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sábado, 29 de novembro de 2008

Lama Padma Samten - "Exemplo Zen é sempre com arroz."



Introdução ao Budismo

Existem muitas formas de introduzir o pensamento budista. Farei uma abordagem geral, voltada aos aspectos mais internos do que significam os ensinamentos do Buda.
Apresentando o budismo como um remédio para duka
O budismo pode ser apresentado como um remédio. Olhemos esse aspecto em primeiro lugar. O próprio Buda ofereceu os ensinamentos dessa forma. Quando o Buda era um príncipe, percebeu que todos os seres estavam submetidos a uma doença geral. Essa doença tem um nome específico, mas não existe correspondente para essa palavra no Ocidente. Lá no Oriente chamam essa doença de duka. Embora todos tenhamos essa doença, talvez não percebamos sua existência. Essa doença é algo como alegria e sofrimento inseparáveis. Na visão budista existe uma única palavra para esses dois conceitos, eles não podem ser separados. Em nossas línguas acontece o contrário, estes conceitos estão separados e não podem ser unificados em um único termo.
Duka pode ser explicado de forma simples a partir do fato de que, quando temos alegrias, elas são sempre, simultaneamente, sementes de sofrimento. Dizemos que esta é uma experiência cíclica — é como uma roda girando entre as polaridades de estar bem e estar mal. Gostaríamos de encontrar o freio quando estamos na região de felicidade, e gostaríamos de acelerar quando estamos tristes. Às vezes achamos que encontramos um controle de velocidade desse tipo, mas logo surgem problemas nessa tentativa de controle.
O primeiro exemplo que me surge é o de uma mãe que deseja ter um filho. Quando o bebê nasce, primeiro ela pensa: "Que maravilha!" Depois ela percebe que tudo que acontece ao filho a perturba intensamente. Na exata medida da intensidade daquela alegria, surge o sofrimento. E assim é com todas as relações humanas.
Outro exemplo: uma pessoa está em algum lugar — não sei bem onde poderia ser — e vê um ser maravilhoso, fantástico, inacreditável. Esta pessoa pede aos deuses: "Por favor, deixe-me chegar perto daquele ser tão maravilhoso." Se por acaso os deuses estão de bom humor, podem até conceder alguma interação… E logo a pessoa descobre-se vigiando aquele ser, absolutamente insegura em relação à sua tênue conexão com ele. E o mais curioso: a intensidade da vigilância, a intensidade do sofrimento causado por esta vigilância e a intensidade da insegurança quanto aos rumos da relação correspondem exatamente à intensidade da beleza daquele ser. Ou seja, quanto maior a beleza, maior a vigilância, o sofrimento e a insegurança.
Chamamos isto de duka. Não há como evitar este tipo de inquietação. Para todas as características favoráveis que percebemos no mundo, existem problemas correspondentes, exatamente no mesmo grau.
Há problemas de outros tipos. Há os ligados à impermanência. Lembro de um casal que sofreu uma tragédia verdadeira. Seu carro foi levado por uma enchente, e a filhinha disse: "Papai, não me deixe morrer." Mas os filhos ficaram dentro do carro, e os pais, ainda que tenham sobrevivido, não puderam resgatá-los. Todas as vezes que esses pais lembrarem disso, vão sofrer.
Outra situação mais amena: olhamos para uma bandeja de doces maravilhosos [alguém havia enviado uma bandeja de doces ao lama naquele dia] e pensamos: "Que maravilha!" Podemos até ficar contemplando a bandeja e examinando cuidadosamente nossos apegos, examinando como surgem os ventos internos e as reações condicionadas. Tiramos a tampa da bandeja, e surgem energias nítidas dentro do nosso corpo… tapamos, e as energias se vão. Este é um exercício interessante.
Cada pequeno objeto, cada pequena pedrinha na paisagem tem uma correspondência interna em nós na forma de energias que percorrem nosso corpo e nervos. A isto chamamos ventos internos. Nosso apego não é às coisas, mas aos ventos internos que elas provocam. Os ventos internos são a experiência íntima dos objetos e também dos seres. Esta dependência e apego são a base de duka.
Os problemas ecológicos são outros exemplos de duka. Nunca desejamos destruir a natureza. Queremos apenas meios de transporte, adubos, plásticos, papel, refrigeradores... Mas isso gera problemas. Cada uma das ações humanas tem um objetivo, mas cada uma delas tem um resultado também. Isso é resumido pela palavra duka.
No sentido geral, cada um dos seres sente duka em seu próprio corpo. Cada um nasce, envelhece, adoece e morre. No sentido budista, quando a morte vem, não é o fim. Dentro do círculo representado pela palavra duka, há uma semente de intenção que perdura, o que morre é um personagem. É como um filme que acaba no cinema; outras imagens vão surgir na tela após a projeção daquele filme. Se há um cinema, outro filme sempre entra em cartaz.
Temos um processo infindável de vida, nascimento, decrepitude, morte, vida. Não precisamos acreditar no renascimento. Pode-se ficar em uma morte apenas, mas ainda assim não conseguimos frear a doença de duka.
Todos os aspectos do budismo são propostos como remédios para esta doença. É por causa desta doença que surge o budismo. Observando de forma ampla o sentido de duka, percebemos que Buda a estudou detalhadamente e descobriu uma natureza que está além de toda esta complicação.
Podemos ter uma noção do que seja isso da seguinte forma: reconhecemos que fomos bebês, criancinhas, crianças maiores, adolescentes, adultos — e em cada etapa é como se houvesse toda uma visão de mundo correspondente. Temos uma identidade, olhamos com estranheza as vidas que os outros levam. De dentro do nosso ponto de vista, nunca entendemos completamente o que os outros fazem.
Lembro da minha adolescência; eu olhava para as outras pessoas e achava aquelas vidas muito estranhas, realmente não conseguia entender por que as pessoas se portavam daquela forma. Via crianças sendo maltratadas e tinha uma sensação de grande vantagem por ter minha própria mãe. Quando estamos imersos na nossa própria forma de ver as coisas, só podemos ver de forma estranha o modo de vida dos outros.
Então percebemos que nossas próprias visões anteriores eram visões particulares. Ao examinarmos as várias fases de nossa vida, percebemos que as várias visões são perfeitas enquanto acontecem, mas não são de forma alguma estáveis, permanentes. Quando elas mudam, pode surgir uma pergunta: "O que permaneceu ao deixarmos de ser crianças e nos tornarmos adultos?" O que permanece é um misterioso brilho interno. O Buda usou este mesmo exemplo da criança, do adolescente e do adulto. Ele apontou esta essência que vai transitando de um para outro, esta capacidade de discriminar, como a qualidade que está mais próxima do permanente.
Assim, a partir deste processo, se quisermos ver o que é o budismo de fato, não devemos pensar em épocas, pois a experiência de duka não está limitada pelo tempo… O próprio Buda histórico, o Buda Sakyamuni, não foi o primeiro Buda. Como ele mesmo relata, serviu e ouviu instruções de incontáveis Budas no passado.
Ao aprofundarmos o significado da palavra Buda, percebemos que os primeiros Budas surgem quando surgem as complicações. O budismo não é algo messiânico, Buda não veio anunciar alguma coisa, ele veio manifestar uma liberdade que a maior parte dos seres não vê. Na medida em que os Budas periodicamente aparecem e dão ensinamentos é que surge o budismo.
O budismo não é propriamente algo que pertença à história humana. Algumas vezes as pessoas colocam os ensinamentos espirituais desta forma: "Quem foi o fundador do budismo? Quando e onde surgiu o budismo? O budismo acredita em reencarnação? Que tipo de preceitos morais são praticados pelo budista? Qual a diferença entre tal e tal escolas budistas?" Esta análise do budismo em forma de questionário talvez não ajude muito.
Para o cristianismo existe o Antigo Testamento e a tábua de Moisés, que ele recebeu de Deus no topo do Monte Sinai. Assim surgem os ensinamentos cristãos: Deus se apresenta a Moisés e revela a verdade. O cristianismo depende da Bíblia, ela é a verdade para o cristão.
No sentido budista não existe uma bíblia. Já que colocamos os ensinamentos budistas na forma de um remédio destinado a remover o sofrimento originado por duka, quando isso acontece, ou seja, quando o sofrimento gerado por duka realmente cessa, atinge-se uma situação além de espaço e de tempo, de escrituras e profetas. Assim se dá a liberação da existência cíclica.
Mas o que fazemos quando estamos liberados? A primeira coisa que fazemos é abandonar o remédio. O budismo se extingue com seu efeito. Quando a liberação acontece, o budismo some completamente.
Existem várias imagens para descrever este processo. A imagem do barco, por exemplo. Existe o rio do sofrimento, a margem do sofrimento e o barco da liberação, que leva à margem da liberação. Tudo o que fazemos é atravessar o rio e abandonar o barco. Não teria sentido ficar no barco. Quando chegamos ao destino saímos do barco. Tudo que fazemos é atravessar, então abandonamos o barco. Quando fazemos uma viagem de ônibus, o que se faz? Será que pensamos: "Vamos ser fiéis ao ônibus?" Não. Ao final da viagem abandonamos o ônibus.
Quando a pessoa se vincula aos ensinamentos budistas ela não está se filiando a uma experiência sectária. Ela está apenas em busca da liberação da existência cíclica — o Buda é apenas um guia. Por exemplo: se uma pessoa está na cidade de São Paulo e precisa ir de um extremo ao outro, talvez isto seja muito difícil se ela não conhece a cidade; mas, da segunda vez, talvez seja bem mais fácil. A função do Buda é esta: ajudar as pessoas a percorrer o caminho até a liberação do sofrimento de duka. O Buda completou o trajeto. Depois, durante 46 anos, ele deu o ensinamento de como cruzar efetivamente para a outra margem.
Durante a vida do Buda, as pessoas guardavam de memória o que ele falava. Quando o Buda desapareceu, elas registraram em papel. E surgiu uma vasta obra escrita baseada nos ensinamentos orais do Buda. Muitos seguidores do Buda escreveram muitos livros, sempre lembrando que "a sabedoria não está nos livros". Então estudamos minuciosamente aqueles textos e sabemos de cor que "a sabedoria não está nas palavras".
Agora os ensinamentos chegam à língua portuguesa. Traduzimos do tibetano, chinês, japonês, sânscrito ou páli, para o português. Parece contraditório traduzir textos, mesmo sabendo que a sabedoria não está lá… É que, ainda que não esteja, os textos podem, eventualmente, umedecer as sementes de sabedoria que temos naturalmente. Esta é a sua função.
Estamos apresentando o budismo através da palavra duka. Há representações dela — as imagens da roda da vida são exemplos. A roda da vida é muito interessante, em outra ocasião abordarei isso, sobre como meditamos na roda da vida, como mudamos nosso comportamento na vida cotidiana de acordo com isso. Estes métodos fazem do budismo algo realmente excelente.

