-->

quarta-feira, 17 de junho de 2009

B. Alan Wallace, Ph.D. on science, buddhism, skepticism and meditation | Part 1

B. Alan Wallace, Ph.D. on science, buddhism, skepticism and meditation | Part 2

O Significado da Palavra Mandala / The Meaning of The Word Mandala - Lama Samten


Sua Santidade o Dalai Lama costuma resumir a filosofia budista em uma frase: "Faça o bem sempre que possível; se não puder fazer o bem, tente não fazer o mal". Uma das especialidades do budismo é a noção de que o mundo que nos circunda é inseparável de nós mesmos. Assim, se fazemos o bem para os demais seres e para o ambiente, estamos cuidando de nosso próprio bem. Se causamos mal aos outros e ao ambiente, estamos causando mal a nós mesmos. Todos estão ligados uns aos outros, todos dependem uns dos outros.
O conceito de interdependência budista também sustenta que nós – e tudo o que nos circunda – não temos a solidez que julgamos possuir. Atribuímos identidades e qualidades a tudo e a todos (inclusive a nós mesmos) a partir de uma visão limitada por um padrão binário de gostar e não gostar, querer e não querer.
A palavra para os mundos que surgem inseparáveis das nossas mentes é "mandala". Mandala não se refere apenas a um mundo material, mas à experiência desse mundo, ao observador, aos limites cognitivos, às energias de ação, às emoções e ao corpo.
Cada mandala surge inseparável de um tipo correspondente de inteligência viva e ativa. Essas inteligências são transcendentes, não pessoais, não corruptíveis e livres do tempo. Incessantemente disponíveis, podem ser reconhecidas e acessadas sem esforço ou luta a qualquer momento. A meta budista é sair das mandalas limitadas e chegar às mandalas de sabedoria, isentas do padrão binário de gostar e não gostar.
Todos os seres aspiram felicidade e proteção frente ao sofrimento. Nossos pais nos ensinam habilidades para nos aproximarmos da felicidade e nos protegermos. Nossos pais, professores e mestres nos ensinam também a disciplina, e com isso ampliamos nossa capacidade de atingir metas difíceis, atravessar ambientes perturbadores e exigentes e suportar as adversidades momentâneas na busca de realizações maiores.
O budismo nos ensina a capacidade de reconhecer mundos puros e inteligências puras, de tal modo que, instalados na experiência desses ambientes puros, as ações positivas sejam naturalmente realizadas sem esforço e sem contradição. Esses mundos puros são as mandalas de sabedoria.
Quando nos inserimos em uma mandala de sabedoria, adquirimos condições de realmente fazer o que é melhor para nós, para os outros, para a humanidade e o ambiente. Somos capazes de viver o amor e a compaixão com alegria e equanimidade, sem nos deixarmos abater pelas dificuldades que apareçam. O mundo ao nosso redor continua o mesmo, mas nós mudamos nosso olhar, e isso muda tudo. Quanto mais pura e mais ampla a mandala, maior a nossa liberdade e capacidade de gerar o bem. Além da inserção pessoal em mandalas de sabedoria, nós, como agentes da cultura de paz, vamos trabalhar para que os outros também possam fazer o mesmo, possam migrar para mandalas mais amplas.

Sintonia entre visão e ação
A noção de mandala vem da compreensão de que construímos as realidades que nos circundam e que, quando construímos as realidades, nos construímos junto. Vemos que se trata de um processo inseparável, coemergente.
Ao construirmos mundos favoráveis e manifestações de sabedoria, nossa ação positiva se torna natural, desobstruída, compassiva e amorosa. A partir disso, o caminho espiritual com foco no controle das ações de corpo, fala e mente é substituído pela compreensão de que devemos observar e dirigir a forma pela qual nos construímos junto com os mundos. Construindo o mundo a partir da lucidez, teremos o corpo, a fala e a mente lúcidos.
Se construirmos o mundo a partir da ignorância, os impulsos de corpo, fala e mente surgirão dessa visão de mundo equivocada que desenvolvemos. Podemos ouvir as palavras de mestres espirituais e tentar seguir seus conselhos de como utilizar o corpo, a fala e a mente, mas tudo vai parecer muito artificial. Isso porque a sabedoria natural que estaremos usando vai brotar da compreensão que temos do mundo. Da compreensão equivocada de mundo não brota nada além de impulsos equivocados.
Mesmo cientes de que os mestres estão corretos, se não desenvolvermos a visão dos mestres, a nossa ação será contraditória e não veremos solução, nunca teremos descanso, estaremos sempre em conflito interno, nunca teremos um comportamento não-repressivo. Estaremos sempre fazendo esforços para seguir os conselhos dos mestres.
O aspecto do esforço é dramático. De tanto nos esforçarmos, um dia cansamos; quando chegamos nesse ponto, a queda é rápida, e dizemos: "Desisto. Se a espiritualidade fosse natural, eu andaria de forma naturalmente lúcida e válida. No entanto, tudo isso me parece artificial". Parece artificial porque precisamos de esforço constante, nunca encontramos um ponto de equilíbrio, precisamos constantemente relembrar o que ouvimos. De tanto esforço, terminamos desistindo.
Equivocadamente, podemos acreditar que a realidade convencional é muito poderosa, muito abrangente. Podemos pensar que, mesmo construindo uma realidade mais elevada, o que existe mesmo é a realidade convencional de dificuldades e sofrimento. Acabamos por desistir de tentar melhorar a nós mesmos e o mundo.
