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sábado, 5 de setembro de 2009

Conhecer a própria mente.

Chögyam Trumgpa Rinpoche
"Samsara é o estado de vagar em círculos. A roda da vida nos apresenta um quadro não apenas da vida humana, mas da vida como um todo - (...)
Tradicionalmente, essa interpretação dos seis reinos tem sido enfatizada como um incentivo à prática do dharma. Em uma cultura onde a crença na reencarnação é aceita, a contemplação sobre o ciclo infindável de vida após vida é muito poderosa e eficaz. Mas para aqueles de nós que não cresceram com essas idéias como parte do seu passado cultural, seria artificial simplesmente aceitá-las como uma questão de fé. Precisamos chegar a uma compreensão mais profunda de seu significado interior, antes que possamos integrá-las à nossa visão de vida. Muitos budistas ocidentais têm dificuldades com o conceito de renascimento nos seis reinos ou mesmo com o renascimento por si só. Ninguém pode nos provar o que existe além da morte. Entretanto, podemos investigar nossas mentes aqui e agora e descobrir todos os mundos contidos nelas. Podemos descobrir o que a vida como um ser humano realmente significa neste exato momento e isso pode nos levar a uma crença razoável, baseada na experiência presente, sobre o que acontece após a morte.
Quando observamos a mente em meditação, podemos ver com clareza como cada pensamento surge e cessa, como causa e efeito operam, como estados mentais sucedem uns aos outros exatamente como uma vida depois da outra e como nossa impermanência imaginada é, na verdade, um processo de mudança contínua. Se aprendermos a observar todas essas coisas acontecendo nesta vida, não é tão difícil aceitar a idéia de todas elas continuarem após a morte. Nossa própria mente é a única coisa que podemos realmente conhecer. Podemos aprender a ver além de qualquer dúvida como criamos continuamente nosso próprio mundo através do poder da mente e como os seis reinos tem uma significação muito real na psicologia da existência diária. (...)
Trungpa Rinpoche sempre falou sobre os seis reinos como estados mentais e enfatizou a importância de compreendê-los dessa foram enquanto temos oportunidade nessa vida. Ele se referia a eles como estilos de aprisionamentos, estilos de confusão, estilos de insanidade e mundos de fantasia. São tdos estratégias para manter o que ele chamava de jogos do ego em face à possibilidade do despertar. Surgem a partir dos venenos e, quando permitimos que uma dessas emoções poderosas se desenvolva e tome conta de nossas vidas, encontramo-nos no reino em particular associado a ela. O veneno corroendo o centro do ser que habita cada reino se origina do medo básico* de perder o ego, expresso nessas seis formas características. Todos os reinos são baseados em apego e avidez não nos permitindo que nos liberemos em direção ao espaço.
Quando estamos completamente imersos em um estado emocional insuperável, todo o nosso mundo se torna colorido por ele; tendemos a ver o ambiente e as outras pessoas sob a mesma luz de tal forma que se torna impossível distinguir a realidade interior da exterior. Quando estamos felizes descobrimos que nossa felicidade afeta todos ao nosso redor, as pessoas reagem a nós e se sentem mais felizes também; somos capazes de desfrutar do tempo mesmo se estiver feio ou desagradável e vemos beleza até na mais feia paisagem. Da mesma forma, quando estamos consumidos por raiva ou por ódio, tudo se torna odioso; não sentimos prazer no ambiente que nos cerca e achamos que todos estão direcionando sua agressividade para nós. Atraímos o pior das outras pessoas e, mesmo objetos inanimados parecem refletir nosso mau humor quebrando-se, ficando no caminho e causando acidentes. Esses são exemplos diários de morada nos reinos do céu e do inferno. As descrições dos seis reinos fque se seguem podem parecer extremas; mostram cada reino em sua forma mais intensa, não diluída por quaisquer outras características. Para nós que somos humanos, as experiências dos outros reinos sempre acontecem dentro da natureza humana básica; é como se víssemos apenas sombras ou seus reflexos."
Do livro "Vazio Luminoso" de Francesca Fremantle - páginas 189, 190, 191.
*O grifo é meu.