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domingo, 1 de fevereiro de 2009

Meu saudoso Mestre Chagdud Tulku Rinpoche

Saudades... E eu tenho um colcha igualzinha a essa...

Sonhos

Já fazem oito dias que voltei do retiro. Assim que cheguei, comecei a acordar achando que ainda estava lá e que tinha que sair correndo para não perder a prática das quatro horas da madrugada! Depois acordava sem saber onde estava! Hoje acordei achando que essa não é a minha casa! Será que estou ficando louca?

Antes sonhava que estava sem o efeito da força de gravidade: voando ou nadando. Consultei um lama que me disse que era sinal de prática boa de uma certa deidade. Um psicólogo budista falou que é saudades do nirvana. Melhor abrir o link abaixo da foto e ler. Mas prefiro a opinião do lama.

Atenção!
Nirvana não é uma banda de Seattle, Washington State, USA. Samsara não é um perfume da Guerlain. E dharma não é pesquisa do seriado Lost

Aliás, segundo Jigmed Rinpoche e outros tantos mestres, "O samsara é como uma privada. Onde quer que ele exista, o cheiro não é bom!" Daí inventar um perfume com esse nome, só pode ser prá usar como Bom Ar!

sábado, 31 de janeiro de 2009

Stupa guarda cinzas de Chagdud Tulku Rinpoche em Belo Horizonte

Lama Tchimed feliz e sorridente!

Lama Tchimed e a stupa. agora só falta pintar.
(Fotos do Orkut de Elisa Filgueiras)
Manhã de sábado. O Templo do Budismo Tibetano Dawa Drolma, em Casa Branca, distrito de Brumadinho, estava lotado de praticantes que foram participar do ritual de consagração da stupa de Chagdud Tulku Rinpoche, lama tibetano que teve seu parinirvana (passagem) em 2002 e, aos 4 anos, foi reconhecido como um tulku (encarnação de um mestre de meditação). Rinpoche era o mestre do templo, um iluminado, dizem os budistas.

O dia era de festa. Na parte externa, flores, incensos e bandeiras de oração que tocadas pelo vento espalhavam a força das preces contidas em centenas de mantras (sílabas em sânscrito ou poemas). Eles repetiam o mantra "om dzambala zhalen traia soha" para gerar prosperidade espiritual e material irrestritos.

Diante da stupa, pessoas de qualquer credo podem fazer pedidos para si e para a humanidade. A cerimônia foi conduzida pelo lama Tchimed Rigdzin que, aos 3 anos, foi entregue aos cuidados de um tio, também lama e, aos 12 anos, começou seu treinamento no monastério Khatok, no Tibete.

Lama Tchimed explicou que, durante um retiro no Nepal, o venerável Chagdud Rinpoche insistiu para que ele viesse para o Brasil "para dar vigor às atividades".

- Ao longo do caminho o que parecia ser obstáculo foi se resolvendo.

Ritual: A cerimônia na manhã de sábado durou duas horas e Lama Tchimed ressaltou que "todas as religiões são necessárias".

- Tenho fé e devoção nas religiões porque elas nos dão caminhos e formas legítimas de chegarmos aonde queremos. Sem fé e devoção não é possível recebermos bênçãos.

Lama Tchimed respondeu a uma indagação muito comum, principalmente entre leigos, que desconhecem a filosofia budista. Onde está Buda? Nos templos, nas estátuas?

- Procuramos por ele, mas Buda somos nós. Nossa natureza é Buda. Nossa mente é Buda. Quando meditamos alcançamos a liberação. Buda nos concede bênçãos, nós mantemos votos e somos nós próprios a alcançarmos a liberação. Sem fé e devoção nada funciona. Mas é o lama que nos mostra o caminho do Buda e nós praticamos. Buda liderou a si mesmo e meditou.

Segundo Lama Tchimed, "um lama congrega características especiais, internas, externas e secretas. Seu nome é apenas um nome, mas o que o torna um lama é a não dualidade dos fenômenos internos e externos. Tenho 40 anos de treinamento, vivi em cavernas no Tibete, mas no Brasil levo uma vida confortável, tenho cama, lençóis limpos, televisão, e essa não é a vida de um lama. Por isso não estou pronto."

Ele explicou ainda os benefícios de se ter uma stupa em um local tão próximo de Belo Horizonte.

- Ela é a representação do corpo, fala e mente do Buda. Aqui, todas as pessoas de bom carma podem se reconectar com o mestre Chagdud Rinpoche. E esses benefícios não estão restritos apenas a Casa Branca, pois são espalhados para todos os continentes e pessoas de todas as religiões. Rinpoche está aqui - assegurou.

Lama Tchimed disse que estava muito emocionado com o carinho e dedicação de toda a sanga (pessoas envolvidas naquele grupo) para a construção da stupa.

- Em apenas um ano, o sonho se tornou realidade. A stupa não poderia ser mais perfeita porque contém todos os elementos adequados como mandalas, substâncias sagradas e manuscritos legados por Buda.

Agenda A stupa, que fica no Condomínio Cachoeira das Pedras, em Casa Branca, está aberta à visitação pública.

Publicado em 27 de janeiro de 2009 por Ana Elizabeth Diniz para o jornal O Tempo

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

A falta que eu não faço.


Amanhã à noite faz uma semana que voltei prá casa e ainda não saí prá lugar nenhum. Parece que estou em retiro domiciliar com um horário de acordar, comer e dormir todo doido. Esquisito prá caramba!

Hoje fez um calor danado em BH e só agora à noite é que refrescou. O céu está meio cor-de-rosa, sabe, com aquela cor estranha que aparece no céu quando vai chover. Será que vai chover? Seria bom.

Estou meio devagar, desanimada, lerda. Hoje até achei que podia ser gripe, dengue, corpo doendo, coceiras. Será que é o remédio tibetano do Lama Rigdzin fazendo limpeza? Mas acho que é o calor mesmo. Acho que vou dormir na sala que é mais fresquinho.

Inez mandou algumas fotos, não todas, mas foi o suficiente para sentir saudades. O jeito é me mudar para Porto Alegre e ir ao templo sempre que me der vontade. Ou, melhor ainda, ser moradora do Khadro-Ling e trabalhar prá ficar lá.

Mas agora estou pensando em passar uns tempos no Odsal Ling com Lama Tsering. Ela é meio sargentona, brava e disciplina é o seu nome. Não dá mole mesmo! Mas, quem sabe, é disso que eu estou precisando. Além do mais, São Paulo é mais perto e se encher o saco tenho onde ficar na casa de uma amiga ou volto prá casa. Mas essa é a última hipótese dos meus planos.

O marido parece mais bem humorado hoje. Antes mal me dirigiu a palavra. Problema! Eu é que não vou deixar de fazer minhas coisas por conta de ninguém. Se tiver que perder, que perca.

