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segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

As Cinco Coisas a Serem Lembradas Constantemente


1. Minha natureza é envelhecer. Eu não superei a velhice. Isso é para ser lembrado constantemente.
2. Minha natureza é adoecer. Eu não superei a doença. Isso é para ser lembrado constantemente.
3. Minha natureza é morrer. Eu não superei a morte. Isso é para ser lembrado constantemente.
4. Tudo aquilo que é meu querido e prazeroso mudará e desaparecerá. Isso é para ser lembrado constantemente.
5. Sou o senhor das minhas ações, herdeiro das minhas ações, unido pelas minhas ações, protegido pelas minhas ações. O que quer que eu faça, para o bem ou para o mal, disso eu serei o herdeiro. Isso é para ser lembrado constantemente.


Sidharta Gautama, o Buda (o Desperto, Iluminado, que vem do radical "Budh", despertar) Shakyamuni (o sábio dos Shakyas)

O que é cidadania?

Cidadania é considerar o outro como se tem consideração por quem você mais preza, por quem você mais ama, seja seu filho, sua mãe, pai, esposa, marido, namorado (a)...

Você jogaria lixo na sua sala de estar, no seu quarto, sobre sua cama? Quem não daria a sua vez numa fila, no trânsito para o seu filho mais amado?

Por que você, que está de carro, não dá a sua vez para o pedestre? Afinal ele está na FAIXA DE PEDESTRE. E mesmo que não estivesse, está em desvantagem. Você está atrasado, mas está de carro. Cuidado! Não vá cometer nenhum acidente! É melhor sair mais cedo da próxima vez.

Quanto ao pedestre, se está atrasado, tem que correr, tem que suar! Está em desvantagem. Se fosse seu filho ou alguém que você ama muito, você jogaria o carro nele ou o ignoraria olhando para o outro lado da rua enquanto avança com o carro sobre a faixa do pedestre?

Se você ama alguém, tente pensar no estranho como se fosse este alguém.

Bom dia!

Quer coisa mais automática do que dizer um “Bom dia”? Quando dizemos “bom dia”, não pensamos no que estamos realmente dizendo, verdadeiramente desejando. E é prá qualquer um, prá todo mundo. “Bom dia” pra faxineira que está desde cedo nos corredores do prédio, esfregando o chão, coitada, num trabalho repetitivo: todo dia ela faz tudo sempre igual (♫); “bom dia” pro porteiro que vai encarar um dia inteiro no mais absoluto tédio, sentado dentro de uma guarita olhando pachorrento para quem entra e quem sai e ouvindo lacônicos bons-dias, boas-tardes e boas-noites. No ônibus, bom dia pro motorista e pro trocador; no escritório bom dia, bom dia, bom dia. Prá todo mundo. Mas o que é um bom dia? São duas palavrinhas que querem dizer muita coisa. Só que ninguém pára pra pensar o quê! Um dia sem contrariedades? Impossível! Isto não existe. Mas com paciência para levar os trancos que o dia nos dará, pois, sem dúvida eles virão. Um dia bom, com olhos para ver as boas coisas em vez de achar que as ruins pesam toneladas. Um dia legal sem reclamar da chuva, da seca, do calor, do frio, do sol quente, do vento frio. Um dia para parar de reclamar. Isso é que é um “Bom dia”. Já pensou? Todo mundo sorrindo largo e conscientemente dizendo com a boca cheia: BOM DIA!

Ana Carmen Castelo Branco
Belo Horizonte, 14 de fevereiro de 2003 – sábado.

Thây - Os Quatro Elementos


O Buda falou dos quarto tipos de nutrientes – alimentos, impressões sensoriais, volição e consciência. O primeiro tipo, alimento, é o que você come ou bebe. É responsável por seu bem estar ou mal estar físico e mental. Diferentes comidas contêm diferentes toxinas e certos tipos de comida podem ser inapropriadas para seu corpo. É por isso que temos que olhar na natureza de nosso corpo e da comida que ingerimos para ver se eles são compatíveis. Inspirando e expirando em plena consciência, perguntamos, “Essa comida é compatível com meu corpo e minha consciência?” Seguindo a prescrição da plena consciência você saberá o que consumir.

