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segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Fazendo amizade com o medo.

sexta-feira, 14 de agosto de 2015



A FELICIDADE GENUÍNA
A felicidade genuína é um sentimento de bem-estar que subjaz e permeia todos os estados emocionais abarcando todas as vicissitudes da vida e que se distingue do "prazer hedonista" que é a sensação de bem-estar provocada por estímulos prazerosos.A palavra grega que estou traduzindo como felicidade genuína é eudamonia a qual Aristóteles em Ética a Nicômano igualou ao que há de bom no homem. Ela se manifesta como um processo da alma em concordância com a virtude e, se houver mais de uma virtude, com a melhor e mais completa. Felicidade genuína não é a simples culminação de uma vida com sentido, mas uma característica da pessoa em processo de desenvolvimento ético e espiritual.

domingo, 2 de agosto de 2015


"De acordo com a tradição budista, o caminho espiritual é o processo de atravessar e superar a nossa confusão, de descobrir o estado desperto da mente. Quando este estado se encontra entulhado pelo ego e pela paranóia que o acompanha, assume o caráter de um instinto subliminar. Dessa forma, não se trata de construir o estado desperto da mente, mas sim de queimar as confusões que o obstruem. No processo de consumir as confusões, descobrimos a iluminação. Se o processo fosse outro, o estado desperto da mente seria um produto dependente de causa e efeito e, assim, passível de.dissolução. Tudo o que é criado, mais cedo ou mais tarde, tem de morrer. Se a iluminação fosse criada dessa maneira, haveria sempre a possibilidade de o ego reafirmar-se, provocando um retomo ao estado de confusão. A iluminação é permanente porque não a produzimos; apenas a descobrimos. Na tradição budista, a analogia do Sol que surge por trás das nuvens é freqüentemente empregada para explicar o descobrimento da iluminação. Na prática da meditação, removemos a confusão do ego a fim de vislumbrar o estado desperto. A ausência da ignorância, da sensação de opressão, da paranóia, descerra uma visão fantástica da vida. Descobrimos um modo diferente de ser."
(Do livro Além do materialismo espiritual de Chögyam Trungpa Rinpoche).

domingo, 19 de julho de 2015

The Lie We Live


"O remorso crônico, e nisso estão de acordo todos os moralistas, é sentimento muito indesejável. Se você se comportou mal, arrependa-se, faça as correções que puder e dedique-se à tarefa de portar-se melhor da próxima vez. De modo algum acalente sua má ação. Rolar na sujeira não é o melhor meio de se limpar."

Primeiro parágrafo do prefácio de Aldous Huxley para seu livro Admirável Mundo Novo" (em ing. Brave New World.

"O, wonder!
How many goodly creatures are there here!
O brave new world
That has such people in't"

"Ó, maravilha!
Que adoráveis criaturas aqui estão!
Como é belo o gênero humano
Ó admirável mundo novo
Que possui gente assim!"

William Shakespeare

quinta-feira, 16 de julho de 2015


Sobre o perdão no budismo - “Antes mesmo do perdão existe a não-culpa.”
Lama Padma Samten: "Antes mesmo do perdão existe a não-culpa. O perdão é um pouco perigoso no sentido de que ele aponta para alguém que está sendo perdoado. Enquanto que a culpa também aponta para alguém. Mas nós compreendemos a inexistência do sentido absoluto da identidade, aí não faz sentido apontar nem culpas, nem perdão. Nossa natureza é livre, basta refazer os votos. A culpa é um aspecto ilusório, construído, luminoso, como os aspectos todos do Samsara. Significa nós tomarmos algo particular como uma ação e identificarmos a pessoa ou a identidade a partir disso. Naturalmente a pessoa não é isso, a pessoa é uma condição de liberdade, não é uma condição de prisão.

Pergunta: O que o Lama sugere quando nos culpamos por algo que fizemos e ficamos envoltos pelo sentimento de culpa, remoendo esse sentimento?

