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quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Presente do Mar - Anne Morrow Lindbergh



Procurando por este livro, talvez para reler, sei lá, para dar uma olhada nas aquarelas, descubro um pedaço de papel digitando.
Não. Não fui eu quem escreveu. Eu não escreveria termos tais como preocupação precípua, sensações incognocíveis, égide do intelecto. Não! Essa verborréia não me pertence.

Deixei o papel de lado e fui ver o que grifei no livro. Sempre leio grifando. Descobri que a moça não era nada boba. Era reprimida. Também, naquela época! Principalmente com quatro filhos e com um marido sempre ausente: Charles Lindbergh, o primeiro piloto a atravessar o Atlântico no "Spirit of Saint Louis" em uma viagem sem escalas.
Ela estava a fim de alguém e não sabia o que fazer com isso. Ninguém sabe no decorrer do livro. Ela não diz.

Sua paixonite foi ninguém mais ninguém menos que Antoine de Saint-Exupéry. Outro piloto!

Bem, vamos aos meus grifos.

"Nunca se sabe que possíveis tesouros essas ondas inconscientes vão lançar à areia branca e suave do consciente. Talvez uma pedra redonda de formato perfeito, ou uma concha rara do fundo do mar; [...]

Mas esses tesouros não devem ser procurados, muito menos desenterrados. Nada de escavar o fundo do mar. Isso frustraria nosso objetivo. O mar não recompensa os que são por demais ansiosos, ávidos ou impacientes. Escavar tesouros mostra não só falta impaciência e avidez, mas também falta de fé. Paciência e fé. Precisamos nos deitar vazios, abertos e sem exigências como a praia - esperando por um presente do mar."

"Há certos caminhos que podemos trilhar. Um deles é a simplicidade da vida."

"Essa não é uma vida de simplicidade, mas de multiplicidade, sobre a qual os sábios nos advertem. Não nos conduz à unificção, mas à fragmentação. Não nos traz o estado de graça, mas destrói a alma."

"A agitação é, sempre foi, e provavelmente será sempre inerente à vida da mulher."

[...] não estamos nos desapegando só das roupas, mas também da vaidade."

[...] descubro que estou me desapegando da hipocrisia dos meus relacionamentos. Que alívio isto me traz! Descobri que a coisa mais desgastante da vida é ser insincera. É por isso que a vida social se torna, ás vezes, cansativa. Estamos usando máscaras. Resolvi tirar a minha."

[...] essa simplicidade pode nos trazer uma extraordinária paz e liberdade espiritual."

[...] podemos nos dar ao luxo de escolher entre simplificar e complicar a vida. [...] Mas quando se descobre por acaso essa simplicidade, como eu a descobri por alguns dias, encontra-se a serenidade que ela traz consigo."

[...] somos todos ilhas num mar comum. [...] Estamos todos sozinhos.
Partir é inevitavelmente doloroso, mesmo que seja por pouco tempo. É como se fosse uma amputação, em que eu tivesse a perna a perna arrancada e não pudesse me locomover.
Afastada da minha própria espécie, pareço estar mais próxima das outras.
Na verdade não é a solitude física que separa as pessoas umas das outras; não é o isolamento físico, mas o isolamento espiritual que as separa. [...] O que nos afasta é o deserto do espírito, as terras áridas do coração, por onde andamos perdidos e alheios. Quando somos estranhos para nós mesmos, nos tornamos estranhos para os outros também.
Acredito que a mulher não se ressinta tanto por se dar em pequenas doses, mas por se dar em vão.
Toda pessoa, especialmente a mulher, deveria ficar sozinha por algum tempo durante o ano, durante a semana, durante o ano.
O que dizer de uma civilização em que ficar a sós é considerado suspeito; em que temos que nos desculpar e inventar explicações por ficarmos sozinhos, ou esconder o fato de que gostamos da solidão, como se isso fosse um vício secreto!
Nada alimenta tanto o núcleo interno quanto o trabalho criativo, por mais simples que seja, como cozinhar e costurar.
Nosso cotidiano não nos prepara para a meditação."

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