Apresentando o budismo através do Buda
Outra forma de explicar o budismo seria de uma forma positiva. Ao invés de começar com o sofrimento de duka, explicamos o budismo através da forma do Buda. Ou seja, através da palavra Buda. O que é Buda? A natureza completamente liberta dos hábitos, dos condicionamentos grosseiros e sutis. Como sabemos que somos presas de tais comportamentos? Basta olharmos para uma bandeja de doces. Dizemos: "Muita gordura, muito açúcar, isso não faz bem." Mas, ainda assim, percebemos que os doces seguem nos atraindo, independentemente de nossas convicções e tratados médicos a respeito, ou de sabermos por experiência própria que doces nos deixam enjoados após comermos alguns a mais.
Cada vez que decidimos não mais fazer alguma coisa, dizer não a algo, há uma região, onde surgem os impulsos, que parece não ser afetada pelas decisões… Podemos dizer não ao cigarro, não ao álcool, não ao videogame, mas estas coisas seguem nos atraindo. Podemos dizer não à inveja, ao desejo-apego, ao cansaço, à ganância, à raiva ou ao orgulho. Mas parece que tudo continua funcionando da mesma forma, apesar de nossa decisão.
Algumas vezes brinco que Charles Bronson é meu mestre. Faço o teste: "lamas não podem matar"; daí ponho a fita no vídeo, coloco uma estatuazinha do Buda sobre a TV e fico rezando durante o filme, mas aos dez minutos de filme já surge o impulso: "Mata, mata logo, vai!" Por isto ele é um mestre, aponta a violência oculta, mas presente. Aponta a fragilidade latente…
Isso quer dizer que temos emoções perturbadoras. E então descobrimos o sentido de uma palavra muito importante — a palavra carma. Porque, se estudamos a liberação, temos que estudar o processo oposto, o aprisionamento, que chamamos de carma.
Ao observar as grandes poesias e músicas, vemos que são sempre sobre nossos impulsos: "Eu não devia fazer tais coisas, no entanto, elas são mais fortes." Elas são sempre sobre duka, daí há duas correntes opostas: "Aqueles cinco minutos valeram a pena", e "não, aquilo nunca mais, o custo é demasiado". Por que esses poemas, músicas e ficções nos atraem? Por que vivenciamos aquilo? Por que aquela energia percorre nossas veias? Isso acontece porque estamos presos no mesmo tipo de situação mental. Então, quando falamos de Buda, inevitavelmente temos que falar de carma. Estamos inevitavelmente presos no mesmo tipo de situação descrita na música ou no romance.
Quando olhamos nossa experiência, ao reconhecer tudo isso, vemos que nossa vida tem sido sempre composta de muitos ciclos desse tipo. E de novo voltamos àquele mesmo lugar: "Por que fui atropelado?", "por que ela me deixou?", "por que sempre faço tudo errado?". E então começa tudo de novo, e dizemos: "Ah, agora já sei como é". E as coisas vão assim.
Um mestre já falecido dizia: "Se você culpa seu marido por seus problemas, você tem uma condenação perpétua — os próximos vão ter a mesma cara, os mesmos problemas do primeiro." Com namoradas é assim também. Podemos simplificar todo este processo com uma palavra — carma. É um processo muito sutil, não é uma lei que nos condena. Se fosse assim, não existiria a palavra Buda. Buda não é o ser, não é uma pessoa. Buda é uma condição de libertação de todos esses impulsos.
O Buda também diz: "Não acreditem no que eu digo, testem por si próprios." Ou seja, o que eu ensino não precisa ser tomado como uma verdade a ser aceita. Escutem e testem à sua própria maneira.

