-->

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Festival do Vesak



"Às 09h20min desta quarta-feira, 28 de abril, teremos o Festival de Vesak, um dos três festivais de Lua Cheia mais importantes do ano. O Festival de Vesak celebra o nascimento, a iluminação e o parinirvana do Buda, ocorridos no século VI a.C., e acontece sempre numa Lua Cheia de abril ou maio, quando o Sol está no signo de Touro e a Lua está em Escorpião.

Diz a lenda que Sidarta Gautama, nasceu rico e em meio ao luxo, e a sua família fazia de tudo para que ele não encarasse o lado mais duro da realidade. Aos 29 anos, quando todos os indivíduos passam pelo primeiro Retorno de Saturno e sentem a necessidade de amadurecer, Sidarta resolveu abandonar a vida que levava, abrindo mão de tudo o que sua família possuía e seguindo uma vida de renúncia. Praticou um Ioga diferente do que se vê hoje no Ocidente e teve uma vida de asceta, mas percebeu que aquele não era o seu caminho.

Um dia, ao terminar de meditar debaixo de uma figueira (árvore boddhi), Sidarta encontrou enfim a iluminação. Tornou-se Buda, que significa “desperto”, “iluminado”, passando a compreender a verdadeira natureza dos fenômenos e o porquê da impessoalidade e impermanência desses fenômenos, que muitas vezes geram insatisfação. Ao despertar, o ser humano atinge a consciência e tem diante de si a possibilidade de ser plenamente livre dos condicionamentos físicos e mentais que causam sofrimento e a sensação de insaciabilidade.

Surgiu então o Budismo, que não é uma religião (pois não afirma a existência de um deus criador, não possui dogmas e nem almeja converter todas as pessoas), nem uma filosofia (pois vai muito além de um corpo conceitual e da reflexão intelectual). O Budismo prefere que o próprio seguidor defina aquilo que ele é, ao invés de cristalizar uma definição de si mesmo.

O Festival de Vesak marca a celebração da vida e da iluminação de Buda, assim como o seu nascimento e morte. Buda teria despertado durante a Lua Cheia do Vesak (isto é, com o Sol em Touro e a Lua em Escorpião, o que ocorre sempre no mês de abril ou maio), e, nesta época do ano, temos as condições ideais para a iluminação e transformação na consciência dos seres humanos.

No Vesak, a Fase Cheia da Lua, como um cálice, recebe toda a Luz do Sol, de forma plena. A iluminação do Sol em Touro tem as características deste signo: fecundidade, abundância, nutrição e estruturação e, quando estas qualidades são recebidas pela Lua em Escorpião, que representa a transmutação dos desejos em aspirações mais sublimes, transformação, superação de crises e os ciclos da vida, o despertar e a iluminação podem surgir de maneira muito especial.

Todas as Luas Cheias são momentos de muita energia, nos quais o despertar, a transformação e a iluminação estão mais disponíveis aos seres humanos. Além do Festival do Vesak (Touro/Escorpião), temos o Festival da Páscoa (Áries/Libra) e o Festival de St. Germain (Gêmeos/Sagitário), este último associado ao Espírito Santo e a inteligência divina.

Portanto, na manhã desta quarta, mesmo sem vermos a Lua no Céu, nós teremos a oportunidade de, individual e coletivamente, buscarmos atingir a iluminação de Buda, tal qual ocorrida há mais de 2.500 anos atrás: alcançarmos a ascensão do nosso espírito e o despertarmos para uma consciência mais amplificada e plena, além de sintonizarmos coletivamente as diversas mentalizações, meditações, orações, mantras, canalizações e palestras que estarão ocorrendo ao rdor do mundo, em prol de um trabalho espiritual que acelere e aprofunde o processo de evolução planetária."

Dimitri Camiloto

A raiva

Não há razão para se sentir raiva de nenhuma pessoa! A raiva é um sentimento muito pequeno, além de negativo e infrutífero. É um sentimento infeliz e doloroso tanto para quem a sente quanto para o objeto da raiva, seja uma pessoa ou uma situação. Nada é resolvido com a raiva. Ela só traz exaustão e mais complicações!

quarta-feira, 21 de abril de 2010

segunda-feira, 19 de abril de 2010

sábado, 17 de abril de 2010

Os Oito Dharmas Mundanos (sob minha perspectiva)


Todos querem ser elogiados; ninguém quer ser criticado.
Todos querem ser felizes; ninguém quer ser infeliz.
Todos querem ganhar; ninguém quer perder.
Todos querem ter atenção; ninguém quer ser ignorado.

Não importa ser elogiado ou criticado.
Não importa ser feliz ou infeliz.
Não importa ganhar ou perder.
Não importa ter atenção ou ser ignorado.

Elogio ou crítica é vacuidade.
Felicidade ou infelicidade é vacuidade.
Ganho ou perda é vacuidade.
Atenção ou ignorância é vacuidade.

Forma é vacuidade. Vacuidade é forma.

GATE GATE PARAGATE PARASAMGATE BODHI SOHA

Gate significa “ir”, Paragate significa “ir perfeitamente”, Parasangate sgnifica “ir perfeita e completamente”, Bodhi significa “iluminação”, Soha significa “construir o fundamento”.

“Vá, vá perfeita e completamente para a iluminação e construa o fundamento.”


Atingirei tudo isso no momento eu que conseguir rir de mim mesma!

Os Oito Dharmas Mundanos

Dzongsar Khyentse Norbu Rinpoche

"No caminho Mahayanna foram ordenados oito tipos diferentes de armadilhas nas quais se pode cair e, mesmo se você cair em uma você já estará bastante enfraquecido. É claro, sem mencionar se você cair nas oito. Aí, você se torna realmente fraco. Estas oito armadilhas são bastante simples. Aqueles que não vão ficar aqui o resto dos dias deveriam anotar, escrever, porque é uma coisa muito boa para se pensar. Não há uma ordem, OK? A primeira – e eu digo isso porque é uma das armadilhas em que eu sempre caio – é querer ser elogiado. A segunda, não ser criticado. A terceira, querer ser feliz. A quarta, não querer ser infeliz. A quinta, querer ganhar. A sexta, não querer perder. A sétima, ter muita atenção e a oitava, não querer ser ignorado. Eu realmente quero que vocês contemplem estas armadilhas e que observem quantas vezes caímos nelas a cada dia, cada hora. Os mestres estavam tão certos! Elas realmente te deixam fraco. Como se você quisesse alguma coisa desse homem [1]. OK! Não precisa de muito! Vocês só têm que me elogiar e pronto. Eu já vou dando tudo! Vocês devem contemplar realmente em vocês, quero dizer, quantas vezes me sinto feliz quando alguém diz: - Puxa, você parece muito mais novo do que é! – Nós valorizamos tanto o elogio e a crítica e tudo o mais e ficamos fracos. E quanto mais elogios recebemos, mais queremos. E, vocês já sabem, mesmo depois de um monte de elogios, um pouquinho de crítica no meio pode arrasar você e te deixar insone por várias semanas. Agora, se vocês realmente analisarem estas qualidades mundanas, os dharmas mundanos como o elogio e a crítica, eles não têm nenhuma essência. Muitas vezes o elogio que recebemos dos outros geralmente é cheio de contradições. E muitas vezes, o elogio que ouvimos de outra pessoa sempre vem com uma etiqueta de preço muito alto. Não vou passar por todas as armadilhas, mas é alguma coisa bastante fácil de contemplar e só contemplar sobre estas oito armadilhas realmente te deixa forte. Vocês sabem, eu não estou dizendo que, de agora em diante, repentinamente, se ouvirem um elogio ou uma crítica vocês devem tampar os ouvidos. É como o exemplo da gravata. Vocês têm que viver neste mundo, têm que falar com as pessoas, socializar. Vocês estão destinados a passar por estas oito armadilhas."


