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quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Retirantes contemplam a vida. - Tradução

Suan Mokkh, Thailândia
Quando Sarah Medway, uma artista inglesa de 50 anos de idade, leu a programação para os próximos 10 dias, ela ficou nervosa. "Eu queria sair imediatamente. Quase não consegui passar pelo balcão de registro", ela confessou. "Eu acabara de passar por uma transição difícil na minha vida e meu filho recomendou-me que eu fizesse isso. Ele me disse que simplesmente não era mais eu mesma". No terceiro dia, Sarah estava pronta para desistir. Ela mergulhou fundo dentro de si mesma e, na manhã seguinte, sentiu uma onda de calma e se adaptou à rotina estrita. No sétimo dia, ela chorou de desespero, mas nos últimos poucos dias, ela sentiu seu espírito nascendo de novo. "É uma montanha-russa emocional", concordou Matthew Carter, um instrutor de ginástica da África do Sul que tinha acabado de completar seu quarto retiro no monastério Suan Mokkh. "Mas isto limpa a sua alma". Wat Suan Mokkh está bucolicamente situado dentro de uma floresta em Chaiya, no sul da Thailândia. O monastério de floresta foi fundado em 1932 por um dos mais reverenciados monges da Thailândia, o Venerável Buddhadasa Bhikku (literalmente "Servo do Buddha"). Ele fundou o centro como um santuário para aqueles que quisessem praticar Vipassana (meditação do insight - visão clara). "Minha verdadeira natureza era aquela de um monge da floresta", escreveu Buddhadasa em 1943 e, pelos 50 anos seguintes, ele devotou sua vida a espalhar a palavra sobre o dharma (natureza) e encorajar Anapanasati (vigilância por meio da respiração) entre seus seguidores. Tal foi sua busca pela paz no mundo que Buddhadasa começou a convidar visitantes de diferentes religiões para seu retiro silvestre, esperando que eles levassem a mensagem de volta para suas casas.

Wat Suan Mokkh e a Sala de Meditação
Buddhadasa faleceu em 1993, mas seu legado vive em Wat Suan Mokkh. Gerenciado por devotos buddhistas e voluntários laicos, o monastério organiza mensalmente retiros para estrangeiros que desejam aprender Anapanasati e explorar a si mesmos.
As inscrições são feitas no último dia de cada mês (Wat Suan Mokkh não cancelou ou adiou nenhum retiro nos seus últimos 15 anos). Os dormitórios podem abrigar até 60 homens e 60 mulheres. As acomodações são espartanas: uma cela de concreto de 3 por 4 metros tem uma cama de alvenaria e uma esteira de palha. Espera-se que os retirantes imitem a rotina do próprio Siddhartha Gautama incluindo o mínimo de sono, andar descalços, comer somente pela manhã e dormir num travesseiro de madeira.

A Resposta Está Debaixo do Seu Nariz
Qualquer um que respire pode praticar a meditação Anapanasati. Ela não requer despesa, equipamento e nenhum planejamento. É boa para sua saúde e não tem efeitos colaterais.
As instruções para um iniciante são simples: sinta sua respiração entrando em suas narinas; siga-a até seu umbigo; sinta-a voltando para fora através de seu nariz; não pense em mais nada.
Ainda assim, é uma busca que poucos e preciosos mortais podem arrogar ter conseguido em uma só vida.
Aconselha-se que você comece sentando confortavelmente com a coluna ereta (o "lótus completo" e outras posições de yoga são puramente para aparecer). Tenha os olhos semicerrados e olhe para baixo em direção à ponta de seu nariz. Então, faça algumas respirações profundas. Siga sua respiração enquanto ela entra e sai. Na medida em que os pensamentos entram na sua mente, deixe-os passar. Retorne à respiração. Depois de um tempo, suas pernas, suas costas, seu pescoço ou todos os três começarão a doer. Ignore a dor. Volte à respiração. Continue focalizando na respiração até alcançar um estado de calma. Dissipe os pensamentos. Observe somente sua própria respiração. Ouça os sons à sua volta, mas não os analise. Inspire. Expire. Continue pelo tempo que você conseguir.

