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sábado, 23 de outubro de 2010

Obesidade mental.

"Você tem obesidade mental? Hoje malha-se o corpo, mas esquece-se de cuidar da cabeça.
ANA ELIZABETH DINIZ -Especial para O TEMPO
A humanidade está vivendo uma overdose de informações. Somos bombardeados o tempo todo com e-mails, spams, mensagens no celular, noticiários em jornais e televisão e redes sociais. Há quem já não viva mais sem elas. Para algumas pessoas, a vida torna-se desestimulante, morna, se não houver a menor possibilidade de ficar plugado. A consequência dessa loucura moderna é a obesidade mental. "Vivemos uma época única, com uma quantidade de informações como em nenhuma outra da história da humanidade", avalia Frederico Porto, psiquiatra e especialista em nutrologia. Para se ter uma ideia, diz ele, o exemplar do jornal "The New York Times" de domingo tem mai informações do que um homem durante a Idade Média tinha acesso em toda a sua vida. "Esse excesso de informação gera em nós um estado igual a um indivíduo diante de uma mesa muito farta, com todas as guloseimas que ele quer. O excesso nos afasta de nossas escolhas conscientes. Precisamos fazer uma dieta mental, uma dieta de informação", propõe Porto. O psiquiatra norte-americano Edward Hallowell acredita que vivemos um estado de déficit de atenção devido a esse excesso de informação. Segundo ele, quando se é interrompido por uma atividade, gastam-se 64 segundos para se conseguir voltar  à atividade original. Imagine, portanto, se você sofrer uma interrupção a cada cinco minutos e gastar um minuto para voltar à atividade original. Em uma semana, você terá passado cerca de oito horas na transição de uma atividade para outra, ou seja, no limbo. O excesso de estímulos gera o que Hallowell chama de traço de déficit de atenção (TDA), que é diferente da doença transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). "O traço seria induzido pelo meio ambiente enquanto o transtorno tem um componente mais genético e, por isso, deveria ser tratado com medicamentos. O médico fala que o TDA é epidêmico no mundo corporativo e traz como sintomas a distração, impaciência e inquietação interna. As pessoas com esse traço têm dificuldade de se manter organizadas, de determinar prioridades e de gerenciar o tempo", analisa Frederico Porto.
Dentro do cérebro humano, a obesidade mental funciona assim: "Temos de usar a parte frontal de nosso cérebro, onde estão as chamadas funções executivas, aquelas que nos fazem humanos, como a capacidade de antecipar, planejar, priorizar. Sobrecarregados de informações, os lobos frontais chegam ao seu limite e enviam mensagens de medo e ansiedade para as regiões mais primitivas do cérebro que, ao serem ativadas, reduzem a atividade das regiões frontais, exatamente aquelas que teriam condições de resolver os problemas apresentados", explica o psiquiatra.Essas gordurinhas mentais são privilégio da sociedade consumista, na opinião do filósofo Alfeu Trancoso, professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). "A  sociedade consumista é a sociedade do excesso, daí essa obesidade mental que se estende a outras obesidades tão comuns em nosso atribulado tempo. E são essas deformações mentais, corporais e culturais que impedem o desenvolvimento espiritual, o único capaz de formular as grandes questões fundamentais da existência: de onde vim, para onde vou e qual o sentido da minha  vida?". "Quanto mais conhecemos o mundo mais conhecemos a nós mesmos", lembra Alfeu. "Isso inclusive estava escrito no dintel do templo principal de Delfos na Grécia Antiga: "Conhece-te a ti mesmo". Mas, logo abaixo, havia outra frase complementando de modo exemplar a primeira: "Nada de excessos". Hoje, diante da quantidade de informações que recebemos, nosso cérebro não dá conta de processar tantos dados, de transformar informação em conhecimento. A verdadeira sabedoria está na boa e salutar regra do meio termo", propõe o filósofo.
O tamanho da "gordura"
2 bilhões de páginas estão disponíveis na internet.
100 emissoras no ar,em diversas línguas, com especialidades diferentes.
6% de 17 mil internautas têm comportamento compulsivo diante da internet.
1,5 bilhão de gigabytes
é o volume anual gerado em impressos e filme.
250 megabytes de informação há para cada homem, mulher e criança do planeta.
10 computadores pessoais seriam necessários para cada pessoa guardar dados."

Jornal Pampulha - BH, 23 a 29 de outubro de 2010.

Despertar dói!

Entender o poder do caminho nos fornece a inspiração que nos mantém indo em frente, explorando a dor e proporcionando o entendimento do que nos prende. Não demora muito para descobrir o poder, nem para sentir a dor. Acordar dói. E se nós não entendemos o porquê, vamos correr a partir da dor e abandonar o caminho. Existem inúmeras pessoas que se tornaram desistentes espirituais, ou que estão perdidos em desvios, porque eles não compreenderam as dificuldades.
Quando seu braço adormece, ele espeta e queima, quando volta à vida. Dedos congelados picam quando descongelam, nós pulamos para acordar quando o despertador toca. Mas as instâncias físicas da anestesia são leves em comparação com a anestesia, nascida da ignorância, e assim é o grau de incômodo ao acordar. Quanto mais tempo alguma coisa esteve adormecida, mais doloroso é para despertá-la. Se os seus dedos são meramente frios, é fácil aquecê-los. Mas se seus dedos estão congelados, dói pra caramba quando descongelar. Segundo a tradição, a menos que já seja um buda, um "aquele que despertou", alguém roncou por um tempo sem princípio, e pode realmente se machucar antes de acordar completamente. Mingyur Rinpoche escreve:
"Eu gostaria de dizer que tudo melhorou quando eu me senti seguramente estabelecido entre os outros participantes no retiro de três anos. Pelo contrário, no entanto, o meu primeiro ano em retiro foi uma das piores fases da minha vida. Todos os sintomas de ansiedade que eu já tinha experimentado - a tensão física, sensação de aperto na garganta, tontura, e ondas de pânico - atacaram com força total em termos ocidentais, eu estava tendo um colapso nervoso. Em retrospecto, eu posso dizer que o que eu realmente estava passando era o que eu gosto de chamar de "avanço nervoso."

Tradução de "The Power and the Pain: Transforming Spiritual Hardship into Joy" de Dr. Andrew Holecek, publicado pela Snow Lion Publications