[1] O próprio Dzongzar

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Do apego e desejo - Chagdud Tulku Rinpoche


" Impelidos pelo desejo, deixamos de apreciar e valorizar aquilo que já temos. Precisamos nos dar conta de que o tempo que temos com aqueles que nos são caros - nossos amigos, nossos parentes, nossos colegas de trabalho - é muito curto. Mesmo se vivêssemos até cento e cinquenta anos, isso seria muito pouco tempo para desfrutar da nossa oportunidade humana e fazermos uso delas.
Aqueles que são jovens pensam que sua vida será longa e os velhos pensam que a vida terminará logo. Mas não podemos pressupor essas coisas. Nossa vida vem com uma data de expiração embutida. Há muitas pessoas fortes e saudáveis quemorrem jovens, enquanto muitos velhos, doentes e debilitados continuam vivendo dia após dia. Sem saber quando iremos morrer, precisamos cultivar a apreciação das coisas que temos, enquanto as temos, em vez de ficarmos procurando defeitos em nossas experiências e buscarmos, incessantemente, preencher nossos desejos."

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Descobrindo o Caminho da Liberdade


"(...) é interminável o samsara, a existência cíclica. Não compreendemos que estamos vivenciando resultados que nós mesmo criamos e que nossas reações produzem mais causas, mais resultados - incessantemente. Pelo fato de termos sido nós mesmos  que armamos a emboscada em que nos encontramos, cabe a nós mudá-la. Uma pessoa que esteja com o cabelo embaraçado e oleoso e olhe num espelho não irá conseguir limpar sua imagem esfregando o espelho.
(...) Algumas pessoas pensam que o remédio para o sofrimento está nas mãos de Deus ou Buda, em algum lugar externo a elas. Mas as coisas não são assim. O próprio Buda disse a seus discípulos: "Eu lhes mostrei o caminho que leva á liberdade. Seguir por esse caminho é algo que depende de vocês."
A mente quando usada de modo positivo - para gerar compaixão, por exemplo, - é capaz de criar grandes benefícios. Pode parecer que esses benefícios vêm de Deus ou Buda, mas são simplesmente o resultado das sementes que plantamos. Embora com os ensinamentos do Buda recebamos a chave do conhecimento que nos permite transformar, pacificar e treinar nossa mente, somente nós podemos descerrar sua verdade mais profunda, expondo nossa natureza búdica e suas capacidades ilimitadas.
Nossas experiências atuais na vida são de relativa boa sorte. Muitos são os que experimentam sofrimento muito pior que o nosso. Assolados pelas dores implacáveis da guerra, doença e fome, não tem meios para mudar para mudar sua situação; parece não haver saída.
Ao contemplarmos as dificuldades em que essas pessoas se encontram, compaixão brota em nosso coração. Ganhamos inspiração para não desperdiçarmos nossas circunstâncias bem afortunadas, mas sim, usá-las para criar benefícios para nós mesmos e para os outros - benefícios que estejam além da felicidade provisória que vem e vai, além dos ciclos infindáveis do sofrimento samsárico. Somente ao revelar por inteiro a verdadeira natureza da mente - ao alcançar a iluminação - podemos encontrar felicidade duradoura e ajudar os outros a fazer o mesmo. Essa é a meta do caminho espiritual."

Chagdud Tulku Rinpoche

quinta-feira, 8 de abril de 2010

As alças da mente - Rosana Hermann


O pensamento pode voar, mas a mente gosta mesmo é de uma prisão. A mente gosta de prender-se voluntariamente a tudo o que não muda, ao que permanece, ao que se repete e ao que é sempre igual. Por isso, a mente adora lembranças e memórias. Porque o passado já passou e não pode ser mais mudado. O passado é permanente. A mente acha isso o máximo! É como administrar uma empresa onde nada pode dar errado. O medo da mente é justamente este, administrar imprevistos.
Outra coisa que a mente ama de paixão é o padrão, porque como o nome já diz, o padrão não muda. Um metro, uma hora, o mesmo caminho para o trabalho, voltar ao mesmo restaurante e sentar à mesma mesa, são padrões que toda mente humana gosta de repetir. Ah, que prazer que a mente sente quando a bunda senta na mesma cadeira que sentou na aula anterior! A repetição dá segurança, porque cria a falsa ilusão de que nada vai mudar. E se nada mudar, nada de ruim poderá acontecer. Tudo será igual, com o mesmo final feliz, como antes.
Crianças adoram ver filmes mil vezes porque se sentem seguras, porque podem antecipar as próximas cenas (se na vida fosse assim...) e porque têm certeza de como a história terminará. Já as mentes adultas, especialmente as obsessivas em qualquer grau, adoram a matemática. A matemática é a única ciência exata e imutável. Enquanto a física e química, a biologia, por exemplo, estão sujeitas a variáveis da vida
real, a matemática continua igual. Daí o fato de que toda mente obsessiva gosta de contar, manipular números. As contas são sempre exatas, não mudam. E se você contar todos os passos e chegar direitinho à padaria com seus mil passos, então, podemos concluir que sua mãe não vai morrer e nada vai dar errado no seu dia. Certo? Errado.
Errado porque a mente vive num mundo irreal. Mundo da mente é como caspa, só existe na sua cabeça. Tudo é mera ilusão. E, com perdão do excesso de realidade fisiológica, o mundo está cagando e andando pras suas ilusões mentais. Como o mundo já provou, uma batida de asas de borboleta na África pode influenciar mais a ocorrência de um tsunami na Ásia do que sua contagem de azulejos no banheiro. Porque a borboleta é real e seu pensamento, não.
O problema é que a mente não quer nem saber disso e provavelmente muitos já terão abandonado este texto nas primeiras linhas. Espertos, porque sabem que vou contar um segredo sobre eles: a mente fabrica alças. Sim, alças, onde ela, a mente, possa se apegar. Uma alça, como aquele putaqueopariu do carro, onde a gente segura a vida quando o motorista não é de confiança. Como o santoantonio dos jipes. A alça pode ser um nome, um amuleto, uma mania, uma repetição qualquer. A mente é chata, mas criativa, e assim, inventou a alça-sem-mala. Nesta alça ela se apega até a morte.
É uma crença, um dogma, uma frase feita, um chavão, um lugar-comum: "Angélica ficou mais bonita depois que teve filho"; "Vaso ruim não quebra"; "Jesus voltará"... Qualquer alça é boa pra mente: "A cadeia é a universidade do crime", "Direituzumanu só tem bandidu"... Se a mente se acha fraca, ela inventa uma alça para se sentir forte, tipo: "Sou feia, mas tô na moda".
A mente inventa que se a pessoa perder dez quilos vai ser feliz e tudo vai dar certo na vida. Troca nomenclaturas, pra se sentir por cima. Porque uma coisa é dizer que você tem TOC e outra coisa é assumir que você é um obsessivo chato, que ninguém agüenta conviver a seu lado e por isso você precisa de tratamento sério com remédio e tudo mais. A mente inventa alças pra não cair em si. Mas cair em si é a única forma de tomar consciência - primeiro passo para melhorar.
Portanto, remova todas as alças! Caia! Caia em si! Tá gordo? Então vamos emagrecer! Tá infeliz? Saia dessa, viva a vida, aproveite, Tá duro? 'Bora ganhar dineiro! Não fique aí com essa cara de passageiro do circular da eternidade vendo a vida passar na fresta da janelinha de um puta õnibus cheio, segurando firme na alça do medo, pois você tem que dar o sinal e descer para a liberdade do impresivísel!