Sábio, porém humilde e secamente divertido, Tan Ajahn Dhammavidu oferece a palestra diária sobre os princípios buddhistas e a prática de Anapanasati.
O monge pode perspicazmente simpatizar com as frustrações dos meditantes noviços. Ele nasceu há 50 anos na Inglaterra e, como músico e artista, passou os anos 60 e 70 vivendo um estilo de vida hippie na Índia antes de se tornar um monge buddhista Theravada nos meados de 1980. Tan Ajahn Dhammavidu diz que não se arrepende e nem sente falta do "mundo real".
"A vida é sofrimento", diz, apesar de que um sorriso irônico no rosto sugere que ele está bem feliz com sua porção. Recontando casos de seu passado travesso, o monge inglês mantém sua audiência compenetrada, um alívio bem-vindo para os que estão lidando com suas próprias almas problemáticas.
Com uma virada de ironia, Tan Ajahn Dhammavidu amarra sua narração relacionando-a aos ensinamentos do Buddha.

Os Cinco Obstáculos para a efetiva meditação - desejo, agitação, preguiça, má-vontade e dúvida - são justapostos à analogia de se comer uma pizza enquanto dopado por haxixe numa hospedaria em Bengala. Cabeças balançam em apreciação. Ele deixa muita coisa sem dizer, mas sua mensagem é sempre clara: escolha o Caminho do Meio; não se engane; fique atento a tudo.
Os sinos tocam novamente para mais uma hora de meditação caminhando. Silenciosa e atentamente, os sábios andam devagar como zumbis em volta das terras do monastério. No nono dia, pede-se que os alunos devotem o dia inteiro à prática de meditação. Não há almoço neste dia, só o desjejum. Não haverá cânticos, nem yoga. As poucas distrações que poderiam existir são removidas e os meditantes lutam para atingir o nível mais alto que puderem.