Ah! Também esse lance de marido vai ver que nem é comigo. Paranóia minha! É pepino de trabalho e coisa de síndico do prédio. Fico louca prá ele largar esse cargo! Vizinho enche o saco mesmo, faz barulho e só sabe reclamar. E eu que me acostumei com o silêncio do Khadro Ling...

Tenho peninha da minha filha que disse que eu fiz muita falta prá ela. Mas também foi só ela. Acho que por ser mulher. Os homens da casa, nem aí!

Minha mãe mal telefonou. E, no fundo, no fundo, estou achando isso tudo muito bom. É sinal que não faço tanta falta assim e posso cair no mundo que tudo fica do mesmo jeito. Ótimo! Não sou tão importante! Já vai cortando meu ego!

Debaixo da mesa do meu computador tem um pernilongo de plantão que morde minhas pernas e pés. No calor então! Ai! Tchau!

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Tempo


Por que demorou tanto? Já faço dez anos de Nyingma. Meu Ngöndro pronto há quatro anos. Fiz outro almejando o Dzogchen com este nome atrativo de Grande Perfeição. O dinheiro nunca aparecia, nunca surgia, nunca sobrava, nunca poupava, nunca patrocinava. E eu insistindo, forçando a barra.

Um dia, desisti. Deixei de lado. Achei que não era para esta vida, que era bad karma. E fui seguindo minhas práticas normaizinhas, simplórias como simples se tornaram minhas vontades. Diria minha tia:

- Seja tudo pelo amor de Deus!

Inventei de fazer mantras curtos de Tara. Facinho... Um milhão e duzentos!
Como tudo muda, tudo é impermanente, o carma mudou também. Good karma. E o dinheiro apareceu. Não um milhão e duzentos, mas o suficiente para viajar meio Brasil ida e volta e passar vinte e dois dias no Khadro Ling vivendo, aprendendo, meditando, contemplando, fotografando, comprando, vendo, comendo, respirando e dormindo. Pouco. Vinte e dois dias. O tempo certo.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Qualidades da natureza da mente

"A mente é o mais sutil e recôndito aspecto da nossa condição relativa, mas não é difícil notar a sua presença. Basta observar os pensamentos e como eles nos enredam no seu fluxo. Se perguntarmos o que é a mente a resposta é o fluxo ininterrupto dos pensamentos que surgem e desaparecem. Ela tem a capacidade de julgar, de raciocinar, de imaginar, etc. dentro dos limites de espaço e tempo. Mas, além da mente, além dos pensamentos, existe o que se denomina 'natureza da mente', o estado verdadeiro da mente, além de quaisquer limitações. Como está além da mente, o que fazer para nos acercarmos de uma compreensão a seu respeito? Tomemos, por exemplo, o espelho. Olhamos no espelho e vemos refletidas as imagens de tudo o que está diante dele, mas não vemos a natureza do espelho. Mas o que significa a 'natureza do espelho'? Quer dizer a capacidade de refletir, descrita como a sua claridade, transparência, pureza, limpidez, condições indispensáveis para que os reflexos possam manifestar-se. A natureza do espelho não é algo que se veja, e a única forma de concebê-la será através das imagens refletidas no espelho. Da mesma forma, apenas conhecemos e vivenciamos o que esteja relacionado ao corpo, à voz e à mente. Contudo, é assim mesmo que somos levados a compreender a sua verdadeira natureza."

"Dzogchen: The Self-Perfected State" by Namkhai Norbu Rinpoche.
Translated from the Italian by John Shane.
Edited by Adriano Clemente.
New York: Arkana, 1989.
Available at Ligmincha's Bookstore.
Traduzido para o português por Tenzin Namdrol

Camiseta branca




"A camiseta não é suja. Ela está suja. Um mestre budista costuma usar esta metáfora para nos lembrar que nossos medos, inseguranças e negatividades não são a nossa mente, mas só estão recobrindo temporariamente nossa lucidez como a sujeira em uma camiseta que pode ser lavada."

Texto escrito dentro do desenho de uma camiseta sob o vidro da mesa da recepção do Khadro-Ling.

Fui preguiçosa, desatenta e obscurecida pelo sono.

Fui preguiçosa, desatenta e obscurecida pelo sono.
Verbalmente me arrependo.
Mentalmente, lamento duplamente
por ter até mesmo vergonha de confessar
e de expressar meus outros erros e deslizes.
Abandono a culpa
mas me envergonho.
Clamo com remorso.
Recomponho meu corpo, fala e mente
e, recitando, me purifico.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Normose - Professor Hermógenes


Entrevista do professor Hermógenes, 86 anos, sobre uma palavra inventada por ele que me pareceu muito procedente: ele disse que o ser humano está sofrendo de normose, a doença de ser normal.
Pessoalmente, não o conheço e nunca participei de nenhuma oficina com ele, mas essa entrevista se encaixa muito bem para mim. Quando digo a alguém que estou ansiosa, aflita, angustiada, tem gente que até grita:
- Pára!
Umas fazem uns discursos tipo auto-ajuda, outras até debocham. Isso é muito desagradável e só faz com que nos sintamos pior, menos normais!
Segue a entrevista.

"Todo mundo quer se encaixar num padrão. Só que o padrão propagado não é exatamente fácil de alcançar. O sujeito 'normal' é magro, alegre, belo, sociável, e bem-sucedido. Bebe socialmente, está de bem com a vida, não pode parecer de forma alguma que está passando por algum problema.
Quem não se 'normaliza', quem não se encaixa nesses padrões, acaba adoecendo. A angústia de não ser o que os outros esperam de nós gera bulimias, depressões, síndromes do pânico e outras manifestações de não enquadramento.
A pergunta a ser feita é: quem espera o quê de nós? Quem são esses ditadores de comportamento a quem estamos outorgando tanto poder sobre nossas vidas? Eles não existem. Nenhum João, Zé ou Ana bate à sua porta exigindo que você seja assim ou assado. Quem nos exige é uma coletividade abstrata que ganha 'presença' através de modelos de comportamento amplamente divulgados. Só que não existe lei que obrigue você a ser do mesmo jeito que todos, seja lá quem for todos. Melhor se preocupar em ser você mesmo.
A normose não é brincadeira. Ela estimula a inveja, a auto-depreciação e a ânsia de querer o que não se precisa.
Você precisa de quantos pares de sapato? Comparecer em quantas festas por mês? Pesar quantos quilos até o verão chegar?
Não é necessário fazer curso de nada para aprender a se desapegar de exigências fictícias. Um pouco de auto-estima basta. Pense nas pessoas que você mais admira: não são as que seguem todas as regras bovinamente, e sim, aquelas que desenvolveram personalidade própria e arcaram com os riscosde viver uma vida a seu modo. Criaram o seu 'normal' e jogaram fora a fórmula, não patentearam, não passaram adiante. O normal de cada um tem que ser original.
Não adianta querer tomar para si as ilusões e desejos dos outros.
É fraude. E uma vida fraudulenta faz sofrer demais.
Eu simpatizo cada vez mais com aqueles que lutam para remover obstáculos mentais e emocionais, e a viver de forma mais íntegra, simples e sincera. Para mim são os verdadeiros normais, porque não conseguem colocar máscaras ou simular situações. Se parecem sofrer, é porque estão sofrendo. E se estão sorrindo, é porque a alma lhes é iluminada.
Por isso divulgo o alerta: a normose está doutrinando erradamente muitos homens e mulheres que poderiam, se quisessem, ser bem mais autênticos e felizes."