Buda Akshobya



"O Buda Akshobya é a personificação do agregado da consciência personificada, o aspecto imutável e indestrutível do diamante. Ele é, então, o Buda da confissão, de purificação e de cura por excelência. Seu mantra possui um grande poder purificador. A recitação do mantra purifica os karmas negativos, notadamente os criados pelo não respeito aos votos tais como os Oito Preceitos do Mahayanna, os votos laicos, dos monges. Acontece o mesmo para os karmas muito negativos criados pelos Cinco Crimes Odiondos, o abandono do Santo Dharma ou as críticas feitas aos Aryas. Toda pessoa que ouve ou vê o mantra é protegida dos renascimentos nos reinos inferiores. É por isso que é muito benéfico recitar com compaixão o mantra na orelha dos seres vivos (humanos ou animais), sobretudo no momento da morte. Para os seres já mortos, pronunciar seus nomes e recitar o mantra em sua intenção cem vezes, mil vezes ou um milhão de vezes tem o poder de libera-los imediatamente, mesmo se eles estiverem presos num renascimento nos reinos inferiores."

Centre Kalachakra – Étude de Buddhisme et Meditation

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Ensinamentos do mestre que nasceu do lótus - Uma coleção de instruções de Padmasambava à Dakini Yeshe Tsogyal e a outros discípulos próximos.

Padmasambava e Yeshe Tsogyal

Testamento do Prego Precioso
"Independente de quão profundos, vastos ou todo-abrangentes os ensinamentos da Grande Perfeição possam ser, todos eles estão inclusos no seguinte: não medite ou fabrique nem que seja um átomo e não se distraia nem que seja por um instante.
Há o perigo de pessoas que não compreendam essa instrução utilizarem-se do chavão: 'Tudo bem não meditar!'. A mente delas continua presa às distrações das atividades do samsara, sendo que, quando alguém vivencia a natureza da não meditação, deveria liberar o samsara e o nirvana na igualdade. Ao atingir a iluminação, deve-se estar definitivamente livre do samsara, de forma que as emoções perturbadoras cessem naturalmente e tornem-se estado desperto original. Que utilidade tem uma realização que falha em reduzir as emoções pertubadoras?
De qualquer modo, algumas pessoas cederão aos cinco venenos enquanto se abstém de meditar. Não constataram a natureza verdadeira e, seguramente, irão para o inferno.
Não professe uma visão que você não tenha alcançado! Já que a visão é isenta de ver, a essência da mente é uma extensão de grande vacuidade. Já que a meditação é sem meditar, deixe a sua experiência pessoal livre de fixação. Já que a conduta é sem agir, ela é naturalidade não fabricada. Já que a consumação é sem renunciar ou conquistar, ela é o dharmakaya da grande bem-aventurança. Essas quatro frases são palavras vindas do meu coração. Contradiga-as e você falhará em descobrir a natureza da Ati Yoga."

Editora Makara - página 29

terça-feira, 30 de março de 2010

A grande decepção

Sogyal Rinpoche
A maior parte de nós realmente vive assim, de acordo com um plano pré-ordenado. Passamos a juventude sendo educados. Achamos então um emprego e encontramos alguém com quem nos casamos e temos filhos. Compramos uma casa, tentamos ser bem sucedidos em nosso negócio e lutamos por sonhos como os de possuir uma casa de campo ou um segundo carro. Saímos de férias com os amigos. Planejamos nossa aposentadoria. Os maiores dilemas com que muitos de nós nos defrontamos são onde vamos passar o próximo feriado ou quem convidaremos para o Natal. Nossas vidas são monótonas, insignificantes e repetitivas, desperdiçadas em busca de banalidades, porque parece que não conhecemos nada melhor.

O ritmo de nossas vidas é tão febril que a última coisa em que temos tempo de pensar é na morte. Abafamos nosso medo secreto da impermanência, cercando nossa vida de mais e mais bens, de mais e mais coisas, de mais e mais confortos só para nos tornarmos escravos de tudo isso. Todo nosso tempo e energia se exaurem simplesmente para manter coisas. Nossa única meta na vida logo se torna manter tudo tão seguro e garantido quanto possível. Quando mudanças ocorrem, encontramos o remédio mais rápido, alguma solução astuta e temporária. E assim nossas vidas transcorrem a menos que uma doença séria ou um desastre nos arranquem do nosso estupor.

E nem é que dispensemos tanto tempo e tanto esforço na vida. Pense nessas pessoas que passam anos trabalhando e aí se aposentam somente para descobrir que não sabem o que fazer consigo mesmas quando envelhecem e a morte se aproxima. Apesar do orgulho que ostentamos por nossa praticidade, ser prático no ocidente significa ter uma visão curta, ignorante e egoísta. Nossa focalização míope nesta vida e nesta vida apenas é uma grande decepção, fonte do frio e destrutivo materialismo do mundo moderno. Ninguém fala da morte e ninguém fala da vida depois da morte porque as pessoas são preparadas para acreditar que esse assunto só impede o chamado "progresso" no mundo.

Mas se nosso desejo mais profundo é verdadeiramente viver e seguir vivendo, por que insistimos teimosamente em afirmar que a morte é o fim? Por que ao menos não tentar e investigar a possibilidade de que possa haver uma vida depois? Por que, se somos pragmáticos como alegamos, não nos interrogamos seriamente: onde se situa nosso futuro verdadeiro? Afinal, ninguém vive mais de cem anos. E depois disso se estende a imensurável eternidade, inexplicada...

do "O Livro Tibetano do Viver e do Morrer" de Sogyal Rinpoche - Editora Talento - página 37.