Como o retiro caminha para um final, os membros sobreviventes refletem sobre o que provavelmente foi o mais longo dos 10 ou 12 dias de suas vidas:
"Eu tenho muito respeito pelo Buddhismo, mais ainda depois do retiro", reflete Sarah. "Acredito que Buddha descobriu a física quântica a 2.500 anos atrás".
"Definitivamente vale a pena fazê-lo ao menos uma vez na vida" divagou Márcio Assis, 27 anos, do Brasil. "O travesseiro de madeira foi duro; sopa de arroz para o desjejum todos os dias foi duro; acordar às 4 da manhã foi duro. Mas, no final, senti uma atitude mental muito mais positiva. É uma oportunidade de deixar para trás o mundo capitalista e olhar para dentro".
"Considerando que eu estava aqui para pensar sobre nada, eu nunca pensei tanto em minha vida", confessa Andréa, uma aluna alemã.
Como muitos outros, Andréa foi recomendada a ir ao Wat Suan Mokkh por um amigo e veio para "purgar os demônios" depois de término traumático com seu namorado. No final do curso ela sentiu que tinha finalmente fechado um capítulo em sua vida, mas não sem angústia e o derramamento de muitas lágrimas.
Um para subir, Scotty!
Se você já visitou um dos grandes lugares sagrados do Buddhismo, tais como Lumbini no Nepal, o lugar de nascimento do Buddha, você já deve ter notado a maneira descuidada com que muitos habitantes abordam os locais turísticos. Famílias indianas correm espalhando amendoins, tirando fotos, rindo. O Buddhista ocidental convertido, por outro lado, tende a querer dar esse passo além com austeridade. Ele se sentará debaixo de uma árvore, diante de centenas de tolos e risonhos turistas, e meditará desesperadamente, sem dúvida desejando alcançar um plano mais alto e, de preferência, antes do templo fechar para o dia.
Outros preferem tomar alucinógenos ou fumar maconha antes de descer para um dia duro de meditação. Você os encontrarão nas praias da Thailândia ou de Goa. Eles param a cada cinco minutos para mais uma dose.
Depois de incontáveis retiros e milhares de turistas e desejosos de ser buddhistas, Reinhard Holscher, um dos coordenadores do programa, é cético quanto ao que chama de "Coelhinhos da Felicidade".
"A meditação é um trabalho para toda a vida", ele diz. "Iniciantes não podem alcançar nenhum estado avançado em apenas 10 ou 12 dias".
É aí que jaz o conflito na mente ocidental. Enquanto muitos orientais parecem nascer com um senso natural de habilidade para a meditação, o impaciente e caprichoso ocidental tende a achar que todo o processo é apenas uma tarefa impossível de ser realizada.
"Queremos a Iluminação agora, ou estouraremos nossos miolos tentando!" ele diz.
O fato verdadeiro é que somente uma vida ascética é condutiva a uma meditação bem sucedida. Álcool e drogas simplesmente não adiantam. É uma busca pessoal, não há competições ou Campeonatos Mundiais de Meditação. É um assunto pessoal entre você e sua alma.
Apesar dos sinais de aviso, mais de 120 ocidentais fazem suas malas e entram no monastério em busca da Iluminação todos os meses - os jovens e os incansáveis, os militantes buddhistas e os renascidos curiosos, uns escravos da rotina, outros em encruzilhadas, outros em becos sem saída, alguns procurando por respostas, alguns olhando para algum lugar dentro, outros para algum lugar fora, os atormentados, os confusos, românticos, viciados, rebanhos e um sortimento de almas perdidas.
Dos 96 que apareceram para o programa de 11 dias em abril de 1996, apenas 67 completaram o curso - tal é o tormento psicológico que muitos têm que agüentar.
"A maioria dos que saem fora são jovens e não têm a menor idéia do que esperar", Reinhard diz.
Outros não conseguem ter o suficiente. Andy é um jardineiro da Alemanha e já veio a 20 retiros em Wat Suan Mokkh. Depois do 11º dia de cada curso, ele se muda para o outro lado da estrada para o monastério principal por duas semanas "para colher os resultados".
Completando o retiro, os alunos são bem-vindos a ficar no monastério principal se quiserem mais tempo para praticar meditação num ambiente silvestre ou se eles não se sentirem prontos para voltar para o mundo exterior.
Fundamentalmente você volta para o espaço selvagem, para o tráfego barulhento, luzes brilhantes e a comoção da vida do dia a dia. Mas enquanto pega uma carona de volta para Surat Thani na traseira de um caminhão, você sente um novo começo, uma estranha sensação de que sua vida está de alguma forma mais aberta do que você poderia imaginar antes. Seus sentidos estão mais claros: você pode sentir o cheiro da grama e das árvores, você pode sentir a brisa solta nos seus cabelos como nunca sentiu antes. Você encara milhares de pessoas na rua e simpatiza com cada uma delas. Você "nasceu de novo". O mundo é agora a sua ostra.
Com uma súbita explosão de alegria você grita para o ar: "Carpe Diem!" E, talvez, pela primeira vez na sua vida, você verdadeiramente diz isso pra valer.

Os retiros de meditação do Wat Suan Mokkh (em inglês) são realizados do 1º ao 11º dia de cada mês.
Inscrição: Um dia antes que o retiro comece.
Custo: 1500 baht para alimentação e acomodação.
Retiros em língua thai são realizados do 19o ao 27o todo mês.
Contato: The Dhammadana Foundation, c/o Suan Mokkhabalarama, Chaiya, Surat Thani, Thailand, 84110.
Telephone/fax: 07-743-1597.
Web site: www.suanmokkh.org/
Suan Mokkh está situado na Highway 41, perto de Chaya, 50 km. Ao norte de Surat Thani. Trens e ônibus: use a principal linha de trem ou rodovia entre Surat Thani e Bangkok.
Aeroporto mais perto: Surat Thani
Retiro de meditação:
4h.: acordar, banhar-se, meditar, yoga.
7:30h.: desjejum, tarefas, palestra do dharma, meditação, meditação caminhando, meditação.
12:30h.: almoço (última refeição do dia), tarefas, meditação, meditação caminhando, meditação, cânticos.
18h:. xícara de chá, banho quente nas termas, meditação.
21h:. Cama
Não ler, não escrever, não fumar, não beber, nenhum pensamento ou atividade sexual, não conversar.
© 2006 tradução de Ana Carmen Castelo Branco, para a Comunidade Nalanda,
http://buddhadasa.nalanda.org.br/destinofelicidade.html