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

No meditation mind!


Ansiosíssima, mala pronta, não consigo deslotar nada. Tiro coisas e continua cheia. É o material de prática que é muito, é grande e extremamente necessário. E não estou levando nem um livro!
Amanhã, acordar cedo para encontrar o Lama Chimed e os irmãos vajra. Vamos enrolar mantras para colocar na stupa. Espero ficar o dia inteiro neste pré retiro. Quem sabe dou uma centrada porque estou me machucando muito.
Ontem feri o dorso da mão direita no retrovisor de um carro estacionado grudado num outro. Bati o cotovelo direito e deu um “ovo”.
Fui fazer a dancinha dos zumbis do Michael Jackson com minha filha e bati a coxa na quina da mesa. Zuação! E ainda fico com a música na cabeça.
Lama Tsering diria:
- No meditation mind!
Quando a gente não está prestando atenção no que faz, fica estabanada, aflita, ansiosa, dá é nisso. No meditation mind!
Pelo menos demos muitas risadas. Melhores que a do Vincent Price!

Porque o gambá cheira mal?

Ilustração de Marcos Jardim

O gambá tinha uma filha casada com o ariramba (martim-pescador), que ia sempre ao rio e ao lago para flechar peixes. Ele pousava sobre um pau inclinado, para espreitar os peixes e flechá-los e voltava muito depressa, quando menos a sogra esperava. Um dia, o gambá chamou a filha:
— Minha filha, como é que seu marido mata os peixes?
— Como há de ser, pai? Ele sobe no pau que está inclinado sobre o rio.
— Ah, é assim? Ora, assim até eu mato peixes!
E ele chamou a mulher para o pau e esperou. Logo lhe apareceu o avô do peixe tucunaré. O gambá saltou sobre ele, mas o peixe era esperto, abriu a boca e engoliu-o. A velha correu para casa gritando e contou à filha o que se passara. A filha foi contar ao marido o que tinha acontecido e pediu-lhe que salvasse o seu pai.
O ariramba foi para a margem do rio, subiu ao pau e esperou. Quando apareceu o avô do peixe tucunaré, flechou-o, puxou-o para terra e pediu à sua mulher que trouxesse uma faca.
Abriu a barriga do peixe e encontrou o seu sogro quase morto. Mas salvou-o.
É por isso que o gambá ficou com o rabo tão feio; é que o avô do peixe pelou-o; e ficou com mau cheiro por causa do calor da barriga do peixe.

(J. M. "Por que o gambá cheira mal". Folha de São Paulo, 16 de abril de 1962)

http://www.jangadabrasil.com.br/abril56/im56040c.htm

sábado, 27 de dezembro de 2008

Retiro

Chagdud Gönpa Khadro Ling - Três Coroas - Rio Grande do Sul

"Não pense que você tem que controlar algo... apenas siga o movimento natural de tudo... foque sua energia para que nada seja desperdiçado... pense que o que você descobrir e treinar é muito precioso para uso de outras pessoas... veja que não é pela sua força que você anda, mas pela energia dos budas e bodisatvas.
Abandone todo o conhecimento anterior e apenas se abra para o que ouvirá e praticará.
Carinho, do L.S."
Sábado, 27 de dezembro de 2008, 10:23h.

Meus artigos no jornal


Estrangeirismo - Botando a boca no trombone!
Artigo meu publicado no Jornal Pampulha de Belo Horizonte em 15 de outubro de 2005.

"Antes de tudo, devo dizer que sou decoradora. Pelo menos formada e de nível superior, quatro anos de curso. Mas, no momento, exerço pouquíssimo a profissão por ter me tornado tradutora. Que a classe me perdôe, mas beira o ridículo o (mau) uso do inglês para denominar ambientes intuindo que isso possa 'valorizar' o trabalho de um profissional.
É home-theater (que ninguém consegue pronunciar direito), é fumoir (francês) indicando um lugar onde é permitido fumar, home library que, para mim, não passa de um ambiente cheio de estantes recheadas de livros que, por sinal, os decoradores deveriam ler mais e por aí vai. Muito chique, não?
Porém, no número 802 do Jornal Pampulha, na página F1, deparei-me com o título "Costumize sua casa."
Irritei-me! Está tudo errado! Primeiro, não existe a palavra costumize nem como verbo, no caso, para você customizar a sua casa. Custom é substantivo que quer dizer costume, convenção, etiqueta, hábito, tradição. No sentido comercial, clientela, cliente e, como adjetivo, temos customized que seria o termo brasileiro 'feito sob encomenda' (tanto no Collins, quanto no Oxford).
Dizer que 'customizar a sua casa' é 'fazer diferente e o que mais gosta para deixar a marca da sua personalidade refletida' não tem nada a ver. Desculpem-me, minha turma, mas façam-me o favor! Francamente! Até quando seremos macacos dos estadunidenses? Ou será que só eles são americanos?"

Visão budista
Artigo meu publicado no Jornal Pampulha de Belo Horizonte em 7 de março de 2007.

