e prazeroso mudará e desaparecerá. Isso é para ser lembrado constantemente.
5. Sou o senhor das minhas ações, herdeiro das minhas ações, unido pelas minhas ações, protegido pelas minhas ações. O que quer que eu faça, para o bem ou para o mal, disso eu serei o herdeiro. Isso é para ser lembrado constantemente.


Sidharta Gautama, o Buda (o Desperto, Iluminado, que vem do radical "Budh", despertar) Shakyamuni (o sábio dos Shakyas)

O que é cidadania?

Cidadania é considerar o outro como se tem consideração por quem você mais preza, por quem você mais ama, seja seu filho, sua mãe, pai, esposa, marido, namorado (a)...

Você jogaria lixo na sua sala de estar, no seu quarto, sobre sua cama? Quem não daria a sua vez numa fila, no trânsito para o seu filho mais amado?

Por que você, que está de carro, não dá a sua vez para o pedestre? Afinal ele está na FAIXA DE PEDESTRE. E mesmo que não estivesse, está em desvantagem. Você está atrasado, mas está de carro. Cuidado! Não vá cometer nenhum acidente! É melhor sair mais cedo da próxima vez.

Quanto ao pedestre, se está atrasado, tem que correr, tem que suar! Está em desvantagem. Se fosse seu filho ou alguém que você ama muito, você jogaria o carro nele ou o ignoraria olhando para o outro lado da rua enquanto avança com o carro sobre a faixa do pedestre?

Se você ama alguém, tente pensar no estranho como se fosse este alguém.

Bom dia!

Quer coisa mais automática do que dizer um “Bom dia”? Quando dizemos “bom dia”, não pensamos no que estamos realmente dizendo, verdadeiramente desejando. E é prá qualquer um, prá todo mundo. “Bom dia” pra faxineira que está desde cedo nos corredores do prédio, esfregando o chão, coitada, num trabalho repetitivo: todo dia ela faz tudo sempre igual (♫); “bom dia” pro porteiro que vai encarar um dia inteiro no mais absoluto tédio, sentado dentro de uma guarita olhando pachorrento para quem entra e quem sai e ouvindo lacônicos bons-dias, boas-tardes e boas-noites. No ônibus, bom dia pro motorista e pro trocador; no escritório bom dia, bom dia, bom dia. Prá todo mundo. Mas o que é um bom dia? São duas palavrinhas que querem dizer muita coisa. Só que ninguém pára pra pensar o quê! Um dia sem contrariedades? Impossível! Isto não existe. Mas com paciência para levar os trancos que o dia nos dará, pois, sem dúvida eles virão. Um dia bom, com olhos para ver as boas coisas em vez de achar que as ruins pesam toneladas. Um dia legal sem reclamar da chuva, da seca, do calor, do frio, do sol quente, do vento frio. Um dia para parar de reclamar. Isso é que é um “Bom dia”. Já pensou? Todo mundo sorrindo largo e conscientemente dizendo com a boca cheia: BOM DIA!

Ana Carmen Castelo Branco
Belo Horizonte, 14 de fevereiro de 2003 – sábado.

Thây - Os Quatro Elementos


O Buda falou dos quarto tipos de nutrientes – alimentos, impressões sensoriais, volição e consciência. O primeiro tipo, alimento, é o que você come ou bebe. É responsável por seu bem estar ou mal estar físico e mental. Diferentes comidas contêm diferentes toxinas e certos tipos de comida podem ser inapropriadas para seu corpo. É por isso que temos que olhar na natureza de nosso corpo e da comida que ingerimos para ver se eles são compatíveis. Inspirando e expirando em plena consciência, perguntamos, “Essa comida é compatível com meu corpo e minha consciência?” Seguindo a prescrição da plena consciência você saberá o que consumir.

O primeiro nutriente: alimento

Nos ensinamentos de minha tradição, quando começamos a comer, meditamos nas Cinco Contemplações. As duas primeiras contemplações são: “Este alimento é presente de todo Universo, ele veio da terra, do céu, de numerosos seres vivos e de muito trabalho árduo. Que possamos comê-lo em plena consciência e com gratidão a fim de sermos dignos de recebê-lo.” Para ser digno de receber nossa comida, temos que comer em plena consciência. Se não comermos em plena consciência, não sentiremos gratidão e poderemos estragar nosso corpo e consciência. Se comermos nossa comida com gratidão e plena consciência, somos dignos dela.

A terceira contemplação é ser consciente de nossas formações mentais negativas, especialmente nossa tendência de comer sem moderação. O Buda sempre lembra a seus discípulos para comer moderadamente. A quarta contemplação é ver se a comida que você está ingerindo é saudável e manterá seu corpo saudável. Comida é um tipo de remédio. Deveria ser equilibrada em termos de yin e yang. Olhando profundamente e em plena consciência para sua comida, você saberá que tipos de comida pode comer e o que você deve abster de comer. A quinta contemplação é: “Aceitamos este alimento para que possamos nutrir e fortalecer nossa Sangha e cultivar nosso ideal de servir a todos os seres.”

Alguns de nós têm um sentimento de vazio, nervosismo e mal-estar por dentro. Não sabemos como lidar com esses sentimentos desagradáveis, e por isso há sempre algo na geladeira. Comemos e bebemos para esquecer a dor. Muitos de nós fazem isso. Os monásticos nos avisam para sempre comermos com nossa Sangha, a menos que estejamos doentes. Esta prática ajuda muito. Você pode fazer isso com sua família, que é também sua Sangha. Na hora do jantar, quando todos os membros da família estiverem sentados em volta da mesa, podemos praticar as Cinco Contemplações. Podemos convidar as crianças para dizer em voz alta as Contemplações. Cada um de nós pode olhar profundamente para sua comida para ver se é apropriada. Deste modo podemos criar uma energia coletiva na família que nos ajuda a comer apropriadamente e a não contaminar nossos corpos.

O Buda usava a seguinte imagem para ilustrar o primeiro nutriente. Um casal começou uma viagem através do deserto com seu pequeno filho. No meio do caminho no deserto, eles perceberam que as provisões tinham acabado. Eles sabiam que iam morrer antes de terminarem a travessia. Depois de uma dolorosa discussão, o casal decidiu matar o pequeno menino. Cada dia eles comeram um pouco da carne do pequeno menino enquanto continuavam a caminhar pelo deserto. Finalmente, eles conseguiram sair do deserto vivos. O Buda perguntou aos monges, “Querido amigos, vocês acham que o casal gostou de comer a carne do próprio filho?” Os monges responderam, “não.” Se não comermos apropriadamente, se destruirmos a nossa saúde, se comermos e bebermos de tal modo que seja tirada dos outros seres vivos a chance de viver, então estaremos comendo a carne de nossos pais e filhos em nós e ao nosso redor.

O segundo nutriente: impressões sensoriais

O segundo tipo de nutriente são as impressões sensoriais. Consumimos comida através de nossos olhos, nariz, ouvidos e corpo. Quando dirigimos pela cidade, ouvimos sons, vemos imagens e sentimos odores, todos estes considerados comida. Quando vemos um filme, estamos consumindo certo tipo de comida. Muitos dos itens que consumimos contêm toxinas. Um programa de TV ou novela podem ser altamente tóxicos. As notícias que lemos no jornal podem trazer toxinas para nossa consciência. Nosso medo, stress e desespero são nutridos por tais notícias, informações, visões e sons. Propaganda também promete que se você comprar certo produto será mais feliz. “Felicidade é fácil – apenas compre isso.” As visões e sons usados para capturar nossa atenção e que nos são empurrados contêm toxinas. Temos que nos proteger e guardar nossos seis sentidos contra essas toxinas enquanto dirigimos pela cidade.

O Buda disse que os olhos são um oceano profundo – ele falava como um poeta – com ondas escondidas e monstros marinhos sob a superfície. Se você não é plenamente consciente e não sabe como proteger e guardar as portas dos seus sentidos, afundará no oceano das formas – às vezes várias vezes ao dia. Com o barco da plena consciência, navegamos através do oceano das formas e nos seguraremos firmemente para que nosso barco não afunde. O Buda também disse que o ouvido é um oceano profundo com muitas ondas escondidas e monstros marinhos. Se você não está plenamente consciente, pode afundar no oceano dos sons.

