Existem muitas pessoas que não conseguem ver além do seu próprio nariz. Olham para a palma da mão a uma distância de um centímetro dos olhos. São auto-centradas demais. Pensam que o único sofrimento existente no universo é o delas próprias. Às vezes, estão tão desorientadas dentro de si mesmas que não vêem o mal que causam a si e aos outros. Sua única preocupação é o próprio ego, a pior coisa que carregamos conosco, nosso maior fardo. Dizem uma coisa envolvendo outras pessoas e depois as decepcionam agindo de forma totalmente avessa ao que foi dito. Ferem e por isso, muitas vezes, sofrem um karma tão imediato que não vêem que elas estão assim por sua única responsabilidade. Não adianta culpar o outro. Agindo dessa maneira, afugentam os amigos e passam a viver reclusas dentro de casa, depois dentro do quarto e depois sobre uma cama. Debaixo das cobertas, tomam refúgio na tela de uma televisão a cabo, seguindo seriados idiotas que as levam a reflexões também idiotas. Ao serem procuradas por amigos, não os vêem mais como amigos. Ao soar da campainha, abrem uma greta da porta de entrada e perguntam o que querem como se agora fossem inimigos, estranhos, gente perigosa. Iniciam uma paranóia, tomam medicamentos para dormir, fugir, achando que, agindo assim, serão menos infelizes. Mas quando acordam, desapontam-se, pois estão no mesmo plano. Não têm coragem para transitar no sofrimento, vivê-lo bem e reconhecê-lo como aliado para sair do lado negro para a claridade. Estas pessoas estão gravemente enfermas de uma doença terrível chamada ignorância. Precisam de extrema ajuda para serem apresentadas à impermanência - melhor companheira da paciência - para perceberem que tudo é ilusão e vai passar como uma nuvem, uma rajada de vento para depois, lentamente, cair no vazio. Passam-se as dores assim como as alegrias também passam. Ambas são idênticas, vindas da mesma essência e possuem o condão de curar, fortalecer, enrijecer e encorajar as pessoas para enfrentar as vicissitudes da vida como sendo suas amigas. A única ajuda que se pode dar a essas pessoas é rezar muito a fim de que possam alcançar alguma fresta de luz nos seus caminhos tortuosos. Aliás, todos os caminhos são tortuosos. Não só os delas.
15 de janeiro de 2004
15 de janeiro de 2004