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sábado, 30 de outubro de 2010

Meditação. Mais nada.

 Lama Zopa Rinpoche
…if one is thinking, 'Oh, I want my life to be meaningful, to be useful for others; now I want to do something for others.' If you analyze what they really need, what will really solve their problems in day-to-day life, moment to moment, it is Dharma; it is meditation practice, nothing else…

... Se a pessoa está pensando, 'Oh, eu quero que minha vida tenha sentido, para ser útil para os outros, agora eu quero fazer alguma coisa pelos outros. " Se você analisar o que eles realmente precisam, o que realmente vai resolver seus problemas no dia-a-dia, momento a momento, é o Dharma, é praticar a meditação, mais nada ...

Lama Zopa Rinpoche

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Nossos hábitos e reflexos automáticos.

Jigmed Tromge Rinpoche, filho de Chagdud Tulku Rinpoche
The thousands of repetitions of refuge and bodhicitta – this is supposed to leave some imprint. But although our hands may go together nicely and we sing beautifully, where is our mind? Are we engaging fully, or have mudras become automatic reflexes while our hearts remain empty? We should reflect honestly on this, otherwise our dualistic tendencies take over, and ordinary habits kick in to obstruct our practice.

Supõe-se que as milhares de repetições de refúgio e bodhicitta devem deixar alguma marca. Mas, apesar de nossas mãos se juntarem muito bem e cantamos maravilhosamente, onde está nossa mente? Estamos realizando plenamente, ou os mudras são reflexos automáticos, enquanto o coração permanece vazio? Devemos refletir honestamente sobre isso, caso contrário as nossas tendências dualistas assumem e os hábitos comuns nos invadem e obstruem a nossa prática.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Palavras do Coração - Dalai Lama

Ontem à noite estava mesmo precisando de ler algo enriquecedor e sentei-me no meu banquinho em frente da minha prateleira-altar para melhor visualizar meus livros budistas. Peguei o que a Anna, uma amiga portuguesa me mandou de presente e li a matéria abaixo. Sinceramente? Preciso ler isto o tempo todo até que saiba de cor, de coração. Acho que é por isso que o livro tem esse título. Palavras do Coração é da Editorial Presença, Lisboa. http://editorial.presenca.pt O título em inglês é An Open Mind. O português é de Portugal e decidí mantê-lo. Boa leitura, meus queridos.