Apresentando o budismo através dos ensinamentos
A fala do Buda, seus ensinamentos e explicações sobre o remédio para duka seriam uma terceira forma de apresentação do budismo. É uma apresentação através das Quatro Nobres Verdades e do Nobre Caminho Óctuplo. Se vocês observarem apenas o que está nas Quatro Verdades e no Nobre Caminho, terão dificuldade de reconhecer o budismo, pois estes ensinamentos estão presentes em outras tradições também.
As Quatro Nobres Verdades são: a experiência de existência cíclica; o reconhecimento de que a experiência cíclica é criada artificialmente; a afirmação da possibilidade de dissolução da experiência da existência cíclica; o Caminho de Oito Passos ou Caminho do Meio, que leva à dissolução da fixação à experiência de existência cíclica.
Podemos apresentar o budismo através destas quatro verdades, e o caminho para descobrir a liberdade é o Caminho do Meio, o Nobre Caminho Óctuplo.
O primeiro passo é a decisão de abandonar a existência cíclica e a impermanência. É muito difícil chegar a este ponto. A maior parte do tempo estamos preocupados em ganhar jogos. Isso significaria dizer a um gremista que, se ele abandonasse o campeonato, não sofreria mais. Mas a pessoa diz: "Se eu abandonar o campeonato, não sou mais uma pessoa. Mas e aí? Eu vou desaparecer!" A primeira etapa das oito é muito difícil, é como saltar de um abismo. Parece haver um grande sofrimento nela. Mas, se temos a coragem de ultrapassar este obstáculo aparente, nossa vida muda por completo. Curiosamente, isto é o oposto do que pensamos convencionalmente. Apenas se liberarmos nossa conexão com a roda da vida é que estaremos livres de fato. Presos à roda, podemos querer reconhecimento, dinheiro, uma dúzia de CDs — buscamos essas coisas. É como falar com alguém que está num campeonato de futebol. A pessoa quer ser campeã da Libertadores, campeã do mundo, ou, como naquele decalque muito engraçado que vi outro dia: "Grêmio, Campeão do Planeta". Se tiramos isso da pessoa, parece que a vida perde completamente o sentido. O amadurecimento desta etapa tem uma certa conexão com outras tradições religiosas.
Se a pessoa realiza o segundo passo, vê-se liberada de todos os impulsos negativos da mente. Quando atinge a liberdade correspondente ao terceiro passo, está livre de todos os defeitos da fala e das emoções E, quando atinge a realização, a maturidade do quarto passo, está livre de todas as manipulações de corpo e identidades, está livre de causar mal para si ou para os outros através do corpo, fala (ou emoção) e mente.
No quinto passo ela se vê contemplada com o que poderíamos chamar de sorte. É como se o universo inteiro começasse a conspirar pela pessoa. Nesse momento, tudo funciona não apenas para a pessoa, mas para os outros ao redor dela. Este é o resultado da maturidade da quinta etapa.
A maturidade do sexto passo dá à pessoa uma grande estabilidade. Uma estabilidade de saúde, de vigor físico, de energia. Esta energia estável significa também destemor. Qualquer traço de medo desaparece — isto caracteriza a vitória na sexta etapa.
Quando a pessoa atinge a maturidade relacionada ao sétimo passo, consegue conceber a natureza divina de todas as coisas. Vê com nitidez o que se chama de dupla verdade, o aspecto luminoso, sagrado. Percebe o aspecto ilimitado dos grãos de poeira, das estrelas, da própria mente, da aparência física dos seres, dos carrapatos, de tudo. Também percebe o aspecto ilimitado presente nos seres abstratos, os seres que não precisam de corpos. Dito assim parece muito místico, mas a culpa é das palavras, elas são assim mesmo. Neste terceiro contexto de introdução ao budismo que estou explicando, coloco as palavras desta forma. Mesmo que elas sejam verdadeiras, não produzem as experiências, produzem apenas curiosidade e predisposição pelas experiências verdadeiras.
O oitavo passo significa a liberação completa de todos os sentidos convencionais. Alcança-se a percepção estável do aspecto ilimitado e da inseparatividade de todas as coisas, sem o aspecto convencional. No sétimo passo ainda existe uma dupla verdade, pois há um aspecto convencional em contraponto a um aspecto absoluto. Esses dois últimos passos são a iluminação, a sétima é um tipo de iluminação impossível de superar, e a oitava também. Na oitava apenas não há percepção dual.
E, por curioso que possa parecer, há um passo adicional além do Nobre Caminho Óctuplo. Buda atingiu as oito etapas sentado sob a árvore bodhi, a figueira sagrada, mas depois levantou-se para ir ao encontro dos seres e ajudá-los. É o ponto da manifestação completa da compaixão pelos seres. Ele se levanta para benefício de todos. Não é uma etapa de liberação propriamente dita — a liberação foi concluída no oitavo passo —, é o momento da ação iluminada.
Existe uma divisão comum de três modos de praticar o budismo. Começamos ouvindo ensinamentos, depois meditamos sobre eles e a seguir agimos de acordo. É por isso que estamos construindo um templo. Para fazer girar as várias etapas da roda do Darma. Precisamos de uma sala onde possamos ouvir, outra onde meditar e ainda o ambiente onde agir. Nosso objetivo é ajudar os seres das mais diferentes formas. É a manifestação de uma dimensão humana transcendente. Quando ajudamos alguém há um aspecto extraordinário, cósmico. Quando ajudamos alguém já estamos atuando segundo a compreensão de uma outra pessoa, já nos colocamos em marcha transcendente em relação a nossos próprios impulsos, nossa identidade.
Agora, se quisermos explicar de uma outra forma, ainda dentro dessa perspectiva descritiva, o budismo inteiro pode ser resumido em três palavras. A primeira é Buda, que já expliquei. A segunda é Darma, que mencionei há pouco; é o ensinamento que surge na mente do Buda para beneficiar os seres — como ele tem liberdade perante o que para nós é dificuldade, ele examina o duka dos outros seres e resolve os problemas, manifestando soluções. A terceira é Sanga, e está relacionada ao Buda.
A Sanga surgiu porque o Buda surgiu, 26 séculos atrás. Se não fosse assim, não estaríamos aqui estudando esses ensinamentos. É como se fosse uma fogueira, a chama em si não pertence a um ou dois dos paus queimando. É um calor que surge a partir do conjunto: se separamos um dos paus da fogueira, o fogo termina neste pau. Temos dificuldade de seguir o caminho da liberação sozinhos, mas quando estamos juntos é mais fácil. Chamamos isso de Sanga. Ela é capaz de queimar nossos problemas. Também é comparada a um recipiente e um pilão. Um centro de Darma, um grupo de praticantes, é como se fosse o recipiente, e o sucessivo bater do pilão é a vida cotidiana. Somos os grãos de arroz com casca. A vida vai batendo, e as cascas vão caindo. Este é o efeito da Sanga. O exemplo é do Zen, claro — exemplo Zen é sempre com arroz