sexta-feira, 19 de março de 2010

O Poder da Paz - Chagdud Tulku Rinpoche

"Desejo que o poder espiritual da paz toque cada pessoa nesse mundo irradiando-se a partir da paz profunda que está em nossa mente, cruzando barreiras religiosas e políticas, cruzando barreiras do ego e de sua rigidez conceitual. Nossa primeira tarefa como promotores da paz é superar nossos confitos interiores causados pela ignorância, raiva, apego, inveja e orgulho. Com a orientação de um professor espiritual, essa purificação da mente pode nos ensinar a verdadeira essência da arte de pacificar. Devemos buscar uma paz interior tão pura, tão estável que não seremos tocados pela raiva daqueles que vivem e tiram proveito da guerra ou pelo apego ao eu e medo daqueles que nos confrontam com o desprezo e ódio.
É necessária uma paciência extraordinária para trabalhar pela paz mundial e a fonte desta paciência é a paz interior. Tal paz nos permite ver claramente que a guerra e o sofrimento são reflexos externos dos venenos da mente. A diferença essencial entre os pacifistas e aqueles que promovem a guerrra é que os pacifistas tem disciplina e controle sobre a raiva egoísta, pelo apego, inveja e orgulho enquanto os que apostam na guerrra a partir de sua ignorância fazem com que estes venenos se manifestem no mundo. Se você verdadeiramente compreender isso, nunca permitirá ser derrotado, interna ou externamente.
No budismo tibetano, o pavão é o símbolo do bodhisatva, o guerreiro desperto que trabalha pela iluminação de todos os seres. Diz-se que o pavão come plantas venenosas para transformar o veneno delas nas cores deslumbrantes de suas penas. Ele não se envenena. Da mesma forma, nós que defendemos a paz mundial, não devemos nos envenenar pela raiva. Olhe com equanimidade para os homens poderosos do mundo que controlam a máquina da guerra. Faça o melhor possível para convencê-los sobre a necessidade da paz, mas fique constantemente atento em relação ao estado de sua mente. Se sentir raiva, recue. Se for capaz de agir sem raiva, talvez você transponha o terrível delírio que perpetua a guerra e seu sofrimento infernal. A partir do claro espaço de sua própria paz interior, sua compaixão precisa se expandir para incluir todos os que estão envolvidos na guerra, tanto os soldados cuja intenção é beneficiar mas que, em vez disso, causam o sofrimento e a morte sendo portanto, pegos pelo carma terrível de matar -  quanto os civis que feridos, mortos ou forçados ao exílio como refugiados. Verdadeira compaixão surge por qualquer tipo de sofrimento, pelo sofrimento de todos os seres. Ela não está ligada àquilo que é certo ou errado, ao apego ou à aversão.
O trabalho pela paz é, por si só, um caminho espiritual. É um meio para desenvolver as qualidades perfeitas da mente e para testá-las em relação às necessidades urgentes, so extremo sofrimento e à morte. Não tenha medo de dar seu tempo, energia e suporte à paz."

A meditação é possível no estilo de vida moderno dos dias de hoje?

Chagdud Tulku Rinpoche e Nanka Drimed Rinpoche ao fundo no Rigdzin Ling, USA
"A meditação é independente de qual século ou cultura você vive, seja ela antiga ou moderna. O que importa na meditação é o processo de olhar constantemente para trás e de se avaliar e verificar sua própria mente. agora, o modo como normalmente operamos nossas vidas é o oposto, tendemos a olhar para fora da janela. Olhamos para fora da janela e dizemos: "Ó, aquela é uma pessoa boa" ou "Isso é bom" ou "isso é ruim". Estamos sempre verificando, olhando e criando impressões do mundo fora de nós. A meditação, por outro lado, usa a tela da nossa mente como um espelho onde olhamos de volta para nós mesmos ao invés de olhar para fora julgando os outros. Olhamos a nós mesmos e vemos que nossos rostos estão sujos, nossos cabelos estão uma bagunça e então podemos lavá-los e penteá-los. Com a meditação olhamos e, onde quer que vejamos um mau pensamento ou uma má ação, realmente tentamos mudar isso dentro de nós assim como limpamos nosso rosto. A mudança da mente não acontece de uma vez! Mas com constante atenção a ela, lentamente a mente muda. É uma questão de repetição sempre olhando para nós e nos corrigindo, corrigindo as motivações impróprias, os sentimentos ásperos. Então, mais do que isto, nos olhamos e tentamos verdadeiramente acentuar e abraçar as qualidades positivas. Cultivamos a bondade da nossa própria parte. Não julgamos o tempo todo que isso e aquilo é bom ou ruim, mas verificamos repetidamente a nós mesmos. Então, é uma questão de permitir que a nossa mente relaxe em sua própria natureza verdadeira e de criar as intenções adequadas dentro de si. Olhamos para dentro, corrigimos e ajustamos. Deste modo, tudo é passível de mudança; é perfeitamente possível mudar a mente. Antiga ou moderna, isto não é importante."
Chagdud Tulku Rinpoche

segunda-feira, 15 de março de 2010

sábado, 13 de março de 2010

As Três Portas da Liberação - Thây


"As Três Qualidades do Darma são as chaves de que dispomos para abrir as Três Portas da Liberação - o vazio, a ausência de imagens e a ausência de objetivo. Todas as escolas de budismo aceitam o ensinamento das Três Portas da Liberação. Essas três portas às vezes são chamadas de Três Concentrações. Quando passamos por essas portas, adquirimos concentração e nos libertamos do medo, da confusão e da tristeza.

A Primeira Porta da Liberação é o vazio. O vazio sempre significa vazio de alguma coisa. O copo está vazio de água, e a tigela vazia de sopa. Nós estamos vazios de um eu independente e separado. Não podemos existir sozinhos. Só podemos existir em inter-relação com tudo o mais que existe no cosmos. A prática consiste em incentivar a compreensão do vazio durante todo o tempo. Aonde quer que vamos, entramos em contato com o vazio que existe em tudo. Olhamos para a mesa, o céu azul, o nosso amigo, a montanha, o rio, a raiva e a felicidade, entendendo que tudo isso está vazio de um eu independente e separado. Quando contemplamos essas coisas em profundidade, vemos a natureza interpenetrante e interdependente de tudo o que existe. O vazio não significa, em absoluto, não-existência. Significa Origem Interdependente, Impermanência e Não-eu.

Quando ouvimos falar de vazio, ficamos assustados. Mas depois de praticar por algum tempo, entendemos que as coisas realmente existem, só que de forma diferente do que pensávamos. O vazio é o Caminho do Meio entre a existência e a não-existência. A flor não se torna vazia quando murcha e morre, mas sempre foi vazia em sua essência. Ao olharmos em profundidade, vemos que a flor é composta de elementos não-flor - luz, espaço, nuvens, terra e consciência. Está vazia de um eu independente e separado. No Sutra do Diamante, aprendemos que um ser humano não é independente das outras espécies, e que para proteger os seres humanos é preciso proteger as espécies não-humanas. Se poluirmos o ar, a água, os vegetais e os minerais, estaremos destruindo a nós mesmos. Temos que aprender a nos enxergar de outra maneira, vendo a nós mesmos naquelas coisas que sempre pensamos que estivessem fora de nós, e dissolvendo nossas falsas fronteiras.

No Vietnã, dizemos que se um cavalo estiver doente, todos os outros cavalos do estábulo recusam comida. Nossa felicidade e sofrimento são a felicidade e o sofrimento de todos. Quando agimos baseados no não-eu, nossa ações passam a estar em consonância com a realidade, e sabemos o que devemos fazer e não fazer. Quando temos consciência de que estamos todos ligados uns aos outros, adquirimos a Consciência do Vazio. A realidade está muito além de nossas idéias sobre ser e não ser. Dizer que uma flor existe não é exatamente correto, mas dizer que ela não existe também não é verdadeiro. O verdadeiro vazio é chamado de "ser maravilhoso", porque está além da existência e da não-existência.

Quando comemos, devemos praticar a Porta da Liberação chamada de vazio. "Eu sou este alimento. Este alimento sou eu." Um dia, no Canadá, quando eu almoçava com a Sangha, um estudante me olhou e disse: "Estou alimentando você." Ele estava praticando a concentração no vazio. Cada vez que olhamos nosso prato de comida, podemos contemplar a natureza impermanente da comida. Esta é uma prática profunda, porque tem o poder de nos ajudar a enxergar a "Origem Interdependente". Aquele que come e a comida ingerida são, por natureza, vazios. É por isso que a comunicação entre eles é perfeita. Quando praticamos a meditação andando de uma forma relaxada e pacífica, acontece a mesma coisa. Cada passo que damos não é dado apenas para nós, mas para o mundo. Quando olhamos para os outros, vemos sua felicidade e sofrimento ligados a nossa felicidade e sofrimento. "A paz começa em mim mesmo."