"Algumas vezes quando encontro alguém e sinto que sou um pouco melhor do que essa pessoa, procuro uma qualidade positiva nela. Pode ser o cabelo bonito. E então, penso: 'Eu estou careca. Assim, nessa perspectiva, essa pessoa é melhor do que eu!' Podemos encontrar sempre uma qualidade noutra pessoa em que somos ultrapassados por ela. Este hábito mental ajuda a contrariar o nosso orgulho ou arrogância.
Algumas vezes sentimo-nos desesperados; ficamos desmoralizados, pensando que somos incapazes de fazer o que quer que seja. Nessa situação devemos lembrar-nos da oportunidade e do potencial que temos para sermos bem sucedidos.
Ao reconhecer que a mente é maleável, podemos mudar as nossas atitudes usando vários processos de pensamento. Se estamos a comportar-nos de forma arrogante, podemos usar o processo de pensamento que acabei de descrever. Se nos sentimos dominados por um sentimento de abandono ou depressão, devemos agarrar cada oportunidade que surge para melhorar a nossa situação. Isto é muito útil.
As emoções humanas são muito poderosas e algumas vezes submergem-nos. Isso pode conduzir a situações desastrosas. Outra prática importante no treino da mente é afastarmos-nos das emoções fortes antes que elas cheguem a nós. Por exemplo, quando sentimos cólera ou ódio, podemos pensar: 'Sim, agora a cólera está a dar-me mais energia, mais capacidade de decisão, reacções mais rápidas.' Mas, quando observamos mais de perto, podemos ver que a energia trazida pelas emoções negativas é essencialmente cega. Vemos que, em vez de provocarem um progresso mental, elas têm muitas repercussões negativas. Duvido mesmo de que a energia induzida pelas emoções negativas seja realmente útil. Em vez disso, devemos analisar a situação com cuidado e depois, com clareza e objectividade, determinar quais as medidas a tomar.
A convicção 'Eu devo fazer alguma coisa' pode dar-nos um poderoso sentido do fim em vista. Isto, acredito, é a base para uma energia mais saudável, mais útil e produtiva. Se alguém nos trata injustamente, devemos primeiro analisar a situação. Se achamos que podemos aguentar a injustiça, se as consequências de fazermos isso não são muito graves, então penso que é melhor aceitar. Mas se com clareza e consciência chegarmos à conclusão de que essa aceitação trará muitas consequências negativas, então temos que reagir adequadamente. Esta conclusão deve basear-se numa clara consciência da situação e não surgir como resultado da raiva. Eu penso que a raiva e o ódio na verdade nos causam mais mal do que a pessoa responsável pelo nosso problema.
Imaginem que o vosso vizinho vos odeia e está sempre a criar-vos problemas. Se perderem a calma e criarem ódio em relação a ele, a vossa digestão será alterada, o vosso sono tranquilo desaparecerá e terão de começar a usar tranquilizantes e comprimidos para dormir. Depois terão de aumentar as doses, o que vos prejudicará fisicamente. O vosso humor será afectado e, como resultado, os vossos velhos amigos hesitarão em vos visitar. Gradualmente ficarão com cabelos brancos e rugas e podem  até criar problemas de saúde mais sérios. Aí o vosso vizinho ficará verdadeiramente contente. Sem vos infligir nenhum mal físico, ele realizou os seus desejos.
Se, apesar das injustiças do vosso vizinho, permanecerem calmos, felizes e pacíficos, a vossa saúde continuará forte, continuarão alegres e mais amigos vos visitarão. A vossa vida terá mais sucesso. Isto fará com que seu vizinho se preocupe. Não digo isto como de fosse uma anedota. Tenho uma certa experiência neste campo. Apesar de algumas circunstancias infelizes por que passei, geralmente permaneço calmo, com um estado de espírito ameno. Eu penso que isto é muito útil. Não devem levar a tolerância e a paciência como sinais de fraqueza. Eu considero-as como sinais de força.
Quando enfrentamos um inimigo, uma pessoa ou um grupo de pessoas que nos desejam mal, podemos vê-los como uma oportunidade para desenvolvermos a paciência e a tolerância. Nós precisamos destas qualidades, elas são-nos muito úteis. E a única ocasião em que temos oportunidade de as desenvolver é quando somos desafiados por um inimigo. Assim, nesta perspectiva, o nossos inimigo é o nosso mestre espiritual, o nosso professor. Independentemente da sua motivação, do nosso ponto de vista, os inimigos são muito benéficos, são uma bênção."

sábado, 23 de outubro de 2010

Obesidade mental.

