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quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Sobre a cólera, a raiva, o ódio.

"Quando estamos sob o domínio do ódio ou da cólera, não nos sentimos bem nem física nem mentalmente. Toda a gente repara nisso e ninguém tem vontade de estar connosco. Até os animais fogem de nós, excepto as pulgas e os mosquitos, que só querem o nosso sangue! Perdemos o apetite, deixamos de dormir, às vezes ficamos com úlceras, e, se estivermos continuamente nesse estado, iremos certamente reduzir o número de anos que nos resta para viver.

A cólera e o ódio, em particular, são a causa de uma grande parte das desgraças deste mundo, desde as disputas familiares aos piores conflitos. A cólera e o ódio tornam insuportável qualquer situação agradável. Nenhuma religião as louva como virtudes. Todas elas dão ênfase ao amor e à bondade. Basta ler as diferentes descrições do paraíso para darmos conta de que elas falam de paz, de beleza, de jardins magníficos, de flores, mas nunca, tanto quanto eu saiba, de conflitos e de guerras. Por conseguinte, não atribuímos à cólera qualquer qualidade.

Os nossos verdadeiros inimigos são os venenos mentais: a ignorância, o ódio, o desejo, a inveja, o orgulho. Estes são os únicos capazes de destruir a nossa felicidade.

Como havemos de lidar com a cólera? Para algumas pessoas a cólera não é um defeito. Os que não têm o hábito de observar o espírito pensam que ela faz parte da nossa natureza, que não a devemos reprimir mas, pelo contrário, exprimi-la. Se isso fosse verdade, teríamos igualmente que dizer que a ignorância ou o analfabetismo fazem parte do nosso espírito, uma vez que quando nascemos não sabemos nada. No entanto, fazemos tudo o que podemos para os eliminar, e ninguém protesta dizendo que são coisas naturais que não devemos mudar. Então, por quê não fazer o mesmo ao ódio ou à cólera, que são bem mais devastadores? Vale certamente a pena tentar."

Tenzin Gyatso, Sua Santidade, o 14° Dalai Lama