Apresentando o budismo através da meditação
Há várias maneiras de introduzir os ensinamentos, vários estilos de ensinamentos. Uma das avenidas tradicionais, ensinada pelo próprio Buda, é o caminho da meditação tranqüilizadora. A gente simplesmente senta e pratica o primeiro dos oito passos, e os outros seguem-se sucessivamente. Com a mesma aparência externa da posição de lótus, segue-se etapa por etapa.
Neste caminho a pessoa entra, senta e vai colhendo as experiências profundas sentado. Este é o caminho que o Buda ensinou. Podemos chamar isto de diana, shamata, vipassana ou samadhi; podemos chamar de samassati, mahasandi, mahamudra. De acordo com o conteúdo, com o que acontece por dentro. O Buda descreve minuciosamente estes passos. O Buda diz: "Não acreditem!", ou: "Nos textos não está a verdade! Testem!"… Mas ainda assim o Buda descreve. O Buda diz que a verdade não está nos textos, mas, dependendo da realização da pessoa, o texto pode espelhar essa realização, e aí pode ser útil de alguma forma.
Temos então o aspecto discursivo, que pode ser misturado com o anterior. Cada um deles precisa dos outros. Se a pessoa só fica sentada, pode ficar apenas em confusão, é preciso algum tipo de instrução. O obstáculo da meditação nunca é resolvido na meditação. A pessoa precisa ouvir os ensinamentos e meditar, mas só ouvir não adianta, ela precisa aplicar na vida cotidiana, e então a meditação funciona.

Apresentando o budismo através da bondade
Depois existe uma outra abordagem, que é simplesmente praticar bondade. A bondade é uma capacidade de ir além da própria identidade e encontrar os outros seres. É uma imediata prática de transcendência ativa. O Dalai Lama diz: "Eu não sou budista, a minha religião é bondade, amor e compaixão." A instrução seria assim: apenas pratique bondade; se tiver dúvidas e pensar: "Isto é fácil, isto é ingênuo", chame o "mestre" Charles Bronson — vai ficar claro como este caminho é desafiador.
Podemos acreditar que existem seres terríveis, responsáveis pelos problemas do mundo. Mas há uma liberdade que não conseguimos captar na sua natureza terrível. Apenas dizer que são terríveis não explica tudo. Um psiquiatra poderia dizer: "Trato todas as pessoas, menos os loucos" —, mas seria um absurdo. O psiquiatra é alguém que tem afinidade com os loucos, ou seja, esta é a função dele. Por isso, não negamos que os seres sejam terríveis ou loucos, mas é porque as coisas são dessa forma que o psiquiatra é necessário.
Na verdade não negamos as características dos outros, mas vamos nos comportar de forma diferente. Os chineses estão trucidando os budistas no Tibete, mas o Dalai Lama, embora não diga que eles são bonzinhos, ainda assim é médico deles também. Os chineses têm suas características e estão dentro da roda.
Há algum tempo aconteceu um incidente com monges na Coréia. Pode parecer que isso apenas "suje" o nome do budismo, mas há um aspecto maravilhoso. As pessoas devem abrir os olhos e ver que não basta fazer os votos, é necessário cumpri-los. Não é por usar uma roupa diferente que se abandona o carma e os impulsos não virtuosos dos seres humanos. Não é tão fácil. Seria como dizer que apenas por se dizer budista uma pessoa estaria iluminada.
Isso me lembra aquele ministro religioso que foi reconhecido em um motel com uma senhora que não era propriamente sua esposa. Foi uma coisa terrível, ele era admirado por muitas e muitas pessoas. Aí ele foi para a TV e disse: "Viram? Eu sempre disse a vocês, o diabo é um perigo verdadeiro!"
Daí os monges aparecem na TV revelando dimensões de grande agressão. Na verdade devemos entender que a roda é um perigo… As coisas são assim, isto revela um lado humano. Os monges são seres humanos. A forma monástica é uma forma de viver. Raspar a cabeça não raspa as emoções perturbadores. O importante é rir. Rir das nossas expectativas e idealizações.
Lembro do primeiro mestre tibetano que ouvi, Sua Eminência Jangom Kongtrul Rinpoche III. Perguntaram a ele: "Os tibetanos estão mais próximos da iluminação que os ocidentais?" Quando Tenzin, o tradutor tibetano, traduziu, o mestre não parava de rir. "Será que é mesmo assim, Tenzin?", Rinpoche perguntou, jocoso. E não parava de rir… Certamente ele sabia algumas boas histórias do Tenzin. Rir é uma coisa bem boa. Rimos de nós mesmos.
Levar as coisas muito a sério é um grave problema. O Buda mesmo disse: "Se alguém fizesse as prostrações para mim pelas minhas 32 marcas, este seria um herege." Pois um ser liberto não é identificado por características particulares. Então, quando criamos expectativas e depois nos frustramos, estamos apenas criando seres e colocando idealmente qualidades ilimitadas neles.
Mas isto foi apenas um longo parêntese sobre a questão da bondade. Essa bondade pode também ser descrita em dez níveis. Mas não há tempo para este estudo aprofundado agora.

Apresentando o budismo através dos Yidams ou da perfeição de todas as coisas
Outra forma aparentemente diferente de se aproximar do budismo é olharmos para as deidades e suas qualidades e procurarmos copiar de imediato estas qualidades. Em vez de pensar na roda, na estabilização meditativa, ou na bondade, praticamos sadanas referentes a Yidams. É um outro caminho, pode ser praticado sozinho, mas caracteriza uma abordagem em si mesma.
Existe ainda uma outra forma, na qual resumidamente se compreende o primeiro passo do Nobre Caminho Óctuplo e se utiliza a vontade de superação da experiência da existência cíclica como combustível poderoso para penetrar nas práticas de meditação na perfeição de todas as coisas. Não vamos usar conceitos de amor e compaixão, não vamos praticar virtudes nem a supressão das não-virtudes; focamos diretamente a natureza ilimitada. O reconhecimento da natureza ilimitada produz a superação de todas as prisões e carmas, nada mais é necessário.
Todos esses métodos têm superposições uns com os outros, e cada um apresenta dificuldades específicas. Neste último método, por exemplo, o foco não está na prática, no trabalho, na família ou nos centros de atendimento. A ênfase está especialmente nos retiros.

Para praticar o budismo…
Há uma grande diversidade de formas de prática no que diz respeito aos ensinamentos. Este é o corpo de ensinamentos do Buda, mas muitos ensinamentos podem vir a ser necessários antes mesmo de se poder entrar no Nobre Caminho Óctuplo. Podemos dizer que 90% ou 95% dos seres não podem praticar imediatamente as Quatro Nobres Verdades e o Nobre Caminho Óctuplo, pois estes ensinamentos pareceriam demasiado sofisticados ou fora de propósito. As pessoas estão presas a ideologias, formas de compreensão, hábitos mentais, soluções aparentes, prioridades invasivas que as impedem. Ajudar estes seres é o foco da maior parte dos ensinamentos dos mestres. Se eles compreenderem a bondade, o amor e a compaixão, isto será maravilhoso.
É como o Buda disse: "Pratiquem a bondade, não criem sofrimento, dirijam a própria mente. Esta é a essência do Budismo."

