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Perdão, mas são tantas coisas que leio ou que recebo pela internet, que não me lembro de onde veio este texto. Estava impresso numa folha de papel. Definitivamente não é meu, claro, mas resolvi postá-lo por achá-lo de extrema importância e com um ponto de vista completamente diferente daquele a que estamos habituados, daquele em que fomos educados e criados. O ponto de vista de que a segurança duradoura nunca poderá ser alcançada! Se alguém descobrir quem é o autor, por favor, me diga.
Que seja de grande benefício para todos!
A Marilda (obrigada, minha querida!) já descobriu prá mim! Pema Chodrön (livro "Quando Tudo se Desfaz")
A Marilda (obrigada, minha querida!) já descobriu prá mim! Pema Chodrön (livro "Quando Tudo se Desfaz")
"Se desejarmos desistir de esperar que a insegurança e a dor sejam exterminadas, precisamos ter coragem de relaxar na falta de base de nossa situação. Esse é o primeiro passo do caminho. Voltar a mente para o dharma não nos traz segurança ou comprovação nem qualquer base onde possamos nos apoiar. Na verdade, quando nossa mente se volta para o dharma, reconhecemos corajosamente a impermanência e a mudança e começamos a lidar com a desesperança. Existe uma interessante palavra tibetana: ye tang tche. Ye quer dizer 'totalmente, completamente' e o restante, significa 'exausto'. No conjunto, ye tang tche significa totalmente extenuado. Poderíamos, talvez, dizer totalmente farto. Estas palavras descrevem a experiência da total desesperança, do completo abandono de qualquer esperança. Esse é um ponto importante, pois representa o início do início. Sem desistir da esperança, de que há um lugar melhor para estar, de que há alguém melhor para ser, nunca relaxaremos onde estamos ou naquilo que somos. Poderíamos dizer que a expressão atenção plena nos aponta para sermos unos com nossa experiência, sem nos dissociarmos, estando exatamente ali quando nossa mão toca a maçaneta da porta, o telefone toca ou qualquer tipo de sentimento que surge. A expressão atenção plena descreve o estar exatamente no lugar em que estamos. Ye tang tche, entretanto, não é tão facilmente digerível, pois expressa a renúncia que é essencial ao caminho espiritual. É utópico pensar que podemos resolver todos os nossos problemas para sempre. É inútil buscar algum tipo de segurança duradoura. Desfazer nossos padrões mentais habituais muito antigos e arraigados exige começar a reverter algumas de nossas premissas mais básicas. É preciso ficar totalmente farto desse modo de pensar, de acreditar em um eu sólido e distinto, de continuar a buscar o prazer e a evitar a dor de achar que alguém lá fora é culpado pelo nosso sofrimento. É preciso abandonar a esperança de que esse modo de pensar nos traga satisfação. O sofrimento começa a se dissolver quando passamos a questionar a crença ou esperança de que existe um lugar onde é possível esconder-nos. Desesperança significa não ter mais ânimo para controlar nosso caminho. Podemos ainda querer fazer isso. Queremos ter alguma base segura e confortável sob nosso pés, mas já tentamos mil esconderijos e mil maneiras de chegar a uma solução definitiva e o chão continua movendo-se sob nós. Tentar conseguir uma segurança duradoura nos ensina muito, pois, se nunca tentarmos, não saberemos que ela não pode ser alcançada. Voltar a mente para o dharma apressa o processo da descoberta. Sempre que fazemos isso, percebemos mais uma vez que não há nenhuma esperança, não conseguimos ter nenhum ponto de apoio. A diferença entre teísmo e não teísmo não está em acreditar ou não em Deus. Essa é uma questão que se aplica a todos, incluindo budistas e não budistas. O teísmo é uma arraigada convicção de que existe uma mão na qual segurar. Se fizermos a coisa certa, alguém vai nos dar valor e cuidar de nós. Isso é o mesmo que achar que haverá sempre uma babá disponível quando precisamos de uma. Todos nós temos a tendência a fugir das responsabilidades e delegar nossa autoridade a algo exterior a nós. Não teísmo é relaxar na ambigüidade e incerteza do momento presente sem buscar algo que nos proteja. Às vezes, achamos que o dharma é externo, é algo em que acreditar, algo que devemos atingir. Entretanto, o dharma não é uma crença ou dogma. É