Lama Padma Samten: A pessoa precisaria olhar para si mesma com compaixão. A culpa significa um auto-interesse, ou seja, a pessoa gostaria de ter uma manifestação correta, mas não tem, então ela se avalia desse modo, culpando-se. A culpa está associada a uma visão. A pessoa olha para si mesma e é como se tivesse um nível de orgulho também, pois a pessoa gostaria de manifestar aquilo tudo certo, não conseguindo ela lastima que tenha feito aquilo, ela não tem como apagar aquilo que foi feito, então ela arde por dentro com essa culpa.É preferível que tenha compaixão por si mesma, que tenha compaixão pelos outros, que tenha apreciação por suas próprias qualidades positivas que pode manifestar, apreciação pelas qualidades positivas que os outros podem manifestar também. Quando a pessoa manifesta isso, a culpa desaparece. O caminho mais rápido, se não lembrar de tudo isto, é a lembrança das qualidades positivas que temos. Nós dizemos: ainda que eu tenha feito coisas negativas, não é isso que eu aspiro, eu aspiro fazer coisas positivas; as pessoas se enganam e se atrapalham e fazem coisas negativas e eu também, mas eu tenho qualidades positivas, eu não preciso ficar preso nisso, eu posso fazer coisas boas."

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Como uma estátua do Buda caiu nas mãos dos vikings?



"13 de abril de 2015
Mês passado, o correio da Suécia liberou um selo que mostra o Buda sentado sobre um lótus como parte de uma série. A ilustração é um uma pequena estátua de bronze do Buda que foi descoberto pelos arqueólogos numa pequena cidade sueca em 1954. Os arqueólogos dataram a estátua do século V como vindo de Kashmir, norte da Índia. Pedaços de couro tirados da estátua indicam que ela foi carregada como um talismã pelos mercadores. Os historiadores tem uma hipótese de que o Buda foi carregado por mais de mil milhas pelos rios e estepes da Eurásia antes de chegar a um pedestal de uma casa na Suécia, talvez depois de duzentos ou trezentos anos de viagem. Hoje, a estátua que está em exposição no Museu Histórico da Suécia, é considerada como a mais famosa e notável descoberta e, portanto, merecedora de ter a honra de aparecer em um selo."
Tradução minha da página de Lion's Roar Buddhist Wisdow for Our Time. Fonte: Shambala Sun.

Vídeo de Thây em entrevista com Oprah

https://www.youtube.com/watch?v=NJsxsPgjeWI

A prática de deixar prá lá.


A prática de deixar ir

Se há coisas que te fazem sofrer, você tem que saber como deixá-las ir. Felicidade pode ser obtida soltando, deixando ir, incluindo deixando ir suas idéias sobre felicidade. Você imagina que certas condições são necessárias para sua felicidade, mas olhando profundamente se revelará para você que essas noções são exatamente as coisas que ficam no caminho da felicidade e te fazem sofrer.

Um dia o Buda estava sentado na floresta com alguns monges. Eles tinham acabado de almoçar e já iam começar um Compartilhamento sobre o Dharma quando um fazendeiro se aproximou deles. O fazendeiro disse: “Veneráveis monges, vocês viram minhas vacas por aqui? Eu tenho dezenas de vacas e elas fugiram. Além disso, eu tenho cinco acres de plantação de gergelim e este ano os insetos comeram tudo. Eu acho que vou me matar. Eu não posso continuar a viver assim”.

O Buda sentiu forte compaixão pelo fazendeiro. Ele disse: “Meu amigo, me desculpe, não vimos suas vacas vindo nessa direção”. Quando o fazendeiro se foi, o Buda se voltou para seus monges e disse: “Meus amigos, sabem por que vocês são felizes? Porque vocês não têm vacas para perder”.

Eu gostaria de dizer a mesma coisa para vocês. Meus amigos, se vocês têm vacas, têm que identificá-las. Você pensa que elas são essenciais para sua felicidade, mas se você praticar olhar em profundidade, entenderá que são estas mesmas vacas que trazem sua infelicidade. O segredo da felicidade é ser capaz de deixar ir suas vacas, soltá-las. Você deveria chamar suas vacas por seus verdadeiros nomes.