"Sou budista. Portanto, deveria ser eqüânime, compassiva, amorosa, alegre, paciente. Mas como conseguir ser assim diante dos fatos que vejo na televisão? Que samsara esquisito! Mesmo querendo me alienar, o rádio do vizinho toca a CBN o dia todo. Corro o risco de ser morta se for lá para reclamar.
Compassiva fico quando vejo a mãe do menino arrastado chorando em rede nacional. Compassiva fico quando vejo meninos morrendo na linha do trem. Que idéia! Estavam drogados? Não é possível! Compassiva fico com índio que, há dez anos - alguém se lembra? - dormindo, morre queimado em plena Cidade do Poder e da Impunidade! Mas alguém fez alguma coisa? Alguém faz alguma coisa contra filho de autoridade de Brasília? Ao contrário. Um dos rapazes passou num concurso público forjado pelo próprio pai e está ganhando seis mil reais por mês! Se trabalha ou não, não sei. Mas recebe! Percebe o salário e não percebe o que fez!
Quem matou a atriz a tesouradas - alguém se lembra? - já se formou na PUC Minas.
Com filha que tira a vida de quem lha deu, não sei o que fico, se fico, como fico! Pior ainda quando dizem que os pais dela eram muito severos! Por essa conta, já teria matado os meus, alguns irmãos, tios e tios que se acham no direito de se meter na educação de filhos alheios. Mas nem por isso fiquei pior e nem saí por aí cometendo atrocidades. Hoje uma palmadinha já traumatiza...
É normal quando nenhum dirigente discute algo em benefício da população? É normal entrar na lógica da barganha: isso é seu, isso é meu e estamos combinados. É normal cometer crimes às claras? É normal transar na praia e ainda reclamar privacidade? John Lennon e Yoko ficaram na cama um tempão. A frase é famosa: cometem violência em plena luz do dia mas se escondem para fazer amor. Mas eles não reclamaram!
A lei brasileira é deliciosa. Ninguém precisa explicar nada. Até hoje tem gente que, num romantismo do tempo da ditadura, diz entre dentes: odeio norte-americano! Tudo bem. Mas lá, bateu, levou! E não são trinta anos ou saída por bom comportamento, não. É perpétua se não for - adiantada e taxativamente discordo - pena de morte.
Mas somos psicóticos, paranóicos. Precisamos de tratamento e enquanto ele não vem panis et circus! Novela, futebol e cesta básica.
Mas acontece que sou budista. Portanto, devo ser eqüânime, compassiva, amorosa, alegre e paciente. Ainda bem que ser budista também é estar plenamente consciente da impermanência, de que as ações virtuosas e prejudiciais causam seus resultados inevitáveis e que este reino é um oceano de sofrimento.

A Única Maneira em "O Caminho é a Meta! Um Livro de Bolso de Meditação Budista."

"De acordo com o Buda, ninguém pode alcançar a sanidade e a iluminação básicas sem a prática da meditação. Vocês podem estar extremamente confusos, atentos ou prontos para o caminho. vocês podem estar emocionalmente perturbados e passando por um sentimento de claustrofobia em relação a este mundo. Talvez estejam inspirados por obras de arte deste mundo em geral. vocês podem ser gordos, magros, grandes, pequenos, inteligentes, burros. Seja lá o que forem, só existe um caminho, incondicionalmente e ele é começar a praticar a meditação. A prática da meditação é a única maneira. Sem ela não há saída ou entrada."

Carta ao Papai Noel

Recebi um e-mail de uma amiga que me repassou. Repasso.

"Papai Noel, como é de costume, todo ano lhe escrevo para contar como foi o meu ano. Lembro-me deste ano de 2008 de uma forma muito peculiar No começo tudo era esperança e alegria, a Bolsa estava em alta, mas bem em alta 70.000 pontos, dinheiro não faltava para nada, todos estavam especulando como louco desvairados, compra e vende, vende e compra, realiza lucro aos montes, nesta louca ciranda financeira sem controle. Todos sabiam que era uma "Bolha", mas afinal de contas se até o meu vizinho estava investindo na bolsa, e ganhando, porque eu também não poderia fazer isso. Apareceram até uns adolescentes na televisão com cara de intelectual, se intitulando de novos milionários, teve até revista sobre isso, lembra? Nas empresas estavam recontratando até os "mais experientes", ou seja, quem tinha mais 50 anos para suprir as vagas em aberto no mercado de trabalho por todo o Brasil, pois tava faltando até gente no mercado de trabalho. O petróleo andava na casa dos US$ 142,00/barril, e a gasolina tava cara pra dedeu, mas e daí, eu podia pagar no cartão em 10 vezes mesmo, e daí? A soja era riqueza pura no campo, nunca se vendeu tanto carro, geladeira, fogão e televisão, a propósito 29 polegadas que nada, eu queria uma LCD tela plana, bem fininha, enorme, para deixar lá em casa, mas tinha que ter alta definição, a tal da HD, afinal eu queria ver as Olimpíadas lá da China. No campo da música internacional apareceu até uma cantora que o nome é difícil de dizer até hoje, uma tal de Amy nãosei dequeHouse...., que faz apologia a autodestruição e bebedeira, sem falar em outras coisas, vende tanto quanto se chapa, todos riem. Teve até pai atirando criança pela janela e namorado matando namorada por amor ou desamor, eu vi isso na televisão, aquela grande e bem fininha. Que começo e meio de ano incrível foi esse de 2008, comprar era a palavra de ordem, comprar, comprar e comprar, pagar depois agente vê como faz para pagar. No campo do meio ambiente, os ambientalistas estavam bem loucos, teríamos que descobrir ou até construir um outro planeta Terra para suprir as nossas necessidades, o planeta estava agonizando, aquecimento global, furacões, deslizamentos de terra, enchentes e coisas do gênero, ou seja, agitação total. Bom, daí chegou o setembro negro, a Bolsa Quebrou, a Bolha Estourou, e aquele Brasil que esperamos décadas para deixar de ser o Brasil do Futuro e ser o Brasil do Presente, ficou em alerta total. Os Americanos começaram a gritar, pedir dinheiro emprestado ao governo (isso era inacreditável), as casas deles foram sendo tomadas, os estrangeiros sendo expulsos aos pouco e silenciosamente, o pavor se abateu sobre todos e iniciou a tão chamada CRISE FINANCEIRA, reuniões para todos os lados, os Europeus botaram a mão no bolso para segurar o tranco e incrivelmente até os japoneses saíram da Fórmula 1 devido a Crise. Quebrou de tudo, banco, seguradora, fábrica de carro, fábrica, minas, siderúrgicas e as máquinas dos colonos foram tiradas deles, até o meu vizinho, aquele besta que acreditou nessa ilusão, "SI FU". Aqui no Brasil nem sentimos muito no começo, foi só pânico mesmo, pois só queríamos chegar no Natal bem, poder tomar a nossa "espumante" no ano novo, que tava tudo bem. O preço do Barril do Petróleo anda no final do ano, em US$ 37,00/barril, mas o preço da gasolina não caiu, continua o mesmo do começo do ano, e sabe porquê? Para dar lucro na Petrobrás, quase 12 bilhões em apenas um trimestre, tudo bem ela é nossa mesmo... Os Bancos até ganharam dinheiro do Governo para emprestar, coisa incrível, mas tinham a obrigação de emprestar e não é que não queriam emprestar para ninguém, queriam só para eles, o governo teve que mudar as regras e apontar uns dedos por aí, mas papai Noel, o que é CND? Sei que é coisa das empresas com dívidas, o que é? O Lula foi na TV mandar a gente gastar e continuar comprando. CRISE que crise. Devemos acreditar nele, afinal é o nosso gestor maior, sua popularidade é a maior de todos os outros que passaram por aqui nos últimos tempos, ele devia estar certo. Papai Noel do Céu... Daí começaram as demissões por todos as lados, demissão na Vale, no vale e se criou um vale, um buraco, um abismo, no meio do caminho que agente fechou os olhos para não ver o estouro, os grandes estão balançado e se caírem, o barulho é feio, os meus amigos, aqueles de mais de 50 anos, já tomaram um pé na bunda faz tempo, mão de obra qualificada que nada, salve-se quem puder, os mais novinhos só dizem que não sabem o que fazer para conseguir emprego, aliás 34.000, 80.000 e assim por diante são os números de desempregados em São Paulo, agora no final do ano. Tem carro empilhado nas montadoras e até em pista de pouso de avião, aguardando comprador, eu vi isso na minha televisão de LCD, aquela desgraçada e bem fininha, que eu tenho que pagar mais 18 prestações caríssimas? Os juros não caíram e ao mesmo tempo o IPI dos carros foi suspenso, isso não parece meio contraditório? O Lula foi TV e disse diferente agora,... Continuem comprando, mas não esqueçam de pagar as contas... Que coisa mais estranha, porque haveríamos de fazer isso, não é? Cinco minutos depois a Fátima disse que a população brasileira está endividada até não poder mais, tem gente querendo devolver os carros, porque compraram no impulso e agora estão com medo de não poder pagar, inacreditável, como sabe esse nosso Gestor. Papai Noel, agora a pouco o Lula disse que não era para os empresários demitirem seus funcionários, mas se eles não tem trabalho como poderão manter os empregos? Papai Noel, acharam o culpado dessa CRISE e ele está lá nos Estados Unidos, nem sei o nome dele. Papai Noel, esse cara não merece presente de forma nenhuma. Disseram que ele fez uma tal de Corrente Financeira e bagunçou 50 bilhões de dólares pelo mundo afora, era um tal que trabalhava na NASDAQ. O que é isso? Agora aparece na TV de boné na cabeça para esconder a cara e anda até tomando uns tapas e empurrões, eu vi, sabe aonde? Claro lá na TV LCD HD de 32 pol. que eu comprei em 24 prestações lá na loja, que tá fazendo propaganda de monte na TV. Papai Noel, é por isso que eu lhe escrevo... Me ajuda a manter o meu emprego, pois eu tenho que continuar a botar gasolina no meu corcel velho, a prestação mesmo, no cartão, já que não deu tempo de eu comprar um popular zerinho em 72 meses, como fez o besta do meu vizinho. Tenho ainda que pagar as prestações da minha televisão de LCD HD de 32 pol., ainda faltam 18 prestações e se eu perder o meu emprego, como vou pagar os meus cartões de crédito, aqueles com juros absurdos, que eu aceitei em usar e eu não quero ir para o SPC SERASA, imaginem o que vão dizer de mim, imagina o que o meu vizinho vai falar. Mas se mesmo assim, eu não conseguir segurar o meu emprego, pelo menos diz para o Lula aumentar o tempo do seguro desemprego, até esta crise terminar, por uns 18 meses já tá bom. Vou ter que terminar por aqui porque a LanHouse está fechando, até o ano que vem. Feliz 2009. Do seu querido menino, Zé Povo Brasileiro."

