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terça-feira, 6 de dezembro de 2011

O que é Tsog? Lama Thubten Yeshe


 
As oferendas de Tsog é uma parte profunda do Puja do guru feita regularmente nos centros FPMT (Foundation for the Preservation of the Mahayana Tradition – Fundação para a Preservação da Tradição Mahayana)

Tsog significa reunião. Nós juntamos e reunimos as coisas que oferecemos e nós mesmos nos reunimos juntamente para a prática. Juntando-se aos outros praticantes, concentrando nossas mentes para dentro do mesmo espaço nos dá inpiração. É muito melhor do que só fazer o puja sozinhos em nossos quartos. Esta é a conotação tibetana de Tsog. Um exemplo do meu colégio em Sera associa um puja em grupo a uma vassoura de palha. Não se pode varrer muito chão com uma só palha, mas, quando muitas palhas são reunidas para se fazer uma vassoura, podemos limpar um gönpa inteiro em muito pouco tempo. Não somos tão fortes quanto praticantes famosos como Milarepa. Ele se sentia bem quando estava sozinho, mas nós não estamos prontos para isso ainda. Então, é bom que nós nos juntemos tentando desenvolver a mente unifocada; a mente de cem pessoas todas se encontrando no mesmo lugar. Isso se torna muito poderoso. Tsog na tradição tibetana é um método muito profundo de purificação, uma maneira profunda de ganhar realizações. Quando recitamos o texto em português podemos ver quantos assuntos estão incluídos na prática. O puja do Guru, por exemplo, cobre o caminho inteiro para a iluminação do começo ao fim. Então, isso pode acontecer nas suas meditações diárias no lamrim (lam "caminho", rim “estágios”); não estamos fazendo nenhum progresso óbvio, e então, durante um puja, por causa da atmosfera condutiva que criamos, zum! – alguma realização aparece em nossas mentes. Muitas pessoas ganharam realizações durante um puja simplesmente por causa desta atmosfera. Normalmente, nos empurramos para alcançar, mas nada acontece porque não criamos o espaço para que algo acontecesse. Ao nos juntarmos para oferecer Tsog criamos um espaço. Quando o espaço certo se abre, zum! - realizações chegam como se fossem magicamente atraídas. Isso é verdadeiro. Logo, é importante nos colocarmos na atmosfera correta ao praticar uma sadhana ou qualquer outra coisa. Talvez tenhamos feito um determinado puja cem vezes antes, mas, de alguma maneira, nunca alcançamos o ponto certo. Quando em algum momento nós encontramos o ponto certo, zum! – algo acontece. Para crescer, precisamos da atmosfera correta. Na terminologia filosófica do budismo falamos sobre karma: Criando um bom karma, alcançaremos esse ou aquele resultado. Simplesmente direi que para alcançar os resultados que queremos, temos que criar a atmosfera correta. Se criarmos uma estufa, flores crescerão e elas também serão protegidas do dano da geada. É a mesma coisa com as nossas mentes de bebês. Precisamos criar o ambiente apropriado onde elas possam se desenvolver e também precisamos protegê-las. Nos reunirmos juntos para o puja, dando energia aos outros é o tipo de proteção que nossas mentes precisam. Na tradição tibetana do budismo mahayana, estamos sempre falando sobre os benefícios que derivamos de todas os seres sencientes que foram nossas mães.Tomar este chá Darjeeling: pensem em quantas pessoas foram envolvidas até que ele chegasse aqui: os plantadores, os colhedores, os classificadores, os encaixotadores, os transportadores, os lojistas, nosso próprio preparo do chá. Finalmente, conseguimos tomá-lo aqui. Sabemos através dos nossos estudos lam-rim, que, direta ou indiretamente cada ser senciente nos ajudou a ter essa xícara de chá. E não só essa xícara de chá. Toda a felicidade, desde o mais ínfimo prazer samsárico ao êxtase eterno da liberação e iluminação vem de cada um de nós para o outro. Assim, para ganhar realizações precisamos criar a atmosfera correta. Fazemos isso nos reunindo e dirigindo nossas mentes para o mesmo lugar. O poder dessa prática traz entendimento, compreensão, sabedoria. Penso que isso é muito bom: somos uma reunião internacional e cada um de nós desenvolveu em seu modo único; mas, apesar de nossas diferenças, nossas mentes ainda podem se encontrar no mesmo lugar e podemos nos comunicar uns com os outros. Realmente acho isso maravilhoso! Pais podem não ser capazes de se comunicar com seus filhos mas aqui, somos de paises diferentes de todo o mundo e somos capazes de nos comunicar uns com os outros, de coração para coração. Outra conotação de tsog é “festa” – uma festa na qual compartilhamos simultaneamente grandes sabedorias e felicidades nascidas. Agora, isso é uma festa.