O caminho de tentar alterar o comportamento pode ser muito penoso, muito lento e, principalmente, de resultados incertos. Se a pessoa alterar o comportamento sem alterar a visão, é certo que mais adiante cairá novamente. O aspecto cíclico é um processo natural da vida, passamos por altos e baixos. Apenas a partir das mandalas de sabedoria teremos efetivamente a visão que permite a ação sem esforço. A visão surge sem esforço porque dentro de uma mandala de sabedoria não lutamos contra nós mesmos, mas vemos e agimos naturalmente. O caminho espiritual se manifesta sem conflitos internos.
Ao se começar pelo treinamento e pelo enquadramento a regras, compromissos e ações, surgem a repressão interna e a disciplina externa. O conflito torna-se inevitável, e o esforço será incessante, desgastante. Temos ações coerentes com nossa visão. Se formos treinados para ações que não estão harmonizadas com nossa visão de mundo, essas ações não terão força.
Eu pude observar meninos que aprendem a tocar violino em instituições para menores infratores. Aprender música é maravilhoso. Mas, quando os meninos saem da instituição, o violino torna-se inútil para eles. Muito frequentemente eles retornam à visão que os levou a praticar as ações que os conduziram à instituição. Mesmo tocando violino, as visões que eles têm do mundo, da família e do bairro não mudaram. Dentro da sua realidade, dentro de sua forma de olhar o mundo, dentro de sua mandala limitada, vender drogas naturalmente faz muito mais sentido do que tocar violino.
Assim, é essencial gerarmos uma visão de mundo para que as ações surjam de forma natural, sem esforço e sem contradições. As visões de mundo, que podem ser geradas individual e socialmente, potencializam as ações.

Todo mundo na mesma mandala
Somos inseparáveis das mandalas em que vivemos. Podemos até não saber em que mandala vivemos, mas todos nós vivemos dentro de uma mandala. Apesar de estarmos todos no mesmo lugar, de certa forma não estamos. Cada um vê a sua experiência de um certo jeito. No budismo, classifica-se a experiência da realidade em seis reinos – dos deuses, semideuses, humanos, animais, seres famintos e seres dos infernos. Todos coabitam as mesmas regiões enquanto aparência. No aspecto sutil, porém, cada um vive em um lugar.
E onde vivem os budas que andam pelo mundo? Vivem no tatagatagarba, a mandala dos tatagatas. Tatagatas são os budas que andam no mundo. O tatagata caminha pelos mesmos lugares que os seres dos seis reinos, mas vê o que os demais não conseguem: a natural perfeição de tudo. Os tatagatas têm uma visão pura do mundo. Essa é a experiência do tatagatagarba. E essa é a diferença entre qualquer ser dos seis reinos e um buda. O buda vive no tatagatagarba, e os demais seres vivem nos seus âmbitos particulares.
Os budas são aqueles que entram na mandala da lucidez. E, na Mandala da Perfeição da Sabedoria, da lucidez, os budas vêem todos os seres com a natureza de buda, com a natureza livre. Quando os budas vêem dessa forma, é como se todos os seres estivessem no mundo de perfeição, manifestando as qualidades da natureza última – e estão! Essa é a visão dos budas, e é por isso que são budas.
Quando os budas entram no tatagartabada, não entram individualmente; eles e todos os seres entram no mesmo instante. Para entrar no tatagatagarba, os budas precisam reconhecer que todos os seres têm a natureza de buda. Essa é uma experiência maravilhosa, extraordinária. Não é possível entrar sozinho, ninguém atinge a iluminação sozinho!
Quando um buda atinge a iluminação, ele desenvolve a visão pura que permite que todos os seres sejam vistos como budas ao mesmo tempo. Se alguém afirmar que atingiu a iluminação, mas deixou seres do lado de fora porque não podiam ou não mereciam entrar, alguma coisa está errada. Os budas olham tudo a partir da Mandala da Perfeição da Sabedoria, de onde reconhecem todos os seres vivendo além da vida e da morte. É um espaço além do espaço e do tempo.
Quando não temos a visão ampla, quando nossa visão é parcial, acreditamos que apenas alguns têm a natureza de buda, que apenas alguns são budas. Isso é uma falha da nossa visão, uma limitação. Se a visão se ampliar mais um pouco, veremos que outros seres serão incluídos na lista. Quanto mais ampla for a nossa visão, maior será a nossa lista. A inclusão é, portanto, o referencial que baliza nosso progresso. No momento em que incluímos o outro, ele está conosco dentro da mandala. Do mesmo modo, no momento em que o excluímos, sem perceber também saímos da mandala.
Se alguém estiver fora, é porque nós também não entramos ainda. Assim, vemos que a impossibilidade do outro estar na mandala é, na prática, nossa própria exclusão. Nossa exclusão e a exclusão do outro são a mesma coisa. Ao achar que certas pessoas estão dentro da mandala e outras não, estamos dando preferência a alguém. Dar preferência é excluir. Exclusão e preferência são a mesma coisa. A impossibilidade de ver a natureza de buda no outro é a impossibilidade de manifestar as qualidades de um buda. Isso é a compreensão da unidade, a inseparatividade da mandala.
Ao contemplarmos nossas dificuldades, é importante termos paciência. Não podemos cobrar de nós mais do que podemos oferecer – esse é um lembrete que devemos guardar com muito cuidado. Temos dificuldades. Enquanto não conseguirmos olhar para as nossas dificuldades e liberá-las, seguiremos com elas.