Depressão também é nutrida pelas visões e sons. Não acontece sozinha. É criada e nutrida diariamente pelo nosso modo de consumir. Andando conscientemente através do aeroporto de Paris, vi muitos anúncios de perfumes chamados “Samsara”, “Scorpion” (Escorpião) e “Poison” (Veneno). Eles ousam chamá-los por seus verdadeiros nomes. Sabemos que perfume é um item de consumo e uma isca. Em uma isca há o anzol, e nos somos os peixes inocentes. Os produtos são anunciados, tão habilmente e a isca é tão atrativa que com uma mordida, somos pegos. O que temos para nos defendermos? Nada exceto a nossa plena consciência.

Plena consciência é o único agente que pode guardar a porta dos nossos seis sentidos e nos proteger. Os Cinco Treinamentos de Plena Consciência são insights daqueles que praticam plena consciência. Eles são prescrições concretas para nossa proteção diária. Se vivermos baseados nos Cinco Treinamentos nos protegeremos, e também nossas famílias e nossa sociedade. Os Cinco Treinamentos não foram criados por um deus ou são impostos a nós. Eles são fruto da nossa visão profunda. Estando conscientes do sofrimento causado pelo consumo não consciente, estamos determinados a não consumir itens que tragam toxinas, desarmonia, dor e tristeza para dentro de nós, destruindo nosso bem-estar físico e mental. Os Cinco Treinamentos não são um conjunto de regras, mas guias para prática de plena consciência. Precisamos nos treinar para viver de acordo. Esta é a sabedoria da auto-proteção.

O Buda usou a imagem de uma vaca com doença que destruiu a maioria da sua pele para representar o segundo tipo de nutriente: impressões sensoriais. Se a vaca ficar perto de uma parede velha ou árvore velha, todos os insetos da parede ou árvore sairão e se fixarão no seu corpo e sugarão seu sangue. Sem plena consciência, as impressões sensoriais a que somos expostos, nos destruirão um pouco a cada dia e as toxinas penetrarão no nosso corpo e consciência. Assim como a vaca precisa de uma pele saudável para se proteger, precisamos da prática da plena consciência para guardar nossos seis sentidos.

O terceiro nutriente: volição

O terceiro tipo de nutriente é a volição – nosso desejo mais profundo. Este tipo de energia nos empurra para fazermos as coisas em nossa vida diária. Temos que olhar profundamente para dentro de nós para ver que tipo de energia motiva nossas ações diárias. Estamos constantemente trabalhando duro de forma a ir a algum lugar ou fazer algo. Qual é o objetivo deste tipo de atividade? O terceiro nutriente nos motiva e pode nos trazer muita felicidade ou sofrimento.

Que tipo de energia Madre Teresa tinha em sua vida diária? Ela tinha o desejo de ajudar as pessoas pobres, sem recursos, apoio ou proteção. O desejo de aliviar o sofrimento de muitas pessoas é uma tremenda fonte de energia. Se você tem a mesma intenção – volição – dentro de você, sua vida será preenchida com felicidade. Quando compaixão – o desejo de aliviar o sofrimento dos outros – está dentro de você e te motiva, você pode se relacionar com as pessoas facilmente e ter uma vida simples. O alívio e felicidade que você leva para as pessoas pode ser sua recompensa. Quando você pode fazer uma pessoa sorrir, se sente maravilhoso. Não quer a recompensa, mas ela chega a você de qualquer forma. Há pessoas cheias de ódio que querem viver de forma a punir a pessoa que odeiam. Tal pessoa não pode ser feliz por que sua única intenção e fonte de energia é o ódio. Se estivermos motivados por uma energia negativa, nossa vida será cheia de sofrimento.

Sidarta Gautama tinha uma fonte vital de energia dentro dele. É por isso que durante 45 anos ele trabalhou diligentemente e ajudou muitas pessoas – reis, ministros, mendigos e prostitutas. Ele ajudou a todos porque era motivado pelo desejo de aliviar o sofrimento deles. Todos nós precisamos estar conscientes da natureza da nossa fonte de energia, porque ela determina a qualidade de nossa vida. Se esta energia é somente desejo – por fama, riqueza ou sexo – então ela nos fará sofrer.

O Buda usou a seguinte imagem para ilustrar o terceiro tipo de nutriente. Ele descreveu uma pessoa que quer viver e não quer sofrer, mas que é carregada por dois homens fortes e jogada em uma fogueira. Os dois homens fortes representam a volição, uma energia que nos empurra em direção ao sofrimento e morte. Como meditadores, devemos gastar tempo sentando e olhando para dentro de nós mesmos diariamente para identificar a fonte de energia que nos está empurrando e a direção em que estamos indo. Devemos ver se nossa intenção está nos trazendo sofrimento e desespero. Se for assim, devemos liberá-la e achar outra fonte de energia.

O quarto nutriente: consciência

O quarto tipo de nutriente é a consciência, a base para a manifestação de nosso corpo, nossos estados mentais e nosso ambiente. A consciência representa a soma de todas as ações que foram feitas: pensamentos, falas e atos do corpo. A maturidade da consciência traz a tona a manifestação do nosso corpo atual, nossos estados mentais atuais, e nosso ambiente atual. A consciência aqui é descrita em termos da mente iludida, a mente caracterizada por visões errôneas e aflições que resultam de volições não saudáveis. O sofrimento dos três reinos (desejo, forma e não forma) é a retribuição de nossas ações que determina a natureza e qualidade de nossa consciência. Se a consciência se alimenta de um tipo de comida saudável (Visão Correta, Pensamento Correto, Plena Consciência Correta, Fala Correta, Concentração Correta, etc.) ela experimentará transformação e se tornará mente verdadeira, que servirá como base para manifestação de um corpo saudável, estados mentais felizes e benéficos e um ambiente são e bonito.

O Buda usou a seguinte imagem para ilustrar o quarto nutriente. Um criminoso foi preso. O rei deu a ordem de esfaqueá-lo com cem facadas. O criminoso não morreu. A mesma punição foi repetida ao meio dia e a tarde. Ainda assim ele não morreu. A punição foi repetida no dia seguinte e no próximo.

Permitimos que nossa consciência seja alimentada todo dia com o veneno da ignorância, ganância, fala não benéfica e desejos não saudáveis. Nossa consciência continua a crescer na direção da mente iludida e traz a tona muito sofrimento. Poderíamos mudar o alimento de nossa consciência e ajudá-la a crescer na direção oposta, a direção da mente verdadeira. À luz dos ensinamentos relativos aos Doze Elos da Origem Interdependente, consciência resulta da ignorância e dos impulsos não benéficos.

Sabemos que entendimento e compaixão são fontes de energia que podem trazer às pessoas à nossa volta muita felicidade, de forma que praticamos o seu cultivo. O Buda disse, “se você olhar para dentro do mal-estar e identificar a origem do nutriente que o trouxe até você, já estará no caminho da emancipação.” Você já começou a ser liberado. Precisa apenas de cortar a fonte desses nutrientes para se libertar deles. Poucas semanas depois, você notará a diferença. Nada pode sobreviver sem comida; se você cortar a sua fonte, sua depressão, tristeza ou desespero irão morrer.

Identificando a origem dos nutrientes, você percebe a Segunda Nobre Verdade: samudaya, a criação do mal-estar. Você sabe que o oposto de samudaya – bem-estar – é possível. Sabe que para alcançar bem-estar, precisa cortar a origem dos nutrientes errados e achar os corretos – Visão Correta, Entendimento Correto, Fala Correta, Modo de Vida Correto, Concentração Correta e assim por diante. O Nobre Caminho Óctuplo pode trazer bem-estar e por fim ao mal-estar. O outro caminho é o ignóbil caminho do consumo sem plena consciência. Das Quatro Nobres Verdades, duas falam do mal-estar e da sua criação, enquanto que as outras duas falam do bem-estar e o caminho que leva à restauração. Este é o conteúdo da primeira palestra de Dharma que o recém iluminado Buda ofereceu a cinco monges em Deer Park.