Eu te garanto que quando você deixar suas vacas ir embora, você experimentará felicidade porque quanto mais liberdade você tem, mais felicidade você terá. O Buda nos ensinou que alegria e prazer são baseados na desistência, em deixar ir. “Eu estou deixando ir” é uma prática poderosa. Você é capaz de deixar as coisas irem? Se não for, seu sofrimento continuará.

Você deve ter a coragem de praticar o “deixar ir”, soltar. Você precisa desenvolver um novo hábito – o hábito de concretizar a liberdade. Você precisa identificar suas vacas. Você precisa considerá-las como um vínculo com a escravidão. Você precisa aprender como o Buda e seus monges fizeram, a libertar suas vacas.  É a energia de plena atenção que te ajuda a identificar suas vacas e chamá-las por seus verdadeiros nomes.

Sorria, solte

Quando você tem uma idéia que te faz sofrer, deveria deixá-la ir, mesmo (ou talvez especialmente) se é uma idéia sobre sua própria felicidade. Cada pessoa e cada nação têm uma idéia de felicidade. Em alguns países, pessoas pensam que uma ideologia em particular deve ser seguida para trazer felicidade ao país e ao seu povo. Eles querem que todos aprovem a sua idéia de felicidade e acreditam que os que não estão a favor deveriam ser presos ou colocados em campos de concentração. É possível manter tal pensamento por cinqüenta ou sessenta anos, e neste tempo criar uma tragédia enorme, apenas por causa desta idéia de felicidade.

Talvez você também seja prisioneiro de sua própria noção de felicidade. Há milhares de caminhos que levam à felicidade, mas você aceita somente um. Não considerou outros caminhos porque pensa que o seu é o único. Você seguiu este caminho com toda a sua força e, portanto os outros caminhos, os milhares de outros caminhos permaneceram fechados para você.

Deveríamos ser livres para experimentar a felicidade que apenas vem a nós sem ter que procurá-la. Se você é uma pessoa livre, a felicidade pode vir para você num estalo. Olhe para a lua. Ela viaja no céu completamente livre, e esta liberdade produz beleza e felicidade. Eu estou convencido que a felicidade não é possível a menos que seja baseada na liberdade. Se você é uma mulher livre, se você é um homem livre, desfrutará de felicidade. Mas se é um escravo, mesmo que apenas escravo de uma idéia, a felicidade será muito difícil de atingir. É por isso que você deveria cultivar a liberdade, incluindo a liberdade de seus próprios conceitos e idéias. Deixe suas idéias irem, mesmo que não seja fácil.

Conflitos e sofrimento são comumente causados por uma pessoa que não quer liberar seus conceitos e idéias sobre algo. Em uma relação entre pai e filho, por exemplo, ou entre parceiros, isto acontece o tempo todo. É importante treinar a si mesmo para deixar ir suas idéias sobre as coisas. Liberdade é cultivada pela prática de deixar ir. Se você olhar profundamente, poderá ver que está se segurando a um conceito que está te fazendo sofrer um bocado. Você é inteligente o suficiente, você é livre o suficiente para desistir dessa idéia?

Estou me tornando calmo
Estou deixando ir
Tendo deixado ir, a vitória é minha
Eu sorrio
Eu sou livre


O Dharma que o Buda apresentou é radical. Contém medidas radicais para cura, para transformação da situação atual As pessoas se tornam monges e monjas porque entendem que a liberdade é preciosa. O Buda não precisava de uma conta no banco ou uma casa. No tempo dele, as posses de um monge ou monja eram limitadas aos robes que vestiam e uma tigela para coletar comida. Liberdade é muito importante. Você não deveria sacrificar ela por nada, porque sem liberdade não há felicidade.