Liberamos as fixações quando ultrapassamos a mandala particular pela experiência da liberdade mais ampla de construir outras mandalas. Ao entrarmos em uma mandala mais ampla, olhamos as mandalas particulares e a realidade convencional como construções menores que não mais nos sentimos obrigados a habitar.
Vamos tomar como exemplo uma pessoa que torce por um time de futebol. Mesmo que não reconheça, ela não está presa ao time. Por mais que esteja envolvida no processo, tem a liberdade de torcer por outro time, ou por todos ao mesmo tempo. Isso é liberdade em meio à forma.
Não nos liberamos porque nos viramos contra o que fazíamos, mas porque olhamos de uma posição mais ampla e reconhecemos que temos liberdade de ação. Esse é o ponto: nos liberamos porque nossa mandala se amplia; nossa visão fica mais ampla.
Se pudermos olhar nossas dificuldades com lucidez, também poderemos fazê-lo com as dificuldades dos outros seres. O olhar lúcido para as dificuldades dos outros seres é o olhar de Chenrezig, o Buda da Compaixão. Com o olhar de Chenrezig, perdoamos além do perdão e do não-perdão. Trata-se de um perdão que cura todas as manifestações de amargor e ressentimento. Não há mais a visão de oposição, culpa ou penalidade em relação ao outro.
Pela perspectiva da mandala, não nos empenhamos em mudar nosso comportamento, não é esse o método de avançar. A ideia é mudar a mandala, porque, quando mudamos a mandala, como decorrência mudamos o comportamento, mas sem esforço. Se fizermos o caminho oposto, se tentarmos mudar o comportamento sem mudar a mandala, o resultado parecerá torto, desajeitado, artificial.
Ao avançarmos para mandalas mais amplas, morremos a cada avanço. Morremos nas limitações e renascemos de forma mais ampla. Em termos práticos, vamos perceber ou até mesmo treinar essa ampliação de nossa forma de existência no mundo em etapas. Não conseguimos fazer de um salto.
Como treinamento, podemos começar, por exemplo, com as quatro qualidades incomensuráveis – compaixão, amor,alegria e equanimidade. Treinamos uma visão na qual as quatro qualidades incomensuráveis sejam algo natural. Contemplamos então a mandala comum, ou seja, a visão convencional do mundo, na qual a compaixão, o amor, a alegria e a equanimidade não parecem possíveis. Trocamos de mandala e passamos a olhar as mesmas coisas sem mudar nada, sem tirar nada do lugar. Mudamos os olhos e a mandala, é assim que começamos a treinar. Perguntamos: "É possível compaixão, amor, alegria e equanimidade?". E vemos que é possível – tornou-se possível.
Temos tendência a acreditar que são nossos esforços que fazem as transformações, mas na abordagem da mandala o esforço se dá apenas no sentido da troca de mandala, e não propriamente da troca de ação. Esforços para trocar de ação nunca resultam em algo verdadeiramente estável. A grande mandala permite a manifestação natural, física, de todas as qualidades positivas e dá sustentação a elas sem esforço.
Na realidade convencional, nossa energia move-se a partir do gostar e do não gostar, aproximando-nos do que gostamos e afastando-nos do que não gostamos. Nossa inteligência, nossa visão, é binária. Sentimos atração ou repulsa pelas experiências. Dentro da visão binária, existe o hedonismo: "Eu quero o que é bom e pronto. É muito simples; eu já sei o que eu quero da vida: o que é bom!".
O hedonismo não produz nenhum resultado estável. Ao buscar simplesmente o que achamos positivo, estamos perdendo tempo. Tão logo encontramos coisas positivas, elas começam a mudar. O que de início achávamos positivo com o passar do tempo torna-se negativo.
Por exemplo: uma pessoa começa a torcer por um time de futebol que está indo muito bem, vencendo campeonatos. Isso naturalmente a deixa muito feliz, mas logo aquilo gira, e o time perde. A pessoa passa a sofrer pela mesma razão que antes lhe trazia alegria: torcer por aquele time. O mesmo acontece com as relações, empregos e todas as escolhas que fazemos na vida.
De modo geral, fazemos uma opção hedonista, o que não significa que obtemos uma felicidade hedonista ou pecaminosa que seja. Achamos que tudo o que é proibido e pecaminoso deve esconder um sabor realmente fantástico. Assim, atiramo-nos naquela direção, como se fôssemos encontrar alguma coisa extraordinária ali. Mas não há nada, não encontramos a felicidade.
O hedonismo é um engano. Ainda assim, não precisamos nos colocar contra o hedonismo. O que precisamos é apenas olhar tudo de forma mais ampla. Quando conseguimos avistar a mandala e ver esses referenciais que utilizamos de forma não-lúcida, percebemos que não estamos indo a lugar algum. Nosso objetivo é a felicidade, mas o hedonismo não é um bom caminho. A partir dessa compreensão, tentamos um caminho gradual que nos conduza à mandala. Esse caminho é uma visão mais elevada. Vamos ampliando nossa visão, e por isso avançamos. Olhando da perspectiva da mandala, nosso objetivo é ter um nascimento dentro das visões mais elevadas, assim como dar nascimento aos outros dentro dessas mesmas visões. Essa é a mandala.

Mandala da Cultura de Paz
Em nossa ação no mundo, nosso objetivo maior não será o indivíduo, mas a sociedade. Em vez de nascimentos individuais dentro da Mandala da Cultura de Paz, vamos trabalhar para dar o nascimento de grupos na mandala. O processo social é mais importante do que o individual. Quando a cultura de paz se estabelece socialmente, ou seja, um número significativo de pessoas se relaciona, estabelece uma linguagem e cria uma visão, essa visão é a geradora natural de várias ações positivas. Surgem as iniciativas práticas, projetos, construções, treinamentos etc. A energia positiva está presente e dá vida a tudo.