"Você tem obesidade mental? Hoje malha-se o corpo, mas esquece-se de cuidar da cabeça.
ANA ELIZABETH DINIZ -Especial para O TEMPO
A humanidade está vivendo uma overdose de informações. Somos bombardeados o tempo todo com e-mails, spams, mensagens no celular, noticiários em jornais e televisão e redes sociais. Há quem já não viva mais sem elas. Para algumas pessoas, a vida torna-se desestimulante, morna, se não houver a menor possibilidade de ficar plugado. A consequência dessa loucura moderna é a obesidade mental. "Vivemos uma época única, com uma quantidade de informações como em nenhuma outra da história da humanidade", avalia Frederico Porto, psiquiatra e especialista em nutrologia. Para se ter uma ideia, diz ele, o exemplar do jornal "The New York Times" de domingo tem mai informações do que um homem durante a Idade Média tinha acesso em toda a sua vida. "Esse excesso de informação gera em nós um estado igual a um indivíduo diante de uma mesa muito farta, com todas as guloseimas que ele quer. O excesso nos afasta de nossas escolhas conscientes. Precisamos fazer uma dieta mental, uma dieta de informação", propõe Porto. O psiquiatra norte-americano Edward Hallowell acredita que vivemos um estado de déficit de atenção devido a esse excesso de informação. Segundo ele, quando se é interrompido por uma atividade, gastam-se 64 segundos para se conseguir voltar  à atividade original. Imagine, portanto, se você sofrer uma interrupção a cada cinco minutos e gastar um minuto para voltar à atividade original. Em uma semana, você terá passado cerca de oito horas na transição de uma atividade para outra, ou seja, no limbo. O excesso de estímulos gera o que Hallowell chama de traço de déficit de atenção (TDA), que é diferente da doença transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). "O traço seria induzido pelo meio ambiente enquanto o transtorno tem um componente mais genético e, por isso, deveria ser tratado com medicamentos. O médico fala que o TDA é epidêmico no mundo corporativo e traz como sintomas a distração, impaciência e inquietação interna. As pessoas com esse traço têm dificuldade de se manter organizadas, de determinar prioridades e de gerenciar o tempo", analisa Frederico Porto.
Dentro do cérebro humano, a obesidade mental funciona assim: "Temos de usar a parte frontal de nosso cérebro, onde estão as chamadas funções executivas, aquelas que nos fazem humanos, como a capacidade de antecipar, planejar, priorizar. Sobrecarregados de informações, os lobos frontais chegam ao seu limite e enviam mensagens de medo e ansiedade para as regiões mais primitivas do cérebro que, ao serem ativadas, reduzem a atividade das regiões frontais, exatamente aquelas que teriam condições de resolver os problemas apresentados", explica o psiquiatra.Essas gordurinhas mentais são privilégio da sociedade consumista, na opinião do filósofo Alfeu Trancoso, professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). "A  sociedade consumista é a sociedade do excesso, daí essa obesidade mental que se estende a outras obesidades tão comuns em nosso atribulado tempo. E são essas deformações mentais, corporais e culturais que impedem o desenvolvimento espiritual, o único capaz de formular as grandes questões fundamentais da existência: de onde vim, para onde vou e qual o sentido da minha  vida?". "Quanto mais conhecemos o mundo mais conhecemos a nós mesmos", lembra Alfeu. "Isso inclusive estava escrito no dintel do templo principal de Delfos na Grécia Antiga: "Conhece-te a ti mesmo". Mas, logo abaixo, havia outra frase complementando de modo exemplar a primeira: "Nada de excessos". Hoje, diante da quantidade de informações que recebemos, nosso cérebro não dá conta de processar tantos dados, de transformar informação em conhecimento. A verdadeira sabedoria está na boa e salutar regra do meio termo", propõe o filósofo.
O tamanho da "gordura"
2 bilhões de páginas estão disponíveis na internet.
100 emissoras no ar,em diversas línguas, com especialidades diferentes.
6% de 17 mil internautas têm comportamento compulsivo diante da internet.
1,5 bilhão de gigabytes
é o volume anual gerado em impressos e filme.
250 megabytes de informação há para cada homem, mulher e criança do planeta.
10 computadores pessoais seriam necessários para cada pessoa guardar dados."

Jornal Pampulha - BH, 23 a 29 de outubro de 2010.

Despertar dói!

Entender o poder do caminho nos fornece a inspiração que nos mantém indo em frente, explorando a dor e proporcionando o entendimento do que nos prende. Não demora muito para descobrir o poder, nem para sentir a dor. Acordar dói. E se nós não entendemos o porquê, vamos correr a partir da dor e abandonar o caminho. Existem inúmeras pessoas que se tornaram desistentes espirituais, ou que estão perdidos em desvios, porque eles não compreenderam as dificuldades.
Quando seu braço adormece, ele espeta e queima, quando volta à vida. Dedos congelados picam quando descongelam, nós pulamos para acordar quando o despertador toca. Mas as instâncias físicas da anestesia são leves em comparação com a anestesia, nascida da ignorância, e assim é o grau de incômodo ao acordar. Quanto mais tempo alguma coisa esteve adormecida, mais doloroso é para despertá-la. Se os seus dedos são meramente frios, é fácil aquecê-los. Mas se seus dedos estão congelados, dói pra caramba quando descongelar. Segundo a tradição, a menos que já seja um buda, um "aquele que despertou", alguém roncou por um tempo sem princípio, e pode realmente se machucar antes de acordar completamente. Mingyur Rinpoche escreve:
"Eu gostaria de dizer que tudo melhorou quando eu me senti seguramente estabelecido entre os outros participantes no retiro de três anos. Pelo contrário, no entanto, o meu primeiro ano em retiro foi uma das piores fases da minha vida. Todos os sintomas de ansiedade que eu já tinha experimentado - a tensão física, sensação de aperto na garganta, tontura, e ondas de pânico - atacaram com força total em termos ocidentais, eu estava tendo um colapso nervoso. Em retrospecto, eu posso dizer que o que eu realmente estava passando era o que eu gosto de chamar de "avanço nervoso."

Tradução de "The Power and the Pain: Transforming Spiritual Hardship into Joy" de Dr. Andrew Holecek, publicado pela Snow Lion Publications

sábado, 16 de outubro de 2010

A intenção é ilimitada.

