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quinta-feira, 16 de julho de 2015


Sobre o perdão no budismo - “Antes mesmo do perdão existe a não-culpa.”
Lama Padma Samten: "Antes mesmo do perdão existe a não-culpa. O perdão é um pouco perigoso no sentido de que ele aponta para alguém que está sendo perdoado. Enquanto que a culpa também aponta para alguém. Mas nós compreendemos a inexistência do sentido absoluto da identidade, aí não faz sentido apontar nem culpas, nem perdão. Nossa natureza é livre, basta refazer os votos. A culpa é um aspecto ilusório, construído, luminoso, como os aspectos todos do Samsara. Significa nós tomarmos algo particular como uma ação e identificarmos a pessoa ou a identidade a partir disso. Naturalmente a pessoa não é isso, a pessoa é uma condição de liberdade, não é uma condição de prisão.

Pergunta: O que o Lama sugere quando nos culpamos por algo que fizemos e ficamos envoltos pelo sentimento de culpa, remoendo esse sentimento?

Lama Padma Samten: A pessoa precisaria olhar para si mesma com compaixão. A culpa significa um auto-interesse, ou seja, a pessoa gostaria de ter uma manifestação correta, mas não tem, então ela se avalia desse modo, culpando-se. A culpa está associada a uma visão. A pessoa olha para si mesma e é como se tivesse um nível de orgulho também, pois a pessoa gostaria de manifestar aquilo tudo certo, não conseguindo ela lastima que tenha feito aquilo, ela não tem como apagar aquilo que foi feito, então ela arde por dentro com essa culpa.É preferível que tenha compaixão por si mesma, que tenha compaixão pelos outros, que tenha apreciação por suas próprias qualidades positivas que pode manifestar, apreciação pelas qualidades positivas que os outros podem manifestar também. Quando a pessoa manifesta isso, a culpa desaparece. O caminho mais rápido, se não lembrar de tudo isto, é a lembrança das qualidades positivas que temos. Nós dizemos: ainda que eu tenha feito coisas negativas, não é isso que eu aspiro, eu aspiro fazer coisas positivas; as pessoas se enganam e se atrapalham e fazem coisas negativas e eu também, mas eu tenho qualidades positivas, eu não preciso ficar preso nisso, eu posso fazer coisas boas."