A partir da mandala, o trabalho social deixa de ser uma forma de treinamento em aptidões práticas. Torna-se um processo no qual o eixo, o fio, o referencial básico é que o outro nasça para visões mais elevadas, e naturalmente, em algum momento, para as visões da perfeição da sabedoria. O objetivo é que as diversas etapas sejam um trajeto nessa direção.
O treinamento para criar habilidades de geração de renda é importante, mas a motivação deveria ser elevada, e não apenas a de acessar mais intensamente um processo hedonista. Se as pessoas gerarem renda dentro de um processo de lucidez, perfeito. A renda pode ser muito útil. Mas tomarmos a geração de renda como um objetivo em si é um engano. Apenas mantém o processo hedonista atual que nos coloca na dependência das situações externas, que nos limita a percebermos o mundo através das sensações do gostar e não gostar, à mercê das configurações flutuantes, incertas e frustrantes do mundo.
É natural que, a partir da visão hedonista, busquemos poder; entre estes o poder econômico. A formulação teórica do hedonismo converge para a visão econômica da realidade. Tudo se resume a economia. Com recursos econômicos, podemos dispor de muitas pessoas para atender nossos desejos; contratamos pessoas para que manipulem as aparências por nós.
Mesmo algumas abordagens da cultura de paz podem ficar limitadas a projetos de geração de renda, meios econômicos de manipular a realidade externa. As pessoas imaginam que, tendo dinheiro, vão obter paz e felicidade. Isso é um equívoco.
Para produzir paz, é necessário ampliar a visão, alcançar a mandala, abandonar as visões menores. Precisamos olhar as pessoas e dizer: "Sim, ela pode estar dentro da mandala!". Olhar para os nossos filhos e dizer: "Ele está dentro da mandala!". Mas isso não é muito fácil. Quando olhamos para os nossos filhos, na cultura em que estamos, pensamos: "Ele precisa ser um engenheiro, um profissional competente em alguma área, para ganhar dinheiro. Só assim ele será feliz". Mesmo com nossos filhos não conseguimos ter uma visão de mandala; tampouco conosco mesmos.
Muitas vezes, nossa prática espiritual está atrelada à visão econômica: "Para ter sucesso econômico, preciso estar estável. Assim terei condições de competir melhor, galgar posições e ganhar mais dinheiro". Com essa motivação não meditamos para atingir a liberação, mas para ficar mais lúcidos, mais saudáveis, para obter os resultados comuns do mundo. Essa é a perda da visão da mandala. Não chegaremos a lugar algum com isso.
A visão da mandala é essencial. Sem a visão correta, a própria noção de cultura de paz perde o sentido e deixa de ser uma solução. A partir da noção de mandala temos uma linguagem para trabalhar de uma forma integrada, sem precisarmos nos isolar do mundo. Surge um caminho gradual, um fio que se constitui no referencial profundo para as ações aparentemente externas no mundo.

Nova inteligência na gestão e ação no mundo
Visão é essencial à gestão, por isso precisamos de uma nova inteligência. As dificuldades que enfrentamos hoje vêm do fato de que a formação dos gestores leva-os a uma visão imprópria da realidade. Leva-os a uma circunstância onde os obstáculos e sinais não auspiciosos se multiplicam em todas as áreas.
A economia e a gestão evidentemente atuam dentro de um ambiente sutil volátil e não em um mundo fixo e matemático. É um mundo onde sentimentos, emoções, impulsos, sonhos e medos têm o poder de criar realidades e definir as ações a serem tomadas. Hoje percebe-se a importância de trazer aos gestores uma abordagem mais ampla onde se possa compreender melhor os fatores imponderáveis que teimam em flutuar diante dos olhos, afetando planejamentos e sonhos aparentemente tão bem estruturados.
Niels Bohr, Prêmio Nobel de Física, formulador da abordagem filosófica da física quântica, a teoria da complementaridade, enfrentou dificuldades semelhantes na física do mundo microscópico, onde o comportamento da matéria parecia demasiado estranho e imprevisível. Devemos a ele especialmente a reintrodução da importância do papel do observador na constituição da realidade, que parece algo externo ao observador. Niels Bohr evidenciou de modo acadêmico que a não inclusão da influência do observador no que parece ser um mundo externo desconsiderava uma variável do problema, e isso produzia ambiguidades na compreensão dos universos de estudo considerados.
Numa linguagem budista, as coisas são sempre definidas em nível sutil, construímos mundos que parecem externos e ficamos presos a eles. Sua Santidade o Dalai Lama, Prêmio Nobel da Paz de 1989, diz que a mente é livre e luminosa, pode sonhar coisas positivas e negativas. Quando cria o que é positivo, isso resulta em felicidade e equilíbrio; quando cria negatividades, isso resulta em sofrimentos e dificuldades.
William James, assim como Ludwig Wittgenstein, desde o final do século XIX já apontava de modo minucioso a importância da compreensão do papel do observador no tratamento da realidade. Essencialmente, nossa visão fica limitada ao espaço abstrato das possibilidades que sonhamos. A realidade como a sonhamos – trata-se de um sonho que vemos mesmo quando despertos – delimita as possibilidades do que pode ser visto e do que não será visto.