a total apreciação da impermanência e da mudança. Os ensinamentos desintegram-se quando tentamos agarrá-los! É preciso experimentá-los sem expectativas. Muitas pessoas corajosas e compassivas já os experimentaram e transmitiram. A mensagem é destemida, o dharma nunca representou uma crença que seguimos cegamente. em absoluto, ele não nos dá nada a que possamos nos apegar. Não teísmo é perceber, finalmente, que não existe babá com quem contar! Conseguimos uma babá ótima e, então, ela se vai! Não teísmo é compreender que não são apenas as babás que vem e vão. A vida toda é assim! Essa é a verdade e a verdade incomoda! Para aqueles que querem agarra-se a algo, a vida é ainda mais difícil. Sob este ponto de vista, o teísmo é um vício. Somos viciados em esperança, na esperança de que a dúvida e o mistério se dissipem. Esta dependência tem um doloroso efeito sobre a sociedade, uma sociedade baseada em muitas pessoas viciadas em conseguir um apoio para si mesmas não é um lugar muito compassivo. A Primeira Nobre Verdade que o Buda ensinou diz que, quando sofremos, isto não significa que algo está errado! Que alívio! Finalmente alguém falou a verdade! o sofrimento faz parte da vida e não devemos achar que o estamos sentindo por termos feito algo errado. Entretando, o fato é que quando sofremos, achamos que fizemos algo errado! Enquanto estivermos viciados em esperança pensaremos que podemos abrnadar nossa experiência, torná-la mais intensa ou, de algum modo, modificá-la e continuaremos a sofrer muito. A palavra tibetana para esperança é rewa e, para medo, dokpa. Mais comumente usa-se re-dok que é uma combinação das duas. Enquanto houver uma, haverá a outra. Re-dok é a raiz do nosso sofrimento. No mundo da esperança e do medo, sempre teremos que mudar de canal, ajustar a temperatura ou procurar outra música porque algo está se tornando desconfortável, inquieto, começando a doer e nós continuamos a procurar alternativas. No estado mental não teísta, abandonar a esperança é uma afirmação, é o início do início. Poderíamos até mesmo colocar um lembrete Desistir da Esperança na geladeira em vez de aspirações mais convencionais do tipo Todos os Dias, Em Todos os Sentidos, Estou me Tornando Cada Vez Melhor. A esperança e o medo advêm de sentirmos que nos falta algo, advêm de um sentimento de carência. Não conseguimos simplesmente relaxar em nós mesmos. Agarramos a esperança e ela nos rouba o momento presente. Achamos que talvez outra pessoa saiba o que está acontecendo, mas, se há algo faltando em nós, há algo faltando em nosso mundo! Em vez de permitir que nossa negatividade acabe conosco, poderíamos reconhecer que, exatamente agora, estamos nos sentindo um lixo sem sermos melindrosos quanto a olhar isto bem de perto. Esta é uma atitude compassiva! Esta é a atitude corajosa que deve ser tomada! Podemos cheirar o lixo, sentí-lo, explorar a sua natureza, conhecer a essência da aversão, da vergonha e da confusão deixando de acreditar que algo está errado! É possível abandonar a esperança fundamental de que existe um eu melhor que um dia surgirá. Não podemos passar por cima de nós mesmos como se não estivéssemos ali. É melhor olhar diretamente para nossas esperanças e medos. Então, surge uma espécie de confiança em nossa sanidade básica. É aqui que entra a renúncia à esperança de que nossa experiência possa ser diferente, de que possamos ser melhores. As regras monásticas budistas que recomendam abandonar o álcool, o sexo e daí por diante, não querem dizer que estes hábitos sejam intrinsecamente maus ou imorais, mas, sim que nós os utilizamos como babás! Nós os usamos para escapar, para conseguir alívio e distração. Quando renunciamos, estamos, na verdade, desistindo da obstinada esperança de sermos salvos de nós mesmos. A renúncia é um ensinamento que nos estimula a investigar o que está acontecendo sempre que nos agarramos a algo por não sermos capazes de enfrentar o que está surgindo.
Certa vez, em uma viagem de avião, estava ao lado de um homem que a tod hora interrompia a nossa conversa para tomar diversos comprimidos. Perguntei:
- O que você está tomando?
Ele respondeu que eram tranquilizantes. Eu disse:
- Ah, você está nervoso?
E ele:
- Não. Ainda não, mas acho que vou ficar quando chegar lá em casa.