Shantideva's Boddhicharyavatara
1.21
Se com generosidade e bondade
Alguém alimenta o desejo de apenas aliviar
A dor de cabeça de outros seres,
Tal mérito não conhece limites.

1.22
O que dizer, então, do desejo
De afastar o infindável penar
De todos os seres vivos,
Dotando-os de infinitas virtudes?

Naturalmente quando nosso desejo se torna imensurável, isso pode criar um dilema. Os candidatos a bodhisattva que seguem os ensinamentos de maneira muito literal dizem: "Não há como eliminar as dores de cabeça de todos os seres! O que faremos? Enviar para cada um uma aspirina?"
Por outro lado, existe a resposta de Bernard Glassman Roshi que trabalhou com os sem-teto em Yonkers, Nova York. Ele disse que sabia que não havia uma maneira de acabar com os sem-tetos, embora ele devotasse a sua vida a esta tentativa. Esta é a aspiração de um bodhisattva. Não se preocupe com os resultados, simplesmente abra o seu coração de maneira inconcebivelmente grande, aquela maneira ilimitada que beneficia a todos que você encontrar. Não se preocupe se é ou não exiquível. A intenção é vasta: que a dor física de todos seja aliviada e, melhor ainda, que todos atinjam a iluminação!

"Sem Tempo a Perder - Um Guia Útil para O Caminho do Bodhisatva" - Pema Chödrön / Páginas 20 e 21.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Lidando com as emoções negativas.

"Seguindo os ensinamentos Vajrayana, nós não desistimos ou rejeitamos qualquer coisa, mas sim fazemos uso de tudo o que está lá. Olhamos para as nossas emoções negativas e as aceitamos pelo que são. Então, relaxem neste estado de aceitação. Usando a emoção em si, ela é transformada ou transmutada em positiva, em sua própria face. Quando, por exemplo, a raiva ou o desejo forte surge, um praticante Vajrayana não tem medo deles. Ao contrário, ele ou ela irão seguir o conselho com as seguintes frases: Tenha a coragem de expor-se às suas emoções. Não as rejeitem ou as suprimam, mas não as siga também. Apenas olhem para a sua emoção diretamente nos olhos e tentem relaxar para dentro da emoção em si mesma. Não há confronto envolvidos. Vocês não fazem nada. Permanecendo desapegados, vocês não são levados pela emoção nem a rejeitam como algo negativo. Depois, vocês podem olhar para suas emoções quase casualmente e isto pode até ser bastante divertido. Quando o nosso hábito usual de ampliar os nossos sentimentos e nosso fascínio resultante dessas emoções forem embora, não haverá negatividade e sem combustível. Podemos relaxar dentro deles. O que estamos tentando fazer, portanto, é hábil e sutilmente lidar com nossas emoções. Isso é basicamente equivalente à capacidade de exercer disciplina."

de "Passos Ousados: Atravessando o Caminho do Buda", Ringu Tulku, editado e traduzido por Rosemarie Fuchs, publicado pela Snow Lion Publications - somente em inglês.

Dzongsar Khyentse Rinpoche video


An Evening Of Appreciation And Awareness: Buddhist Literary Heritage Project from BLHP on Vimeo.
Dzongsar Khyentse Rinpoche's speech from "An Evening of Appreciation & Awareness: Buddhist Literary Heritage Project", held in the evening of 20 March 2010 at Tai Pei Buddhist Center, Singapore.

Filhos


Onde estava seu filho ou sua filha antes de você engravidar? Quem era ele ou ela? Que sentimento você nutria por ele ou ela? Por que exatamente ele ou ela foi escolhido para ser seu filho ou sua filha?

Pois bem. Você estava ali, cuidando de sua própria vida quando alguém bateu à sua porta e perguntou:
- Pode me dar um copo d'água?
Você, apiedada, trouxe-lhe um copo dágua. Ele, sem ao menos agradecer, disse que estava com fome e perguntou se você podia alimentá-lo. Sabe-se lá o que deu na sua cabeça e você lhe deu alimento. Então, sem ao menos agradecer, disse que estava muito cansado, com muito sono e perguntou se podia dormir um pouco na sua cama. Sabe-se lá o que deu na sua cabeça e você, não só deixou que este estranho entrasse em sua casa, como lhe deu cama como também travesseiro e coberta. E este alguém foi ficando por lá, na sua casa e não foi mais embora. Por fim, já abria a geladeira, tirava e comia o que queria, passeava por todos os cômodos da casa, usava o seu computador, seu celular, ligava a sua televisão, usava as suas coisas, pessoais, deitava no seu sofá, já tinha a chave da sua casa e agora, entra e sai à hora que bem entende e faz o que dá na cabeça dele. Mas você nutre por ele um amor imenso, mesmo que ele não esteja nem aí prá você, que lhe dê respostas bruscas, não lhe agradeça por nada que você tenha feito e nem te dê satisfação da vida dele. Um dia ele se casa e vai embora...