Estamos presos aos mundos, referenciais, opções e sonhos que construímos. Compreendendo o poder decisivo desse elemento, não somos mais vítimas de realidades externas, mas entendemos que temos o recurso de sonhar mundos mais positivos. Quando entendemos isso, novas palavras ganham sentido: inseparatividade, coemergência, impermanência, sofrimento, sustentabilidade, complexidade, complementaridade, mandala.
Essa complexidade permite ações eficientes, que consideram as variáveis verdadeiramente presentes. A solidez da realidade vem de dentro dos sonhos, dessa região sutil surge o referencial das nossas ações e não de uma aparente realidade rígida e externa. Somos desafiados a sonhar na direção correta. É o exercício de uma liberdade para a qual talvez nunca tenhamos sido treinados pelo sistema de ensino, não importa por quantos anos o tenhamos percorrido.
De Sua Santidade o Dalai Lama vem o conselho do bom senso: nossas ações deveriam ter por objetivo causar felicidade e não causar sofrimento. É simples na forma, profundamente desafiador na ação. E essencial como motivação básica, como eixo para todas as nossas ações.
É evidente que a ação dos cientistas deveria resultar em felicidade e não em sofrimento, assim como as ações dos administradores, economistas, engenheiros, médicos, políticos, produtores rurais, professores, pais e mães. Isso é apenas bom senso. Na visão budista, nossa existência no mundo se dá através de processos de relação; portanto, nossas ações deveriam ter como meta produzir melhores relações de nós conosco mesmo, com as outras pessoas, com as autoridades locais e com a natureza. É evidente que relações negativas conosco mesmo, com os outros, com as autoridades e com a natureza vão causar problemas.
Nesse ponto há um componente adicional mágico da realidade: observamos que, ao agir segundo esses referenciais, surge em nós a experiência de uma energia natural e positiva, e também de felicidade. Observamos que, se esse referencial não está presente, mesmo que estejamos brilhando em meio a vitórias e desafios, não há felicidade e nossa energia flui com esforço. Na ausência de uma motivação positiva, nossa vida parece carecer de sentido e eventualmente dá a sensação de um fardo pesado.
A falta de referenciais positivos está na raiz dos desequilíbrios sociais e individuais que têm se manifestado como uma epidemia. Vivemos um novo gulag. Uma cultura impõe sobre nós sentidos e significados aparentemente fixos, externos, reais, mas as consequências negativas na forma de desequilíbrios são diagnosticadas como fragilidades individuais. Assim, as vítimas dos referenciais dessa cultura são punidas por seu comportamento e, quando esgotadas, são tratadas individualmente como doentes físicos e mentais. Questões amplas são reduzidas a questões individuais. Como resultado não há progresso na repressão às agressões a nós, aos outros, às lideranças locais e à natureza, e tampouco no que diz respeito ao equilíbrio interno e à felicidade.
Na perspectiva budista, precisamos avançar para uma visão que abarque todos os componentes da realidade. Ao assumir os recursos da visão mais ampla, nossas ações se tornam naturalmente positivas, sem a necessidade de regras e repressão. Além disso, surge progressiva tranquilidade e felicidade, e reconhecemos a preciosidade da vida humana que temos. Surge a experiência da mandala da lucidez.
A mandala é do que precisamos desde sempre, individual e coletivamente. Nossa necessidade pode ser resumida em uma palavra: lucidez. Nesse ponto a gestão da visão, da ação econômica e da ação no mundo se tornam naturalmente positivas e sem esforço, e compreendemos o sentido da expressão nova inteligência.
His Holiness the Dalai Lama often summarizes Buddhist philosophy in a sentence: "Do good whenever it is possible; if you can’t do good, try to avoid doing evil.” One of the special notions of Buddhism is that the world surrounding us is inseparable from ourselves. So, if we are good to other beings and the environment, we are taking care of our own good. If we do harm to others and to the environment, we are harming ourselves. All beings are connected to each other, all depend of each other.
The Buddhist concept of interdependence also says that we – and everything around us – lack the solidity we deem to have. We assign identities and qualities to each and every thing, including ourselves, from a limited binary standard of liking and disliking, wanting and not wanting.
The name for the worlds that emerge inseparable from our minds is "mandala".Mandala does not refer only to a material world, but to the experience of this world, to the observer, the cognitive limits, the energies of action, the emotions and the body.
Each mandala emerges with an inseparable corresponding type of lively and active intelligence. This kind of intelligence is transcendent, not personal, not corruptible and free from time. Incessantly available, it can be recognized and accessed without effort or struggle at any moment. The Buddhist goal is to leave the limited mandalas and reach the mandalas of wisdom, immune to the binary standard of liking and disliking.
All beings aspire to happiness and shelter from suffering. Our parents teach us skills so that we come closer to happiness and protect ourselves. Our parents, teachers and masters also teach us discipline, and with that we enhance our ability to attain difficult goals, to cross disturbing and demanding environments and to deal with momentary adversities in search of further achievements.
Buddhism teaches us the capacity of recognizing pure worlds and pure intelligence, so that, installed in the experience of these pure environments, the positive actions are naturally fulfilled without effort and without contradiction. These pure worlds are the mandalas of wisdom.
When we insert ourselves in a mandala of wisdom, we acquire the conditions for really doing what is better for us and others, for humanity and the environment. We are able to experience love and compassion with joy and equanimity, without falling prey to the difficulties which may appear. The world around us continues to be the same, but we change our way of seeing, and that changes everything. The purer and larger the mandala, the greater our freedom and capacity to generate good. Besides our personal insertion in mandalas of wisdom, as agents of the culture of peace, we try to help others to do the same and migrate to greater mandalas.