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Citando Bob Thurman




"A liberdade do dualismo é entender que a realidade última é relativamente real, ultimamente real e relativamente última."

Robert Thurman

Com Sua Santidade o 14º Dalai Lama
Com sua filha, a atriz Uma Thurman (uma que dizer canal central)
Com a esposa Nena e a filha Uma.

Robert Alexander Farrar Thurman nasceu em 4 de agosto de 1941. É um escritor americano budista e acadêmico influente e prolífero que autorizou, editou ou traduziu vários livros sobre o budismo tibetano. É professor de estudos budistas indo-tibetano da Universidade de Columbia, detentor da primeira cátedra no campo deste estudo nos Estados Unidos. É também co-fundador e presidente da Tibet House (Casa do Tibet) em Nova York e ativista contra o controle do Tibet pela República Popular Chinesa.
Thurman nasceu em Nova York, filho de Elizabeth Dean (nascida Farrar), uma atriz dos bastidores e de Beverly Reid Thurman Júnior, um editor da Associated Press e tradutor das Nações Unidas. Cursou a Philips Exeter Academy de 1954 a 1958 e, em seguida, a Universidade de Harvard obtendo o título de Bacharel em Artes (AB) em 1962.
Casou-se dom Christophe de Menil, herdeira da Schumberger Ltd., uma fortuna em equipamento de petróleo, em 1959. Tiveram uma filha, Taya e seu neto é o artista Dash Snow.
Em 1961, Thurman perdeu seu olho esquerdo num acidente de carro quando tentava levantar o carro com um macaco e o olho foi recolocado através de uma prótese ocular.
Após o acidente, ele resolveu redirecionar sua vida, divorciou-se da esposa e viajou de 1961 a 1966 para a Turquia, Iran e Índia. Converteu-se para o budismo e foi ordenado sacerdote budista em 1964, o primeiro monge americano da tradição budista tibetana.
Estudou com Tenzin Gyatso, o 14º Dalai Lama de quem se tornou amigo íntimo.
Em 1967, de volta para os Estados Unidos, Thurman abandonou seu voto de celibato e casou-se pela segunda vez com uma modelo teuto-suiça, Nena von Schlebrügge, que passou por um breve casamento com Timothy Leary. Thurman e Schlebrügge, agora uma psicoterapeuta, tiveram quatro filhos sendo a mais velha, a atriz Uma Thurman.
Thurman obteve o Mestrado em Artes em 1969 e um Ph.D. em Estudos de Sânscrito Indiano em 1672 em Harvard. Foi professor de religião no Amherst College de 1973 a 1988 quando aceitou um trabalho na Universidade de Columbia como professor de religião e sânscrito. A revista Time o escolheu como um dos 25 americanos mais influentes em 1997.
Dr. Thurman é altamente reconhecido por suas traduções e explanações dinâmicas e lúcidas da religião e filosofia budista, particularmente à tradição Gelugpa (dge-lugs-pa), e seu fundador, Je Tsongkhapa.

Traduzido por Ana Carmen Castelo Branco - Belo Horizonte, 26 de dezembro de 2008.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Retirantes contemplam a vida. - Tradução

Suan Mokkh, Thailândia
Quando Sarah Medway, uma artista inglesa de 50 anos de idade, leu a programação para os próximos 10 dias, ela ficou nervosa. "Eu queria sair imediatamente. Quase não consegui passar pelo balcão de registro", ela confessou. "Eu acabara de passar por uma transição difícil na minha vida e meu filho recomendou-me que eu fizesse isso. Ele me disse que simplesmente não era mais eu mesma". No terceiro dia, Sarah estava pronta para desistir. Ela mergulhou fundo dentro de si mesma e, na manhã seguinte, sentiu uma onda de calma e se adaptou à rotina estrita. No sétimo dia, ela chorou de desespero, mas nos últimos poucos dias, ela sentiu seu espírito nascendo de novo. "É uma montanha-russa emocional", concordou Matthew Carter, um instrutor de ginástica da África do Sul que tinha acabado de completar seu quarto retiro no monastério Suan Mokkh. "Mas isto limpa a sua alma". Wat Suan Mokkh está bucolicamente situado dentro de uma floresta em Chaiya, no sul da Thailândia. O monastério de floresta foi fundado em 1932 por um dos mais reverenciados monges da Thailândia, o Venerável Buddhadasa Bhikku (literalmente "Servo do Buddha"). Ele fundou o centro como um santuário para aqueles que quisessem praticar Vipassana (meditação do insight - visão clara). "Minha verdadeira natureza era aquela de um monge da floresta", escreveu Buddhadasa em 1943 e, pelos 50 anos seguintes, ele devotou sua vida a espalhar a palavra sobre o dharma (natureza) e encorajar Anapanasati (vigilância por meio da respiração) entre seus seguidores. Tal foi sua busca pela paz no mundo que Buddhadasa começou a convidar visitantes de diferentes religiões para seu retiro silvestre, esperando que eles levassem a mensagem de volta para suas casas.