A Árvore de Jóia do Tibet: o Motor da Iluminação do Budismo Tibetano

Autor : Robert Thurman - Tradução Ana Carmen Castelo Branco Publicado em: novembro 18, 2007

Poucos professores do ocidente possuem tanto treinamento espiritual quanto o erudito para nos guiar pelo caminho da iluminação. Robert Thurman é um destes professores. Agora, em seu primeiro curso experimental sobre as essências do budismo tibetano, adaptado e divulgado de um retiro popular que ele dirigiu, Thurman - o primeiro ocidental ordenado pelo próprio S. S., o Dalai Lama - compartilha a sabedoria centenária de um método altamente valioso usado pelos grandes mestres tibetanos. Valendo-se de um texto reverenciado e já tido como secreto de um mestre tibetano do século dezessete, junto com uma total explicação para ocidentais contemporâneos, A Árvore da Jóia do Tibet mergulha-nos completamente nos mistérios da sabedoria espiritual tibetana. Um retiro em forma de livro assim como um ensinamento espiritual e filosófico, oferece um sistema prático de compreensão de nós mesmos no mundo, de como desenvolver nosso processo de aprendizado e pensamento e de como ganhar um discernimento e percepção profundos e transformadores. Os tibetanos pensam em sua querida tradição budista como uma "árvore que preenche desejos" por seu poder de gerar felicidade e iluminação dentro de todos que absorvem seus ensinamentos. A felicidade, de fato, é a real meta da espiritualidade budista e a árvore de jóia que preenche desejos os colocará no caminho para o alcance desta meta. Esta linda imagem da árvore de jóia que atua como uma mandala ou uma postura de yoga para focar sua atenção em verdades maiores que você mesmo, o ajudará a sobrepujar idéias e hábitos antigos, fortalecer habilidades positivas, desenvolver mais energia e criatividade e mudar sua vida - no futuro - para melhor. Como Thurman escreve, "Os leitores aprendem a cultivar a sensibilidade e apreço para amar mais integralmente, sentir compaixão mais intensamente e se tornar uma fonte de alegria para todos que encontram e conhecem." Porque o caminho para a iluminação requer mais do que se sentar em meditação, A Árvore de Jóia do Tibet oferece uma trilha rica, intelectualmente cravejada de práticas espirituais específicas incluindo: os onze passos para criar o espírito da iluminação aqui e agora; as verdades e estórias dos sábios hindus e tibetanos; e meditações guiadas para vivenciar as bênçãos da árvore de jóia que preenche desejos. Vocês podem fazer estas práticas com os outros ou sozinhos durante a sua vida diária. E, enquanto viajam por esta estrada para aprofundar a auto-realização, auto-entendimento e contagiante alegria, também aprenderão como os princípios do tantra tibetano pode abrir as portas para a "compaixão e continuidade infinitas" e como descobrir estados de consiciência que transcendem ate a morte.Um dos mais explícitos ensinamentos dos passos para o caminho da iluminação disponíveis, explicados por um hábil professor ocidental, A Árvore de Jóia do Tibet os tornará aptos a honrar a completa sutileza e as profundezas escondidas do caminho do budismo tibetano e realizar, enfim, seus mais profundos mistérios e procuras - para vocês e para os outros.