O primeiro nutriente: alimento

Nos ensinamentos de minha tradição, quando começamos a comer, meditamos nas Cinco Contemplações. As duas primeiras contemplações são: “Este alimento é presente de todo Universo, ele veio da terra, do céu, de numerosos seres vivos e de muito trabalho árduo. Que possamos comê-lo em plena consciência e com gratidão a fim de sermos dignos de recebê-lo.” Para ser digno de receber nossa comida, temos que comer em plena consciência. Se não comermos em plena consciência, não sentiremos gratidão e poderemos estragar nosso corpo e consciência. Se comermos nossa comida com gratidão e plena consciência, somos dignos dela.

A terceira contemplação é ser consciente de nossas formações mentais negativas, especialmente nossa tendência de comer sem moderação. O Buda sempre lembra a seus discípulos para comer moderadamente. A quarta contemplação é ver se a comida que você está ingerindo é saudável e manterá seu corpo saudável. Comida é um tipo de remédio. Deveria ser equilibrada em termos de yin e yang. Olhando profundamente e em plena consciência para sua comida, você saberá que tipos de comida pode comer e o que você deve abster de comer. A quinta contemplação é: “Aceitamos este alimento para que possamos nutrir e fortalecer nossa Sangha e cultivar nosso ideal de servir a todos os seres.”

Alguns de nós têm um sentimento de vazio, nervosismo e mal-estar por dentro. Não sabemos como lidar com esses sentimentos desagradáveis, e por isso há sempre algo na geladeira. Comemos e bebemos para esquecer a dor. Muitos de nós fazem isso. Os monásticos nos avisam para sempre comermos com nossa Sangha, a menos que estejamos doentes. Esta prática ajuda muito. Você pode fazer isso com sua família, que é também sua Sangha. Na hora do jantar, quando todos os membros da família estiverem sentados em volta da mesa, podemos praticar as Cinco Contemplações. Podemos convidar as crianças para dizer em voz alta as Contemplações. Cada um de nós pode olhar profundamente para sua comida para ver se é apropriada. Deste modo podemos criar uma energia coletiva na família que nos ajuda a comer apropriadamente e a não contaminar nossos corpos.

O Buda usava a seguinte imagem para ilustrar o primeiro nutriente. Um casal começou uma viagem através do deserto com seu pequeno filho. No meio do caminho no deserto, eles perceberam que as provisões tinham acabado. Eles sabiam que iam morrer antes de terminarem a travessia. Depois de uma dolorosa discussão, o casal decidiu matar o pequeno menino. Cada dia eles comeram um pouco da carne do pequeno menino enquanto continuavam a caminhar pelo deserto. Finalmente, eles conseguiram sair do deserto vivos. O Buda perguntou aos monges, “Querido amigos, vocês acham que o casal gostou de comer a carne do próprio filho?” Os monges responderam, “não.” Se não comermos apropriadamente, se destruirmos a nossa saúde, se comermos e bebermos de tal modo que seja tirada dos outros seres vivos a chance de viver, então estaremos comendo a carne de nossos pais e filhos em nós e ao nosso redor.

O segundo nutriente: impressões sensoriais

O segundo tipo de nutriente são as impressões sensoriais. Consumimos comida através de nossos olhos, nariz, ouvidos e corpo. Quando dirigimos pela cidade, ouvimos sons, vemos imagens e sentimos odores, todos estes considerados comida. Quando vemos um filme, estamos consumindo certo tipo de comida. Muitos dos itens que consumimos contêm toxinas. Um programa de TV ou novela podem ser altamente tóxicos. As notícias que lemos no jornal podem trazer toxinas para nossa consciência. Nosso medo, stress e desespero são nutridos por tais notícias, informações, visões e sons. Propaganda também promete que se você comprar certo produto será mais feliz. “Felicidade é fácil – apenas compre isso.” As visões e sons usados para capturar nossa atenção e que nos são empurrados contêm toxinas. Temos que nos proteger e guardar nossos seis sentidos contra essas toxinas enquanto dirigimos pela cidade.

O Buda disse que os olhos são um oceano profundo – ele falava como um poeta – com ondas escondidas e monstros marinhos sob a superfície. Se você não é plenamente consciente e não sabe como proteger e guardar as portas dos seus sentidos, afundará no oceano das formas – às vezes várias vezes ao dia. Com o barco da plena consciência, navegamos através do oceano das formas e nos seguraremos firmemente para que nosso barco não afunde. O Buda também disse que o ouvido é um oceano profundo com muitas ondas escondidas e monstros marinhos. Se você não está plenamente consciente, pode afundar no oceano dos sons.