(Do livro “You are here”, de Thich Nhat Hanh)
(Tradução para o português: leonardo Dobbin)
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domingo, 26 de abril de 2015

TAO – A Sabedoria do Silêncio Interno




Pense no que vai dizer antes de abrir a boca. Seja breve e preciso, já que cada vez que deixa sair uma palavra, deixa sair uma parte do seu Chi (energia). Assim, aprenderá a desenvolver a arte de falar sem perder energia.
Nunca faça promessas que não possa cumprir. Não se queixe, nem utilize palavras que projetem imagens negativas, porque se reproduzirá ao seu redor tudo o que tenha fabricado com as suas palavras carregadas de Chi.
Se não tem nada de bom, verdadeiro e útil a dizer, é melhor não dizer nada. Aprenda a ser como um espelho: observe e reflita a energia. O Universo é o melhor exemplo de um espelho que a natureza nos deu, porque aceita, sem condições, os nossos pensamentos, emoções, palavras e ações, e envia-nos o reflexo da nossa própria energia através das diferentes circunstâncias que se apresentam nas nossas vidas.
Se se identifica com o êxito, terá êxito. Se se identifica com o fracasso, terá fracasso. Assim, podemos observar que as circunstâncias que vivemos são simplesmente manifestações externas do conteúdo da nossa conversa interna. Aprenda a ser como o universo, escutando e refletindo a energia sem emoções densas e sem preconceitos.
Porque, sendo como um espelho, com o poder mental tranquilo e em silêncio, sem lhe dar oportunidade de se impor com as suas opiniões pessoais, e evitando reações emocionais excessivas, tem oportunidade de uma comunicação sincera e fluida.
Não se dê demasiada importância, e seja humilde, pois quanto mais se mostra superior, inteligente e prepotente, mais se torna prisioneiro da sua própria imagem e vive num mundo de tensão e ilusões. Seja discreto, preserve a sua vida íntima. Desta forma libertar-se-á da opinião dos outros e terá uma vida tranquila e benevolente invisível, misteriosa, indefinivel, insondável como o TAO.
Não entre em competição com os demais, a terra que nos nutre dá-nos o necessário. Ajude o próximo a perceber as suas próprias virtudes e qualidades, a brilhar. O espírito competitivo faz com que o ego cresça e, inevitavelmente, crie conflitos. Tenha confiança em si mesmo. Preserve a sua paz interior, evitando entrar na provação e nas trapaças dos outros. Não se comprometa facilmente, agindo de maneira precipitada, sem ter consciência profunda da situação.
Tenha um momento de silêncio interno para considerar tudo que se apresenta e só então tome uma decisão. Assim desenvolverá a confiança em si mesmo e a Sabedoria. Se realmente há algo que não sabe, ou para que não tenha resposta, aceite o fato. Não saber é muito incómodo para o ego, porque ele gosta de saber tudo, ter sempre razão e dar a sua opinião muito pessoal. Mas, na realidade, o ego nada sabe, simplesmente faz acreditar que sabe.
Evite julgar ou criticar. O TAO é imparcial nos seus juízos: não critica ninguém, tem uma compaixão infinita e não conhece a dualidade. Cada vez que julga alguém, a única coisa que faz é expressar a sua opinião pessoal, e isso é uma perda de energia, é puro ruído. Julgar é uma maneira de esconder as nossas próprias fraquezas.
O Sábio tolera tudo sem dizer uma palavra. Tudo o que o incomoda nos outros é uma projeção do que não venceu em si mesmo. Deixe que cada um resolva os seus problemas e concentre a sua energia na sua própria vida. Ocupe-se de si mesmo, não se defenda. Quando tenta defender-se, está a dar demasiada importância às palavras dos outros, a dar mais força à agressão deles.
Se aceita não se defender, mostra que as opiniões dos demais não o afetam, que são simplesmente opiniões, e que não necessita de os convencer para ser feliz. O seu silêncio interno torna-o impassível. Faça uso regular do silêncio para educar o seu ego, que tem o mau costume de falar o tempo todo.
Pratique a arte de não falar. Tome algumas horas para se abster de falar. Este é um exercício excelente para conhecer e aprender o universo do TAO ilimitado, em vez de tentar explicar o que é o TAO. Progressivamente desenvolverá a arte de falar sem falar, e a sua verdadeira natureza interna substituirá a sua personalidade artificial, deixando aparecer a luz do seu coração e o poder da sabedoria do silêncio.
Graças a essa força, atrairá para si tudo o que necessita para a sua própria realização e completa libertação. Porém, tem que ter cuidado para que o ego não se infiltre… O Poder permanece quando o ego se mantém tranquilo e em silêncio. Se o ego se impõe e abusa desse Poder, este converter-se-á num veneno, que o envenenará rapidamente.
Fique em silêncio, cultive o seu próprio poder interno. Respeite a vida de tudo o que existe no mundo. Não force, manipule ou controle o próximo. Converta-se no seu próprio Mestre e deixe os demais serem o que têm a capacidade de ser. Por outras palavras, viva seguindo a via sagrada do TAO.
(Texto Taoísta)

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Como o conceito de impermanência pode nos ajudar?




