Um dia, comecei a perceber nele um homem bonito, charmoso, atraente. Lembro-me de observar suas mãos grandes e fortes. Sempre me atrairam as mãos.
Não me lembro como começamos nossas vidas juntos. Foi algo incomum. Tudo aconteceu muito rápido apesar de transcorrerem cinco anos até nos casarmos.
Tivemos nossos filhos, os criamos, passamos por poucas e boas juntos, um apoiando o outro. No entanto, com pouquíssimo diálogo, o tarciturno.
Hoje, passados tantos anos, vejo que ele continua o mesmo homem bonito e atraente, mesmo porque os homens, diferente das mulheres, envelhecem e ficam mais charmosos. Não precisam de nada além de cabelos grisalhos e óculos escuros. A mistura é fatal!
Entretanto, continua autoritário, agressivo e dá ordens. Só não faz mais críticas porque passou a ser uma pessoa ainda mais taciturna, reprimida, calada, introspectiva e, quando fala, diz palavrões, é irritadiço, ranzinza, pirracento e do contra. Parece carregar dentro de si algum fardo, algum sapo que engoliu, algum arrependimento de umas atitudes que não tomou no tempo certo. Tem antipatia de tudo que faço porque eu e ele não gostamos das mesmas coisas.