(Do livro “The Path of Emancipation” – Thich Nhat Hanh – traduzido por Leonardo Dobbin)
Comente esse texto em http://sangavirtual.blogspot.com/

Walden


"Como alguém pode estar em boas condições morais enquanto escraviza ou faz sofrer um outro homem?" - Henry David Thoreau

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Como se tratava o estupro em 1833.



SENTENÇA JUDICIAL DE 1833
'Ipsis litteris, ipsis verbis' - TRATA-SE DE LINGUA PORTUGUESA ARCAICA
SENTENÇA JUDICIAL DATADA DE 1833 - PROVÍNCIA DE SERGIPE
PROVÍNCIA DE SERGIPE
O adjunto de promotor público, representando contra o cabra Manoel Duda, porque no dia 11 do mês de Nossa Senhora Sant'Ana quando a mulher do Xico Bento ia para a fonte, já perto dela, o supracitado cabra que estava de em uma moita de mato, sahiu della de supetão e fez proposta a dita mulher, por quem queria para coisa que não se pode trazer a lume, e como ella se recuzasse, o dito cabra abrafolou-se dela, deitou-a no chão, deixando as encomendas della de fora e ao Deus dará. Elle não conseguiu matrimonio porque ella gritou e veio em amparo della Nocreto Correia e Norberto Barbosa, que prenderam o cujo em flagrante. Dizem as leises que duas testemunhas que assistam a qualquer naufrágio do sucesso faz prova. CONSIDERO: QUE o cabra Manoel Duda agrediu a mulher de Xico Bento para conxambrar com ela e fazer chumbregâncias, coisas que só marido della competia conxambrar , porque casados pelo regime da Santa Igreja Cathólica Romana;
QUE o cabra Manoel Duda é um suplicante deboxado que nunca soube respeitar as famílias de suas vizinhas, tanto que quiz também fazer conxambranas com a Quitéria e Clarinha, moças donzellas;
QUE Manoel Duda é um sujeito perigoso e que não tiver uma cousa que atenue a perigança dele, amanhan está metendo medo até nos homens. CONDENO:O cabra Manoel Duda, pelo malifício que fez à mulher do Xico Bento, a ser CAPADO, capadura que deverá ser feita a MACETE. A execução desta peça deverá ser feita na cadeia desta Villa.
Nomeio carrasco o carcereiro.
Cumpra-se e apregue-se editais nos lugares públicos.
Manoel Fernandes dos Santos Juiz de Direito da Vila de Porto da Folha Sergipe, 15 de Outubro de 1833. Fonte: Instituto Histórico de Alagoas

De volta à natalidade - Dráuzio Varella

25/08/2003
Follha de São Paulo
O problema mais grave do país talvez seja o da natalidade entre a população pobre. Tenho consciência plena de que essa afirmação é considerada politicamente incorreta e que me traz problemas com certas alas da intelectualidade todas as vezes que a faço.
Mesmo assim, vou insistir nela.
Nove meses de gravações de uma série sobre gravidez, realizadas para a TV em cinco cidades brasileiras, fortaleceram em mim a convicção de que, se não tomarmos providências imediatas, a violência urbana nas próximas décadas nos fará sentir saudades da paz que ainda desfrutamos em lugares como São Paulo e Rio de Janeiro.
Numa época em que dispomos de métodos eficazes de contracepção, o número de gestações indesejadas nas classes mais desfavorecidas é tão exagerado que cabe perguntar: por que razão os responsáveis pela elaboração de políticas públicas fogem desse assunto como o Diabo da cruz?Além do descaso, só encontro duas explicações para a omissão: ingenuidade ou falta de coragem para contrariar a igreja.A ingenuidade está na interpretação apressada das estatísticas que mostram queda das taxas médias de natalidade. Realmente, mesmo as mulheres mais pobres têm hoje, em média, menos do que a meia dúzia de filhos de 50 anos atrás. Mas, naquela época, 70% da população vivia em zona rural, onde a criança de sete anos já pegava na enxada para ajudar no sustento da família. Hoje, com 80% dos habitantes nas cidades, três ou quatro filhos pequenos por acaso contribuem para melhorar o orçamento doméstico?
Outra distorção ao analisar taxas médias está em não perceber o que acontece com determinadas subpopulações. Por exemplo, segundo o IBGE, as mulheres com formação universitária têm, em média, 1,4 filho (como nos países desenvolvidos), enquanto as analfabetas e as que cursaram apenas um ano escolar têm 5,6 (a mesma taxa da Namíbia).
O que mais choca, no entanto, é que não é preciso formação acadêmica para avaliar a gravidade do problema; a realidade está a menos de um palmo de nossos narizes. Quem de nós não conhece de perto uma mulher com muito mais filhos do que poderia sustentar? Casas sem reboco, mocinhas grávidas e criançada na rua saltam à vista de quem chega à periferia ou entra numa favela de qualquer cidade brasileira.
Não é preciso consultar o IBGE para constatar que existe uma epidemia de gravidez na adolescência no país, basta ir à sala de espera de uma maternidade do SUS. Na favela da Maré, a maior do Rio de Janeiro, elogiei a beleza da menina no colo de uma moça de cabelo cacheado. É minha neta, respondeu. Tinha 31 anos.
Cada bebê assim nascido tira a mãe da escola e empobrece a família dos avós, porque os homens de hoje dificilmente assumem paternidades não desejadas. Quem já pôs os pés numa cadeia sabe o quanto é difícil encontrar um preso que tenha sido criado em companhia de um pai trabalhador; a maioria esmagadora é de filhos de pais desconhecidos, ausentes, mortos em tiroteios ou presidiários como eles.
Os que menos filhos deveriam conceber são justamente os que mais os têm. Por quê? Por sem-vergonhice? Por maldade, só para vê-los sofrer?Esses bebês indesejados pelos pais vêm ao mundo como conseqüência da ignorância e da dificuldade de acesso aos métodos de contracepção. Embora no papel o programa brasileiro de planejamento familiar seja considerado dos mais avançados, na prática ele chega capenga à população de baixa renda. As pílulas distribuídas nos postos de saúde são as mais baratas do mercado (e que mais efeitos colaterais provocam); os anticoncepcionais em adesivos a serem trocados apenas uma vez por semana, ideais para vencer a indisciplina das adolescentes como os estudos demonstram, não estão disponíveis; os dispositivos intra-uterinos (DIU) são virtualmente ausentes; e camisinha à vontade, só no Carnaval. Conseguir vasectomia ou laqueadura de trompas pelo SUS, então, é o verdadeiro parto da montanha. Há que marcar consulta com os médicos, com a assistente social e com a psicóloga. São meses de peregrinação pelos corredores dos hospitais públicos que mães ou pais de cinco filhos são obrigados a fazer, para ouvir perguntas como: e se você se separar de sua mulher e se casar com outra mais jovem? E se seus filhos morrerem e você quiser outros?
Na cartilha que o Ministério da Saúde distribui às gestantes, está garantido acesso à laqueadura a toda mulher com mais de 25 anos que tenha dois ou mais filhos, gratuitamente, pelo SUS. Você sabia, leitora? De que adianta garantir a existência teórica de um direito, se, na prática, ele é desconhecido por todos? Se o acesso a ele é vedado de forma tão cruel pela burocracia oficial, que até hoje são comuns práticas odiosas como as de políticos trocarem laqueaduras por votos em véspera de eleição, e médicos do SUS cobrarem por fora por esses procedimentos?Que ideologia insana ou princípio religioso hipócrita justifica o fato de nossas filhas atravessarem a adolescência sem engravidar, enquanto as filhas dos mais pobres dão à luz aos 15 anos? Termos um ou dois filhos, no máximo, enquanto eles têm o dobro ou o triplo para acomodar em habitações precárias?
A falta de recursos para programas abrangentes de planejamento familiar é desculpa irresponsável! Sai muito mais caro abrir escolas, hospitais, postos de saúde, servir merenda, dar remédios e arranjar espaço físico para esse mundo de crianças.
E, mais tarde, construir uma cadeia atrás da outra para enjaular os malcomportados.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

'Tequinfim!

