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terça-feira, 30 de junho de 2009

A prostração é um gesto de reverência profunda.


Reverenciar o Buda gera muito mérito, e em particular a prática/voto de refúgio é a maneira pela qual nos tornamos receptivos aos ensinamentos e ao treinamento budista. Reverenciamos o Buda em corpo, fala e mente. Isto é, ao mesmo tempo em que pensamos nas qualidades e na realização do Buda e nos admiramos e enchemos de emoção, expressamos isto através de orações e de ações corporais, referencialmente simultaneamente, mas também como der, sempre que lembrarmos. A prostração purifica os venenos mentais, em particularmente orgulho. Também é um bom exercício vitalizante, e meditadores precisam de exercício físico por passar tanto tempo sentados. Além disso, como já disse, o mérito gerado é muito grande, e precisamos de mérito para nosso benefício em termos mundanos (temporário: saúde, sobrevivência, bem-estar) e no sentido do dharma também (para sermos capazes de encontrar e aproveitar o dharma que encontramos e consumá-lo). No budismo tibetano nos botamos de pé, colocamos as mãos no mudra da oração (palmas juntas, levemente curvadas - só a base da palma e as pontas dos dedos se encontram - e dedões relaxados, com as pontas levemente dentro da curvatura formada) na altura do coração (ao centro do peito, não na frente do coração) Visualizamos à frente, elevado a uma altura um pouco acima do horizonte, Shakyamuni Buda, com os arhats de um lado, bodisatvas do outro, os mestres da linhagem, assim por diante, formando um campo de mérito. Se for muito complicado, podemos apenas visualizar o Buda, ou apenas imaginar sua presença, como se ele estivesse mesmo ali em pessoa. Pode haver uma imagem ou um altar para nos lembrar da forma do Buda. Mas é importante não se prostrar apenas à forma do Buda, é preciso lembrar que essa forma é vazia. Uma prostração perante apenas a forma (visualizada ou física) acumula mérito, mas não é o mais correto. No vajrayana geralmente o campo de refúgio é descrito em detalhes exaustivos, e varia de linhagem para linhagem. O essencial é reconhecer nosso lama raiz como indissociável de todas as fontes de refúgio. Para incrementar o mérito, podemos visualizar também todos os seres prostrando-se conosco. Se for difícil visualizar uma multidão, começamos pelos nossos pais, amigos, inimigos, quem vier à mente. Começamos então a recitar a prece particular de nossa linhagem, ou apenas ficamos em silêncio. Um voto de refúgio comum na tradição tibetana é "No Budha, no Dharma e na excelente assembléia da Sangha, até que alcance a iluminação, neles eu tomo refúgio. Através da minha prática das seis perfeições, possam todos os seres sencientes alcançar o estado búdico". Pode se usar também o voto de refúgio cantado em pali, no caso em que cada prostração é feita após uma linha recitada. No caso de quatro versos, como acima, pode-se recitar dois durante a descida e dois durante a subida. Enquanto recitamos, portanto, ou ao final da recitação, ou em silêncio, colocamos as mãos ainda no gesto de oração no topo da cabeça, na frente da garganta e ao peito novamente. Então descemos ao chão e ficamos deitados de bruços, com as mãos esticadas à frente. Ainda no chão, colocamos as mãos no mudra da oração na altura da nuca. Nos levantamos e colocamos as mãos na altura do coração novamente. Se não houver espaço para esticar-se completamente no chão, na forma curta apenas tocamos a testa ao chão. Repetimos o movimento em geral no mínimo três vezes. A prostração deve ser executada sempre que possível, mas em geral ao acordar, antes da prática diária. Toda vez que estamos diante de um monumento sagrado, ou entramos numa sala de prática. Toda vez que um mestre se senta para dar ensinamentos, e assim por diante. Em geral não nos prostramos como forma de despedida, ou seja, ao final. Mas isso é apenas superstição. Podemos nos prostrar quando quisermos, desde que não incomode ninguém. Algumas vezes em ensinamentos menos formais e com muitos iniciantes, particularmente num auditório que não seja especialmente