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"Quando assistimos um filme, a identificação com os personagens é imediata. Ainda que esteja claro que trata-se de uma ficção, as emoções surgem e somos capazes de nos inflamar."
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Informações do Autor…
Padma Samten foi ordenado lama na linhagem Nyingma do budismo tibetano por Chagdud Tulku Rinpoche em 1996. Físico com bacharelado e mestrado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde foi professor de 1969 a 1994, dedicou-se especialmente ao exame dos fundamentos epistemológicos e cognitivos da Teoria Quântica, nos quais encontrou afinidade com o pensamento budista. Em 1986 fundou o Centro de Estudos Budistas (hoje Instituto Caminho do Meio), entidade dedicada a promover o estudo e o intercâmbio entre as culturas budistas e não-budistas. Tem dedicado seu tempo e energia não só a ensinar o budismo, mas também a trabalhar pela paz mundial e pelo diálogo inter-religioso e intercultural.

O Significado de Mettabhavanna


Metta: (pali) bondade, amor.
Bhavana: (pali) prática, cultivo, produção, aquisição de domínio, desenvolvimento, reflexão, meditação.
Mettabhavana: MEDITAÇÃO DA BONDADE AMOROSA
Objetivo: purificar a mente de todas as impurezas tornando-a saudável.
“O mettabhavana trata-se de um método de realizações simples e eficiente dirigido à prática do equilíbrio e da pacificação no contexto das nossas relações cotidianas.”
Lama Padma Samten (Guru da Meditação do Lótus)

1) Que (...) seja feliz.
2) Que (...) se liberte do sofrimento.
3) Que (...) encontre as causas da verdadeira felicidade.
4) Que (...) supere as verdadeiras causas do sofrimento.
5) Que (...) se libere totalmente do seu carma.
6) Que (...) manifeste lucidez de modo natural e instantâneo.
7) Que (...) seja verdadeiramente capaz de ajudar os outros seres.
8) Que (...) encontre nisso sua fonte de alegria e energia.

A dor da alma.

Não vão ficar pensando que sou uma suicida! É apenas uma curiosidade um tanto mórbida, devo concordar. Mas é que fico pensando: os suicidas são corajosos, covardes ou loucos mesmo? É. Porque no Aurélio está definido como "desgraça ou ruína procurada de livre vontade ou por falta de discernimento." Aí, no caso dos loucos, é falta de juízo mesmo. Mas e a livre vontade? Querer morrer? Ter vontade de morrer? Ter coragem de matar-se? Ou transferir para o corpo a dor da alma? E vamos mudando de assunto que isso é conversa para psiquiatras ou é coisa que leva à loucura, o que dá no mesmo!

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

"The Suicide" - Antoine Wiertz - Óleo sobre tela - 1794


"Le Suicidé" - de Edouard Manet - Óleo sobre tela - 38X46cm. - 1877/1881

Uma deusa com um menino nos braços?


OM MANI PEME HUNG HRI


TCHEN significa olho;
RE implica a idéia de continuidade;
ZIG significa olhar.
Tchenrezig é, então, aquele que olha para todos os seres continuamente com o olho da compaixão. E seu mantra é
OM MANI PEME HUNG HRI

"Tchenrezig, nome tibetano de Avalokiteshvara, em sânscrito, é 'Aquele que olha para baixo' personificando a misericórdia e a compaixão. Os Dalai-Lamas são considerados sua encarnação. É representado com onze cabeças e mil braços cada um com um olho na palma de cada mão para indicar sua atenção sempre desperta para atender aos que sofrem. Na China, esta entidade é vista como a deusa Kwanyin, deusa da misericórdia. Uma deusa com um menino nos braços."

A dor.


Angústia, melancolia, depressão, tristeza, abafamento, insegurança, ansiedade. Dor na alma. O que é esta dor, uma espécie de queimação que dói, arde no peito quando ficamos com medo? Podemos pegá-la? Ela é física? Quero tirá-la de mim e de todos os outros seres.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Uma carta de Ani-la, a monja Ani Zamba.



"Estou (...) sentada aqui contemplando como o caminho do budismo está sendo introduzido no Brasil e se os chamados professores e guias da tradição budista estão realmente atentos às necessidades dos alunos ou não. A introdução de várias abordagens de um caminho budista como este não é tão facilmente entendida e muitas vezes mal compreendida ou mal interpretada. Alguns dos remédios/métodos que supostamente devem curar nossas neuroses são muitas vezes complexos e para muitos, tão complexos até para começar a entender como tomar ou aplicar à nossa mente e à nossa percepção da vida diária.
Cada tradição ou linhagem do caminho budista tem seus métodos e práticas particulares pelos quais podemos trabalhar com o fenômeno chamado “mente”. Certa vez perguntaram à Sua Santidade, o Dalai Lama qual era a diferença entre as quatro grandes escolas do budismo tibetano. Ele respondeu que era como os quatro cantos de uma bandeja de ouro.
Como sabemos, o Buda deu oitenta e quatro mil ensinamentos na sua vida. Este é um extraordinário acervo de conselhos que responde às necessidades de diferentes seres com vários tipos de capacidades mentais. Isto foi planejado para nos introduzir à nossa confusão e hábitos neuróticos que condicionam a maneira com que experimentamos a vida. Estes ensinamentos nos dão as ferramentas que precisamos para trabalhar com os componentes de nossa neurose. Precisamos entender que a nossa confusão é que é o caminho. Sem confusão não haveria liberação da confusão que leva a terminologia de “Iluminação”.
Estes métodos profundos nos dão um modo de remover nossa confusão e ignorância que agora atuam como um filtro para distorcer a maneira que vemos a vida e que assim resulta em sofrimento.
Eu vejo pessoas indo e vindo. Elas chegam com um monte de expectativas, com uma certa idéia de que elas vão ser salvas de alguma forma sem o menor esforço de suas partes. Esta idéia do salvador, seja Cristo, Buda ou nosso próprio professor não nos ajuda a trilhar o caminho. Precisamos entender que o professor externo é somente uma representação simbólica do professor interno que é a nossa própria natureza de sabedoria e é só um meio para nos conectar com a natureza de sabedoria que todos temos. Como revelar o que já está lá? Como descobrir o que está escondido pelas nossas camadas de condicionamento mental? Precisamos ouvir e estudar os ensinamentos de novo e de novo. Mas isso ainda não é suficiente. Também temos que contemplar o que ouvimos, analisar se o que ouvimos faz sentido para que possamos desenvolver a convicção para integrá-los dentro do nosso mais profundo ser através do processo da meditação que é não conceitual, direto no sabor do significado de todos estes ensinamentos. É quando vocês vêem através da pura percepção. Então, o que surge é pura aparência já que não há mais filtros de fixação dualística. Ela somente é o que é. Finalmente despertamos. Não há mais sono de confusão ou ignorância e assim, não há mais condições que resulta em sofrimento."
Ani Zamba Chozön - 26 de novembro de 2008.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

"A Arte de Lidar com a Raiva - O Desafio da Paciência" - Sua Santidade, o Dalai Lama - Trechos escolhidos por mim