'Téquinfim! Detesto esse horário de verão e até hoje não descobri prá que serve. Esse papo de economia de energia não cola porque tomo banho de manhã acendendo a luz do banheiro e de noite, com ela apagada. Ou seja. Tanto faz! Tá certo que tenho a tendência familiar de ter dores de cabeça e, às vezes, enxaqueca. Mas hoje, que é o último dia, acordei e tomei uma Neusa! E nem vem que é psicológico, não. É o relógio biológico mesmo. Muda tudo! A hora de acordar, a hora de comer, a hora de trabalhar, a hora de dormir, fora as outras horas. Se o tempo não existe então quê que tão mexendo nele?

A Virtude da Amizade


A amizade pode ser a fonte mais segura de satisfação num mundo instável, melhor que o sexo, o dinheiro ou o poder. Os gregos valorizavam-na acima do romance ou da reputação e davam-lhe um lugar de honra no panteão do amor.
A amizade, philia, amor fraterno, a afeição que existe somente entre iguais é, ao mesmo tempo, o mais modesto e o mais vigoroso dos modos do amor. Calma como um papo ao cair da tarde, é suficientemente forte para sobreviver aos ácidos do tempo. E, ao mesmo passo que nos arrasta para as nossas profundezas emocionais, não exige nenhum frenesi romântico. Nada de uivos à lua, nem explosões de sentimentos contraditórios. Nenhum ciúme. A amizade cria homens e mulheres gentis. Não depende de nada tão frágil quanto um rostinho bonito ou de números exorbitantes numa conta bancária, nem de nada tão irracional quanto a força do sangue e do parentesco. Baseia-se no mais simples dos silogismos do coração: “Eu gosto de você, você gosta de mim; portanto, somos amigos”. E, embora possamos imaginar uma vida satisfatória sem o picante transbordamento do amor sexual ou sem os suaves encargos da família, sabemos, intuitivamente, que, sem um amigo, a melhor das vidas seria tão solitária que não se poderia tolerar.
Nos dias de hoje, entretanto, a amizade é uma espécie em extinção. Não medra numa ecologia social que acentua a velocidade, a preocupação constante entre os homens. Requer vagar. Como o bom uísque, ela precisa ser envelhecida na madeira, macerada com paciência e longamente fermentada. Nada de intimidades instantâneas ou de encontros de uma noite só. A cadência da amizade mede-se em ritmos que tem a extensão de décadas. Uma amizade duradoura leva anos de semeadura, tem de ser tratada em tempo de chuva e de seca e não pode ser arrancada pela raiz. A amizade não quer saber de eficiências nem de agendas. Toda ela consiste em estar juntos ao pé de uma cerveja gelada num bar, ou de lançar iscas na correnteza de um rio. Consiste em estar lá para ouvir e ajudar quando a vida do amigo parece vir abaixo.

Do livro de Sam Keen, ´O homem na sua plenitude”, Editora Cultrix, São Paulo, 1993.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

O Meio de Vida Correto


Sangha Virtual - Estudos Budistas - Tradição do Ven. Thich Nhat Hanh

Do livro “A Essência dos ensinamentos de Buda” – Thich Nhat Hanh

Para praticar o Meio de Vida Correto, é necessário encontrar uma forma de ganhar a vida que não represente uma transgressão aos ideais de amor e compaixão. A forma pela qual você se sustenta pode ser uma expressão do seu ser mais profundo ou pode ser uma fonte de sofrimento para você e para os outros.

Os sutras costumam dizer que o Meio de Vida Correto é ganhar a vida sem precisar transgredir nenhum dos Cinco Treinamentos da Atenção Plena: não vender armas, não vender escravos, não vender carne, álcool, drogas nem venenos, não fazer profecias nem dizer a sorte. Monges e monjas devem tomar cuidado para não fazerem aos leigos pedidos exagerados em relação aos quatro requisitos básicos, que são remédios, alimentos, roupas e hospedagem, e para não possuírem coisas materiais além de suas necessidades imediatas. Ao procurarmos estar conscientes em todos os momentos, tentamos ter uma ocupação que seja benéfica para os seres humanos, os animais, as plantas e a terra, ou pelo menos uma ocupação que prejudique pouco. Vivemos em uma sociedade na qual os empregos costumam ser difíceis de obter, mas se nosso emprego prejudicar a vida de alguma forma, então deveríamos procurar outro. Nossa atividade diária tanto pode alimentar a compreensão e a compaixão quanto pode ajudar a destruí-las.

Temos sempre que ter consciência das conseqüências, imediatas ou remotas, do nosso trabalho. Muitas indústrias modernas são prejudiciais aos seres humanos e à natureza, mesmo aquelas que produzem alimentos, e os pesticidas químicos e fertilizantes destroem o meio ambiente. Por isso, a prática do Meio de Vida Correto é muito difícil para os fazendeiros. Se não usarem produtos químicos, talvez tenham dificuldades para se manterem comercialmente competitivos. Este é apenas um entre muitos exemplos. Ao exercer sua profissão, respeite sempre os Cinco Treinamentos da Atenção Plena. Um trabalho que de alguma forma envolva morte, roubo, má conduta sexual, mentiras ou venda de drogas ou de álcool não é um Meio de Vida Correto. Se sua empresa polui os rios ou o ar, trabalhar neste lugar não é um Meio de Vida Correto. Fabricar armas ou lucrar com as superstições dos outros também não são Meios de Vida Corretos. As pessoas têm superstições, e acreditam que seu destino está escrito nas estrelas ou na palma das mãos. A verdade é que ninguém pode ter certeza absoluta sobre o que acontecerá no futuro, e ao praticar a atenção plena adquirimos o poder de alterar o destino previsto pelos astrólogos. Além disso, as profecias contribuem para que fatos preditos acabem se tornando realidade.

Compor ou executar obras de arte também podem ser um meio de sustento. Um compositor, escritor, pintor, músico, bailarino ou ator têm efeito direto na consciência coletiva. Qualquer obra de arte é, em grande parte, um produto da consciência coletiva. Portanto, o artista deve praticar a atenção plena, para que seu trabalho ajude aqueles que entram em contato com ele a também praticar a atenção plena. Um jovem que queria aprender a desenhar flores de lótus foi a um mestre e pediu para ser seu aprendiz. O mestre o conduziu até um lago de lótus e o convidou a se sentar ali. O jovem viu as flores desabrochando quando o sol estava alto, e observou os botões se fechando quando a noite chegava. Na manhã seguinte, fez a mesma coisa. Quando uma flor de lótus murchou e suas pétalas caíram na água, ele observou o caule, o estame e o restante da flor, e depois passou a observar outra flor. Fez isto durante dez dias. No décimo primeiro dia, o mestre lhe perguntou: "Você está pronto?" e ele respondeu: “Vou tentar." O mestre lhe deu um pincel, e apesar de ter um estilo infantil, o jovem desenhou um lótus absolutamente lindo. Ele havia se tornado o lótus, e o desenho simplesmente brotou de dentro dele. A ingenuidade em matéria de técnica era evidente, mas uma beleza profunda estava retratada ali.

O Meio de Vida Correto não é apenas uma questão de escolha pessoal. Ele representa o nosso carma coletivo. Por exemplo, se eu sou um professor primário, e acho que ensinar as crianças a ter mais amor é compreensão é uma grande profissão, recusaria se alguém me pedisse para parar de ensinar e me transformasse, por exemplo, em um açougueiro. Mas ao meditar na interdependência das coisas, vejo que o açougueiro não é o único responsável pela matança de animais.