Depressão também é nutrida pelas visões e sons. Não acontece sozinha. É criada e nutrida diariamente pelo nosso modo de consumir. Andando conscientemente através do aeroporto de Paris, vi muitos anúncios de perfumes chamados “Samsara”, “Scorpion” (Escorpião) e “Poison” (Veneno). Eles ousam chamá-los por seus verdadeiros nomes. Sabemos que perfume é um item de consumo e uma isca. Em uma isca há o anzol, e nos somos os peixes inocentes. Os produtos são anunciados, tão habilmente e a isca é tão atrativa que com uma mordida, somos pegos. O que temos para nos defendermos? Nada exceto a nossa plena consciência.

Plena consciência é o único agente que pode guardar a porta dos nossos seis sentidos e nos proteger. Os Cinco Treinamentos de Plena Consciência são insights daqueles que praticam plena consciência. Eles são prescrições concretas para nossa proteção diária. Se vivermos baseados nos Cinco Treinamentos nos protegeremos, e também nossas famílias e nossa sociedade. Os Cinco Treinamentos não foram criados por um deus ou são impostos a nós. Eles são fruto da nossa visão profunda. Estando conscientes do sofrimento causado pelo consumo não consciente, estamos determinados a não consumir itens que tragam toxinas, desarmonia, dor e tristeza para dentro de nós, destruindo nosso bem-estar físico e mental. Os Cinco Treinamentos não são um conjunto de regras, mas guias para prática de plena consciência. Precisamos nos treinar para viver de acordo. Esta é a sabedoria da auto-proteção.

O Buda usou a imagem de uma vaca com doença que destruiu a maioria da sua pele para representar o segundo tipo de nutriente: impressões sensoriais. Se a vaca ficar perto de uma parede velha ou árvore velha, todos os insetos da parede ou árvore sairão e se fixarão no seu corpo e sugarão seu sangue. Sem plena consciência, as impressões sensoriais a que somos expostos, nos destruirão um pouco a cada dia e as toxinas penetrarão no nosso corpo e consciência. Assim como a vaca precisa de uma pele saudável para se proteger, precisamos da prática da plena consciência para guardar nossos seis sentidos.

O terceiro nutriente: volição

O terceiro tipo de nutriente é a volição – nosso desejo mais profundo. Este tipo de energia nos empurra para fazermos as coisas em nossa vida diária. Temos que olhar profundamente para dentro de nós para ver que tipo de energia motiva nossas ações diárias. Estamos constantemente trabalhando duro de forma a ir a algum lugar ou fazer algo. Qual é o objetivo deste tipo de atividade? O terceiro nutriente nos motiva e pode nos trazer muita felicidade ou sofrimento.

Que tipo de energia Madre Teresa tinha em sua vida diária? Ela tinha o desejo de ajudar as pessoas pobres, sem recursos, apoio ou proteção. O desejo de aliviar o sofrimento de muitas pessoas é uma tremenda fonte de energia. Se você tem a mesma intenção – volição – dentro de você, sua vida será preenchida com felicidade. Quando compaixão – o desejo de aliviar o sofrimento dos outros – está dentro de você e te motiva, você pode se relacionar com as pessoas facilmente e ter uma vida simples. O alívio e felicidade que você leva para as pessoas pode ser sua recompensa. Quando você pode fazer uma pessoa sorrir, se sente maravilhoso. Não quer a recompensa, mas ela chega a você de qualquer forma. Há pessoas cheias de ódio que querem viver de forma a punir a pessoa que odeiam. Tal pessoa não pode ser feliz por que sua única intenção e fonte de energia é o ódio. Se estivermos motivados por uma energia negativa, nossa vida será cheia de sofrimento.

Sidarta Gautama tinha uma fonte vital de energia dentro dele. É por isso que durante 45 anos ele trabalhou diligentemente e ajudou muitas pessoas – reis, ministros, mendigos e prostitutas. Ele ajudou a todos porque era motivado pelo desejo de aliviar o sofrimento deles. Todos nós precisamos estar conscientes da natureza da nossa fonte de energia, porque ela determina a qualidade de nossa vida. Se esta energia é somente desejo – por fama, riqueza ou sexo – então ela nos fará sofrer.