Este é o seu filho ou a sua filha. E esta é uma estória contada por Jigme Rinpoche por ocasião do Dzogchen em janeiro de 2009.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

O Casamento e as Seis Perfeições

Os votos de casamento não são apenas parte de uma cerimônia externa. Mais importante do que isso, eles representam um compromisso interno, mental. Para entender como manter esse compromisso através de suas vidas, vocês precisam entender a estrutura maior destes votos.

Entre os muitos tipos de seres no universo, como seres humanos nós atingimos uma situação muito rara e afortunada, uma base de trabalho única para o desenvolvimento espiritual. Entretanto, se não reconhecermos a preciosidade de nossa vida humana, podemos desperdiçá-la — como alguém que encontra um pedaço de ouro mas, não reconhecendo o seu valor, faz mau uso dele, talvez como um encosto de porta. Somos agora como o minério de ouro não refinado, não reconhecendo que nossa natureza verdadeira é como o ouro. Usando bem esta oportunidade, podemos refinar o minério para revelar a pureza de nossa natureza inerente, que é como o ouro.

Em seu casamento, um pode apoiar o caminho espiritual do outro e pode ajudar a garantir que o potencial de suas vidas humanas não seja desperdiçada. Isto é muito importante pois a oportunidade que vocês têm como seres humanos é muito breve. É natural que aspirem a estar juntos por um longo tempo, mas vocês não podem saber o quanto suas vidas ou o seu relacionamento durará. Tudo em nossa experiência é impermanente. Uma vez, este universo que habitamos não estava aqui, e um dia ele novamente será reduzido a nada. Uma vez, nosso próprio corpo físico não estava aqui, e um dia ele novamente será perdido. Das muitas pessoas que viveram nesta terra há cem anos atrás, quantas estão aqui agora? E destas, quantas estarão aqui daqui a cem anos? Se entenderem a impermanência, vocês entenderão a importância de usar bem o seu tempo juntos.

Desde o início do seu caminho, vocês precisam pensar claramente sobre a direção que querem tomar. O que é mais importante não é tanto estar juntos, mas sim como vocês passarão o seu tempo juntos. Casamento significa fazer um compromisso de agora em diante, para o resto de suas vidas, de viver juntos em harmonia, com alegria, amor e afeição, e com a intenção de beneficiar um ao outro o quanto for possível. Isto significa a aspiração, dia a dia, de colocar a felicidade do seu cônjuge antes da sua própria felicidade. Tanto no nível mundano quanto no espiritual, um deve decidir encontrar as necessidades do outro e contribuir para o crescimento espiritual do outro. O amor genuíno e abnegado que um expressa pelo outro criará uma virtude que os conduzirá à felicidade nesta vida e que plantará as sementes para a felicidade futura.

Cada um de vocês escolheu o outro entre todas as flores neste jardim terreno. Então é importante que vocês abordem o casamento com um senso de altruísmo, de beneficiar um ao outro o quanto for possível, na alegria e na tristeza, na felicidade e na infelicidade. Se o homem entra no relacionamento pensando, "Esta mulher é agora a minha esposa, está pronta para ela me fornecer o que preciso, para me fazer feliz", ou se a mulher pensa, "Este homem é agora o meu marido, ele me deve felicidade, ele deve me satisfazer" — essas expectativas apenas criarão problemas. Ao invés de um demandar isto para o outro e de esperar algo para si mesmo, façam disto o seu compromisso de um para o outro, assumindo a responsabilidade de garantir a felicidade do seu cônjuge. Sempre mantenham em mente sobre como o que vocês dizem ou fazem pode afetar o outro. Aprendam o que é condutivo para a felicidade e paz mental do outro.

Se ambos tiverem uma preocupação com a felicidade do outro, vocês nunca poderão ser separados. Seu elo não poderá ser quebrado.