Fazendo oferendas
Durante sua visita à Austrália ano passado, nosso diretor espiritual, Lama Zopa Rinpoche, disse que extensivas oferendas deveriam ser feitas no gönpa para o benefício do Centro e para a prosperidade interna (dharma) e externa dos estudantes. Deveria haver muitas oferendas, disse ele, pois elas são muito inspiradoras. Fazer inspirações belas e extensas encoraja as pessoas a praticar e a criar mérito. Qualquer um que tem dificuldade no trabalho ou nos negócios e não tem tempo para fazer oferendas pode patrocinar oferendas no Centro, ele disse. A pessoa encarregada do gönpa pode fazer essas oferendas em benefício das pessoas do Centro. Quem quiser participar, dedique o mérito para eles. Rimpoche disse que o sucesso depende do mérito.

A arte da Imperfeicão - Adília Belloti

Não sei quanto a você, mas eu ando definitivamente exausta de correr atrás da perfeição. No outro dia me peguei medindo as toalhas de banho dobradas para que elas formassem impecáveis pilhas no meu armário. Uma amiga me diz que arruma os vidros de tempero por ordem alfabética! E o pediatra solta um comentário bem-humorado sobre mães que se sentem pessoalmente insultadas quando seus filhos ficam gripados. Como se gripe fosse uma espécie de tinta que manchasse a perfeição dos seus pimpolhos. Nosso índice de tolerância aos "defeitos de fabricação" do universo anda mesmo muito baixo. E isso nos torna a espécie mais reclamona do universo, provavelmente a única, mas é que tenho algumas dúvidas se bois e vacas, interiormente, não reclamam daquelas moscas sempre em volta dos seus rabos. Passamos um bocado de tempo tentando caber nas molduras que inventamos para nós. Isso quando escapamos de tentar vestir à força as expectativas que OUTROS criaram para NÓS. Senão, me digam por que seres humanos razoáveis investiriam tanto tempo, dinheiro e energia para tentar recuperar a imagem que tinham aos 18 anos? Por estas e por outras tantas foi que quando terminei de ler aquele livrinho senti que tinha recebido uma revelação divina! É só um livreto, mas, ao contrário, desses livros bonitinhos que a gente compra como se fosse um cartão para dizer "Feliz Aniversário" ou "Como eu gosto de você", não é tão fácil assim de ler. Muito menos de pôr em prática os conselhos da autora. Em português acabou chamando "A arte de viver bem com as imperfeições". Uma pena, eu penso. O título em inglês é "The Art of Imperfection" ou "A Arte da Imperfeição". Assim, simplesmente. Teria sido melhor. Porque é disto que Véronique Vienne fala no seu pequeno livro, das formas de perceber a beleza que se esconde nas frestas do mundo perfeito que tentamos, sempre em vão, construir para nós. Você conhece aquela história de que os tapetes persas sempre tem um pequeno erro, um minúsculo defeito, apenas para lembrar a quem olha de que só Deus é perfeito? Pois é, a Arte da Imperfeição começa quando a gente reconhece e aceita nossa tola condição humana. Véronique Vienne dividiu seu manual em dez capítulos de títulos muito sugestivos: a arte de cometer erros, a arte de ser tímido, a arte de se parecer consigo mesmo, a arte de não ter nada para vestir, a arte de não ter razão, a arte de ser desorganizado, a arte de ter gosto, não bom-gosto, a arte de não saber o que fazer, a arte de ser tolo, a arte de não ser nem rico nem famoso. E encerra o livro com 10 boas razões para ser uma pessoa comum. "A história está cheia de criaturas incompetentes que foram muitíssimo amadas, desajeitados com personalidades cativantes e gente boba que encanta a todos com seu jeito despretensioso. O segredo? Aceitar nossas falhas com a mesma graça e humildade com que aceitamos nossas melhores qualidades", ela diz. E propõe: "Perdoe a si mesmo. (...) Você não precisa ser perfeito para ser um ser humano bem-sucedido. De fato, com mais freqüência do que imaginamos, o desejo de acertar impede as coisas de melhorarem e a necessidade de estar no controle aumenta a desordem e o caos". A Arte da Imperfeição, no entanto, não se limita ao reconhecimento das imperfeições humanas. Também tem a ver com nosso jeito de olhar para as coisas mais banais, mais corriqueiras e enxergá-las com outros e mais benevolentes olhos. Leonard Koren, um designer americano, publicou alguns livros tentando revelar para o nosso jeito ocidental as delicadezas do olhar wabi sabi. Wabi sabi é a