Todos aqueles que amamos um dia ficarão doentes e morrerão. Sem praticar a meditação no vazio, quando isto acontecer ficaremos arrasados. A Concentração no Vazio é uma forma de permanecer em contato com a vida como ela é, mas precisa ser praticada, e não apenas falada. Observamos nosso corpo e vemos as causas e condições que o fizeram existir - nossos pais, nosso país, o ar, e até mesmo as gerações futuras. Vamos além do tempo e do espaço, do eu e do meu, e experimentamos a verdadeira libertação. Se só estudarmos o vazio como uma filosofia, ele não será para nós uma Porta da Liberação. O vazio só se torna uma Porta da Liberação quando penetramos nele com profundidade, entendendo a natureza interdependente e o aparecimento conjunto de tudo o que existe.

A Segunda Porta da Liberação é a ausência de imagens. Neste contexto, "imagem" quer dizer uma aparência, ou um objeto de percepção. Quando vemos algo, é porque um sinal ou imagem aparece diante de nós, e é isso que chamamos de lakshana. Se a água, por exemplo, estiver em um recipiente quadrado, sua imagem é a "quadratura" do recipiente. Se estiver em um recipiente redondo, será a "redondeza". Quando abrimos o congelador e tiramos gelo, a imagem recebida é de que a água está sólida. Os químicos chamam a água de "H2O". A neve nas montanhas e o vapor que se eleva da chaleira também são H2O. Se H2O estiver no momento redonda ou quadrada, líquida, gasosa ou sólida, dependerá das circunstâncias. As imagens são instrumentos para nosso uso, mas não são a verdade absoluta. Elas podem nos enganar. O Sutra do Diamante diz: "Onde houver uma imagem, haverá uma ilusão”. As percepções costumam nos dizer tanto sobre quem percebe quanto sobre o objeto percebido. As aparências enganam.

A prática da Concentração na Ausência de Imagens é necessária para que possamos nos libertar. Sem enxergar além das imagens não atingiremos a realidade propriamente dita. Enquanto ficarmos presos às imagens - redondo, quadrado, sólido, líquido, gasoso - continuaremos a sofrer. Nada pode ser descrito em termos de uma imagem apenas. Mas sem imagens nós ficamos ansiosos. Nosso medo e nosso apego se devem a ficarmos presos a imagens. Até entendermos que todas as coisas têm uma natureza desprovida de imagens, continuaremos com medo e sofrendo. Para poder entrar em contato com a H2O, temos que esquecer de imagens tais como quadrado ou redondo, duro ou mole, pesado ou leve, em cima ou embaixo. A água, por si mesma, não é nenhuma dessas coisas. Só quando conseguirmos nos libertar das imagens estaremos aptos a penetrar no âmago da realidade. Enquanto não conseguirmos enxergar o oceano nos céus, continuaremos iludidos pelas imagens.

Um grande alívio advém quando rompemos as barreiras das imagens e atingimos o mundo que está além das imagens, o Nirvana. E onde devemos procurar este mundo sem imagens? Aqui mesmo, no meio do mundo das imagens. Se jogarmos a água fora, não haverá nenhuma forma de ter contato com a essência da água. Contatamos sua essência quando abrimos caminho através das imagens e chegamos à verdadeira natureza da interdependência dos seres. As três fases são a água, a não-água e a verdadeira água. A verdadeira água é a essência da água. O fundamento de sua existência não está sujeito ao nascimento nem à morte. Quando chegarmos a isso, não teremos mais medo de nada.

"Quando chegarmos à ausência das imagens dentro das imagens, encontraremos o Tathagata. Esta é uma frase do Sutra do Diamante. Tathagata significa "a natureza maravilhosa da realidade". Para ver a natureza maravilhosa da água é preciso olhar além das imagens (aparências) da água, e ver que ela é constituída de elementos não-água. Se você achar que a água é apenas água, que não pode ser o sol, a terra ou as flores, estará enganado. Terminará por entender que a água na verdade é o sol, a terra e as flores, e que apenas ao olhar para o sol, a terra e as flores você estará vendo a água. Isto é a "ausência de imagens das imagens". Um jardineiro orgânico que olha para uma casca de banana, folhas moitas ou galhos podres enxerga as flores, frutas e os legumes contidos neles. Ele saberia que as flores, as frutas e o lixo não têm existência independente. Ao aplicar esta compreensão a outras áreas de sua vida, o jardineiro pode atingir o despertar total. (...)

A ausência de imagens não é uma idéia apenas. Ao contemplar nossos filhos, vemos os elementos que os produziram. Eles são como são porque nossa cultura, economia, sociedade e nós mesmos somos do jeito que somos. Não podemos simplesmente culpar nossos filhos quando as coisas dão errado. Muitas causas e condições contribuíram. Quando soubermos transformar a nós mesmos e a sociedade, nossos filhos também se transformarão. Os jovens aprendem a escrever e ler, aprendem matemática, ciências, e outras matérias na escola para ajudá-los a ganhar a vida. Mas poucos currículos escolares ensinam os jovens a viver - como lidar com a raiva, como reconciliar os conflitos, como respirar, sorrir, como transformar as formações interiores. A educação necessita de uma revolução. Precisamos incentivar as escolas a ensinar a seus alunos a arte de viver em paz e harmonia. Não é fácil aprender a ler, escrever, ou resolver problemas matemáticos, mas as crianças conseguem. Aprender a respirar, sorrir e transformar a raiva também pode ser difícil, mas já vi muitos jovens conseguirem. Se ensinarmos às crianças valores adequados, quando elas tiverem apenas doze anos já saberão viver em harmonia com as outras pessoas.

Quando vamos além das imagens, entramos em um mundo onde não há medo nem culpa. Vemos a flor, a água e o nosso filho por um prisma que está além do tempo e do espaço. Sabemos que nossos ancestrais estão presentes dentro de nós, aqui e agora. Constatamos que Buda, Jesus, e todos os outros ancestrais espirituais não morreram. O Buda não pode ficar confinado há 2.600 anos. A flor não está limitada à sua breve manifestação. Tudo se manifesta por meio de imagem. Se ficarmos presos às imagens, sempre teremos medo de perder as manifestações específicas.

Quando um menino de oito anos que vivia em Plum Village morreu de repente, pedi a seu pai que mantivesse a plena consciência da presença do filho no ar que respirava e nas folhas de grama sob seus pés, e ele conseguiu fazer isso. Quando um conhecido professor de meditação vietnamita morreu, seu discípulo escreveu o seguinte poema:

Irmãos de Darma, não se apeguem às imagens.
As montanhas e os rios que nos cercam são nossos professores.

O Sutra do Diamante enumera quatro imagens - o eu, a pessoa, o ser vivo e o período de vida. Ficamos enredados na imagem eu, porque achamos que existem inúmeras coisas que não são eu. Mas quando contemplamos a questão com profundidade, vemos que não existe um eu separado e independente, o que nos liberta da imagem do eu. Entendemos então que para nos protegermos temos que proteger tudo o que não é nós mesmos.

Também ficamos enredados na imagem "pessoa". Separamos os seres humanos dos animais, árvores e pedras, e achamos que os não-humanos - peixes, vacas, plantas, terra, ar e mar - estão lá apenas para serem explorados por nós. As outras espécies também caçam para comer, mas não de uma forma exploratória como nós. Quando olhamos para a nossa espécie, vemos os elementos não-humanos contidos nela, e quando olhamos para os reinos animal, vegetal e mineral, vemos o elemento humano neles. Quando praticamos a Concentração na Ausência de Imagens, sabemos viver em harmonia com todas as espécies.