Wat Suan Mokkh e a Sala de Meditação
Buddhadasa faleceu em 1993, mas seu legado vive em Wat Suan Mokkh. Gerenciado por devotos buddhistas e voluntários laicos, o monastério organiza mensalmente retiros para estrangeiros que desejam aprender Anapanasati e explorar a si mesmos.
As inscrições são feitas no último dia de cada mês (Wat Suan Mokkh não cancelou ou adiou nenhum retiro nos seus últimos 15 anos). Os dormitórios podem abrigar até 60 homens e 60 mulheres. As acomodações são espartanas: uma cela de concreto de 3 por 4 metros tem uma cama de alvenaria e uma esteira de palha. Espera-se que os retirantes imitem a rotina do próprio Siddhartha Gautama incluindo o mínimo de sono, andar descalços, comer somente pela manhã e dormir num travesseiro de madeira.

A Resposta Está Debaixo do Seu Nariz
Qualquer um que respire pode praticar a meditação Anapanasati. Ela não requer despesa, equipamento e nenhum planejamento. É boa para sua saúde e não tem efeitos colaterais.
As instruções para um iniciante são simples: sinta sua respiração entrando em suas narinas; siga-a até seu umbigo; sinta-a voltando para fora através de seu nariz; não pense em mais nada.
Ainda assim, é uma busca que poucos e preciosos mortais podem arrogar ter conseguido em uma só vida.
Aconselha-se que você comece sentando confortavelmente com a coluna ereta (o "lótus completo" e outras posições de yoga são puramente para aparecer). Tenha os olhos semicerrados e olhe para baixo em direção à ponta de seu nariz. Então, faça algumas respirações profundas. Siga sua respiração enquanto ela entra e sai. Na medida em que os pensamentos entram na sua mente, deixe-os passar. Retorne à respiração. Depois de um tempo, suas pernas, suas costas, seu pescoço ou todos os três começarão a doer. Ignore a dor. Volte à respiração. Continue focalizando na respiração até alcançar um estado de calma. Dissipe os pensamentos. Observe somente sua própria respiração. Ouça os sons à sua volta, mas não os analise. Inspire. Expire. Continue pelo tempo que você conseguir.

Sábio, porém humilde e secamente divertido, Tan Ajahn Dhammavidu oferece a palestra diária sobre os princípios buddhistas e a prática de Anapanasati.
O monge pode perspicazmente simpatizar com as frustrações dos meditantes noviços. Ele nasceu há 50 anos na Inglaterra e, como músico e artista, passou os anos 60 e 70 vivendo um estilo de vida hippie na Índia antes de se tornar um monge buddhista Theravada nos meados de 1980. Tan Ajahn Dhammavidu diz que não se arrepende e nem sente falta do "mundo real".
"A vida é sofrimento", diz, apesar de que um sorriso irônico no rosto sugere que ele está bem feliz com sua porção. Recontando casos de seu passado travesso, o monge inglês mantém sua audiência compenetrada, um alívio bem-vindo para os que estão lidando com suas próprias almas problemáticas.
Com uma virada de ironia, Tan Ajahn Dhammavidu amarra sua narração relacionando-a aos ensinamentos do Buddha.

Os Cinco Obstáculos para a efetiva meditação - desejo, agitação, preguiça, má-vontade e dúvida - são justapostos à analogia de se comer uma pizza enquanto dopado por haxixe numa hospedaria em Bengala. Cabeças balançam em apreciação. Ele deixa muita coisa sem dizer, mas sua mensagem é sempre clara: escolha o Caminho do Meio; não se engane; fique atento a tudo.
Os sinos tocam novamente para mais uma hora de meditação caminhando. Silenciosa e atentamente, os sábios andam devagar como zumbis em volta das terras do monastério. No nono dia, pede-se que os alunos devotem o dia inteiro à prática de meditação. Não há almoço neste dia, só o desjejum. Não haverá cânticos, nem yoga. As poucas distrações que poderiam existir são removidas e os meditantes lutam para atingir o nível mais alto que puderem.