Talvez nossa opinião seja que o meio de vida do açougueiro é errado, e o nosso é certo, mas se nós não comêssemos carne ninguém precisaria matar animais. O Meio de Vida Correto, na verdade, é uma questão coletiva. O trabalho de cada pessoa afeta todas as outras. Os filhos do açougueiro podem se beneficiar com o professor, mas os filhos do professor, que comem carne, também são responsáveis pelo sustento do açougueiro. Vamos imaginar que um fazendeiro que se sustenta vendendo carne bovina queira receber os Cinco Treinamentos da Atenção Plena. À luz do primeiro treinamento, ele começa a se perguntar o que tem feito para proteger a vida. Reflete que proporcionou ao seu gado as melhores condições possíveis de bem estar, chegando mesmo a operar seu próprio matadouro, para que não houvesse crueldade desnecessária infligida aos animais na hora de abatê-los. Ele herdou a fazenda do pai, e além disso tem uma família para sustentar. É um dilema. O que fazer? Suas intenções são boas, mas ele herdou dos ancestrais não apenas a fazenda, mas também a força e a energia de seus hábitos. Cada vez que uma vaca é morta, isso deixará uma impressão em sua consciência, que retomará a ele em sonhos, durante a meditação ou no momento da morte. Tomar conta do gado da melhor maneira possível enquanto os animais estão vivos é de fato um Meio de Vida Correto. Ele deseja tratar seus animais com o máximo de bondade, mas também deseja a segurança proporcionada por uma renda estável para ele e para sua família.

Este homem deve continuar a contemplar todas estas questões com profundidade, praticando continuamente a atenção plena em companhia de sua Sangha local. À medida que sua compreensão se aprofunda, ele acabará encontrando uma forma de sair desta situação em que é obrigado a matar para viver.

Tudo o que fazemos é parte de nosso esforço de praticar o Meio de Vida Correto. Trata-se de um assunto muito mais amplo do que apenas o meio pelo qual obtemos nossa renda mensal. Talvez não possamos ter um Meio de Vida cem por cento correto, mas podemos decidir que vamos caminhar na direção da redução do sofrimento e do aumento da compaixão.

Milhões de pessoas, por exemplo, ganham a vida na indústria de armas, ajudando direta ou indiretamente a fabricar armamentos convencionais ou nucleares. Os Estados Unidos, a Rússia, a França, a Inglaterra, a China e a Alemanha são os principais fornecedores de armas do mundo. A seguir estas armas são vendidas para países do Terceiro Mundo, onde o povo não precisa de armas, e sim de comida. Fabricar ou vender armas não é um Meio de Vida Correto, mas a responsabilidade por essa situação pertence a nós todos - políticos, economistas e consumidores. Nunca promovemos um grande debate nacional sobre esta questão, que é tão importante. Precisamos discutir isso, e precisamos também continuar a gerar novos empregos, para que ninguém seja obrigado a viver dos lucros da fabricação de armas. Se você trabalha em uma profissão em que há espaço para a realização de seu ideal de compaixão, fique grato. E por favor, ajude a criar empregos para que outros também possam viver de uma forma correta, simples e sadia. Use toda a sua energia para tentar melhorar a situação geral.

Praticar o Meio de Vida Correto significa praticar a Atenção Plena Correta. Cada vez que o telefone toca, considere-o como a campainha da atenção. Pare tudo o que estiver fazendo, inspire e expire conscientemente, e a seguir pegue o telefone. A sua forma de atender o telefone personificará o Meio de Vida Correto. Precisamos discutir entre nós como praticar a atenção plena em nosso local de trabalho e em todos os outros locais. Será que respiramos ao ouvir o telefone? Sorrimos quando estamos atendendo a outros? Caminhamos com atenção plena quando nos deslocamos de uma reunião para outra? Praticamos a Fala Correta? Fazemos um relaxamento total depois de muitas horas de trabalho pesado? Vivemos de forma a encorajar as pessoas a serem pacíficas e felizes, e a trabalhar para incentivar a paz e a felicidade? Estas perguntas são muito importantes, e são todas de ordem prática. Trabalhar para incentivar este tipo de pensamento e de ação, além da compaixão, significa praticar o Meio de Vida Correto.

Se alguém tem uma profissão que contribui para que seres vivos sofram e oprimam outros, isto acabará contaminando sua consciência, da mesma forma que quando poluímos o ar que depois iremos respirar. Muitas pessoas enriquecem vivendo de forma incorreta. A seguir vão a um templo ou igreja e fazem doações. Estas doações se originam de sentimentos de culpa e medo, e não do desejo de fazer os outros felizes. Quando um templo ou igreja recebe grandes doações, as pessoas que recebem os recursos devem entender isto, e devem também tentar ajudar na transformação do doador, mostrando-lhe como abandonar um Meio de Vida incorreto. Estas pessoas necessitam, mais do que qualquer outra coisa, dos ensinamentos do Buda.

À medida que vamos estudando e praticando o Nobre Caminho óctuplo, começamos a entender que cada etapa do caminho está contida nos outros sete. Vemos também que cada etapa contém dentro de si as Nobres Verdades da existência, origem e cessação do sofrimento.

Ao praticar a Primeira Nobre Verdade, reconhecemos nosso sofrimento e o chamamos pelo seu nome correto - depressão, ansiedade, medo ou insegurança. A seguir olhamos de frente para ele, para descobrir em que se baseia, e isso representa a prática da Segunda Nobre Verdade. Essas duas práticas contêm os primeiros dois elementos do Nobre Caminho Óctuplo, ou seja, a Compreensão Correta e o Pensamento Correto. Todos nós temos uma tendência a fugir do sofrimento, mas quando começamos a praticar o Nobre Caminho Óctuplo criamos coragem para passar a encarar o sofrimento de forma diferente. Utilizamos a Atenção Plena Correta e a Concentração Correta para observar o sofrimento de frente, com coragem. A prática de olhar com profundidade e enxergar com clareza representa a Compreensão Correta, que nunca nos mostrará uma única razão para o sofrimento, mas centenas de camadas de causas e condições: sementes que herdamos de nossos pais, avós e ancestrais; sementes dentro de nós nutridas por amizades ou pela situação econômica e política de nosso país; além de muitas outras causas e condições.

Agora chegamos ao ponto onde queremos fazer alguma coisa para diminuir o nosso sofrimento. Depois de identificar o que alimenta nosso sofrimento, acharemos uma forma de deixar de ingerir esse nutriente, quer se trate de um comestível, de alimento dos sentidos, de nutriente recebido das nossas intenções, ou do alimento de nossa consciência.

Alexitímia


ALEXITÍMIA
Impossibilidade de expor os sentimentos.
A: falta.
Lexi: expressão falada, fala.
Timia: humor, ânimo, sentimentos.

Los que padecen este trastorno poseen emociones pero no son capaces de identificarlas y confunden sus manifestaciones.

La alexitimia es un término de origen griego que significa "sin palabras para las emociones". Este término fue acuñado en 1972 por el psiquiatra estadounidense Peter Sifneos. Lo definimos como un trastorno en el procesamiento emocional caracterizado por la incapacidad para expresar las emociones como consecuencia de que las personas que lo sufren no son capaces de identificar lo que sienten.
Los alexitímicos son personas que poseen emociones, pero no son conscientes de las expresiones fisiológicas de las mismas o no entienden su significado emocional.Responden a los estímulos emocionales como cualquier otra persona: los músculos se tensan, la respiración se agita, palpitaciones, etc. pero, al no ser capaces de identificarlos como síntomas emocionales lo interpretan como síntomas físicos de enfermedad. Tenemos que distinguir a los alexitímicos de aquellas personas que no expresan con facilidad sus emociones porque son personas tímidas y reservadas o como consecuencia de la educación afectiva recibida o de un aprendizaje social. Existen familias donde los sentimientos no suelen expresarse con facilidad, por lo que los niños educados en estas familias, aprenden a hacer lo mismo y no exteriorizan sus sentimientos. También puede suceder que ciertas actitudes determinadas por algunas culturas o razas influyan negativamente en la exteriorización de las emociones. En ambos casos saben perfectamente lo que sienten y son capaces de describirlo, pero prefieren no hacerlo.Hay preguntas cuya respuesta define claramente si una persona puede ser alexitímica como por ejemplo: ¿cómo te sentirías ante un incendio? Mientras que la respuesta habitual sería sentirse con miedo, huiría o paralizado, quien padece este trastorno contestaría "no sé".

