-->
Mostrando postagens com marcador Clarisse Lispector. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Clarisse Lispector. Mostrar todas as postagens

domingo, 8 de março de 2009

Mais Clarisse

“Existir não é lógico.”

“Já que sou, o jeito é ser.”

“Sou um homem que tem mais dinheiro do que os que passam fome, o que faz de mim, de algum modo, um desonesto.”

“Quem não tem pobreza de dinheiro tem pobreza de espírito ou saudade por lhe faltar coisa mais preciosa que ouro – existe a quem falta o delicado essencial.”

“... mas sem fazer estardalhaço de minha humildade, que já não seria mais humildade.”

“O dia de hoje e o dia de amanhã será um hoje; a eternidade é o estado das coisas neste momento.”

“Isso será coragem minha, a de abandonar sentimento antigos, já confortáveis.”

“A palavra não pode ser enfeitada e artisticamente vã; tem que ser apenas ela.”

“O que eu vou escrever já deve estar, na certa, de algum modo, escrito em mim.”

“Escrevo por não ter nada a fazer no mundo: sobrei e não há lugar para mim na terra dos homens. Escrevo porque sou um desesperado e estou cansado, não suporto mais a rotina de me ser e se não fosse a sempre novidade que é escrever, eu me morreria simbolicamente todos os dias.”

“Se der para me entenderem, está bem. Se não, também está bem.”

“Para que escrevo? E eu sei? Sei não.”

“... assim como um cachorro não sabe que é um cachorro.”

“Quando acaricio a cabeça do meu cão sei que ele não exige que eu faça sentido ou me explique.”

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Eu sei, mas não devia - Clarice Lispector


Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia. A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E porque não abre as cortinas logo se acostuma a acender cedo a luz. E a medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão. A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduiche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia. A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto. A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagará mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra. A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias de água potável. A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se a praia está contaminada a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se o trabalho está duro a gente se consola pensando no fim de semana. E se com a pessoa que a gente ama, a noite ou no fim de semana , não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado. A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que gasta de tanto se acostumar, e se perde de si mesma.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Lispector

“O dia de hoje e o dia de amanhã serão um hoje; a eternidade é o estado das coisas neste momento”.
”Isto será coragem minha, a de abandonar sentimentos antigos, já confortáveis”.
“A palavra não pode ser enfeitada e artisticamente vã, tem que ter ser apenas ela”.
“Existir não é lógico”.
“O que vou escrever já deve estar, na certa, de algum modo, escrito em mim”.
“Já que sou, o jeito é ser”.
“Escrevo porque sou um desesperado e estou cansado (...) se não fosse a sempre novidade de me escrever, eu morreria simbolicamente todos os dias”.
“Se der para me entenderem, está bem. Se não, também está bem (...) Para que escrevo? E eu sei? Sei não”.


Clarisse Lispector