Pergunta realizada dia 18/04/2015, durante o retiro “Ação no Mundo como Caminho de Lucidez”, em Viamão/RS.


Lama Padma Samten: No contexto da motivação, a impermanência vem para a gente realmente entender a vida humana preciosa. Então, nós temos uma possibilidade de fazer boas coisas, mas, de repente, a impermanência nos pega. Isso acelera a nossa prática, de modo geral.


Dentro de um mundo convencional, quando a gente não é um praticante, a impermanência nos auxilia, porque a gente percebe que tudo aquilo por o que a gente tem fixação também é impermanente. A gente tem fixação por algo que é impermanente, então a gente vê que, por mais esforços que a gente faça para sustentar coisas impermanentes, elas vão nos derrubar.


Aí vem a pergunta: o que estaria além da impermanência? Onde é que eu posso encontrar um apoio além da impermanência? Essa é uma pergunta super importante. Ela também faz surgir o praticante. A impermanência também pode reduzir o nosso sofrimento, paradoxalmente, porque, enfim, nós não precisamos ter culpados das coisas. As coisas têm uma natural impermanência. A gente não precisa apontar culpados pelas dificuldades que estamos passando. As coisas têm uma impermanência.


A gente também pode entender que a nossa ligacão com as coisas existe por um tempo e depois ela pode cessar. Não só nós como os outros seres também têm isso. Num sentido mais profundo, podemos entender que a impermanência está ligada a outras formas de compreensão, então, quando nós compreendemos de um certo jeito, aquilo existe por um tempo, depois aquela compreensão pode virar outra coisa. Então, ela aponta a natureza livre da nossa mente, que constrói realidades. A impermanência é realmente uma coisa super importante dentro do caminho.


Veja abaixo o vídeo com a resposta sobre impermanência, que foi dada em 1:30:40.


segunda-feira, 20 de abril de 2015

Contemple a impermanência.

Contemple a impermanência.
A impermanência significa que nada permanece o mesmo por dois instantes consecutivos. Parece fácil? De fato não é um conceito difícil de entender mas na vida real na verdade não aceitamos a impermanência como um fato e resistimos contra ela. E por isso sofremos.

Thich Nhat Hanh ensina que todos nós podemos entender a impermanência com nosso intelecto, mas isto não é, contudo a verdadeira compreensão. Apenas nosso intelecto não nos conduzirá a liberdade. Quando a impermanência se torna nossa experiência diária poderemos obter o verdadeiro insight da impermanência. 

Nós também não podemos descobrir o insight da impermanência por só um momento e depois encobri-lo e ver tudo novamente como permanente. Por exemplo, a maior parte do tempo nós nos comportamos como se nossos filhos sempre fossem estar em casa conosco. Nós nunca pensamos que em alguns anos eles nos deixarãopara se casar e ter as próprias famílias. Assim nós não valorizamos os momentos que nossos filhos estão conosco. 

Busque colocar a impermanência na sua prática e divida seu insight.

Impermanência

A prática e entendimento da impermanência não é apenas outra descrição de realidade. É uma ferramenta que ajuda-nos em nossa transformação, cura e emancipação. Impermanência significa que tudo muda e que nada permanece o mesmo em dois momentos sucessivos. E embora as coisas mudem a todo momento, elas ainda não podem ser descritas com precisão como as mesmas ou como diferente do que eles eram a um momento atrás.

Quando hoje nós tomamos banho em um rio que nos banhamos ontem, é o mesmo rio? Heráclito disse que nós não podemos entrar duas vezes no mesmo rio. Ele tinha razão. A água no rio hoje é completamente diferente da água que nós tomamos banho ontem. Ainda é o mesmo rio. Quando Confúcio estava na margem de um rio assistindo seu fluxo, ele disse: "Oh, flui assim dia e noite, sem fim". 

