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sábado, 14 de fevereiro de 2009

A Virtude da Amizade


A amizade pode ser a fonte mais segura de satisfação num mundo instável, melhor que o sexo, o dinheiro ou o poder. Os gregos valorizavam-na acima do romance ou da reputação e davam-lhe um lugar de honra no panteão do amor.
A amizade, philia, amor fraterno, a afeição que existe somente entre iguais é, ao mesmo tempo, o mais modesto e o mais vigoroso dos modos do amor. Calma como um papo ao cair da tarde, é suficientemente forte para sobreviver aos ácidos do tempo. E, ao mesmo passo que nos arrasta para as nossas profundezas emocionais, não exige nenhum frenesi romântico. Nada de uivos à lua, nem explosões de sentimentos contraditórios. Nenhum ciúme. A amizade cria homens e mulheres gentis. Não depende de nada tão frágil quanto um rostinho bonito ou de números exorbitantes numa conta bancária, nem de nada tão irracional quanto a força do sangue e do parentesco. Baseia-se no mais simples dos silogismos do coração: “Eu gosto de você, você gosta de mim; portanto, somos amigos”. E, embora possamos imaginar uma vida satisfatória sem o picante transbordamento do amor sexual ou sem os suaves encargos da família, sabemos, intuitivamente, que, sem um amigo, a melhor das vidas seria tão solitária que não se poderia tolerar.
Nos dias de hoje, entretanto, a amizade é uma espécie em extinção. Não medra numa ecologia social que acentua a velocidade, a preocupação constante entre os homens. Requer vagar. Como o bom uísque, ela precisa ser envelhecida na madeira, macerada com paciência e longamente fermentada. Nada de intimidades instantâneas ou de encontros de uma noite só. A cadência da amizade mede-se em ritmos que tem a extensão de décadas. Uma amizade duradoura leva anos de semeadura, tem de ser tratada em tempo de chuva e de seca e não pode ser arrancada pela raiz. A amizade não quer saber de eficiências nem de agendas. Toda ela consiste em estar juntos ao pé de uma cerveja gelada num bar, ou de lançar iscas na correnteza de um rio. Consiste em estar lá para ouvir e ajudar quando a vida do amigo parece vir abaixo.

Do livro de Sam Keen, ´O homem na sua plenitude”, Editora Cultrix, São Paulo, 1993.

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