Se, por outro lado, vocês colocarem a responsabilidade de sua felicidade sobre o seu cônjuge, se vocês sentirem que ele ou ela deve algo a você, vocês verão apenas as suas faltas. Se a sua motivação fundamental for esperar que o outro o faça feliz, o seu casamento não será tão fácil e a sua felicidade não durará muito. Abordar o casamento com um ponto de vista auto-centrado automaticamente estabelece uma circunstância que vai atravessar o bem maior que é possível. Mas se a sua motivação for a de levar o outro à felicidade, ambos serão felizes a curto e longo prazo e trarão felicidade àqueles ao redor de vocês. Este é o significado do sucesso tanto no sentido espiritual quanto no mundano.

A felicidade que experienciamos na vida depende muito da nossa motivação. E nossa motivação é tão importante no casamento quanto em qualquer outro empreendimento humano. Apesar de uma motivação altruísta não ser a mesma coisa que bodhichitta, que tem um escopo muito mais vasto — o benefício temporário e último para todos os seres —, ela é uma maneira de praticar o não-eu de um modo bem direto, com a pessoa bem ao seu lado. E vocês podem usar o relacionamento com seu cônjuge como um modelo para os seu relacionamento com todos.

A fim de manter o seu compromisso, vocês devem estar preparados para enfrentar os obstáculos com firmeza. Apesar de aspirarmos o divino, a fricção pode ocorrer. Nenhum de nós é perfeito. Em nossos relacionamentos, muitas vezes experienciamos emoções negativas, trivialidades, pensamentos auto-centrados e todos os tipos de estados físicos e mentais, alguns agradáveis, outros desagradáveis. Estas coisas colocarão nosso compromisso à prova — ele deve ser capaz de resistir ao que quer que venha. O mais importante não é o que surge, mas como vocês lidam com o que surge, como vocês trabalham para garantir que o seu casamento durará por toda a vida.

Façam o voto de ajudar um ao outro, de um ser amigo do outro, sob todas as circunstâncias. Quando as dificuldades ocorrerem, não importa o quão grandes ou pequenas, não façam disto uma grande coisa. Lembrem-se que o seu cônjuge é um ser humano, não um deus. Focalizem sobre as boas qualidades do outro e não se prendam sobre as dificuldades. Quando um problema surgir, lembrem-se de que todos nós somos humanos e o coloquem de lado. Durante tempos difíceis, lembrem-se que a sua união é por toda a vida; vocês devem o melhor a ela. Não tenham tempo para discutir. Acima de tudo, achar que vocês estão certos e que os outros estão errados é uma das delusões que perpetuam o sofrimento. Ao invés disso, sejam pacientes e se lembrem que a única coisa de benefício na hora da morte será a virtude criada nesta vida. Se vocês mantiverem esta perspectiva no dia a dia, as discordâncias serão resolvidas e vocês desenvolverão paciência, amor, compaixão e aceitação, qualidades que fortalecerão o seu relacionamento.

Sua motivação altruísta no casamento corporifica a primeira das seis perfeições — a generosidade, a prática que é um dos modos mais excelentes de acumular mérito e de aumentar as qualidades virtuosas. Através do amor e do compromisso que vocês trazem um ao outro nesta ocasião e no futuro, quando um mantém seu amor para o outro em seu coração, quando um fala do seu amor para o outro, quando vocês trocam alianças como símbolo físico do seu elo, vocês estão expressando a qualidade da generosidade. Seu compromisso, de agora em diante, de usar seu corpo, fala e mente para fazer um ao outro feliz é mais uma expressão dessa generosidade.

Vocês também trazem ao casamento a segunda perfeição, a disciplina moral. Isto significa viver juntos de acordo com as disciplinas superiores, eliminando hábitos que não estão servindo ao relacionamento, eliminando o comportamento é insignificante, egoísta e desarmonioso, e acentuando as qualidades positivas e abnegadas como a bondade amorosa, que traz um benefício ainda maior. Seu caminho espiritual é de virtude, trazendo alegria e felicidade aos outros e refreando as ações descuidadas que possam causar dano ou infelicidade. Como praticantes, vocês devem usar seu corpo, fala e mente para guardarem a si mesmos, para guardar o seu relacionamento contra quaisquer obstáculos potenciais ou negatividade, e para se esforçarem em beneficiar habilmente um ao outro. Se o seu foco estiver sobre as necessidades do seu cônjuge, vocês já encontraram um meio muito poderoso de evitar problemas.