Como o retiro caminha para um final, os membros sobreviventes refletem sobre o que provavelmente foi o mais longo dos 10 ou 12 dias de suas vidas:
"Eu tenho muito respeito pelo Buddhismo, mais ainda depois do retiro", reflete Sarah. "Acredito que Buddha descobriu a física quântica a 2.500 anos atrás".
"Definitivamente vale a pena fazê-lo ao menos uma vez na vida" divagou Márcio Assis, 27 anos, do Brasil. "O travesseiro de madeira foi duro; sopa de arroz para o desjejum todos os dias foi duro; acordar às 4 da manhã foi duro. Mas, no final, senti uma atitude mental muito mais positiva. É uma oportunidade de deixar para trás o mundo capitalista e olhar para dentro".
"Considerando que eu estava aqui para pensar sobre nada, eu nunca pensei tanto em minha vida", confessa Andréa, uma aluna alemã.
Como muitos outros, Andréa foi recomendada a ir ao Wat Suan Mokkh por um amigo e veio para "purgar os demônios" depois de término traumático com seu namorado. No final do curso ela sentiu que tinha finalmente fechado um capítulo em sua vida, mas não sem angústia e o derramamento de muitas lágrimas.
Um para subir, Scotty!
Se você já visitou um dos grandes lugares sagrados do Buddhismo, tais como Lumbini no Nepal, o lugar de nascimento do Buddha, você já deve ter notado a maneira descuidada com que muitos habitantes abordam os locais turísticos. Famílias indianas correm espalhando amendoins, tirando fotos, rindo. O Buddhista ocidental convertido, por outro lado, tende a querer dar esse passo além com austeridade. Ele se sentará debaixo de uma árvore, diante de centenas de tolos e risonhos turistas, e meditará desesperadamente, sem dúvida desejando alcançar um plano mais alto e, de preferência, antes do templo fechar para o dia.
Outros preferem tomar alucinógenos ou fumar maconha antes de descer para um dia duro de meditação. Você os encontrarão nas praias da Thailândia ou de Goa. Eles param a cada cinco minutos para mais uma dose.
Depois de incontáveis retiros e milhares de turistas e desejosos de ser buddhistas, Reinhard Holscher, um dos coordenadores do programa, é cético quanto ao que chama de "Coelhinhos da Felicidade".
"A meditação é um trabalho para toda a vida", ele diz. "Iniciantes não podem alcançar nenhum estado avançado em apenas 10 ou 12 dias".
É aí que jaz o conflito na mente ocidental. Enquanto muitos orientais parecem nascer com um senso natural de habilidade para a meditação, o impaciente e caprichoso ocidental tende a achar que todo o processo é apenas uma tarefa impossível de ser realizada.
"Queremos a Iluminação agora, ou estouraremos nossos miolos tentando!" ele diz.
O fato verdadeiro é que somente uma vida ascética é condutiva a uma meditação bem sucedida. Álcool e drogas simplesmente não adiantam. É uma busca pessoal, não há competições ou Campeonatos Mundiais de Meditação. É um assunto pessoal entre você e sua alma.
Apesar dos sinais de aviso, mais de 120 ocidentais fazem suas malas e entram no monastério em busca da Iluminação todos os meses - os jovens e os incansáveis, os militantes buddhistas e os renascidos curiosos, uns escravos da rotina, outros em encruzilhadas, outros em becos sem saída, alguns procurando por respostas, alguns olhando para algum lugar dentro, outros para algum lugar fora, os atormentados, os confusos, românticos, viciados, rebanhos e um sortimento de almas perdidas.
Dos 96 que apareceram para o programa de 11 dias em abril de 1996, apenas 67 completaram o curso - tal é o tormento psicológico que muitos têm que agüentar.
"A maioria dos que saem fora são jovens e não têm a menor idéia do que esperar", Reinhard diz.
Outros não conseguem ter o suficiente. Andy é um jardineiro da Alemanha e já veio a 20 retiros em Wat Suan Mokkh. Depois do 11º dia de cada curso, ele se muda para o outro lado da estrada para o monastério principal por duas semanas "para colher os resultados".
Completando o retiro, os alunos são bem-vindos a ficar no monastério principal se quiserem mais tempo para praticar meditação num ambiente silvestre ou se eles não se sentirem prontos para voltar para o mundo exterior.
Fundamentalmente você volta para o espaço selvagem, para o tráfego barulhento, luzes brilhantes e a comoção da vida do dia a dia. Mas enquanto pega uma carona de volta para Surat Thani na traseira de um caminhão, você sente um novo começo, uma estranha sensação de que sua vida está de alguma forma mais aberta do que você poderia imaginar antes. Seus sentidos estão mais claros: você pode sentir o cheiro da grama e das árvores, você pode sentir a brisa solta nos seus cabelos como nunca sentiu antes. Você encara milhares de pessoas na rua e simpatiza com cada uma delas. Você "nasceu de novo". O mundo é agora a sua ostra.
Com uma súbita explosão de alegria você grita para o ar: "Carpe Diem!" E, talvez, pela primeira vez na sua vida, você verdadeiramente diz isso pra valer.

Os retiros de meditação do Wat Suan Mokkh (em inglês) são realizados do 1º ao 11º dia de cada mês.
Inscrição: Um dia antes que o retiro comece.
Custo: 1500 baht para alimentação e acomodação.
Retiros em língua thai são realizados do 19o ao 27o todo mês.
Contato: The Dhammadana Foundation, c/o Suan Mokkhabalarama, Chaiya, Surat Thani, Thailand, 84110.
Telephone/fax: 07-743-1597.
Web site: www.suanmokkh.org/
Suan Mokkh está situado na Highway 41, perto de Chaya, 50 km. Ao norte de Surat Thani. Trens e ônibus: use a principal linha de trem ou rodovia entre Surat Thani e Bangkok.
Aeroporto mais perto: Surat Thani
Retiro de meditação:
4h.: acordar, banhar-se, meditar, yoga.
7:30h.: desjejum, tarefas, palestra do dharma, meditação, meditação caminhando, meditação.
12:30h.: almoço (última refeição do dia), tarefas, meditação, meditação caminhando, meditação, cânticos.
18h:. xícara de chá, banho quente nas termas, meditação.
21h:. Cama
Não ler, não escrever, não fumar, não beber, nenhum pensamento ou atividade sexual, não conversar.
© 2006 tradução de Ana Carmen Castelo Branco, para a Comunidade Nalanda,
http://buddhadasa.nalanda.org.br/destinofelicidade.html

A Árvore de Jóia do Tibet: o Motor da Iluminação do Budismo Tibetano

Autor : Robert Thurman - Tradução Ana Carmen Castelo Branco Publicado em: novembro 18, 2007

Poucos professores do ocidente possuem tanto treinamento espiritual quanto o erudito para nos guiar pelo caminho da iluminação. Robert Thurman é um destes professores. Agora, em seu primeiro curso experimental sobre as essências do budismo tibetano, adaptado e divulgado de um retiro popular que ele dirigiu, Thurman - o primeiro ocidental ordenado pelo próprio S. S., o Dalai Lama - compartilha a sabedoria centenária de um método altamente valioso usado pelos grandes mestres tibetanos. Valendo-se de um texto reverenciado e já tido como secreto de um mestre tibetano do século dezessete, junto com uma total explicação para ocidentais contemporâneos, A Árvore da Jóia do Tibet mergulha-nos completamente nos mistérios da sabedoria espiritual tibetana. Um retiro em forma de livro assim como um ensinamento espiritual e filosófico, oferece um sistema prático de compreensão de nós mesmos no mundo, de como desenvolver nosso processo de aprendizado e pensamento e de como ganhar um discernimento e percepção profundos e transformadores. Os tibetanos pensam em sua querida tradição budista como uma "árvore que preenche desejos" por seu poder de gerar felicidade e iluminação dentro de todos que absorvem seus ensinamentos. A felicidade, de fato, é a real meta da espiritualidade budista e a árvore de jóia que preenche desejos os colocará no caminho para o alcance desta meta. Esta linda imagem da árvore de jóia que atua como uma mandala ou uma postura de yoga para focar sua atenção em verdades maiores que você mesmo, o ajudará a sobrepujar idéias e hábitos antigos, fortalecer habilidades positivas, desenvolver mais energia e criatividade e mudar sua vida - no futuro - para melhor. Como Thurman escreve, "Os leitores aprendem a cultivar a sensibilidade e apreço para amar mais integralmente, sentir compaixão mais intensamente e se tornar uma fonte de alegria para todos que encontram e conhecem." Porque o caminho para a iluminação requer mais do que se sentar em meditação, A Árvore de Jóia do Tibet oferece uma trilha rica, intelectualmente cravejada de práticas espirituais específicas incluindo: os onze passos para criar o espírito da iluminação aqui e agora; as verdades e estórias dos sábios hindus e tibetanos; e meditações guiadas para vivenciar as bênçãos da árvore de jóia que preenche desejos. Vocês podem fazer estas práticas com os outros ou sozinhos durante a sua vida diária. E, enquanto viajam por esta estrada para aprofundar a auto-realização, auto-entendimento e contagiante alegria, também aprenderão como os princípios do tantra tibetano pode abrir as portas para a "compaixão e continuidade infinitas" e como descobrir estados de consiciência que transcendem ate a morte.Um dos mais explícitos ensinamentos dos passos para o caminho da iluminação disponíveis, explicados por um hábil professor ocidental, A Árvore de Jóia do Tibet os tornará aptos a honrar a completa sutileza e as profundezas escondidas do caminho do budismo tibetano e realizar, enfim, seus mais profundos mistérios e procuras - para vocês e para os outros.