A terceira imagem é "ser vivo". Achamos que seres conscientes são diferentes de não-conscientes. Mas seres vivos ou sensíveis são feitos de espécies não-vivas ou não-sensíveis. Quando poluímos as espécies chamadas de não-vivas, como o ar ou os rios, estamos poluindo os seres vivos também. Se pensarmos na interdependência dos seres vivos e não-vivos imediatamente pararemos de agir deste modo.

A quarta imagem é "período de vida", que é o período de tempo entre o nascimento e a morte. Nós achamos que só estamos vivos por um período específico de tempo, que teve um começo e terá um fim. Mas ao contemplar profundamente, constatamos que nunca nascemos e nunca morreremos, e nosso medo se dissolve. Com atenção plena, concentração e as Três Qualidades do Darma, podemos abrir a Porta da Liberação que é a ausência de imagens e conquista o maior de todos os alívios.

A Terceira Porta da Liberação é a ausência de objetivo. Não há nada a fazer, nada a realizar, nenhum programa a ser cumprido, nenhuma agenda. Esse é o ensinamento budista sobre os fins últimos do homem. A rosa tem que fazer alguma coisa? Não, o objetivo da rosa é apenas ser uma rosa. Seu objetivo é ser quem você é. Você não precisa sair correndo e se tornar outra pessoa. Você é maravilhoso do jeito que é. Esse ensinamento do Buda permite que a gente se divirta, contemple o céu azul e tudo o mais que é tão bom e refrescante no momento presente.

Não há nenhuma necessidade de inventar objetivos para depois correr atrás deles. Nós já temos tudo o que é necessário, já somos aquilo em que desejamos nos tornar. Somos todos Budas, por isso podemos dar a mão a um outro Buda e praticar a meditação andando. Esse é o ensinamento do Avatamsaka Sutra. Seja você mesmo, a vida é preciosa do jeito que é. Não há necessidade de correr, lutar, carregar fardos nem disputar coisas. Podemos apenas existir. Estar aqui, neste momento, neste lugar, já é uma forma profunda de meditação. A maioria das pessoas não acredita que caminhar sem pressa e despreocupadamente seja o bastante. As pessoas acham que lutar e competir são coisas normais e necessárias. Tente praticar a ausência de objetivos por cinco minutos apenas, e observe como será feliz durante esses cinco minutos.

O Sutra do Coração diz que não há nada para ser atingido. Nós não meditamos para atingir a iluminação, porque a iluminação já está em nós, conseqüentemente não há necessidade de busca-Ia. Não precisamos de propósitos nem de metas. Nossa prática não visa obter uma alta posição. Quando praticamos a ausência de objetivo, entendemos que nada nos falta, que já somos tudo o que queríamos ser. Nessa altura, nossa luta desesperada principia a cessar. Fazemos as pazes com o momento presente, e conseguimos observar a luz do sol entrando pela janela e ouvir o barulho da chuva. Não precisamos mais correr atrás de coisas externas. Podemos usufruir esse momento. As pessoas discutem como chegar ao Nirvana, mas na verdade já estamos lá. A ausência de objetivo e o Nirvana são uma coisa só.

Ao acordar hoje de manhã eu sorri.
Vinte e quatro horas, novinhas em folha, ao meu dispor.
Tenho a firme intenção de viver plenamente cada momento do meu dia,
E olhar para todos os seres com o olhar da compaixão.

Essas vinte e quatro horas são uma dádiva preciosa, que só poderemos usufruir completamente quando tivermos aberto a Terceira Porta da Liberação, que é a ausência de objetivo. Se pensarmos que temos vinte e quatro horas para realizar alguma coisa, o dia de hoje passa a ser um meio para atingir um fim. O momento de cortar madeira ou carregar água é o momento que temos para sermos felizes. Não devemos esperar que essas tarefas estejam terminadas para só então sermos felizes. Ser feliz agora significa não ter metas agora. Se não fizermos isto, andaremos em círculo pelo resto da vida. No momento presente, temos tudo o que necessitamos para fazer desse momento o mais feliz de nossas vidas, mesmo se estivermos com dor de cabeça ou com um resfriado. Não temos que esperar o resfriado acabar para poder ser felizes. Resfriar-se é parte da vida.

Alguém me perguntou: "Você não está preocupado com a situação do mundo?" Eu respirei e respondi: "O mais importante é não permitir que a ansiedade em relação aos acontecimentos mundiais encha o seu coração. Se o coração for preenchido pela ansiedade, você ficará doente, e não poderá ajudar quando for necessário." Existem guerras - grandes e pequenas - em muitos lugares, e isso pode nos tornar ansiosos. A ansiedade é a doença de nosso tempo. Estamos sempre preocupados conosco, com a família, com os amigos, com o trabalho, e também com a situação do mundo. Se permitirmos que a preocupação inunde os nossos corações, mais cedo ou mais tarde ficaremos doentes.

É verdade que existe uma enorme quantidade de sofrimento por este mundo afora, mas o fato de saber disso não significa que estamos paralisados. Se praticarmos a respiração, a caminhada, a meditação e o trabalho com consciência, e fizermos o melhor que pudermos para ajudar os outros, teremos paz no coração. A preocupação não realiza nada. Mesmo se nos preocuparmos dez vezes mais, isso não melhorará em nada a situação do mundo. Na verdade, a ansiedade só faz piorar as coisas. Mesmo sabendo que nada é como gostaríamos que fosse, devemos ficar contentes mesmo assim, porque estamos dando o nosso melhor, e continuaremos a fazer isso. Se não soubermos respirar, sorrir e viver com atenção e profundidade cada momento de nossa vida, nunca poderemos ajudar ninguém. Sou feliz agora. Não me falta nada. Não espero nenhum tipo de felicidade adicional nem condições ideais para poder ser mais feliz ainda. A prática mais importante de todas é ausência de objetivo, em vez de ficar correndo atrás das coisas intensamente.

Aqueles dentre nós que tiveram a sorte de conhecer e praticar a atenção plena têm a responsabilidade de trazer paz e alegria para as suas vidas, mesmo que as condições do corpo, da mente ou do meio ambiente não sejam exatamente as que gostaríamos. Sem felicidade não poderemos ser um refúgio para os outros. Pergunte a si mesmo. O que estou esperando para ser feliz? Por que não fico feliz agora mesmo? Meu único desejo é ajudar vocês todos a entenderem isso. Como podemos inserir a prática da atenção plena na sociedade? Como podemos ajudar o maior número possível de pessoas a ser feliz e a ensinar a arte da atenção plena a outras pessoas? O número de pessoas capazes de gerar violência é muito grande, enquanto que um número muito reduzido sabe respirar e gerar felicidade. Todo novo dia representa mais uma oportunidade para ser feliz e ser um refúgio para os outros.

Não precisamos nos tornar nada além do que já somos. Não precisamos desempenhar nenhuma ação específica. Só precisamos ser felizes no momento presente, e dessa forma estaremos sendo úteis às pessoas que amamos e a toda a sociedade. A ausência de objetivo significa parar e entender que a felicidade está ao nosso alcance. Se for perguntado quanto tempo alguém precisa praticar para ser feliz, eu responderei que essa pessoa pode ser feliz imediatamente. A prática da ausência de objetivo é a prática da liberdade."