O Buda usou a seguinte imagem para ilustrar o terceiro tipo de nutriente. Ele descreveu uma pessoa que quer viver e não quer sofrer, mas que é carregada por dois homens fortes e jogada em uma fogueira. Os dois homens fortes representam a volição, uma energia que nos empurra em direção ao sofrimento e morte. Como meditadores, devemos gastar tempo sentando e olhando para dentro de nós mesmos diariamente para identificar a fonte de energia que nos está empurrando e a direção em que estamos indo. Devemos ver se nossa intenção está nos trazendo sofrimento e desespero. Se for assim, devemos liberá-la e achar outra fonte de energia.

O quarto nutriente: consciência

O quarto tipo de nutriente é a consciência, a base para a manifestação de nosso corpo, nossos estados mentais e nosso ambiente. A consciência representa a soma de todas as ações que foram feitas: pensamentos, falas e atos do corpo. A maturidade da consciência traz a tona a manifestação do nosso corpo atual, nossos estados mentais atuais, e nosso ambiente atual. A consciência aqui é descrita em termos da mente iludida, a mente caracterizada por visões errôneas e aflições que resultam de volições não saudáveis. O sofrimento dos três reinos (desejo, forma e não forma) é a retribuição de nossas ações que determina a natureza e qualidade de nossa consciência. Se a consciência se alimenta de um tipo de comida saudável (Visão Correta, Pensamento Correto, Plena Consciência Correta, Fala Correta, Concentração Correta, etc.) ela experimentará transformação e se tornará mente verdadeira, que servirá como base para manifestação de um corpo saudável, estados mentais felizes e benéficos e um ambiente são e bonito.

O Buda usou a seguinte imagem para ilustrar o quarto nutriente. Um criminoso foi preso. O rei deu a ordem de esfaqueá-lo com cem facadas. O criminoso não morreu. A mesma punição foi repetida ao meio dia e a tarde. Ainda assim ele não morreu. A punição foi repetida no dia seguinte e no próximo.

Permitimos que nossa consciência seja alimentada todo dia com o veneno da ignorância, ganância, fala não benéfica e desejos não saudáveis. Nossa consciência continua a crescer na direção da mente iludida e traz a tona muito sofrimento. Poderíamos mudar o alimento de nossa consciência e ajudá-la a crescer na direção oposta, a direção da mente verdadeira. À luz dos ensinamentos relativos aos Doze Elos da Origem Interdependente, consciência resulta da ignorância e dos impulsos não benéficos.

Sabemos que entendimento e compaixão são fontes de energia que podem trazer às pessoas à nossa volta muita felicidade, de forma que praticamos o seu cultivo. O Buda disse, “se você olhar para dentro do mal-estar e identificar a origem do nutriente que o trouxe até você, já estará no caminho da emancipação.” Você já começou a ser liberado. Precisa apenas de cortar a fonte desses nutrientes para se libertar deles. Poucas semanas depois, você notará a diferença. Nada pode sobreviver sem comida; se você cortar a sua fonte, sua depressão, tristeza ou desespero irão morrer.

Identificando a origem dos nutrientes, você percebe a Segunda Nobre Verdade: samudaya, a criação do mal-estar. Você sabe que o oposto de samudaya – bem-estar – é possível. Sabe que para alcançar bem-estar, precisa cortar a origem dos nutrientes errados e achar os corretos – Visão Correta, Entendimento Correto, Fala Correta, Modo de Vida Correto, Concentração Correta e assim por diante. O Nobre Caminho Óctuplo pode trazer bem-estar e por fim ao mal-estar. O outro caminho é o ignóbil caminho do consumo sem plena consciência. Das Quatro Nobres Verdades, duas falam do mal-estar e da sua criação, enquanto que as outras duas falam do bem-estar e o caminho que leva à restauração. Este é o conteúdo da primeira palestra de Dharma que o recém iluminado Buda ofereceu a cinco monges em Deer Park.

(Do livro “The Path of Emancipation” – Thich Nhat Hanh – traduzido por Leonardo Dobbin)
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Walden


"Como alguém pode estar em boas condições morais enquanto escraviza ou faz sofrer um outro homem?" - Henry David Thoreau