2. Tipos de alexitimia

Tenemos que distinguir entre la alexitimia primaria, que lo padecen las personas como un rasgo de su personalidad y alexitimia secundaria que se debe a un problema ajeno a la personalidad de la personas. En la alexitimia primaria, su origen puede deberse a una predisposición genética o a anomalías neurológicas.La alexitimia secundaria, es consecuencia de fuertes situaciones traumáticas que bien pudieron ocurrir en la infancia o por una prolongada situación de intenso estrés. Está relacionada con el trastorno por estrés postraumático, trastorno del pánico, trastornos alimenticios, depresión y adicciones. En este caso, se suprimen las emociones dolorosas como un mecanismo de defensa y de negación ante traumas y conflictos, que reprime los sentimientos.

3. Características de las personas alexitímicas

1. Dificultad para identificar emociones y sentimientos. Los alexitímicos tienen dificultad para diferenciar sus emociones y no saben expresarla porque no saben lo que sienten. Por ejemplo, no saben distinguir con claridad cuando están enfadados o tristes. Esto mismo les sucede con respecto a las emociones ajenas que no logran diferenciarlas en sus voces, gestos o expresiones. 2. No son conscientes de tener este problema. Por lo tanto, no sufren por ello, se sienten normales a pesar de no poder expresar sus emociones. 3. No pueden transmitir lo que sienten. No saben expresar lo que sienten en su ámbito afectivo, familiar o profesional, lo que les causa muchos problemas en sus relaciones sociales, familiares y afectivas, pueden notar que algo no va bien pero no saben qué es lo que sucede. 4. Poseen una personalidad introvertida, son muy calladas y les gusta estar solas. Normalmente, sienten indiferencia por lo que les rodea. 5. Las personas que padecen alexitimia suelen ser aburridas, poco conversadoras, serias y presentan dificultad para crear vínculos afectivos. Su forma de hablar es monótona, no introducen cambios en el tono de voz y apenas gesticulan cuando hablan. Son inexpresivos. 6. Carecen de imaginación y creatividad. 7. Suelen ser muy indecisos cuando tienen que tomar decisiones personales. Como no son capaces de decidir con respecto a sus sentimientos, toman decisiones por razones prácticas, de modo que el resultado no será gratificante.

Dª. Trinidad Aparicio Pérez
Psicóloga clínica. Psicóloga escolar
Centro de Psicología Alarcón. Granada. Última actualización: 12/05/2008 12:53

Além das diferenças - Ralph Antunes





Ralph Antunes é um dos participante da lista budista de discussão Shunya
Data: sábado, 7 de outubro de 2006 - 16:15:53 – 0300

Nada como meditar sobre os fatos do cotidiano. Tenho pensado sobre por que tenho e temos opinião formada sobre tantas coisas. Por que somos Flamengo ou Fluminense, PT ou PSDB, gostamos ou não de pagode, rock, música clássica, mulheres louras e magras ou morenas bem fornidas, ou não gostamos de mulher? As preferências pessoais são livres, e é saudável que existam diferenças. Que seria das louras magras se todos preferissem as morenas? Tenho tentado pensar de forma desapaixonada nessas questões. Torço pelo Fluminense, certamente não porque seja o melhor time, mas porque meu avô era Fluminense, e, por causa do meu avô, meu pai também era Fluminense. Se não fossem, eu poderia ser Flamengo ou Vasco. Se torcer por um time fosse algo racional eu hoje torceria pelo São Paulo, talvez. Ser homo ou heterossexual, gostar de praia ou montanha, ser extrovertido ou calado é tudo questão de carma. A grande maioria de nossas escolhas são irracionais e automáticas, conseqüência de muitas vidas, nossas ou de outros. Em assuntos sem maiores conseqüências, como futebol, pouca diferença faz que escolha fazemos, embora existam muitos que vêem o futebol como assunto seríssimo, a ponto de provocar ódios e mortes. No Maracanã, quando o Fluminense faz um gol, pulo e comemoro, mas não consigo mais deixar de olhar a torcida adversária calada e triste. Inversamente, quando levamos um gol e a torcida adversária comemora, penso que toda aquela gente também merece alegria. Da perspectiva de alguém lá do alto, de Google Earth, como diz minha amiga Karla, talvez fosse mais justo a torcida do Flamengo, mais numerosa, comemorar. Embora continue gostando muito de futebol, torcer nunca mais será o mesmo para mim. Perigoso é quando pensamos que nossas escolhas são as únicas certas e passamos a hostilizar quem é diferente, pensa diferente ou apenas nasceu em um lugar diferente. Somos iguais em um aspecto fundamental, o desejo de sermos felizes, e, mais que isso, o direito à felicidade. O traficante pensa que sua atividade é um atalho para a felicidade. Que a polícia ou quadrilha adversária querem bloquear seu caminho até lá, justificando assassinatos. Quando alguém resiste a entregar seu carro ou sua bolsa a um ladrão, está perigosamente resistindo a entregar o que, para ele, parece ser a passagem para a felicidade. Da mesma forma, a vítima do assalto não quer que alguém leve embora a felicidade armazenada na bolsa ou no valor do carro. O corrupto quer alcançar uma casa na praia, um carrão, belas mulheres, sensação de poder, alguns milhões em um paraíso fiscal, qualquer coisa que abafe a angústia de se sentir miserável e infeliz a cada manhã. O argentino que quer ser campeão mundial, o colega de trabalho que disputa conosco uma promoção, o motorista do outro carro que disputa conosco uma vaga no shopping lotado, o chefe que parece nos exigir mais do que podemos ou queremos dar, todos tentam fugir da infelicidade. Porém, qualquer idéia de sucesso que passe pela dor alheia é ilusória. Se buscássemos matar a sede de felicidade na fonte correta, se víssemos com clareza e caminhássemos na direção correta, caminharíamos todos na mesma direção, cada um a seu modo, e não haveria disputas. Quando alguém ergue a cabeça acima da manada, do ponto de vista do Google Earth ou mais alto ainda, e vê além da ignorância, não há mais separação. Nada que antes dividia faz mais sentido. Só faz sentido o que é bom para o todo. Seria bom se, cada vez que eu encontrasse resistência ou ouvisse uma opinião diferente da minha, eu pensasse nisso. Creio que a bússola está dentro de nós, indicando o Norte. No silêncio podemos ouvir a parte de nós que é anterior à ignorância, que escuta além do ruído, e vê além dos obstáculos.
Abraços a todos.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Presente do Mar - Anne Morrow Lindbergh



Procurando por este livro, talvez para reler, sei lá, para dar uma olhada nas aquarelas, descubro um pedaço de papel digitando.
Não. Não fui eu quem escreveu. Eu não escreveria termos tais como preocupação precípua, sensações incognocíveis, égide do intelecto. Não! Essa verborréia não me pertence.

Deixei o papel de lado e fui ver o que grifei no livro. Sempre leio grifando. Descobri que a moça não era nada boba. Era reprimida. Também, naquela época! Principalmente com quatro filhos e com um marido sempre ausente: Charles Lindbergh, o primeiro piloto a atravessar o Atlântico no "Spirit of Saint Louis" em uma viagem sem escalas.
Ela estava a fim de alguém e não sabia o que fazer com isso. Ninguém sabe no decorrer do livro. Ela não diz.

Sua paixonite foi ninguém mais ninguém menos que Antoine de Saint-Exupéry. Outro piloto!

Bem, vamos aos meus grifos.

"Nunca se sabe que possíveis tesouros essas ondas inconscientes vão lançar à areia branca e suave do consciente. Talvez uma pedra redonda de formato perfeito, ou uma concha rara do fundo do mar; [...]

Mas esses tesouros não devem ser procurados, muito menos desenterrados. Nada de escavar o fundo do mar. Isso frustraria nosso objetivo. O mar não recompensa os que são por demais ansiosos, ávidos ou impacientes. Escavar tesouros mostra não só falta impaciência e avidez, mas também falta de fé. Paciência e fé. Precisamos nos deitar vazios, abertos e sem exigências como a praia - esperando por um presente do mar."