Não há dúvida de que a vida casada é um desafio. Não se mantenham sobre uma idéia fixa sobre como o relacionamento deva funcionar, e ao invés disso aprendam como não perturbar o outro, como atingir alegria e harmonia maiores e maiores. Quando surgirem coisas que vocês não gostam, trabalhem a aversão em suas próprias mentes no contexto de sua prática do Dharma, ao invés de tentarem fazer o seu cônjuge mudar.

Isto também é muito importante se vocês decidirem ter filhos. Se um tratar o outro com respeito e amor, e tentar resolver pacificamente quaisquer problemas que surjam, seus filhos terão um papel modelo para o desenvolvimento de seus próprios relacionamentos positivos e com sucesso.

A terceira perfeição, a paciência, é uma das qualidades mais importantes que vocês podem trazer ao seu casamento. Façam o compromisso de sempre manter harmonia e de lembrar que, independente das mudanças externas ou emocionais pelas quais o seu cônjuge esteja passando, ele ou ela não é um buddha. Seu cônjuge é um ser humano lidando com seus próprios problemas. Tentem se relacionar com isso com compaixão e paciência, focalizando o elo entre vocês ao invés de focalizar os problemas. Tentem não se tornar perturbados pelas dificuldades que inevitavelmente surgem quando as pessoas vivem juntas. Pelo menos não se fixem sobre elas; ao invés disso, tentem imediatamente resolvê-los.

Sua prática da paciência trará grande benefício a curto e a longo prazo no contexto de seu casamento. Quando vocês praticam a virtude, especialmente uma virtude tão poderosa quanto a paciência, ela infalivelmente resultará em grande felicidade no futuro, o que pode ser chamado a experiência do céu ou da terra pura. Através da raiva — cortando os sentimentos do seu parceiro —, através do desejo egoísta — não pensando sobre o que poderia fazer o seu cônjuge feliz, mas apenas sobre os seus próprios desejos auto-centrados — e através da ignorância — falhando em entender qual comportamento é verdadeiramente prejudicial e qual é verdadeiramente útil —, vocês criarão sofrimento a curto e a longo prazo. O céu e o inferno não são lugares que existem fora de vocês. Ao invés disso, eles são os reflexos da positividade e da negatividade de suas própria mentes.

Manter o compromisso que um faz para o outro, como marido e esposa, requer diligência, a quarta perfeição. Vocês precisam de um esforço incansável para permanecerem verdadeiros em sua conexão, trabalhando tanto no contexto mundano quanto no contexto de sua prática espiritual para um ajudar ao outro a encontrar suas metas e para trazer benefício a vocês mesmos e a os outros. Todos os tipos de companhia no caminho são cruciais para o nosso desenvolvimento como praticantes espirituais, e as qualidades de nossos amigos podem nos influenciar grandemente. É por isso que é importante que vocês usem o seu casamento como uma oportunidade para ajudar a prática de Dharma do outro, nunca permitindo que as ações, palavras ou atitudes de cada um tornem-se obstáculos para a sua prática espiritual. Isto requer prática espiritual diligente, tentando não apenas uma ou duas vezes, mas durante toda a sua vida juntos, para realizar estas metas espirituais.

Sempre estar atentos ao seu elo, estimando-o em seus corações e nunca deixando-o ir, envolve a quinta perfeição, a estabilidade meditativa. Isto significa focalizar unidirecionadamente sobre o que traz felicidade duradoura para vocês mesmos e para os outros. A beleza física não durará para sempre. Não focalizem sobre ela. Lembrem-se que tudo neste mundo está sujeito à decadência. Tudo que é composto, que vem junto, eventualmente perece. Mas na hora em que vocês estiverem juntos, vocês podem trazer felicidade um ao outro, podem criar virtude e podem ajudar a sua prática espiritual e a do seu cônjuge. Apesar de esta vida poder ser muito curta, a conexão que vocês estabelecem através do seu envolvimento positivo e virtuoso juntos e através de sua prática espiritual continuará a beneficiar ambos em vidas futuras.

Finalmente, vocês trazem ao casamento a sexta perfeição, a da sabedoria ou conhecimento transcendente. Independente das alegrias e tristezas que vocês experienciem como indivíduos ou como um casal, lembrem-se que estes eventos passageiros são como ecos, ilusões que vêm e vão, que nada do que vocês experienciam tem qualquer existência inerente. A experiência de nossa inteira é como um sonho cheio de alegria e tristeza, felicidade e infelicidade. Assim como quando despertamos de manhã e vemos que nada realmente aconteceu, podemos olhar para trás, para todas as experiências de nossas vidas, e ver que elas eram ilusórias. Os muitos momentos de felicidade ou tristeza — todos se foram agora.