Curiosidade: O Professor Robert Thurman é pai da atriz Uma Thurman
http://en.wikipedia.org/wiki/Robert_Thurman

Dukkha - Tradução

Sei que não é de interesse geral esse tipo de literatura, mas achei o texto que segue tão claro e esclarecedor que julguei interessante compartilhar. Alguns destaques em negrito são meus.
DukkhaVenerável Dhammika
“No seu primeiro sermão feito em Benares, a ‘Roda da Lei’, o Buddha exprimiu aquilo que representa o coração de seu ensinamento. Ele disse:
‘Esta é a primeira nobre verdade: tudo é dukkha. O nascimento é dukkha, a vida é dukkha, a velhice, a doença, a morte são dukkha. Estar unido àquilo que não se ama é dukkha. Não realizar seus desejos, não realizar suas necessidades são dukkha. Já que isto é um fato, então trabalhem sem descanso. Vocês devem ter três metas na vida, já que a vida é assim: a primeira meta é a de trabalhar para suprimir dukkha. Se esta nobre meta não pode ser alcançada, há uma segunda nobre meta, tão nobre quanto a primeira: contribuir para diminuir dukkha. Se não puderem nunca alcançar esta segunda nobre meta, resta-lhes a terceira, tão nobre quanto as duas primeiras: não acumular dukkha‘.
O termo ‘dukkha’, quase intraduzível, significa ’sofrimento’, incluindo aí as noções mais profundas da impermanência e da imperfeição. Nada sendo permanente, durável, toda mudança intervirá cedo ou tarde e, quando ela chegar, com certeza haverá sofrimento se for ignorada a lei da impermanência. Logo, é preciso ser consciente de que tudo está constantemente em mudança. Se alguém pensa que pode congelar a coisas para sempre, enfrentará sofrimentos importantes. Por exemplo, um sentimento alegre, uma felicidade, uma paixão, não são permanentes nem eternos. Quando a mudança intervier haverá dor, aflição. Isto parece fácil de compreender; é o mesmo quando nomeamos uma pessoa, indivíduo, um eu. É somente uma combinação de forças, de energias físicas e mentais elas mesmas em perpétua mudança. Logo isso também será dukkha. Ocorre o mesmo com nossas sensações e percepções que sentimos como agradáveis, desagradáveis ou neutras: elas são impermanentes. Dukkha não é nem uma filosofia, nem uma religião, menos ainda uma crença. É uma REALIDADE científica, quer dizer que, a todo o momento, ela é demonstrável e reproduzível. A tal ponto que o Buddha disse: ‘Vou lhes ensinar a Verdade e o caminho que leva à Verdade’. Ele nos disse que a vida é sofrimento. Então, comecem por observar que vocês não são felizes, que efetivamente vocês vão mal, mal dentro de seus corpos, porque ele envelhece, porque ele degrada, porque ele é mortal.
Observem bem que, dentro de sua psique, isto também não vai bem. Um dia, vocês pensam em qualquer coisa e, no dia seguinte, pensam o contrário. Um dia, vocês dizem a alguém que vocês o amam, no dia seguinte, vocês não podem mais o sentir. Observem bem que o que é verdade num momento, é o erro do outro momento. O caminho para a felicidade é ver que vocês não são felizes ou completamente felizes e que a razão é tudo isso. (E isto não é triste), é que o que é composto será decomposto. Quer vocês gostem ou não, tudo é impermanente; tudo que começou terminará. Observem que isto os deixa tristes, angustiados. Somos tristes porque queremos que isto dure.
O Buddha não disse que as coisas são más, ele disse: ‘elas são transitórias’. Segundo o Buddhismo, a verdade absoluta é que não há nada de absoluto neste mundo, que tudo é relativo, condicionado e impermanente, tudo é dukkha.
A compreensão desta verdade, quer dizer, as coisas tais como são, sem ilusão ou ignorância, é a extinção de dukkha que os guiará ao nirvana.
Então, qual é a origem de dukkha? Encontramos três causas principais responsáveis pelo sofrimento:
1. O Apego : É a sede, o desejo ardente de possuir. É porque sofremos frustrações, sofremos pela falta de amor, que nós desejamos avidamente. Nós nos tornamos escravos de nossos desejos e caímos na paranóia.
- O apego aos seres humanos, aos seres viventes (sou apegado a minha esposa, a meu marido, aos meus filhos, ao meu cachorro, etc., no que está implícito o prazer dos sentidos: ‘Se eu sou apegado a você, é para o meu próprio prazer’.)
- O apego aos bens: a riqueza, a posse, o ter, o saber, etc…
- O apego às idéias, aos ideais, às opiniões, às crenças, às concepções, à ideologia, etc… É este apego que mais mata no mundo (‘Se você não crê no meu Deus, eu te mato’.)
2. A Aversão
3. A Ignorância : Não é uma falta de saber, mas de conhecimento, em particular de ignorar quem somos nós, do ser que somos, de qual é o sentido da vida.
Trabalhando com as três causas de dukkha, o homem vai reencontrar o ser que existe dentro dele, reencontrar o mais parecido à sua imagem quando ele está dentro do ser, dentro daquele que não há diferença entre ele e o outro. Ele alcançará, assim, esta união do céu e da terra e o despertar do homem-Deus interior. ‘O desapego puro está acima de todas as coisas’, nos disse o Mestre Eckhart.
O desapego não é desprezo nem indiferença, mas liberdade a respeito do que se possui, daquilo que nos possui e daquilo que nós não possuímos. Pelo não-apego podemos sair de nossas memórias, dos traços que nos constituem no instante presente, para descobrir em nós o ser essencial, não apegados à matriz espaço-temporal, quer dizer, à dualidade. Jesus disse que seria preciso não ser apegado a seu pai e à sua mãe… ‘Não chamar ninguém de pai, mãe’ a fim de preservar em nós o sinal do ‘um’, daquele que gera e dá a vida’“.
© Venerável Dhammika
© tradução do francês de Ana Carmen Castelo Branco para a Comunidade Buddhista Nalanda, 2006