consagrado ao dharma, pode ser inadequado ou pelo menos estranho prostrar-se. Nesse caso se a motivação for não criar idéias negativas na cabeça das pessoas, não há problema em não se prostrar. Em outros casos, sempre é claro podemos não prostrar, particularmente quando de fato ainda não nos sentimos inclinados a tomar refúgio. Porém, para aqueles que tomaram refúgio, é uma prática excelente. Diz-se que se alguém assiste alguém se prostrando, isso já gera um mérito incomensurável para esta pessoa que está apenas vendo o gesto. Sem falar que purificar os venenos da mente é essencial, e a prostração é um bom método. Sustentar a visualização e a mente de refúgio durante um número grande de prostrações é também uma prática de concentração. Reconhecer a vacuidade nas formas dos objetos de refúgio e daquele que se refugia é uma prática de "insight". Assim, a prostração em si é uma prática completa. E mesmo que uma pessoa tenha como prática apenas a prostração ela pode alcançar o resultado último. Após as prostrações, sentamos para praticar ou ouvir ensinamentos, e em alguns casos há instruções sobre dissolver o campo de mérito em nós mesmos, reconhecendo a inseparatividade entre o temporal que se prostra e o atemporal reverenciado. Sua Santidade, o Dalai Lama, com setenta anos de idade, ainda faz 300 prostrações por dia. Fazendo-se 300 por dia, é possível completar 100 mil num ano. Então não são tantas assim. Com 100 por dia, 3 anos. E algumas pessoas ainda pagam academia! Conheço uma pessoa que completou 100.000 em dois meses. O importante é sempre fazer um pouco, mesmo 27 ou 7 por dia, ao longo de 10 ou 40 anos, acumulam 100.000. Realmente esperamos nos iluminar em 10 ou 40 anos, para que não precisemos mais praticar esse compromisso mínimo, que leva menos de 5 minutos por dia? As pessoas fazem mais rápido porque entendem a impermanência e sabem que podem morrer antes da próxima inspiração! 65 anos de prática do Dalai Lama com certeza já conta com milhões de prostrações, e, pasmem, nesta que é a 14a vida que ele recebe o nome de "Dalai Lama!" De fato, o número de 100.000 é arbitrário, e é o MÍNIMO, na tradição tibetana, para considerar-se que a pessoa realmente sustentou algum compromisso com o dharma. Esse é um número em particular ligado a tradição tibetana, e certos mestres requisitam essa prova mínima de comprometimento para concederem certos ensinamentos porque crêem que isso em alguns casos cria a receptividade e o mérito necessário para podermos entendê-los. Em geral não são apenas 100.000 prostrações, as prostrações são uma das acumulações numa prática que envolve outras etapas. Pelo menos 80 brasileiros já completaram estas acumulações, no Brasil, e provavelmente são muito mais. Conheço pessoas que realmente trabalham e tem filhos e vão ao cinema que completaram esta acumulação em menos de um ano. Por outro lado, algumas pessoas terminam estas acumulações e acham que então podem descansar. Não é o caso. O carma das pessoas é muito vasto e variado. Algumas pessoas podem alcançar grandes resultados com pouquíssima prática, mas ainda assim provavelmente ainda faltará algo, então não é motivo para parar enquanto não somos completamente iluminados. Por outro lado, outras pessoas fazem muita prática e obtém pouco resultado, nesse caso mais ainda elas devem praticar, se elas realmente entendem que o samsara é sofrimento, e que o Buda ensinou métodos efetivos... Caso a pessoa tenha impedimentos físicos reais de fazer prostrações, ela pode pedir a seu professor por alguma prática substituta. Algumas tradições budistas não enfatizam tanto as prostrações como o budismo tibetano, mas em todas elas as prostrações existem e podem ser feitas, sem dúvida com benefícios.

Mil Budas

Dudjom Lingpa
"Até que a sucessão de mil Budas da Era Afortunada chegue ao fim, que minhas emanações possam surgir sem interrupção realizando vastos benefícios para todos os seres a serem domados."

O Senhor dos Yoguis, Nüdan Dordje, primeira aparição de Dudjom Lingpa nessa terra. A chamada Era Afortunada é esta era em que o Buda Shakyamuni surgiu na terra.