(Do livro “A Essência dos ensinamentos de Buda” – Thich Nhat Hanh)

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Estabelecendo a motivação e desestagnando os ventos internos.

 
Manjushri

Estabeleça sua motivação para fazer a prática. Nos veículos Mahayana e Vajrayana, a intenção fundamental de quem pratica é a aspiração de superarmos a ignorância raiz que origina o sofrimento, seguindo pelo caminho do bodisatva até o estado búdico final para que assim possamos aliviar o sofrimento de todos os seres sencientes, liberando-os da existência samsárica. Na condição que ora nos encontramos, isso não nos é possível. Ao removermos os obscurecimentos que encobrem a verdadeira natureza de nossa mente, a capacidade de trazermos benefícios aos outros seres aumenta além de qualquer medida. Ao praticar agora, comece pela aspiração de que, não apenas você, mas todos os outros seres, venham a encontrar a liberação das dores do Samsara, de que todos venham a alcançar a realização última da deidade eleita e vivenciar diretamente a felicidade insuperável da consciência pura e compaixão radiante que nada mais é que a nossa própria natureza búdica.

Iniciamos a purificação do nosso corpo através da visualização das respirações. Ao inspirar, visualize-se diante de todos os budas e bodisatvas recebendo suas bênçãos. Inale profundamente e expire pela narina esquerda toda a negatividade causada pela raiva acumulada em incontáveis eras como uma fumaça de cor vermelha para bem mais distante do que cem mil oceanos. Novamente, inspire e exale pela narina esquerda toda a negatividade causada pelo desejo e apego como uma fumaça de cor cinza. Finalmente, inale e expire pelas duas narinas purificando-se de todo o mal causado pela ignorância-raiz como uma fumaça extremamente negra que sai do interior de todo o seu corpo. As fumaças são cortadas pela espada de sabedoria de Manjushri e queimadas pelo fogo da sabedoria última.




Visualize em sua testa uma luz branca e o mantra sagrado OM. Em sua garganta, visualize uma luz vermelha e o mantra AH e em seu coração, uma luz azul e o mantra sagrado HUNG. Inspire e exale falando os mantras OM AH HUNG por três vezes. Depois, descanse a mente por uns instantes antes de iniciar a prática.
OM AH HUNG

Os Sete Gestos de Vairokana

Sente-se de forma confortável na postura corporal dos sete gestos de Vairocana: com as pernas cuzadas, descanse as mãos sobre os joelhos, com as palmas voltadas para baixo liberando a tensão dos braços e dos ombros. Mantenha a coluna ereta, sem rigidez, levando os ombros para trás. Incline levemente o queixo para baixo. Os olhos ficam semicerrados, nada focalizando em particular, direcionados na linha que forma a continuação do nariz. A boca fica entreaberta, com o maxilar descontraído, esboçando discreto sorrido. A ponta da língua toca o palato atrás da linha dos dentes superiores. Não permita que haja qualquer ponto de tensão ou desconforto em seu corpo. Sente-se de forma absolutamente confortável, mas digna, bela e majestosa como a de um buda.

Livros em português de Pema Chodrön

  

"Há anos os livros de Pema Chödrön tem oferecido aos leitores um novo mode de viver: desenvolver a ausência de medo, a generosidade e a compaixão em todos os aspectos de suas vidas. Neste novo livro, ela convida os leitores a se aventurarem um pouco mais no caminho do 'guerreiro bodisatva', explicando em profundidade como podemos despertar a suavidade em nossos corações e desenvolver a confiança verdadeira em meio aos desafios da vida diária. Em 'Sem Tempo a Perder' Chödrön revela os ensinamentos tradicionais budistas que guiam a sua própria vida: O Caminho do Bodhisattva (Bodhicharyavatara), um texto escrito no século VIII pelo sábio Shantideva. Este magnífico trabalho budista é extremamente relevante para a nossa época ao descrever os passos que podemos dar ao cultivar a coragem, a solicitude e a alegria - as chaves para nos curar e ao nosso mundo atribulado. Chödrön nos oferece um comentário altamente prático e atraente sobre este texto essencial, explicando como os seus ensinamentos profundos podem ser aplicados em nossas vidas diárias. Repleto de histórias esclarecedoras e exercícios práticos, este guia diferente  e acessível nos mostra que o caminho do bodhisatva está aberto para cada um de nós. Pema Chödrön nos incita a embarcar neste caminho transformador agora ao escrever: 'Não há tempo a perder - mas não se preocupem, n´s conseguiremos.'"
Cópia do texto da orelha do livro "Sem Tempo a Perder".

Atenção: Eu não ganho nada financeiro ou monetário ao recomendar determinados livros. Faço isso de minha própria vontade porque eles me ajudaram e acredito que a leitura deles possa ajudar aos seguidores do meu blog. Tashi delek!
 
Pema Chödrön é uma monja budista americana na linhagem de Chögyam Trumgpa, o renomado mestre de meditação tibetana.
É professora residente na Abadia de Gampo, Cape Breton, Nova Escócia, o primeiro monastério budista na América do Norte estabelecido para ocidentais.

- O CANTO DAS QUATRO INCOMENSURÁVEIS -

Que todos os seres sensíveis gozem da felicidade e da raiz da felicidade.
Que estejamos libertos do sofrimento e da raiz do sofrimento.
Que não estejamos apartados da grande felicidade destituída de sofrimento.
Que vivamos na grande equanimidade, livres da paixão, da agressão e do preconceito.