"Há certos caminhos que podemos trilhar. Um deles é a simplicidade da vida."

"Essa não é uma vida de simplicidade, mas de multiplicidade, sobre a qual os sábios nos advertem. Não nos conduz à unificção, mas à fragmentação. Não nos traz o estado de graça, mas destrói a alma."

"A agitação é, sempre foi, e provavelmente será sempre inerente à vida da mulher."

[...] não estamos nos desapegando só das roupas, mas também da vaidade."

[...] descubro que estou me desapegando da hipocrisia dos meus relacionamentos. Que alívio isto me traz! Descobri que a coisa mais desgastante da vida é ser insincera. É por isso que a vida social se torna, ás vezes, cansativa. Estamos usando máscaras. Resolvi tirar a minha."

[...] essa simplicidade pode nos trazer uma extraordinária paz e liberdade espiritual."

[...] podemos nos dar ao luxo de escolher entre simplificar e complicar a vida. [...] Mas quando se descobre por acaso essa simplicidade, como eu a descobri por alguns dias, encontra-se a serenidade que ela traz consigo."

[...] somos todos ilhas num mar comum. [...] Estamos todos sozinhos.
Partir é inevitavelmente doloroso, mesmo que seja por pouco tempo. É como se fosse uma amputação, em que eu tivesse a perna a perna arrancada e não pudesse me locomover.
Afastada da minha própria espécie, pareço estar mais próxima das outras.
Na verdade não é a solitude física que separa as pessoas umas das outras; não é o isolamento físico, mas o isolamento espiritual que as separa. [...] O que nos afasta é o deserto do espírito, as terras áridas do coração, por onde andamos perdidos e alheios. Quando somos estranhos para nós mesmos, nos tornamos estranhos para os outros também.
Acredito que a mulher não se ressinta tanto por se dar em pequenas doses, mas por se dar em vão.
Toda pessoa, especialmente a mulher, deveria ficar sozinha por algum tempo durante o ano, durante a semana, durante o ano.
O que dizer de uma civilização em que ficar a sós é considerado suspeito; em que temos que nos desculpar e inventar explicações por ficarmos sozinhos, ou esconder o fato de que gostamos da solidão, como se isso fosse um vício secreto!
Nada alimenta tanto o núcleo interno quanto o trabalho criativo, por mais simples que seja, como cozinhar e costurar.
Nosso cotidiano não nos prepara para a meditação."

Os 5 Ss do Direito da Vizinhança


Saúde – Segurança – Silêncio – Solidariedade – Sossego

Quem não reclama seus direitos por não querer se indispor com o vizinho é conivente com seu próprio desconforto ou não sabe conversar cuidadosamente sem ferir.
A lei do silêncio já não existe há muito tempo. Caducou. Ela ainda pode valer como um acordo entre cavalheiros, mas, para tanto, há que existir cavalheirismo.
Vigora, atualmente, a propalada Poluição Sonora que, sendo violada, dá o direito ao incomodado de reclamar judicialmente, afora o que estiver escrito no Novo Código Civil que promete reviravoltas na educação da sociedade. Aliás, uma educação que deve começar do berço. Literalmente.
Hoje em dia, parece que os pais não sabem onde está o limite de um choro sentido e sofrido da birra irritante, nociva e manipulativa de uma criança.
Crescendo adolescentes mal educados pegam o carro dos pais para infernizar o trânsito já tão caótico da cidade. Usam o apartamento desalugado, também dos pais, para fazer festinhas e sexo barulhento e constrangedor em prédios estritamente familiares.
Tanto estes adolescentes quanto estas crianças vão, um dia, ser adultos e podem chegar a exercer cargos de governo. Já pensou?
Pessoalmente, acho que o que vale é o bom senso e a inteligência. Vejamos:
1) O padeiro tem que dormir bem, senão, de manhã cedinho, ele não vai fazer um pãozinho legal para você.
2) O guarda noturno mal dormido de dia vai dormir à noite, no serviço, e não nos garantirá nenhuma segurança.
3) Os bebês precisam dormir de dia. Um sono interrompido, inexistente ou de má qualidade interferirá na saúde deles e crescerão irritadiços.
4) O estudante precisa de silêncio para se concentrar nos estudos.
5) O idoso já não é, pela própria idade, uma pessoa cem por cento sadia; precisa descansar.
6) O doente crônico também precisa de repouso. O que se dirá de uma pessoa gripada, com febre, mal estar e dores e que está de cama? Aí, pessoal – tenham dó – já é um caso de compaixão. E se esse doente fosse um parente seu, um filho, um pai, uma mãe ou até você mesmo?
Reflita um pouco antes de achar que você mora sozinho, numa ilha deserta e que pode fazer qualquer barulho que não vai incomodar ninguém!

Os Quatro métodos de Orientação dos Boddhisattwas


Os quatro métodos de orientação dos bodisatvas são doação, fala bondosa, ação benéfica e cooperação.

1- Doação

Esta "doação" significa ausência de cupidez. Não ser cúpido significa não cobiçar. Não cobiçar é o mesmo que não bajular. Mesmo se você domina os quatro continentes, para educar e ensinar corretamente, você tem antes que deixar a cobiça de lado. Dando, por exemplo, seus pertences para pessoas desconhecidas, oferecendo flores de alguma montanha distante a um Buda, ou oferecendo os tesouros de sua vida passada aos seres vivos. Seja material, seja em forma de ensinamentos, cada dádiva tem seu valor e vale a pena ser dada. Mesmo se o presente a ser dado não lhe pertence, nada impede que você faça a doação. Não importa quão insignificante seja a coisa, desde que o esforço de dar seja genuíno.

Quando você sai do caminho para o caminho você chega ao caminho. Chegando ao caminho, o caminho está sempre sendo deixado para o caminho. Quando se deixa bens serem bens, bens tornam-se dádivas. Você se dá para você mesmo, outro se dá a outro. O poder das relações causais de doar vai longe, atingindo devas, seres humanos e sábios iluminados. Quando a doação é feita, formam-se imediatamente tais relações causais. O Buda disse: "Quando um praticante da doação aproxima-se de um grupo, todos notam sua presença".

Você deve saber que a mente de uma pessoa assim comunica de maneira sutil com as outras. Dê, portanto, nem que seja uma pequena frase ou um verso do ensinamento. Isso será boa semente, nesta e em outras vidas. Dê o que você tem de valor, nem que seja uma única moeda ou uma única folha de grama. Isso se tornará uma forte raiz de bondade, nesta e em outras vidas. O ensinamento também é um tesouro e bens materiais também são ensinamentos. Tudo depende do desejo e da intenção de quem dá.

Houve um rei que deu sua barba como medicamento para curar seu criado e uma criança que, tendo oferecido areia ao Buda tornou-se rei numa vida futura. Eles não ansiavam por gratidão, apenas compartilhavam o que tinham. Preparar um barco ou construir uma ponte também é transcendente generosidade de dar.

Quando se aprende a dar, aceitar um corpo ao nascer ou largar o corpo na hora da morte são ambos atos de doação. Todo trabalho produtivo é fundamentalmente uma dádiva. Deixar flores ao sabor do vento e os pássaros ao da estação também são doações meritórias.

Quando o rei Ashoka alimentou centenas de monges com a metade de uma manga, ele deu também um exemplo de grande dádiva para aqueles que recebem. Não se trata apenas de fazer o esforço da doação, é preciso estar atento e tirar proveito de todas as oportunidades de dar. As doações passadas, as virtudes de dar inerentes a você, é o que o levam a ser o que é agora.

O Buda disse: "Se deves praticar o dar a ti mesmo, muito mais podes dar aos teus pais, esposa e filhos". Assim, você deve saber que, até usando alguma coisa para você mesmo, você está doando; dar para pais, esposa e filhos também é dar. Mesmo quando você dá um grão de poeira, rejubile-se com seu ato, pois corretamente você transmite uma das virtudes dos Budas e passa a praticar um dos princípios de um bodisatva.