Curiosidade: O Professor Robert Thurman é pai da atriz Uma Thurman
http://en.wikipedia.org/wiki/Robert_Thurman

Dukkha - Tradução

Sei que não é de interesse geral esse tipo de literatura, mas achei o texto que segue tão claro e esclarecedor que julguei interessante compartilhar. Alguns destaques em negrito são meus.
DukkhaVenerável Dhammika
“No seu primeiro sermão feito em Benares, a ‘Roda da Lei’, o Buddha exprimiu aquilo que representa o coração de seu ensinamento. Ele disse:
‘Esta é a primeira nobre verdade: tudo é dukkha. O nascimento é dukkha, a vida é dukkha, a velhice, a doença, a morte são dukkha. Estar unido àquilo que não se ama é dukkha. Não realizar seus desejos, não realizar suas necessidades são dukkha. Já que isto é um fato, então trabalhem sem descanso. Vocês devem ter três metas na vida, já que a vida é assim: a primeira meta é a de trabalhar para suprimir dukkha. Se esta nobre meta não pode ser alcançada, há uma segunda nobre meta, tão nobre quanto a primeira: contribuir para diminuir dukkha. Se não puderem nunca alcançar esta segunda nobre meta, resta-lhes a terceira, tão nobre quanto as duas primeiras: não acumular dukkha‘.
O termo ‘dukkha’, quase intraduzível, significa ’sofrimento’, incluindo aí as noções mais profundas da impermanência e da imperfeição. Nada sendo permanente, durável, toda mudança intervirá cedo ou tarde e, quando ela chegar, com certeza haverá sofrimento se for ignorada a lei da impermanência. Logo, é preciso ser consciente de que tudo está constantemente em mudança. Se alguém pensa que pode congelar a coisas para sempre, enfrentará sofrimentos importantes. Por exemplo, um sentimento alegre, uma felicidade, uma paixão, não são permanentes nem eternos. Quando a mudança intervier haverá dor, aflição. Isto parece fácil de compreender; é o mesmo quando nomeamos uma pessoa, indivíduo, um eu. É somente uma combinação de forças, de energias físicas e mentais elas mesmas em perpétua mudança. Logo isso também será dukkha. Ocorre o mesmo com nossas sensações e percepções que sentimos como agradáveis, desagradáveis ou neutras: elas são impermanentes. Dukkha não é nem uma filosofia, nem uma religião, menos ainda uma crença. É uma REALIDADE científica, quer dizer que, a todo o momento, ela é demonstrável e reproduzível. A tal ponto que o Buddha disse: ‘Vou lhes ensinar a Verdade e o caminho que leva à Verdade’. Ele nos disse que a vida é sofrimento. Então, comecem por observar que vocês não são felizes, que efetivamente vocês vão mal, mal dentro de seus corpos, porque ele envelhece, porque ele degrada, porque ele é mortal.
Observem bem que, dentro de sua psique, isto também não vai bem. Um dia, vocês pensam em qualquer coisa e, no dia seguinte, pensam o contrário. Um dia, vocês dizem a alguém que vocês o amam, no dia seguinte, vocês não podem mais o sentir. Observem bem que o que é verdade num momento, é o erro do outro momento. O caminho para a felicidade é ver que vocês não são felizes ou completamente felizes e que a razão é tudo isso. (E isto não é triste), é que o que é composto será decomposto. Quer vocês gostem ou não, tudo é impermanente; tudo que começou terminará. Observem que isto os deixa tristes, angustiados. Somos tristes porque queremos que isto dure.
O Buddha não disse que as coisas são más, ele disse: ‘elas são transitórias’. Segundo o Buddhismo, a verdade absoluta é que não há nada de absoluto neste mundo, que tudo é relativo, condicionado e impermanente, tudo é dukkha.
A compreensão desta verdade, quer dizer, as coisas tais como são, sem ilusão ou ignorância, é a extinção de dukkha que os guiará ao nirvana.
Então, qual é a origem de dukkha? Encontramos três causas principais responsáveis pelo sofrimento:
1. O Apego : É a sede, o desejo ardente de possuir. É porque sofremos frustrações, sofremos pela falta de amor, que nós desejamos avidamente. Nós nos tornamos escravos de nossos desejos e caímos na paranóia.
- O apego aos seres humanos, aos seres viventes (sou apegado a minha esposa, a meu marido, aos meus filhos, ao meu cachorro, etc., no que está implícito o prazer dos sentidos: ‘Se eu sou apegado a você, é para o meu próprio prazer’.)
- O apego aos bens: a riqueza, a posse, o ter, o saber, etc…
- O apego às idéias, aos ideais, às opiniões, às crenças, às concepções, à ideologia, etc… É este apego que mais mata no mundo (‘Se você não crê no meu Deus, eu te mato’.)
2. A Aversão
3. A Ignorância : Não é uma falta de saber, mas de conhecimento, em particular de ignorar quem somos nós, do ser que somos, de qual é o sentido da vida.
Trabalhando com as três causas de dukkha, o homem vai reencontrar o ser que existe dentro dele, reencontrar o mais parecido à sua imagem quando ele está dentro do ser, dentro daquele que não há diferença entre ele e o outro. Ele alcançará, assim, esta união do céu e da terra e o despertar do homem-Deus interior. ‘O desapego puro está acima de todas as coisas’, nos disse o Mestre Eckhart.
O desapego não é desprezo nem indiferença, mas liberdade a respeito do que se possui, daquilo que nos possui e daquilo que nós não possuímos. Pelo não-apego podemos sair de nossas memórias, dos traços que nos constituem no instante presente, para descobrir em nós o ser essencial, não apegados à matriz espaço-temporal, quer dizer, à dualidade. Jesus disse que seria preciso não ser apegado a seu pai e à sua mãe… ‘Não chamar ninguém de pai, mãe’ a fim de preservar em nós o sinal do ‘um’, daquele que gera e dá a vida’“.
© Venerável Dhammika
© tradução do francês de Ana Carmen Castelo Branco para a Comunidade Buddhista Nalanda, 2006