Introdução de Geshe Thupten Jinpa

"Uma história popular que os mestres tibetanos gostam de contar a seus discípulos, narra o encontro de um eremita com um pastor. O eremita vivia sozinho nas montanhas. Certo dia, um pastor passou perto de sua caverna. Intrigado, perguntou-lhe:
- O que está fazendo sozinho no meio do nada?
Ao que o eremita respondeu:
- Estou meditando.
-Meditando sobre o quê?
- Sobre a paciência.
Houve um momento de silêncio. Depois de algum tempo, o pastor resolveu ir embora. Ao se virar, olhou para trás e gritou:
- Antes que eu me esqueça, vá para o inferno!
- Como ousa me falar assim? Vá você para o inferno!
O pastor riu e lembrou ao eremita que ele deveria por em prática a paciência.
Essa história simples ilustra maravilhosamente o desafio principal para quem deseja praticar a paciência: numa situação em que normalmente haveria uma explosão de raiva, como podemos manter a espontaneidade e, ao mesmo tempo, permanecermos calmos na reação? Esse desafio não restringe somente aos que praticam uma religião. É um desafio que cada qual enfrenta ao tentar viver sua vida cotidiana com algum grau de dignidade humana e decência. Quase que a cada passo, deparamos com situações que testam os limites de nossa paciência e tolerância. Seja na família, no ambiente de trabalho ou simplesmente quando interagimos com outros, muitas vezes nossos preconceitos são revelados, as convicções contestadas e a auto-imagem ameaçada. É num momento assim que nossos recursos interiores são mais necessários.
(...) A história também nos diz que a paciência não é algo a ser cultivado isolando-se dos outros. Na verdade, é uma qualidade que só pode surgir no contexto de nossa interação com outros, especialmente com outros seres humanos. A reação espontânea do eremita demonstra que seu desenvolvimento interior era tão instável quanto o castelo de areia de uma criança. Uma coisa é se entregar a doces pensamentos de tolerância e compaixão em relação aos outros no ambiente incontestado da solidão, mas é muito diferente de corresponder a esses ideais nas interações do dia-a-dia com pessoas de verdade. É claro que não se deve subestimar a importância da meditação silenciosa. Essas práticas solitárias interiorizam percepções que sob outros aspectos permaneceriam no nível do conhecimento intelectual. E, como a maioria das tradições religiosas indianas, o budismo defende a meditação como elemento fundamental para o caminho espiritual. Mas persiste o fato de que o verdadeiro teste de paciência só ocorre no contexto da interação com os outros. (...) a paciência genuina só se desenvolve depois que se adquire algum grau de controle sobre a própria raiva."

Trecho de “A Descoberta do Mundo” - do http://blog.antesdeparis.com.br/category/frases-da-clarice-lispector/

As Três Experiências - Clarice Lispector


Há três coisas para as quais eu nasci e para as quais eu dou a minha vida. Nasci para amar os outros, nasci para escrever, e nasci para criar meus filhos. "O amar os outros" é tão vasto que inclui até o perdão para mim mesma com o que sobra. As três coisas são tão importantes que minha vida é curta para tanto. Tenho que me apressar, o tempo urge. Não posso perder um minuto do tempo que faz minha vida . Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca.
E nasci para escrever. A palavra é meu domínio sobre o mundo. Eu tive desde a infância várias vocações que me chamavam ardentemente. Uma das vocações era escrever. E não sei por que, foi esta que eu segui. Talvez porque para outras vocações eu precisaria de um longo aprendizado, enquanto que para escrever o aprendizado é a própria vida se vivendo em nós e ao redor de nós. É que não sei estudar. E, para escrever, o único estudo é mesmo escrever. Adestrei-me desde os sete anos de idade para que um dia eu tivesse a língua em meu poder. E no entanto cada vez que eu vou escrever, é como se fosse a primeira vez. Cada livro meu é uma estréia penosa e feliz. Essa capacidade de me renovar toda à medida que o tempo passa é o que eu chamo de viver e escrever.
Quanto aos meus filhos, o nascimento deles não foi casual. Eu quis ser mãe. Meus dois filhos foram gerados voluntariamente. Os dois meninos estão aqui, ao meu lado. Eu me orgulho deles, eu me renovo neles, eu acompanho seus sofrimentos e angústias, eu lhes dou o que é possível dar. Se eu não fosse mãe, seria sozinha no mundo. Mas tenho uma descendência, e para eles no futuro eu preparo meu nome dia a dia. Sei que um dia abrirão as asas para o vôo necessário, e eu ficarei sozinha: É fatal, porque a gente não cria os filhos para a gente, nós os criamos para eles mesmos. Quando eu ficar sozinha, estarei seguindo o destino de todas as mulheres.
Sempre me restará amar. Escrever é alguma coisa extremamente forte mas que pode me trair e me abandonar: posso um dia sentir que já escrevi o que é meu lote neste mundo e que eu devo aprender também a parar. Em escrever eu não tenho nenhuma garantia.
Ao passo que amar eu posso até a hora de morrer. Amar não acaba. É como se o mundo estivesse a minha espera. E eu vou ao encontro do que me espera.
Clarice Lispector

Meus favoritos de Lispector


“Sou um homem que tem mais dinheiro do que os que passam fome, o que faz de mim, de algum modo, um desonesto”.
“... mas sem fazer estardalhaço de minha humildade, que já não seria humildade”.
“O dia de hoje e o dia de amanhã será um hoje; a eternidade é o estado das coisas neste momento”.
“Isso será coragem minha, a de abandonar sentimentos antigos, já confortáveis”.
“A palavra não pode ser enfeitada e artisticamente vã; tem que ser apenas ela”.
”Existir não é lógico.“
“O que eu vou escrever já deve estar, na certa, de algum modo, escrito em mim”.
“Escrevo por não ter nada a fazer no mundo: sobrei e não há lugar para mim na terra dos homens. Escrevo porque sou um desesperado e estou cansado, não suporto mais a rotina de me ser e se não fosse a sempre novidade que é escrever, eu me morreria simbolicamente todos os dias”.
“Se der para me entenderem está bem. Se não, também está bem”.
“Quando acaricio a cabeça do meu cão sei que ele não exige que eu faça sentido ou me explique”.
“... assim como um cachorro não sabe que é cachorro”.
"Já que sou, o jeito é ser.”
“Para que escrevo? E eu sei? Sei não”.“Quem não tem pobreza de dinheiro tem pobreza de espírito ou saudade por lhe faltar coisa mais preciosa que ouro – existe a quem falte o delicado essencial”.

sábado, 22 de novembro de 2008

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Estou doente...


Levei meu exames à médica, o trio sangue, urina e fezes! Resultado: anemia por falta de vitamina B12, hipotiroidismo, gastrite e colesterol um pouco elevado. Receitas: injeção de B12 (seis!), Puran T4, Omeprazol e não comer gordura, ou seja, não manteiga, não óleo, não ovo, não leite, chocolate só o amargo - adoro - não um monte de coisa! Comer muita carne vermelha para suprir a B12, mas não carnes gordurosas, linguiças, etc. Justo quando estava pensando em me tornar vegetariana. E lá vou eu pagando meus karmas e envelhecendo.
"Minha natureza é adoeçer. Eu não superei a doença. Isto é para ser lembrado constantemente."
Siddharta Gautama - O Buda Shakyamuni

quinta-feira, 20 de novembro de 2008


Homem grisalho e óculos escuros... Prá que mais?
E ainda dá filhote!

Gossips - Norman Rockwell




A Paixão, o Amor e a Calmaria.

Conheci-o no trabalho. Era autoritário, agressivo, dava ordens e fazia críticas. Eu tinha uma mistura de medo e raiva quando o via se aproximar.