O insight da impermanência ajuda-nos a ir além de todos os conceitos. Ajuda-nos a ir além de mesmo e diferente, vindo e indo. Ajuda-nos a ver que o rio não é o mesmo rio mas também não é diferente. Nos mostra  que a chama que acendemos na vela antes de dormir não é a mesma chama queimando na manhã seguinte. A chama não é duas chamas diferentes, mas também não é a mesma chama. 

Nós estamos freqüentemente tristes e sofremos muito quando as coisas mudam, mas a mudança e a impermanência têm um lado positivo. Graças à impermanência, tudo é possível. A própria vida é possível. Se um grão de milho não for impermanente, nunca pode ser transformado em um talo de milho. Se o talo não fosse impermanente, nunca poderia nos proporcionar a espiga de milho que nós comemos. Se sua filha não for impermanente, ela não pode crescer se tornando uma mulher. Então seus netos nunca vão se manifestar. Portanto em vez de se queixar da impermanência, nós deveríamos dizer, "Acolhida calorosa e vida longa a impermanência." Nós deveríamos estar contentes. Quando nós pudermos ver o milagre da impermanência, nossa tristeza e sofrimento passarão. 

A impermanência também deveria ser entendida a luz do inter-ser. Porque todas as coisas inter-são, elas constantemente estão influenciando umas as outras. É dito que as asas de uma borboleta que agitam em um lado do planeta podem afetar o tempo no outro lado. As coisas não podem ficar do mesmo modo porque elas são influenciadas por tudo mais. 
    
Todos nós podemos entender a impermanência com nosso intelecto, mas isto não é, contudo a verdadeira compreensão. Apenas nosso intelecto não nos conduzirá a liberdade. Não nos conduzirá ao esclarecimento. Quando somos sólidos e concentramos, nós podemos praticar o olhar em profundidade. E quando nós olhamos profundamente e vemos a natureza da impermanência, nós podemos ficar concentrados neste insight profundo. Isto é como o insight da impermanência se torna parte de nosso ser. Se torna nossa experiência diária. Nós temos que manter o insight da impermanência para poder ver e viver a impermanência todo o tempo. Se nós pudermos usar impermanência como um objeto de nossa meditação, nós nutriremos a compreensão da impermanência de tal modo que ela viverá diariamente em nós. Com esta prática, a impermanência se torna uma chave que abre a porta de realidade. 

Nós também não podemos descobrir o insight da impermanência por só um momento e depois encobri-lo e ver tudo novamente como permanente. A maior parte do tempo nós nos comportamos como se nossos filhos sempre fossem estar em casa conosco. Nós nunca pensamos que em três ou quatro anos eles nos deixarão para se casar e ter as próprias famílias. Assim nós não valorizamos os momentos que nossos filhos estão conosco. 

Eu conheço muitos pais cujos filhos aos dezoito ou dezenove anos deixam a casa e vão morar sozinhos. Os pais perdem os seus filhos e se sentem muito arrependidos. Os pais não valorizaram os momentos que eles tiveram com os seus filhos. O mesmo é verdade para maridos e esposas. Você pensa que seu cônjuge estará lá por toda sua vida, mas como você pode estar tão seguro? Nós realmente não temos nenhuma idéia de onde nossos parceiros estarão em vinte ou trinta anos ou mesmo amanhã. É muito importante se lembrar da prática da impermanência diariamente. 

Quando alguém diz algo que te dá raiva e você deseja que ele fosse embora, por favor olhe profundamente com os olhos da impermanência. Se ele ou ela tivesse ido, o que você sentiria realmente? Você estaria contente ou se lamentaria? Praticando este insight pode ser muito útil. Há um gatha, ou poema que nós podemos usar para nos ajudar:

Com raiva na última dimensão
Eu fecho meus olhos e olho profundamente. 
Trezentos anos no futuro
Onde você estará e onde eu estarei? 