Vocês podem rir desta estória, mas o que acontece quando se começa a se sentir desconfortável, inquieto, constrangido? Percebam o pânico, percebam como imediatamente nos agarramos a algo. Esta é uma atitude baseada na esperança. Não agarrar chama-se desesperança. Se esperança e medo são duas faces da mesma moeda, o mesmo ocorre com desesperança e confiança. Se desejamos desistir de esperar que a insegurança e a dor sejam exterminadas, precisamos ter coragem de relaxar na falta de base de nossa situação. Esse é o primeiro passo do caminho. Se não há interesse em ir além da esperança e do medo, não há sentido em tomar refúgio no buda, ho Dharma e na Sangha. Tomar refúgio no Buda, no Dharma e na Sangha refere-se a desistir de conseguir um chão sob nossos pés. Estamos prontos para a tomada de refúgio quando este tipo de ensinamento, quer estejamos capazes ou não, soa como algo insistentemente familiar, semelhante à experiência de uma criança que reencontra a mãe após uma longa separação. A desesperança é o solo básico. De outra forma, trilharíamos o caminho com a expectativa de conseguir segurança e isso significa que não compreendemos seu propósito. Podemos praticar meditação ou estudar os ensinamentos de conseguir segurança. Podemos seguir as orientações e instruções com o mesmo objetivo. Isso só nos conduzirá à decepção e ao sofrimento. É possível economizar bastante tempo levando muito a sério esta mensagem desde já. Iniciem o trajeto sem esperança de conseguir terra firme. Iniciem com desesperança. Toda ansiedade, insatisfação e as razões para desejar que nossa experiência fosse diferente têm sua raíz no medo da morte. O medo da morte está sempre alí como plano de fundo. Como dizia Shunryu Suzuki Roshi, mestre zen, viver é como entrar em um barco prestes a sair para o mar e afundar. Entretanto, é muito difícil acreditar na própria morte, não importa quanto se fale sobre isso. Muitas práticas espirituais tentam nos encorajar a levar nossa própria morte a sério, mas é incrível como essa ficha é difícil de cair. A única coisa da vida com que realmente podemos contar é incrivelmente remota para todos nós. Não chegamos a dizer:
- De jeito nenhum, eu não vou morrer!
Porque obviamente sabemos que não é assim. Mas, com certeza, será mais tarde. Essa é a grande esperança. Certa vez, Trumgpa Rinpoche deu uma palestra pública intitulada "A Morte na Vida Cotidiana". Somos criados em uma cultura que tem medo da morte e a esconde de nós. No entanto, nós a experimentamos o tempo todo. Experimentamos sob a forma de decepção, daquilo que não dá certo, de um permanente processo de mudança. Quando o dia acaba, quando termina um segundo, quando expiramos, essa é a morte na vida cotidiana. A morte na vida cotidiana poderia também ser definida como experimentar tudo aquilo que não desejamos. Nosso casamento não vai bem ou nosso trabalho não está dando certo. Ter um relacionamento com a morte na vida diária significa começar a ser capaz de esperar e de relaxar na insegurança, no pânico, no constrangimento, naquilo que não vai bem. À medida em que os anos passam, não chamamaos mais a babá tão rapidamente. A morte e a desesperança fornecem a motivação correta para viver a vida com mais discernimento e compaixão. Entretanto, na maior parte do tempo, afastar-se da morte é nossa maior motivação. Evitamos normalmente qualquer tipo de problema. Tentamos sempre negar que as mudanças, a areia que está sempre escapando entre nossos dedos, são ocorrências naturais. O tempo está passando! Isto é tão natural quanto a mudança das estações ou a transformação do dia em noite. Entretanto, envelhecer, ficar doente, perder aquilo que amamos, não encaramos estas situações como ocorrências naturais. queremos evitar a sensação de morte de qualquer modo. Quando algo nos lembra a morte, entramos em pânico. Não se trata apenas de cortar o dedo, começar a sangrar e colocar um band-aid. Acrescentamos algo mais: o nosso próprio estilo. Alguns de nós sentam-se ali estoicamente e deixam que as roupas se empapem de sangue. Outros ficam histéricos. Não colocamos simplesmente um band-aid. Chamamos a ambulância e vamos para o hospital. Alguns de nós colocam band-aid de grife. Não importa nosso estilo. o processo não é fácil. Não ficamos apenas no básico. Não podemos apenas voltar ao essencial? Simplesmente voltar? Esse é o início. O essencial, o bom e velho eu. O essencial, o bom e velho dedo sangrando. Volte para casa uno, para o básico mínimo. Relaxar no momento presente, na desesperança, na morte. Não resistir ao fato de que as coisas terminam, passam e não têm uma substância duradoura, de que tudo está em mudança o tempo todo. Essa é a mensagem fundamental! Quando falamos em desesperança e morte, estamos falando em encarar os fatos sem escapismo. Podemos ainda ter todo tipo de vício, mas deixamos de acreditar neles como uma saída para a felicidade. Quantas vezes nos permitimos o prazer a curto prazo da dependência. Porque agimos assim tantas vezes, aprendemos que agarrar essa esperança é uma fonte de infelicidade que transforma o prazer a curto prazo em inferno a longo prazo. Desistir da esperança é um estímulo a ficar do seu próprio lado, a fazer amizade consigo mesmo, a não fugir e a voltar ao essencial, não importa o que aconteça. O medo da morte constitui o pano de fundo de toda essa situação. É a razão pela qual ficamos inquietos, entramos em pânico e sentimos ansiedade. mas, se experimentamos completamente a desesperança, desistindo de qualquer expectativa de alternativa para o momento presente, poderemos ter uma relação prazeroza com nossa vida, uma relação honesta e direta que não mais ignora a realidade da impermanência."