The synchrony of vision and action
The notion of mandala comes from the understanding that we build realities around us, and in doing so we also build ourselves. Then we realize what co-emerges as an inseparable process.
When we build favorable worlds and manifest wisdom, our positive action becomes natural, unblocked, compassionate and loving. From that moment on, the spiritual path focused on controlling the actions of body, speech and mind is replaced by the understanding that we must observe and direct the way we build ourselves together with these worlds. Building the world with lucidity, we will have a lucid body, lucid speech and lucid mind.
If we build the world based on ignorance, our body, speech and mind impulses will be based on this mistaken world vision that we develop. We can listen to the words of spiritual masters and try to follow their advices on how to use body, speech and mind, but everything is going to seem very artificial. Because the natural wisdom we use springs from the understanding we have of the world. From a mistaken understanding of the world nothing but mistaken impulses will spring.
Even being aware that the masters are correct, if we don’t develop the vision of the masters, our action will be contradictory and we will not see a solution, never have a rest, always be in internal conflict, never have a non-repressive behaviour. We will always be trying hard to follow the masters’ advice.
This effort produces a dramatic effect. We try so hard that one day we tire; when we reach this point, the fall is abrupt, and we say: "I give up. If spirituality were natural, I would walk naturally in a lucid and valid path. However, it seems to me completely artificial.” It seems artificial because we need constant effort, we never find a point of balance and must constantly try to recall what we hear. After so much effort, we finish by giving up.
We might wrongly believe that conventional reality is very powerful and far reaching. We might think, in spite of constructing a more elevated reality, that what really exists is the conventional reality of difficulties and suffering. We stop trying to improve ourselves and the world.
Trying to alter behaviour can be a very painful and slow way to reach uncertain results. The person who modifies her behaviour without changing her vision will certainly fall again further on. The cyclical aspect is a natural process of life, we go through ups and downs. Only from the mandalas of wisdom will we effectively have the vision that allows action without effort. The vision sprouts without effort because inside a mandala of wisdom we do not fight against ourselves, but we see and act naturally. The spiritual path presents itself without internal conflicts.
When one begins by training and by the obedience to rules, promises and actions, inner repression and outer discipline are unavoidable. Conflict becomes inevitable, and effort becomes constant and stressful. Our actions are coherent with our vision. If we are trained to act not in harmony with our world view, our actions will have no power.
I was able to watch boys learning to play violin in institutions for juvenile delinquents. To learn music is marvellous. But, when the boys leave the institution, the violin becomes useless to them. Very frequently they return to the view which made them do the actions for which they were sent to the institution. Even playing the violin, the views they have of the world, the family, and the neighbourhood did not change. Inside their reality, in their way of looking at the world, inside their limited mandala, naturally , selling drugs makes much more sense than playing the violin.
Thus , it is essential to generate a world view so that actions emerge naturally, without effort and without contradictions. The world views, which can be individually and socially generated, potentialize actions.

Everyone in the same mandala
We are inseparable from the mandalas in which we live. We may not even know which mandala we live in, but all of us live inside a mandala. Although we are all in the same place, in some sense we are not. Each one of us sees his or her experience in a certain way. In Buddhism, the experiences of reality are classified in six kingdoms – of gods, demigods, humans, animals, famished beings and hellish beings. In appearance, they all inhabit the same regions. However, in a subtle way, each one lives in a different place.
And where do the buddhas walking about the world live? They live in thatagatagarba, the mandala of the thatagatas. Thatagatas are buddhas who walk about the world. The thatagata and the beings from the six kingdoms walk in the same places, but he sees what the others can’t see: the natural perfection of everything. The thatagatas have a pure world view. This is the thatagatagarba experience. And this is the difference between any being from the six kingdoms and a buddha. The buddha lives in thatagatagarba, and the other beings live in their specific domains.
Buddhas are those who enter the mandala of lucidity. And in this mandala of lucidity, called Perfection of the Wisdom, the buddhas see all beings with a buddha nature, with a free nature. When buddhas see in this fashion, it is as if all beings were in the world of perfection, manifesting the qualities of ultimate nature – and they are! This is the buddhas’ view, an that’s why they are buddhas.
When buddhas enter thatagartabada, they do not enter individually; they and all beings enter at the same moment. To enter thatagatagarba, the buddhas need to recognize that all beings have buddha’s nature. This is a marvellous, extraordinary experience. It is not possible to enter alone, nobody sees the light alone!
When a buddha attains enlightenment, he develops a pure vision that allows all beings to be seen as buddhas. If anyone claims to have reached illumination having left out hopeless or undeserving beings, something is wrong. Buddhas see everything from the Mandala of the Perfection of Wisdom, from where they recognize all beings living beyond life and death. It is a space beyond space and time.
When we don’t have an ample view, when our vision is partial, we believe that only a few have buddha’s nature, that only a few are buddhas. This is a flaw in our view, a limitation. If our view is slightly increased, we will see that other beings are included in that list. The wider our view, the longer our list. Inclusion is, therefore, a recognized standard of the quality of our progress. From the moment we include the other, the other is with us inside the mandala. In the same way, from the moment we exclude the other, we too, unconsciously, leave the mandala.