Um dia, comecei a perceber nele um homem bonito, charmoso, atraente. Lembro-me de observar suas mãos grandes e fortes. Sempre me atrairam as mãos.
Não me lembro como começamos nossas vidas juntos. Foi algo incomum. Tudo aconteceu muito rápido apesar de transcorrerem cinco anos até nos casarmos.
Tivemos nossos filhos, os criamos, passamos por poucas e boas juntos, um apoiando o outro. No entanto, com pouquíssimo diálogo, o tarciturno.

Hoje, passados tantos anos, vejo que ele continua o mesmo homem bonito e atraente, mesmo porque os homens, diferente das mulheres, envelhecem e ficam mais charmosos. Não precisam de nada além de cabelos grisalhos e óculos escuros. A mistura é fatal!
Entretanto, continua autoritário, agressivo e dá ordens. Só não faz mais críticas porque passou a ser uma pessoa ainda mais taciturna, reprimida, calada, introspectiva e, quando fala, diz palavrões, é irritadiço, ranzinza, pirracento e do contra. Parece carregar dentro de si algum fardo, algum sapo que engoliu, algum arrependimento de umas atitudes que não tomou no tempo certo. Tem antipatia de tudo que faço porque eu e ele não gostamos das mesmas coisas.

Se tento perguntar sobre o que tem dentro de si para ter tal comportamento, o caldo entorna e tudo piora! Sai o tiro pela culatra. Levanta-se bruscamente, resmunga, irrita-se e vai embora. Um dia disse que sou fofoqueira, que falo demais! Ele fala de menos! Menos com os outros!

Gostaria de ficar "fora de mim", como se visse um filme, um espelho, para ver o tanto que mudei e o que não mudei. Assim como o vejo.

Agora estamos velhos e, exatamente por isso, acho que só a morte nos separará. Tudo se acomodou, se transformou em resignação e tento viver o lado tranqüilo disso.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Um Aluno Pergunta. O Mestre Responde

E se alguém fizesse um voto para o Buda de abandonar as idéias de desejo e ódio? O que o senhor acha disso, mestre?

Parece uma idéia interessante, mas existem alguns desafios para se manter um voto deste tipo. Basicamente, nossos hábitos de percepção nos fazem ver os fenômenos como desejáveis ou ameaçadores. Então, antes que possamos manter este voto, temos que entender o que nos faz ver as coisas, experimentar as coisas de certas maneiras. Quais as condições psicológicas são necessárias para produzir os resultados de certas experiências que surgem em nossas vidas. A aparência das coisas, das experiências não acontecem assim, simplesmente, sem causas e condições. Isto é algo que nós não entendemos, que tipos de condições são necessários para produzir certos tipos de resultados. Só então podemos começar realmente a trabalhar com isso ou chegar á raiz do desejo ou ódio que vem da maneira que talvez interpretamos o que está passando pelos cinco sentidos ou então ele será apenas uma total fabricação mental baseada em nossas idéias, memórias e expeculações disso ou daquilo. Em vez de tomar um voto, seria bem mais produtivo verdadeiramente entender o mecanismo desse fenômeno que chamamos “mente”. Votos agem como um suporte, uma diretriz para nos deixar mais atentos aos nossos hábitos. Eles não serão capazes de interromper o surgimento dos nossos hábitos, mas podem enfraquecê-los e então, finalmente, veremos a futilidade de tais hábitos e deixá-los ir. Temos que entender que a causa do desejo e do ódio não está enraizada no objeto, mas na maneira como vemos o objeto. Especialmente se tomamos um exemplo do que pode acontecer nos relacionamentos. Num momento, uma pessoa se mostra extremamente desejável até que ela faça ou diga algo que não gostamos e, se ela continua a criar mais condições que achamos desagradáveis ou discordantes, logo, logo esta mesma pessoa pode aparecer como a causa do nosso ódio. Então precisamos perguntar a nós mesmos onde está a base para este desejo ou ódio e trabalhar com ela.

Timo - A Chave da Energia Vital


Recebi um pps. Normalmente, detesto abrir pps! Deleto na hora! Dá trabalho, preguiça e, geralmente vem uma mensagem babaca, piegas, cheia de anjinhos, florzinhas, paisagens, cachoeiras, fora que pode vir lotado de vírus!

Mas este eu abri porque foi um amigo que mandou e, sabendo da minha ogeriza, me alertou que não tinha problema. Encaminhei. Retornou-me um ser do sexo masculino que dizia:

"Gostei muito do seu anexo sobre o timo,e gostaria de saber se você tem mais informações a respeito pois, aos 22 anos, tive um timoma ( tumor no Timo ) e passei por uma cirurgia onde houve a necessidade de removê-lo. Os motivos aos quais levaram a doença acredito que pude identificar devido a problemas na infância. Contudo, hoje me considero uma pessoa bastante normal e não consegui ainda verificar os efeitos de não ter o timo. Se for levar em consideração este anexo, estaria eu perdido...?! Agradeço se você tiver mais informações, pois sempre fui curioso a esse respeito. Visto que não encontrei nenhuma resposta quanto à literatura médica, talvez haja algo nas orientais ou espirituais."
Mandei uns sites prá ele, indiquei uns livros de medicina tibetana.
Muito bem! Alguns meses depois, tive uma depressão forte que me fazia chorar muito e a sentir uma forte dor no peito como se ele apertasse, ardesse. Um dia, no meio da choradeira, lembrei-me do timo e disse a mim mesma.
- "Não é o coração que dói. É o timo se contraindo!"
Comecei a me preocupar. Fui associando palavras: timidez, distimia, atimia e tome Google!
Distimia é um estado depressivo, uma desordem do humor, falta de prazer ou divertimento na vida, etc. Na wikipedia, procurem por http://pt.wikipedia.org/wiki/Distimia
sendo que atimia só achei num dicionário médico espanhol e quer dizer "1.perda da consciência ou do conhecimento; 2.demência; 3. atimismo. Atimismo: falta de timo, estado produzido pela falta ou extirpação deste órgão."

As informações do pps são de autoria de Sônia Hirsch, jornalista e pesquisadora naturalista. Saiu numa das edições de revista Bons Fluidos. Ela também fez uma associação de palavras. Resolvi blogar.
No meio do peito, bem atrás do osso onde a gente toca quando diz "eu", fica uma pequena glândula chamada timo. Seu nome em grego, thýmos, significa energia vital. Precisa dizer mais? Precisa, porque o timo continua sendo um ilustre desconhecido. Ele cresce quando estamos contentes, encolhe pela metade quando nos estressamos e mais ainda se adoecemos. Essa característica iludiu durante muito tempo a medicina, que só o conhecia através de autópsias e sempre o encontrava encolhidinho. Supunha-se que atrofiava e parava de trabalhar na adolescência, tanto que durante décadas os médicos americanos bombardeavam timos adultos perfeitamente saudáveis com megadoses de raios X achando que seu "tamanho anormal" poderia causar problemas. Mais tarde a ciência demonstrou que, mesmo encolhendo após a infância, continua totalmente ativo: é um dos pilares do sistema imunológico, junto com as glândulas adrenais e a espinha dorsal, e está diretamente ligado aos sentidos, à consciência e à linguagem. Como uma central telefônica por onde passam todas as ligações, faz conexões para fora e para dentro. Se somos invadidos por micróbios ou toxinas, reage produzindo células de defesa na mesma hora. Mas também é muito sensível a imagens, cores, luzes, cheiros, sabores, gestos, toques, sons, palavras, pensamentos. Amor e ódio o afetam profundamente. Idéias negativas têm mais poder sobre ele do que vírus ou bactérias. Já que não existem em forma concreta, o timo fica tentando reagir e enfraquece, abrindo brechas para sintomas de baixa imunidade, como herpes. Em compensação, idéias positivas conseguem dele uma ativação geral de todos os poderes, lembrando a fé que remove montanhas.