Difícil é transformar a mente de um ser que sente. Você deve mudar sempre as mentes dos seres sencientes, desde a primeira partícula até o momento em que eles encontram o caminho. No início, é dando que se faz isso. Por isso, dar é o primeiro dos seis paramitas[1]. A mente é imensurável. As coisas dadas são imensuráveis. No entanto, há um momento em que a mente transforma as coisas e há doações nas quais as coisas transformam a mente.

2- Fala bondosa

"Fala bondosa" significa que, ao olhar para os seres vivos, é preciso despertar a mente de amor e bondade e pronunciar palavras de muito carinho. É o oposto do discurso duro e cruel. Socialmente, estamos acostumados a perguntar se alguém vai bem de saúde; no budismo, existe a expressão "cuida-te" e é uma maneira respeitosa de perguntar como vai uma pessoa. Fala bondosa é aquela dirigida aos seres vivos com o mesmo carinho com que se fala aos bebês.

Devemos elogiar quem tem virtudes e ter piedade de quem não as tem. Uma vez iniciada a fala bondosa, pouco a pouco esta virtude aumentará. E assim, outras falas bondosas, inauditas e desconhecidas surgirão. Nesta vida de agora deveríamos, com prazer, falar bondosamente; então, de vida em vida, nunca regrediremos. A conquista dos inimigos e a harmonização dos dirigentes se baseiam na fala bondosa. Quem ouve uma fala bondosa será tocado profundamente e nunca se esquecerá dela.
Você deve saber que a fala bondosa vem da mente bondosa e a mente bondosa da semente da boa vontade. Devemos saber que a fala bondosa não é apenas o elogio a quem merece. Ela tem o poder de mudar o destino das nações.

3- Ação benéfica

Ação benéfica é o emprego de habilidades para o benefício de todos os seres, em todos os níveis. Significa cuidar do futuro próximo e do futuro distante desses seres e auxilia-los habilidosamente. Até uma tartaruga exausta ou um pardal ferido merecem um auxílio, pelo qual nenhuma recompensa é esperada. Aqui, a ação benéfica é a única motivação.

Os tolos pensam que, beneficiando outros, reduzem seus próprios benefícios. Estão enganados. A ação benéfica é um princípio único, beneficiando universalmente todos os envolvidos nela.

Um grande chefe da antiguidade interrompeu seu banho três vezes e três vezes deixou a refeição pelo meio a fim de atender quem vinha lhe pedir auxílio. Sua única intenção era ajudar os outros. Ele não se importava nem mesmo em auxiliar os súditos de outros chefes. Da mesma forma, você deve auxiliar igualmente amigos e inimigos. Beneficiar igualmente a si e aos outros. Com este estado de espírito, até as ervas e as árvores, as águas e os ventos são incessantemente atingidos pela ação benéfica. Você deve esforçar-se de todo coração para socorrer o ignorante.

4- Cooperação

Cooperação significa não-diferenciação. É não-diferenciação de si e não-diferenciação de outros. Por exemplo, no mundo humano, o Buda tomou a forma de um ser humano. Daí sabermos que ele deve fazer o mesmo em outros planos. Quando conhecemos cooperação, o eu e os outros são apenas um. Música, canção e vinho integram os seres humanos, integram os seres celestiais e integram os seres espirituais. O ser humano integra a música, a canção e o vinho. A música, a canção e o vinho integram a música, a canção e o vinho. O ser humano integra o ser humano, o ser celestial integra o ser celestial, o ser espiritual – esta lógica existe. Compreender isso é compreender a cooperação.

Ação cooperativa significa forma apropriada, dignidade, atitude correta. Assim, você leva à identidade com os outros após levar os outros à identidade consigo. No entanto, a relação e/outros varia infinitamente com as circunstâncias.

Um filósofo chinês do século VII dizia: "O oceano não recusa água, por isso ele é imenso. Montanhas não recusam terra, por isso elas podem ser tão altas. O sábio chinês não recusa gente, por isso ele pode ter muitos seguidores".

O fato de o oceano não recusar água é cooperação. Por outro lado, a água também não recusa o oceano. Esta é a razão pela qual a água se junta e vira oceano; pela qual a terra não se acumula e vira montanha. É claro, o oceano é o oceano por não recusar o oceano, por isso ele é imenso. Porque Montanhas não montanhas, há montanhas, e altas. Porque o chefe não recusa gente, sua gente forma uma comunidade. Um soberano não afasta o povo de si. Não afastar o povo não significa deixar de punir ou de recompensar. Embora um chefe de nação recompense e puna, ele não afasta o povo.

Antigamente, quando as pessoas eram simples e honestas, não havia entre povos nem punição, nem recompensa. O conceito de punição e recompensa era diferente. Ainda hoje deve haver gente que procura o caminho sem esperar recompensa. Este conceito está além da capacidade de compreensão da pessoa ignorante. Como o dirigente esclarecido compreende isto, ele não se separa do povo.

As pessoas sempre formam uma nação e buscam um chefe esclarecido, mas, não sabendo exatamente a razão pela qual o sábio dirigente é sábio, elas apenas se felicitam por não serem rejeitadas pelo iluminado chefe. Elas não sabem como rejeitá-lo. Não se dão conta de que são elas que suportam o sábio chefe. Sendo assim, como a lógica da cooperação se aplica tanto aos soberanos iluminados quanto à gente ignorante, cooperação é a tarefa do bodisatva. Gentilmente, pratica a cooperação com seja quem for que encontrares.

Cada um desses quatro métodos de orientação inclui os quatro. Logo, há dezesseis métodos para guiar os seres vivos.

Eihen Dogen Daisho, que transmitiu o Dharma da China ao Japão, escreveu este ensinamento no quinto dia do quinto mês do quarto ano de Ninji (1243).
[1] Perfeições: Generosidade, disciplina, paciência, perseverança (ou diligência), concentração e sabedoria.

Os Três Defeitos, as Seis Máculas e os Cinco Modos Errôneos de Deter os Ensinamentos


"Através dos ensinamentos do Dharma, podemos levar todos os seres ao estado búdico perfeito. Então, quando recebemos esses ensinamentos, é essencial que estejamos livres das falhas habituais que poderiam nos impedir de entendê-los claramente – os três defeitos, as seis máculas e os cinco modos errôneos de reter os ensinamentos. De outro modo, estudar os ensinamentos será apenas uma perda de tempo. Por favor, focalize os ensinamentos com atenção consumada e aplique as seis perfeições".

Patrul Rinpoche – The Heart Treasure of The Enlightened Ones – Shambala Editora – 1992 Páginas de 1 a 6.

Os três defeitos:
1. Não prestar atenção aos ensinamentos;
2. Esquecê-los;
3. Ouvi-los com a mente cheia de pensamentos negativos.

As seis máculas:
4. Ouvir os ensinamentos com orgulho;
5. sem fé;
6. indiferente;
7. distraído;
8. aborrecido;
9. desencorajado.

Os cinco modos errôneos de reter os ensinamentos:
1. Lembrar das palavras, mas não dos significados;
2. Lembrar do significado, mas não das palavras;
3. Lembrar de ambos, mas falhar em reconhecer sua intenção verdadeira;
4. Lembrar de ambos, mas confundir a ordem;
5. Lembrar de um significado errado.

As Seis Paramitas (perfeições):
1. djin-pa (tib.) – dana ( sânsc.) – generosidade;
2. tsul-trin (tib.) – sila (sânsc.) – disciplina moral, isto é, isentar-se de matar, de roubar, ter conduta sexual indevida, mentir, difamar, fala rude, conversar fiado, cobiçar, maldade e visão errônea;
3. dzö-pa (tib.) – shanti (sânsc.) – paciência; paz- ciência;
4. tson-drü (tib.) virya (sânsc.) – perseverança jubilosa;
5. sam-tem (tib.) djana - (sânsc.) (ou samadhi) – concentração;
6. she-rab (tib.) – prajna (sânsc.) – conhecimento transcendental.