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sábado, 27 de dezembro de 2008

Meus artigos no jornal


Estrangeirismo - Botando a boca no trombone!
Artigo meu publicado no Jornal Pampulha de Belo Horizonte em 15 de outubro de 2005.

"Antes de tudo, devo dizer que sou decoradora. Pelo menos formada e de nível superior, quatro anos de curso. Mas, no momento, exerço pouquíssimo a profissão por ter me tornado tradutora. Que a classe me perdôe, mas beira o ridículo o (mau) uso do inglês para denominar ambientes intuindo que isso possa 'valorizar' o trabalho de um profissional.
É home-theater (que ninguém consegue pronunciar direito), é fumoir (francês) indicando um lugar onde é permitido fumar, home library que, para mim, não passa de um ambiente cheio de estantes recheadas de livros que, por sinal, os decoradores deveriam ler mais e por aí vai. Muito chique, não?
Porém, no número 802 do Jornal Pampulha, na página F1, deparei-me com o título "Costumize sua casa."
Irritei-me! Está tudo errado! Primeiro, não existe a palavra costumize nem como verbo, no caso, para você customizar a sua casa. Custom é substantivo que quer dizer costume, convenção, etiqueta, hábito, tradição. No sentido comercial, clientela, cliente e, como adjetivo, temos customized que seria o termo brasileiro 'feito sob encomenda' (tanto no Collins, quanto no Oxford).
Dizer que 'customizar a sua casa' é 'fazer diferente e o que mais gosta para deixar a marca da sua personalidade refletida' não tem nada a ver. Desculpem-me, minha turma, mas façam-me o favor! Francamente! Até quando seremos macacos dos estadunidenses? Ou será que só eles são americanos?"

Visão budista
Artigo meu publicado no Jornal Pampulha de Belo Horizonte em 7 de março de 2007.

"Sou budista. Portanto, deveria ser eqüânime, compassiva, amorosa, alegre, paciente. Mas como conseguir ser assim diante dos fatos que vejo na televisão? Que samsara esquisito! Mesmo querendo me alienar, o rádio do vizinho toca a CBN o dia todo. Corro o risco de ser morta se for lá para reclamar.
Compassiva fico quando vejo a mãe do menino arrastado chorando em rede nacional. Compassiva fico quando vejo meninos morrendo na linha do trem. Que idéia! Estavam drogados? Não é possível! Compassiva fico com índio que, há dez anos - alguém se lembra? - dormindo, morre queimado em plena Cidade do Poder e da Impunidade! Mas alguém fez alguma coisa? Alguém faz alguma coisa contra filho de autoridade de Brasília? Ao contrário. Um dos rapazes passou num concurso público forjado pelo próprio pai e está ganhando seis mil reais por mês! Se trabalha ou não, não sei. Mas recebe! Percebe o salário e não percebe o que fez!
Quem matou a atriz a tesouradas - alguém se lembra? - já se formou na PUC Minas.
Com filha que tira a vida de quem lha deu, não sei o que fico, se fico, como fico! Pior ainda quando dizem que os pais dela eram muito severos! Por essa conta, já teria matado os meus, alguns irmãos, tios e tios que se acham no direito de se meter na educação de filhos alheios. Mas nem por isso fiquei pior e nem saí por aí cometendo atrocidades. Hoje uma palmadinha já traumatiza...
É normal quando nenhum dirigente discute algo em benefício da população? É normal entrar na lógica da barganha: isso é seu, isso é meu e estamos combinados. É normal cometer crimes às claras? É normal transar na praia e ainda reclamar privacidade? John Lennon e Yoko ficaram na cama um tempão. A frase é famosa: cometem violência em plena luz do dia mas se escondem para fazer amor. Mas eles não reclamaram!
A lei brasileira é deliciosa. Ninguém precisa explicar nada. Até hoje tem gente que, num romantismo do tempo da ditadura, diz entre dentes: odeio norte-americano! Tudo bem. Mas lá, bateu, levou! E não são trinta anos ou saída por bom comportamento, não. É perpétua se não for - adiantada e taxativamente discordo - pena de morte.
Mas somos psicóticos, paranóicos. Precisamos de tratamento e enquanto ele não vem panis et circus! Novela, futebol e cesta básica.
Mas acontece que sou budista. Portanto, devo ser eqüânime, compassiva, amorosa, alegre e paciente. Ainda bem que ser budista também é estar plenamente consciente da impermanência, de que as ações virtuosas e prejudiciais causam seus resultados inevitáveis e que este reino é um oceano de sofrimento.

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