If anyone is outside, it is because we likewise did not yet get in. So, we see, the impossibility of the other being in the mandala in practical terms signifies our own exclusion. Ours or someone else’s exclusion is the same thing. Imagining that some people are inside the mandala and others not, we are giving preference to someone. To give preference is to exclude. Exclusion and preference are the same thing. The impossibility of seeing buddha’s nature in others is the impossibility of manifesting qualities of a buddha. This is understanding unity, the inseparability of the mandala.
When contemplating our difficulties, it is important to have patience. We cannot ask ourselves more than we can offer – this is a reminder to be observed very carefully. We do have difficulties. As long as we cannot face them and release them, we will continue with them.
We let go of such fixations when we go beyond the private mandala through the experience of a greater freedom building other mandalas. Upon entering into a larger mandala, we look at private mandalas and conventional reality as minor constructions we no longer feel obliged to inhabit.
Let’s take a person, for example, who supports a football team. Even not admitting it, this person is not bound to the team. However much involved with the process, this person is free to support another team, or all of them at the same time. This is freedom amidst form.
We don’t free ourselves because we turn against what we were doing, but because we look from a more ample position and recognize that we have freedom of action. This is the point: we free ourselves because our mandala gets bigger; our view increases.
If we can lucidly face our difficulties, we can do the same with the difficulties of other beings. The lucid gaze at the difficulties of other beings is the gaze of Chenrezig, the Buddha of Compassion. With the gaze of Chenrezig, we forgive beyond forgiveness and non-forgiveness. Such forgiveness cures all manifestations of bitterness and resentment. There is no longer any view of opposition, fault or penalty regarding other beings.
From the perspective of the mandala, we don’t try to change our behaviour, for this is not the method for advancing. The idea is to change the mandala, because by changing the mandala we consequently change behaviour, but without effort. If, on the contrary, we try to change behaviour without changing the mandala, the result will seem twisted, clumsy, artificial.
When we advance to larger mandalas, we die at each step. We die with the limitations and are reborn in a more comprehensive way. In practical terms, we realize or even rehearse this expansion of our way of being in the world step by step. We do not succeed in one jump.
As a drill, we may begin, for example, with the four immeasurable qualities – compassion, love, joy and equanimity. We practice a view in which the four immeasurable qualities are something natural. Then we contemplate the common mandala or, in other words, the conventional world view in which compassion, love, joy and equanimity do not seem possible. We change mandalas and start looking at the same things without changing anything, without taking anything out of place. We change the eyes and the mandala, that’s how we start training. We ask: "Is it possible to have compassion, love, joy and equanimity? ” And we see that it is possible – it became possible.
We tend to believe that our efforts cause the transformations, but in the mandala’s approach effort only happens in the sense of changing mandalas, and not, actually, changing action. Efforts to change action never come to anything really stable. The great mandala allows for the natural, physical manifestation of all positive qualities and supports them without effort.
In conventional reality, our energy is moved by likes and dislikes, taking us near to what we like and far from what we dislike. Our intelligence is binary, our vision is binary. We are attracted or repelled by the experiences. Inside the binary vision, there is hedonism: “I want what’s good and that’s it. It is very simple; I already know what I want of life: the good things!”
Hedonism does not produce any stable result. When we only look for what we think is positive, we are wasting time. As soon as we find positive things, they begin to change. That which we found positive in the beginning becomes negative with time.
For example: a person begins to support a football team which is doing very well, winning championships. That naturally makes the person very happy, but soon things begin to change, and the team loses. Then the person suffers for the same reason she was happy before: supporting that team. The same thing happens concerning relationships, jobs and all other choices we make in life.
Generally, we make a hedonistic option, which does not mean that we get a hedonistic or even a sinful happiness. We find that anything prohibited and sinful tastes really fantastic. So, we run in that direction as if we were to find some extraordinary thing there. There is nothing, we do not find happiness.
Hedonism is a mistake. Nevetheless, we don’t need to be against hedonism. We only need to look at everything more thoroughly. When we catch sight of a mandala and see these points of reference which we use in a non-lucid fashion, we realize that we are going nowhere. Happiness is our destination, but hedonism is not a viable road. Understanding this, we try a gradual path that will take us to the mandala. This path is a higher vision. We keep magnifying our vision, and so we advance. Looking from the mandala’s perspective, our goal is to be born inside the highest visions, and to deliver others inside the same visions as well. This is the mandala.

The Culture of Peace Mandala
In our action in the world, our prime objective will not be the individual, but the social. Instead of individual births inside the Mandala of the Culture of Peace, we will try to give birth to groups in the mandala. The social process is more important than the individual. When the culture of peace is socially established, that is, when a meaningful number of people relate to each other, establish a language and create a vision, this vision is a natural generator for several positive actions. Practical initiatives, projects, constructions, formations, and everything else blossom. A positive energy is present and gives life to everything.
From the mandala on, social work is no longer a kind of training in practical proclivities. It becomes a process in which the axis, the thread, the source of reference is that others be born for higher visions, and naturally, at some moment, for a view of the perfection of wisdom. The goal is that the various stages be a path in this direction.
Training to create skills to generate income is important, but the motivation should be elevated, not simply a shortcut to heighten a hedonistic process. If people generate income within a process of lucidity, that’s perfect. Income can be very useful. But to take income generation as a goal in itself is a mistake. It only keeps the hedonistic process going, making us dependent on external circumstances, and limited by a world perception based on our likes and dislikes, at the mercy of floating, uncertain and frustrating world configurations.
It is natural, from the hedonistic point of view, that we seek power; economic power included. Hedonism’s theoretical formulation converges toward an economic view of reality. Everything comes back to economics. With economic resources, we can find many people available to satisfy our wishes; we employ people to manipulate appearances for us.
