-->

sexta-feira, 19 de março de 2010

O Poder da Paz - Chagdud Tulku Rinpoche

"Desejo que o poder espiritual da paz toque cada pessoa nesse mundo irradiando-se a partir da paz profunda que está em nossa mente, cruzando barreiras religiosas e políticas, cruzando barreiras do ego e de sua rigidez conceitual. Nossa primeira tarefa como promotores da paz é superar nossos confitos interiores causados pela ignorância, raiva, apego, inveja e orgulho. Com a orientação de um professor espiritual, essa purificação da mente pode nos ensinar a verdadeira essência da arte de pacificar. Devemos buscar uma paz interior tão pura, tão estável que não seremos tocados pela raiva daqueles que vivem e tiram proveito da guerra ou pelo apego ao eu e medo daqueles que nos confrontam com o desprezo e ódio.
É necessária uma paciência extraordinária para trabalhar pela paz mundial e a fonte desta paciência é a paz interior. Tal paz nos permite ver claramente que a guerra e o sofrimento são reflexos externos dos venenos da mente. A diferença essencial entre os pacifistas e aqueles que promovem a guerrra é que os pacifistas tem disciplina e controle sobre a raiva egoísta, pelo apego, inveja e orgulho enquanto os que apostam na guerrra a partir de sua ignorância fazem com que estes venenos se manifestem no mundo. Se você verdadeiramente compreender isso, nunca permitirá ser derrotado, interna ou externamente.
No budismo tibetano, o pavão é o símbolo do bodhisatva, o guerreiro desperto que trabalha pela iluminação de todos os seres. Diz-se que o pavão come plantas venenosas para transformar o veneno delas nas cores deslumbrantes de suas penas. Ele não se envenena. Da mesma forma, nós que defendemos a paz mundial, não devemos nos envenenar pela raiva. Olhe com equanimidade para os homens poderosos do mundo que controlam a máquina da guerra. Faça o melhor possível para convencê-los sobre a necessidade da paz, mas fique constantemente atento em relação ao estado de sua mente. Se sentir raiva, recue. Se for capaz de agir sem raiva, talvez você transponha o terrível delírio que perpetua a guerra e seu sofrimento infernal. A partir do claro espaço de sua própria paz interior, sua compaixão precisa se expandir para incluir todos os que estão envolvidos na guerra, tanto os soldados cuja intenção é beneficiar mas que, em vez disso, causam o sofrimento e a morte sendo portanto, pegos pelo carma terrível de matar -  quanto os civis que feridos, mortos ou forçados ao exílio como refugiados. Verdadeira compaixão surge por qualquer tipo de sofrimento, pelo sofrimento de todos os seres. Ela não está ligada àquilo que é certo ou errado, ao apego ou à aversão.
O trabalho pela paz é, por si só, um caminho espiritual. É um meio para desenvolver as qualidades perfeitas da mente e para testá-las em relação às necessidades urgentes, so extremo sofrimento e à morte. Não tenha medo de dar seu tempo, energia e suporte à paz."

A meditação é possível no estilo de vida moderno dos dias de hoje?

Chagdud Tulku Rinpoche e Nanka Drimed Rinpoche ao fundo no Rigdzin Ling, USA
"A meditação é independente de qual século ou cultura você vive, seja ela antiga ou moderna. O que importa na meditação é o processo de olhar constantemente para trás e de se avaliar e verificar sua própria mente. agora, o modo como normalmente operamos nossas vidas é o oposto, tendemos a olhar para fora da janela. Olhamos para fora da janela e dizemos: "Ó, aquela é uma pessoa boa" ou "Isso é bom" ou "isso é ruim". Estamos sempre verificando, olhando e criando impressões do mundo fora de nós. A meditação, por outro lado, usa a tela da nossa mente como um espelho onde olhamos de volta para nós mesmos ao invés de olhar para fora julgando os outros. Olhamos a nós mesmos e vemos que nossos rostos estão sujos, nossos cabelos estão uma bagunça e então podemos lavá-los e penteá-los. Com a meditação olhamos e, onde quer que vejamos um mau pensamento ou uma má ação, realmente tentamos mudar isso dentro de nós assim como limpamos nosso rosto. A mudança da mente não acontece de uma vez! Mas com constante atenção a ela, lentamente a mente muda. É uma questão de repetição sempre olhando para nós e nos corrigindo, corrigindo as motivações impróprias, os sentimentos ásperos. Então, mais do que isto, nos olhamos e tentamos verdadeiramente acentuar e abraçar as qualidades positivas. Cultivamos a bondade da nossa própria parte. Não julgamos o tempo todo que isso e aquilo é bom ou ruim, mas verificamos repetidamente a nós mesmos. Então, é uma questão de permitir que a nossa mente relaxe em sua própria natureza verdadeira e de criar as intenções adequadas dentro de si. Olhamos para dentro, corrigimos e ajustamos. Deste modo, tudo é passível de mudança; é perfeitamente possível mudar a mente. Antiga ou moderna, isto não é importante."
Chagdud Tulku Rinpoche