Quando nós estamos bravos, o que fazemos normalmente? Nós gritamos, e tentamos culpar a outra pessoa por nossos problemas. Mas olhando para raiva com os olhos da impermanência, nós podemos parar e podemos respirar. Com raiva do outro na dimensão última, nós fechamos nossos olhos e olhamos profundamente. Nós tentamos ver trezentos anos no futuro. Como estará você? Como estarei eu? Onde você estará? Onde eu estarei? Nós só precisamos inspirar e expirar, olhar para nosso futuro e o da outra pessoa. Nós não precisamos olhar para trezentos anos a frente. Poderia ser agora, cinqüenta ou sessenta anos no futuro quando nós estaremos falecidos. 

Olhando para o futuro, nós vemos que a outra pessoa é muito preciosa para nós. Quando nós sabemos que nós podemos a perder a qualquer momento, nós não ficamos mais bravos. Nós queremos abraçar o outro e dizer: "Como é maravilhoso você ainda estar vivo. Eu estou tão contente. Como eu poderia estar bravo com você? Nós dois vamos morrer em algum dia, e enquanto nós ainda estamos vivos e juntos é bobagem ficar bravo um com o outro.”

A razão pela qual nós somos tolos o bastante para nos fazer sofrer e fazermos a outra pessoa sofrer é que nós esquecemos que nós e a outra pessoa somos impermanentes. Em algum dia quando nós morrermos, perderemos todas nossas posses, nosso poder, nossa família, tudo. Nossa liberdade, paz e alegria no momento presente são as coisas mais importantes que nós temos. Mas sem um entendimento desperto da impermanência, não é possível estar contente. 

Algumas pessoas nem mesmo querem olhar para uma outra pessoa quando a pessoa está viva, mas quando a pessoa morre, eles escrevem obituários eloqüentes e fazem oferecimentos de flores. Naquele momento a pessoa morreu e não pode mais desfrutar da fragrância das flores. Se nós realmente entendemos e nos lembramos que aquela vida era impermanente, nós faríamos tudo o que podíamos para fazer a outra pessoa feliz aqui mesmo e agora mesmo. Se nós passamos vinte e quatro horas com raiva de nosso amado, é porque nós somos ignorantes sobre a impermanência. 

"Com raiva na dimensão última/ Eu fecho meus olhos." Eu fecho meus olhos para praticar visualização do meu amado cem ou trezentos anos no futuro. Quando você se visualiza e ao seu amado trezentos anos no futuro, se sente muito feliz de vocês estarem vivos hoje. Você abre seus olhos e toda sua raiva se foi. Você abre seus braços para abraçar a outra pessoa e você pratica: "Inspirando você está vivo, expirando eu estou tão contente." Quando você fechar seus olhos para visualizar a outra pessoa trezentos anos no futuro, você está praticando a meditação na impermanência. Na dimensão última, não existe raiva. 

Ódio também é impermanente. Embora nós possamos ser consumidos pelo ódio neste momento, se nós soubermos que o ódio é impermanente, nós podemos fazer algo para mudar essa situação. Da mesma forma que com a raiva, nós fechamos nossos olhos e pensamos, onde nós estaremos em trezentos anos? Com a compreensão do ódio na dimensão última, ele pode evaporar em um momento. 

Porque somos ignorantes e nos esquecemos de impermanência, nós não nutrimos nosso amor corretamente. Quando nos casamos, nosso amor era grande. Nós pensávamos que se nós não tivéssemos um ao outro não poderíamos viver nem mais um dia. Porque não soubemos praticar a impermanência, depois de um ou dois anos nosso amor se tornou frustração e raiva. Agora desejamos saber como poderemos sobreviver mais um dia tendo que conviver com a pessoa que amamos tanto no passado. Nós decidimos que não há nenhuma alternativa: queremos o divórcio. Se nós vivermos com a compreensão da impermanência, cultivaremos e nutriremos nosso amor. Só assim ele durará. Você tem que nutrir e cuidar seu amor para ele crescer. 

(Do livro “No death, no fear” – Thich Nhat Hanh)
(Traduzido por Leonardo Dobbin)

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domingo, 19 de abril de 2015


BH/MG/Brasil

"Favor não alimentar os medos."

Childish


"É difícil ter visão quando temos medo de olhar para cima."
- Sakyong Mipham