Even in the culture of peace one may find approaches that are limited to income generation projects, economic means to manipulate external reality. People imagine that, having money, they will obtain peace and happiness. This is a mistake.
To produce peace, it is necessary to broaden our view, reach the mandala, abandon minor views. We need to look at people and say: "Yes, she can be in the mandala!” To look at our children and say: "He is in the mandala!” But that is not very easy. When we look at our children, in the culture we are in, we think: "He needs to be an engineer, a competent professional in some area, to earn money. Only then he will be happy.” Not even with our children we are able to have a mandala view; not even with ourselves.
Very often, our spiritual practice is tied to an economic view: "To have economic success I need stability. Then I will have the conditions to compete better, climb to high positions and earn more money.” With these motives we do not meditate to reach liberation, but to be more lucid and healthier, to obtain the common world results. This is the loss of the mandala view. We’ll get nowhere with that.
The mandala view is essential. Without correct vision, the very notion of culture of peace makes little sense and no longer is a solution. Within the notion of mandala we have a language for integrated work, and no need to isolate ourselves from the world. A gradual path appears, a thread which constitutes the deep source of reference for the apparently external actions in the world.

New Intelligence Managing Action in the World
Vision is essential to management, therefore we need a new intelligence. The difficulties we face today come from the fact that the education of our managers gives them an inappropriate view of reality. It leads them to circumstances in which inauspicious obstacles and signs multiply in all areas.
Economy and management clearly work in a subtle, volatile environment; not in a fixed, mathematical world. It is a world where feelings, emotions, impulses, dreams, and fears have the power to create reality and to define actions to be taken. We see the importance today of offering a broad approach to managers so as to better understand imponderable factors that keep floating before our eyes, affecting plans and dreams apparently so well structured.
Niels Bohr, the Physics Nobel Prize winner who devised the philosophical approach of quantum physics, the theory of complementarity, faced similar difficulties in the physics of the microscopic world, where the behaviour of matter seemed too strange and unpredictable. We especially owe to him the reintroduction of the importance of the observer’s role in constructing reality, that seems external to the observer. Niels Bohr demonstrated in academic terms that the non-inclusion of the observer’s influence in what seemed to be an external world disregarded a variable of the problem, producing ambiguities for understanding the relevant universes of study.
In a Buddhist language, things are always defined at a subtle level, we build worlds that seem external and are imprisoned in them. His Holiness the Dalai Lama, the Nobel Peace Prize winner of 1989, says that the mind is free and luminous, it can have positive and negative dreams. When its creation is a positive thing, the result is happiness and balance; when it creates negativeness, the result is suffering and troubles.
William James, as well as Ludwig Wittgenstein, by the end of the 19th century elaborated on the importance of understanding the role of the observer when dealing with reality. Essentially, our view is no bigger than the abstract space of the possibilities we dream of. The reality of our dream – it is a dream we have even awake – determines what can be seen and what will not be seen.
We are imprisoned in the worlds, systems of reference, options and dreams we build. Understanding this element’s crucial power, we are no longer victims of external reality, but we understand that we have the inner resources to dream more positive worlds. When we understand that, new words begin to make sense: inseparability, co-emergence, impermanence, suffering, sustainability, complexity, complementarity, mandala.
This complexity allows efficient actions, considering the variables that are really present. The solidity of reality comes from within the dreams, from this subtle region emerge points of reference for our actions and not for an apparent, rigid and external reality. We are dared to dream in the correct direction. It is the use of a freedom that perhaps the educational system never taught us, regardless of how many years we’ve been going to school.
From His Holiness the Dalai Lama comes the most sensible advice: our actions should aim to cause happiness and not cause suffering. It is simple in form, profoundly daring in action, and essential as a basic motivation, an axis for all our actions.
Undoubtedly, the action of scientists should produce happiness and not suffering, just as the action of administrators, economists, engineers, doctors, politicians, rural producers, teachers, fathers and mothers should. This is simply commonsensical. For Buddhism, our existence in the world happens through processes of relationship; therefore, the aim of our actions should be building better relationships with ourselves, with others, with local authorities a nd with nature. Evidently, negative relationships with ourselves, with others, with authorities and with nature will cause problems.
In this point there is an additional magic component to reality: we notice that, when we act in accord with these points of reference, a natural and positive energy, and also happiness, grow in us. We notice that, if these references are not present, even when we shine with our victories and challenges, there is no happiness and our energy barely flows. In the absence of a positive motivation, we feel our life is meaningless and eventually a heavy burden.
The lack of positive referentials is at the root of social and individual imbalances that keep appearing like an epidemic. We live a new Gulag. A culture imposes on us meanings and explanations that appear set, external, real, but the negative consequences in the form of imbalances are diagnosed as individual weakness. So, the victims of these cultural references are punished for their behaviour and, once depleted, they are individually treated as physical and mental patients. Broad issues are reduced to individual questions. As a result, there is no progress in curbing aggression toward us and others, toward local leaderships and nature, and much less on matters concerning internal balance and happiness.
In a Buddhist perspective, we must advance to a view that includes all components of reality. Drawing resources from the larger vision, our actions become naturally positive, needing no rules and repression. Moreover, progressive tranquillity and happiness take over and we recognize how precious is the human life we have. We then experience the mandala of lucidity.
This is the mandala of what we, individually and collectively, always needed. Our need is summed up in one word, lucidity. Here, the managing of views, economic action and action in the world becomes naturally positive and effortless, and we understand the meaning of the expression new intelligence.