A Família Humana - Tradução

11 Janeiro 2006

A Família Humana
"Viver a vida religiosa é um doar de si mesmo – ao Dhamma, a Deus ou a qualquer coisa que seja a verdade suprema em uma religião particular. O propósito do monasticismo é o de vocês se doarem completamente. Vocês se libertam do desejo por recompensa pessoal ou reconhecimento de qualquer tipo, apenas para serem capazes de se tornar um bom monge ou monja e se doar totalmente aos refúgios do Buddha, do Dhamma e da Sangha.
O ideal da vida familiar é para o homem e a mulher se unirem para se entregarem um ao outro. Assim, o sentido de ser uma pessoa independente tem de ser sacrificado em prol do casal. Depois, com filhos a caminho, o casal se torna uma família e tem de desistir de tudo pelos filhos. Vejo como os pais se rendem totalmente às necessidades de seus filhos e acho isso admirável. Parece que são 24 horas por dia de contínua doação a um outro ser. Algumas vezes, isso pode ser irritante e aborrecido, mas em outras vezes vocês podem ver que é muito recompensador, que os pais realmente doam de forma sábia, não sem necessidade, mas como resultado de reflexão real e entendimento da situação. Eles sentem uma tremenda alegria ao desistir de seus interesses pessoais, privacidade, direitos e muito mais por causa de uma criança indefesa".
Este é um trecho do excelente artigo "A Família Humana" do Venerável Ajahn Sumedho, monge sênior da tradição theravada thailandesa, traduzido gentilmente por Ana Carmen Castelo Branco e revisado por Amandina Morbeck para a comunidade Nalanda. Em breve, ainda hoje, no site do Nalanda em:
http://www.nalanda.org.br/sala/sumedho.phpE aqueles que quiserem colaborar com traduções úteis para as pessoas, sintam-se à vontade para entrar em contato com o email da comunidade!
escrito por Dhanapala às 07:47 0 comentários Links para este post