O gambá tinha uma filha casada com o ariramba (martim-pescador), que ia sempre ao rio e ao lago para flechar peixes. Ele pousava sobre um pau inclinado, para espreitar os peixes e flechá-los e voltava muito depressa, quando menos a sogra esperava. Um dia, o gambá chamou a filha:
— Minha filha, como é que seu marido mata os peixes?
— Como há de ser, pai? Ele sobe no pau que está inclinado sobre o rio.
— Ah, é assim? Ora, assim até eu mato peixes!
E ele chamou a mulher para o pau e esperou. Logo lhe apareceu o avô do peixe tucunaré. O gambá saltou sobre ele, mas o peixe era esperto, abriu a boca e engoliu-o. A velha correu para casa gritando e contou à filha o que se passara. A filha foi contar ao marido o que tinha acontecido e pediu-lhe que salvasse o seu pai.
O ariramba foi para a margem do rio, subiu ao pau e esperou. Quando apareceu o avô do peixe tucunaré, flechou-o, puxou-o para terra e pediu à sua mulher que trouxesse uma faca.
Abriu a barriga do peixe e encontrou o seu sogro quase morto. Mas salvou-o.
É por isso que o gambá ficou com o rabo tão feio; é que o avô do peixe pelou-o; e ficou com mau cheiro por causa do calor da barriga do peixe.
(J. M. "Por que o gambá cheira mal". Folha de São Paulo, 16 de abril de 1962)
Nenhum comentário:
Postar um comentário