Entender a natureza mais profunda de nossa experiência não significa que diminuímos nossas experiências felizes. Ainda regozijamos, mas ao mesmo tempo realizamos que elas não são tão reais quanto uma vez pensamos. Quando estamos infelizes, nos lembramos que nossa felicidade também é impermanente. Esta perspectiva nos ajuda a reduzir nosso apego às coisas acontecerem de certo modo, assim como a nossa aversão às dificuldades. Realizamos que não são as condições externas que são responsáveis pela nossa felicidade ou infelicidade, mas sim o modo como reagimos a estas experiências externas. Isto traz aceitação e equilíbrio às nossas vidas.

Tentem manter um estado desperto ininterrupto de sua própria natureza, que está além dos extremos da felicidade e tristeza, prazer e dor, esperança e medo. Apesar de poderem parecer pessoas bem comuns, se vocês tiverem uma conexão interior com a essência de sua prática, mesmo quando forem ao trabalho diário vocês atingirão algo muito poderoso e muito benéfico. Se vocês mantiverem esta visão, não importa realmente onde vivem, o que vestem ou como agem.

A perfeição da sabedoria, em seu sentido mais profundo, é corporificada na união do masculino e do feminino, que é fundamental para o caminho espiritual do Buddhadharma. O aspecto manifesto de toda aparência fenomenal corresponde ao princípio masculino dos meios hábeis, e a natureza verdadeira desses fenômenos, a vacuidade, corresponde ao aspecto feminino da sabedoria ou conhecimento transcendente. Se examinarmos qualquer elemento de nossa experiência, descobriremos que é vazio de auto-natureza; porém, as coisas ainda sim aparecerem. Forma e vacuidade, vacuidade e forma existem em união uma com a outra. O entendimento da inseparabilidade da vacuidade dos fenômenos e de sua aparência é a qualidade do conhecimento transcendente, que pode ser cultivada e nutrida durante sua vida juntos.

Na sociedade humana, o elo entre mulheres e homens é a expressão dessa verdade mais profunda, sendo o casamento uma expressão dessa harmonia. Isto traz uma dimensão cada vez mais profunda ao casamento de dois indivíduos que estejam envolvidos com o caminho do Dharma porque eles têm um meio de incorporar em suas vidas esta união do masculino e do feminino, sobre a qual os ensinamentos estão fundados.

Se vocês permanecerem verdadeiros para a visão de sabedoria em seu casamento e, durante sua vida juntos, sempre trabalharem para trazer maior benefício a vocês mesmos e aos outros, a curto e longo prazo, seu relacionamento produzirá nada mais que felicidade nesta vida e nas vidas futuras, e sua união corporificará a essência e os princípios do Dharma sagrado.

Este livreto foi produzido a partir das transcrições de cinco cerimônias de casamento conduzidas por Sua Eminência Chagdud Tulku Rinpoche entre 1988 e 1993.

domingo, 3 de outubro de 2010

Mais sobre o medo.

Eleanor Roosevelt
"Você ganha força, coragem e confiança em todas as experiências em que encaramos seu medo. Você tem que fazer aquilo que acha que não consegue fazer!"

"You gain strenght, courage and confidence by every experience in which you really stop to look fear on the face. You must do the thing which you think you cannot do!"

Eleanor Roosevelt

sábado, 2 de outubro de 2010

Duas pessoas dentro de nós.


"Duas pessoas estão vivendo dentro de nós durante todas as nossas vidas. Uma é o ego tagarela, exigente, histérico, calculista. A outra pessoa é o nosso ser espiritual oculto cuja voz mansa de sabedoria nós só raramente ouvimos e entendemos. Na medida em que escutamos cada vez mais ensinamentos, contemplamos e os integramos às nossas vidas, nossa voz interior, nossa sabedoria inata do discernimento, o que chamamos no budismo de 'consciência discriminativa', é despertada e fortalecida. Então, começamos a distinguirmos a sua orientação em meio das diversas vozes clamorosas e apaixonantes do ego. A lembrança de sua verdadeira natureza com todo o seu esplendor e confiança começa a retornar para nós. Vamos ver que, na verdade, descobrimos em nós mesmos nosso próprio guia sábio e como a voz deste guia, também chamado de consciência discriminativa, fica mais forte e mais clara. Assim, começamos a distinguir entre a verdade e os vários enganos do ego e seremos capazes de ouvir com discernimento e confiança."