Depende de nós. Podemos passar nossa vida cultivando nossos ressentimentos e anseios ou podemos explorar o caminho do guerreiro – alimentando o desenvolvimento da mente aberta e da coragem. A maioria vive reforçando seus hábitos negativos e, assim, planta as sementes do próprio sofrimento. As práticas do boddhicitta[1], no entanto, são maneiras de plantar as sementes do bem-estar. As práticas de aspiração das quatro qualidades ilimitadas – bondade amorosa, compaixão, júbilo e equanimidade – são especialmente poderosas.
Nessas práticas, começamos próximos de nossa casa: exprimimos o desejo que nós e nossos entes queridos gozemos de felicidade e estejamos livres do sofrimento. Então, gradualmente, ampliamos essa aspiração para incluir um círculo cada vez mais amplo de relacionamentos. Começamos onde estamos, onde sentimos as aspirações como genuínas. Iniciamos por reconhecer onde já sentimos amor, compaixão, júbilo e equanimidade. Localizamos nossa sensação atual dessas quatro qualidades sem fronteiras, por mais limitadas que elas possam estar: em nosso amor pela música, nossa empatia com crianças, na alegria que sentimos ao receber boas notícias ou na equanimidade que sentimos quando estamos entre bons amigos. Mesmo se pensarmos que o que já sentimos é muito pouco, ainda assim, devemos começar com o que temos e alimentar seu desenvolvimento. Não é necessário que seja grandioso.
Cultivar essas quatro qualidades nos garante proteção sobre a nossa experiência atual. Dá-nos compreensão sobre o estado da mente e do coração, no momento presente. Passamos a conhecer os sentimentos de amor, compaixão, júbilo e equanimidade, bem como seus opostos. Aprendemos como alguém se sente quando alguma dessas quatro qualidades está presa e como se sente quando ela está fluindo livremente. Nunca fingimos que sentimos algo que não estamos sentindo. A prática depende da inclusão da totalidade da nossa experiência. Ao nos tornarmos íntimos de como nos fechamos, e de como nos abrimos, despertamos nosso potencial ilimitado.
Apesar de começarmos essa prática desejando que nós mesmos e nossos entes queridos estejamos livres do sofrimento, podemos ter a sensação de estarmos falando algo "da boca para fora". Podemos sentir como falso até mesmo esse desejo compassivo referente aos que nos são mais próximos. Mas, desde que não nos estejamos enganando, esse desejo simulado tem o poder de despertar o boddhicitta1. Apesar de sabermos exatamente o que sentimos, fazemos as aspirações com o objetivo de ultrapassar o que, no momento, nos parece possível. Após praticar para nós mesmos e para os que nos são próximos, vamos mais longe: enviamos boa vontade às pessoas neutras de nossas vidas e, também, às pessoas de quem não gostamos.
Podemos sentir que estamos exagerando e sendo falsos ao dizer, "Que esta pessoa que está me deixando louco goze de felicidade e esteja livre do sofrimento". Provavelmente, o que estamos verdadeiramente sentindo é raiva. Essa prática é como um exercício que força o coração além de suas capacidades atuais. Podemos esperar encontrar resistência. Descobrimos que temos nossos limites: podemos ficar abertos para algumas pessoas, mas permanecemos fechados para outras. Vemos tanto nossa clareza quanto nossa confusão. Estamos aprendendo, em primeira mão, o que qualquer um que tenha trilhado esse caminho já aprendeu: somos todos um paradoxal aglomerado de rico potencial, que consiste tanto em neurose como em sabedoria.
A prática da aspiração é diferente de fazer afirmações. Afirmações são como dizer a você mesmo que você é compassivo e corajoso, para esconder o fato de que, secretamente, você se sente um perdedor. Ao praticar as quatro qualidades ilimitadas, não estamos tentando nos convencer de coisa alguma, nem estamos tentando esconder nossos verdadeiros sentimentos. Estamos expressando nossa vontade de abrir o coração e de nos aproximarmos de nossos medos. A prática da aspiração nos ajuda a fazer isso em relacionamentos cada vez mais difíceis.
Se reconhecermos o amor, a compaixão, o júbilo e a equanimidade que sentimos agora, e os alimentarmos por meio dessas práticas, a expansão dessas qualidades ocorrerá por si só. O despertar das quatro qualidades fornece o calor necessário para que uma força sem limites se manifeste. Elas possuem o poder de afrouxar hábitos inúteis e derreter a rigidez gelada das nossas fixações e defesas. Não estamos nos forçando a sermos bons. Quando vemos o quão frios e agressivos podemos ser, não estamos pedindo que nos arrependamos. Em lugar disso, essas práticas de aspiração desenvolvem nossa capacidade de permanecermos estáveis com nossa experiência, seja ela qual for. Dessa maneira, conseguimos saber a diferença entre uma mente aberta e uma mente fechada, gradualmente desenvolvendo a autoconsciência e a bondade de que necessitamos para podermos beneficiar os outros. Essas práticas desbloqueiam nosso amor e nossa compaixão, nossa alegria e nossa equanimidade, liberando seu ilimitado potencial de expansão.

de "Os Lugares Que Nos Assustam – Um guia para despertar nossa coragem em tempos difíceis" – Pema Chödrön – Editora Sextante – Capítulo 6 – página 51.



[1] Boddhicitta: o sentimento compassivo e determinado de promover somente o bem para todos os seres sem qualquer distinção.

 

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Tempo de não-visitar

"Sou do tempo em que ainda se faziam visitas. Lembro-me de minha mãe mandando a gente caprichar no banho porque a família toda iria visitar algum conhecido. Íamos todos juntos, família grande, todo mundo a pé. Geralmente, à noite.Ninguém avisava nada, o costume era chegar de pára-quedas mesmo. E os  donos da casa recebiam alegres a visita. Aos poucos, os moradores iam se  apresentando, um por um.
Olha o compadre aqui, garoto! Cumprimenta a comadre.
E o garoto apertava a mão do meu pai, da minha mãe, a minha mão e a mão dos meus irmãos. Aí chegava outro menino. Repetia-se toda a diplomacia. 
Mas vamos nos assentar, gente. Que surpresa agradável!
A conversa rolava solta na sala. Meu pai conversando com o compadre e minha mãe de papo com a comadre. Eu e meus irmãos ficávamos assentados todos num mesmo sofá, entreolhando-nos e olhando a casa do tal compadre. Retratos na parede, duas imagens de santos numa cantoneira, flores na mesinha de centro... Casa singela e acolhedora. A nossa também era assim. Também eram assim as visitas, singelas e acolhedoras. Tão acolhedoras que era também costume servir um bom café aos visitantes. Como um anjo
benfazejo, surgia alguém lá da cozinha - geralmente uma das filhas - e dizia:
Gente, vem aqui pra dentro que o café está na mesa.
Tratava-se de uma metonímia gastronômica. O café era apenas uma parte: pães, bolo, broas, queijo fresco, manteiga, biscoitos, leite... Tudo sobre a mesa. Juntava todo mundo e as piadas pipocavam. As gargalhadas também. Pra que televisão? Pra que rua? Pra que droga? A vida estava ali, no riso, no café, na conversa, no abraço, na esperança... Era a vida respingando eternidade nos momentos que acabam.... Era a vida transbordando simplicidade, alegria e amizade...Quando saíamos, os donos da casa ficavam à porta até que virássemos a esquina. Ainda nos acenávamos. E voltávamos para casa, caminhada muitas vezes longa, sem carro, mas com o coração aquecido pela ternura e pela acolhida. Era assim também lá em casa. Recebíamos as visitas com o coração em festa.. A mesma alegria se repetia. Quando iam embora, também ficávamos, a família toda, à porta. Olhávamos, olhávamos... Até que sumissem no horizonte da noite.
O tempo passou e me formei em solidão. Tive bons professores: televisão, vídeo, DVD, e-mail... Cada um na sua e ninguém na de ninguém. Não se recebe mais em casa. Agora a gente combina encontros com os amigos fora de casa:
Vamos marcar uma saída!...  ninguém quer entrar mais. Assim, as casas vão se transformando em túmulos sem epitáfios, que escondem mortos anônimos e possibilidades enterradas. Cemitério urbano, onde perambulam zumbis e fantasmas mais assustados que assustadores.Casas trancadas. Pra que abrir? O ladrão pode entrar e roubar a lembrança do café, dos pães, do bolo, das broas, do queijo fresco, da
 manteiga, dos biscoitos do leite... Que saudade do compadre e da comadre!"

José Antônio Oliveira de Resende
Professor de Prática de Ensino de Língua Portuguesa
Departamento de Letras, Artes e Cultura
Universidade Federal de São João del-Rei.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Altar principal do Templo de Budismo Tibetano Chagdud Dawa Drolma

 
Este templo fica no Condomínio Aldeia Cachoeira das Pedras em Casa Branca, município de Brumadinho, a cerca de 30 quilômetros de Belo Horizonte. Pode ser visto no Google Earth nas seguintes coordenadas 20°06'05.81S  44°02'06.96"O  elev. 940m.


Stupa com relíquias de Chagdud Tulku Rinpoche construída por Lama Chimed Rigdzin (na foto)

  
Lateral e fundo do templo. Descendo a escada da mata chega-se ao nosso Lago Ordjien!


Casa do Lama com Ani Zamba descansando.