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terça-feira, 31 de março de 2009

Viver o momento


Isso para mim é página virada. Julgo ser um fato consumado e não quero mais me aprofundar nessa história. Tenho quase cinquenta e oito anos e meu primeiro surto foi aos vinte e três. Digo surto porque surtei, porque acredito que sofro disso desde o princípio sem princípio. Está na minha Alaya. Hoje tomo dois remédios e mais um para o hipotireoidismo que ganhei de presente ano passado! Os remédios são manipulados em uma dosagem pequena, só de manutenção. Devo dizer que sinto-me no direito de resposta pelo fato de uma pessoa que nem me conhece dizer que minha "excessiva sensibilidade não tem nada a ver com síndrome de pânico". O pânico foi comprovado sim através de exames (que só hoje existem no Brasil) por um psiquiatra que, na época, dava aulas na Sorbonne! É um problema neuroquímico assim como a falta de hormônios numa menopausa. Não. Não quero falar sobre tormentos nem detalhes anormais pois não tive nenhum! Muito menos memorizei-os e, sendo assim, não há o que esquecer! Vivo o momento como aprendi no budismo com meu saudoso Chagdud Rinpoche e seus lamas pois posso morrer no próximo décimo de segundo. Não se trata de cura, mas de medicação. Tenho muita energia e muita força, porque no meio de tudo isso e antes de qualquer tratamento, me casei, tive três filhos adoráveis, trabalhei fora e dentro e continuo casada (trinta e três anos) com o mesmo homem, coisa raríssima hoje em dia. Hoje, eu e minhas irmãs estamos cuidando de nossa mãe (oitenta e um) recem operada da coluna e cada uma tem suas limitações: uma não pode com sangue, outra não pode com fezes e eu não posso com cozinha. Creio que por aí, dá prá notar que eu estou em vantagem. Deixar de cozinhar não é uma coisa tão terrível assim e sempre se pode comprar comida pronta ou arranjar quem a faça. Além do que falei até agora, não tenho nada para contar, mas se você quiser contar a sua experiência, sinta-se livre para isso. Sempre digo que e-mail deveria ter tom de voz assim como televisão deveria ter cheiro. Meu tom de voz, apesar do que escrevi, não tem nada de irritado ou melindroso. Só que são coisas que ficaram lá para trás e que hoje só compartilho com meu médico. Trinta e cinco anos pode ser uma vida inteira! Me desculpe se passei a sensação de indelicadeza, mas não fui indelicada. Só verdadeira e sincera. Escrevo com firmeza, mas sorrindo para você.
No dharma, Pema Lodrön.

O Foco no Dharma


Na verdade, o ponto focal da prática do dharma não tem nada a ver com entoar mais mantras ou gastar mais horas sentado meditando. Tem muito mais a ver com coisas simples do cotidiano. Quando você caminha e conversa com as pessoas, quando você senta perto de seus amigos, ou inimigos - duvido que tenhamos algum inimigo explícito, mas me refiro às pessoas com as quais você não se dá bem, difíceis de lidar, ou que te chateiem - você deve estar com eles. Como Atisha Dipamkara*, que - com muito esforço -trouxe um indiano com ele para o Tibet. Esse homem não tinha nenhuma outra função além de perturbá-lo. Esse foi o único objetivo de trazê-lo.
Dzongsar Khyentse Rinpoche (1961 -)
Longtchen Nyingtik Practice Manual: advice How to Practice"
*Atisha Dipamkara: mestre indiano que, no século X, foi fundamental para a segunda grande difusão do budismo no Tibet.