expressão que os japoneses inventaram para definir a beleza que mora nas coisas imperfeitas e incompletas. O termo é quase que intraduzível. Na verdade, wabi sabi é um jeito de "ver" as coisas através de uma ótica de simplicidade, naturalidade e aceitação da realidade. Contam que o conceito surgiu por volta do século 15. Um jovem chamado Sen no Rikyu (1522-1591) queria aprender os complicados rituais da Cerimônia do Chá. E foi procurar o grande mestre Takeno Joo. Para testar o rapaz, o mestre mandou que ele varresse o jardim. Rikyu lançou-se ao trabalho feliz. Limpou o jardim até que não restasse nem uma folhinha fora do lugar. Ao terminar, examinou cuidadosamente o que tinha feito: o jardim perfeito, impecável, cada centímetro de areia imaculadamente varrido, cada pedra no lugar, todas as plantas caprichadamente ajeitadas. E então, antes de apresentar o resultado ao mestre Rikyu chacoalhou o tronco de uma cerejeira e fez caírem algumas flores que se espalharam displicentes pelo chão. Mestre Joo, impressionado, admitiu o jovem no seu mosteiro. Rikyu virou um grande Mestre do Chá e desde então é reverenciado como aquele que entendeu a essência do conceito de wabi-sabi: a arte da imperfeição. O que a historinha de Rikyu tem para nos ensinar é que estes mestres japoneses, com sua sofisticadíssima cultura inspirada nos ensinamentos do taoísmo e do zen budismo, conseguiram perceber que a ação humana sobre o mundo deve ser tão delicada que não impeça a verdadeira natureza das coisas de se revelar. E a natureza das coisas é percorrer seu ciclo de nascimento, deslumbramento e morte; efêmeras e frágeis. Eles enxergaram a beleza e a elegância que existe em tudo que é tocado pelo carinho do tempo. Um velho bule de chá, musgo cobrindo as pedras do caminho, a toalha amarelada da avó, a cadeira de madeira branqueada de chuva que espreguiça no jardim, uma única rosa solta no vaso, a maçaneta da porta nublada das mãos que deixou entrar e sair. Wabi sabi é olhar para o mundo com uma certa melancolia de quem sabe que a vida é passageira e, por isso mesmo, bela. Para os olhos artistas de Leonard Koren wabi sabi é inseparável da sabedoria budista que ensina: Todas as coisas são impermanentes. Todas as coisas são imperfeitas. Todas as coisas são incompletas. Daí olhar para elas de um modo wabi sabi é ver: A beleza que existe naquilo que tem as marcas do tempo (a velha cadeira de balanço com sua pintura já gasta tomando o solzinho que entra pela janela é wabi sabi) A beleza do que é humilde e simples (em vez de sofisticado e cheio de ornamentos inúteis). A beleza de tudo que não é convencional (quer algo mais wabi sabi do que servir à luz de velas e em toalhas de renda um simples hamburguer?) A beleza dos materiais que ainda guardam em si a natureza (wabi sabi é definitivamente papel, algodão, velhos e nobres tecidos, nada de plástico) A beleza da mudança das estações (que tal experimentar descobrir os primeiros verdes fresquinhos e brilhantes que anunciam a primavera?) A Arte da Imperfeição é ver a vida com a tranquilidade de quem sabe que a busca da perfeição exaure nossas forças e corrói nossas pequenas alegrias. Porque, como disse Thomas Moore, "a perfeição pertence a um mundo imaginário".

É inútil sem clareza na mente.

Lama Padma Samten
"Sua Santidade o Dalai Lama afirmou e tem continuamente afirmado a inutilidade da recitação de mantras sem a correspondente clareza da mente. Também ele tem alertado os praticantes quanto a evitarem tornar-se formais, ou seja, imaginarem que a fixação a forma externa das práticas em si mesmo possa significar progresso. Novamente ele alerta para evitarmos a motivação equivocada associada aos seis reinos e manter a compreensão aguda com respeito ao que estamos fazendo. Manter a humildade e a motivação Mahaiana elevada. Essencialmente isso seria também, na linguagem Vajraiana, evitar a quebra de Samaia e manter-se lúcido. Essas recomendações se aplicam enfim a todas as classes de ensinamento e abordagens. As práticas de Nongdro e Dzogchen são preciosas, é importante mantê-las com o reconhecimento de que são a própria porta de saída do Samsara. Inseparável disso é a prática de Guru Ioga pessoal e absoluta, a única forma de atingir a liberação final e iluminação. O sumário concentrado de Guru Ioga é a sabedoria primordial. Foca isso o tempo todo."
Lama Padma Samten