O teste do pensamento
Um teste simples pode demonstrar essa conexão. Feche os dedos polegar e indicador na posição de o.k., aperte com força e peça para alguém tentar abri-los enquanto você pensa "estou feliz". Depois repita pensando "estou infeliz". A maioria das pessoas conserva a força nos dedos com a idéia feliz e enfraquece quando se pensa infeliz. (Substitua os pensamentos por uma bela sopa de legumes ou um lindo sorvete de chocolate para ver o que acontece...)
Esse mesmo teste serve para lidar com situações bem mais complexas. Por exemplo, quando o médico precisa de um diagnóstico diferencial, seu paciente tem sintomas no fígado que tanto podem significar câncer quanto abcessos causados por amebas. Usando lâminas com amostras, ou mesmo representações gráficas de uma e outra hipótese, testa a força muscular do paciente quando em contato com elas e chega ao resultado. As reações são consideradas respostas do timo e o método, que tem sido demonstrado em congressos científicos ao redor do mundo, já é ensinado na Universidade de São Paulo (USP) a médicos acupunturistas.
O detalhe curioso é que o timo fica encostadinho no coração, que acaba ganhando todos os créditos em relação a sentimentos, emoções, decisões, jeito de falar, jeito de escutar, estado de espírito... "Fiquei de coração apertadinho", por exemplo, revela uma situação real do timo, que só por reflexo envolve o coração. O próprio chacra cardíaco, fonte energética de união e compaixão, tem muito mais a ver com o timo do que com o coração - e é nesse chacra que, segundo os ensinamentos budistas, se dá a passagem do estágio animal para o estágio humano.
"Lindo!", você pode estar pensando, "mas e daí?" Daí que, se você quiser, pode exercitar o timo para aumentar sua produção de bem-estar e felicidade. Como? Pela manhã, ao levantar, ou à noite, antes de dormir. Fique de pé, os joelhos levemente dobrados. A distância entre os pés deve ser a mesma dos ombros. Ponha o peso do corpo sobre os dedos e não sobre o calcanhar, e mantenha toda a musculatura bem relaxada. Feche qualquer uma das mãos e comece a dar pancadinhas contínuas com os nós dos dedos no centro do peito, marcando o ritmo assim: uma forte e duas fracas. Continue entre três e cinco minutos, respirando calmamente, enquanto observa a vibração produzida em toda a região torácica. O exercício estará atraindo sangue e energia para o timo, fazendo-o crescer em vitalidade e beneficiando também pulmões, coração, brônquios e garganta. Ou seja, enchendo o peito de algo que já era seu e só estava esperando um olhar de reconhecimento para se transformar em coragem, calma, nutrição emocional, abraço. Ótimo. Íntimo. Cheio de estímulo. Bendito timo.

A jornalista e pesquisadora Sonia Hirsch é autora de livros sobre culinária natural, alimentação e saúde.

Meu signo.










recados no orkut

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Para Adoçar.


Pudim de Leite Condensado

4 ovos
1 lata de leite condensado
Use a lata vazia para medir o leite de vaca (1 lata)
Para a calda: 6 colheres (das de sopa) de açúcar.

Queime o açúcar em fogo brando na forma de banho-maria até dar ponto de bala. Cuidado para não deixar queimar senão fica amargo. Adicione um pouco de água e dissolva o açúcar até formar uma calda que vai untar a forma. Bata os outros ingredientes (ovos primeiro) no liquidificador e derrame na forma. Leve ao banho-maria por 45 minutos. Espere esfriar e leve à geladeira. Quando esfriar bem, desenforme, jogue a calda por cima e sirva.


Hummmm... Até fiz a letra da cor do pudim...

Os Três Aspectos da Respiração.

Há três aspectos básicos na respiração: ritmo, profundidade e duração.

A respiração lenta acalma, deixa a pessoa pacífica e compreensiva, produz clareza de pensamento. Ajuda a desenvolver uma percepção mais ampla de todos os fenômenos, aprofunda o auto conhecimento e a consciência universal. Diminui o ritmo das atividades biológicas e a temperatura tende a baixar.

A respiração rápida excita, produzindo um estado mental instável. A pessoa muda de emoções bruscamente e tem reações inesperadas de ataque e defesa, torna-se mais subjetiva e egocêntrica, vê mais os detalhes que o todo, fica mesquinha.

A respiração profunda gera harmonia entre todas as funções do corpo e, com isso, há mais satisfação, estabilidade emocional, confiança e capacidade de expressão. Facilita a meditação e o sentimento amoroso.

A respiração superficial gera carência. Já que não supre as necessidades orgânicas de oxigênio, isso se reflete no estado mental e emocional. A pessoa fica medrosa, volúvel, insegura, ruim de memória e de intuição. A angústia tem muito a ver com isto.

A respiração longa dá poder de concentração e sintoniza a gente com o ritmo do universo. Traz paciência, calma, tolerância, desenvolve uma visão profunda das coisas e a consciência do aqui-agora. A memória e a Visão do futuro se tornam mais extensas e claras.

A respiração curta é dispersiva, traz impaciência, cria um ritmo irregular; a gente muda muito de idéia, tende à intolerância e ao mau humor, custa a se adaptar aos ambientes, vive em conflito e se apega mais aos detalhes do que ao todo.

De onde se conclui que uma respiração longa, lenta e profunda pode criar dentro de cada um de nós um oásis particular de harmonia, paz e saúde.

Fonte: HIRSH, Sônia. "Deixa Sair: Dieta sem Dieta – Respiração, movimento e meditação" - Rio de Janeiro – Correcotia – 2004.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Agora Faço Tchubas


Agora faço tchubas! Esta foi em homenagem ao Rinpoche porque fiz para ir ao 6º Parinirvana dele e ficou pronta no dia. A 17 de novembro de 2002 ele se foi. Só não sei para onde. Aonde. À onde...
Quem se lembrar, compare esta foto com a primeira láááá atrás...

Homenagem! Meu saudoso e querido mestre.


(foto de Ronai Rocha)

Canção do Despertar
(letra da canção que Rinpoche cantava para nos despertar todas as manhãs)

“Uh, oh! Não durmas agora, ser afortunado. Desperta com diligência. De tempos sem princípio até agora tens dormido em ignorância. Agora é o momento de deixar o sono para trás e alcançar a virtude com corpo, fala e mente. Não te lembras da doença, da velhice e morte? Todo o sofrimento além da conta e além da medida? Esqueceste? Quem sabe se terás o dia inteiro? Agora é o momento de praticar com diligência. Ainda tens esta oportunidade de gerar benefício duradouro. Então, por que desperdiçar a oportunidade por preguiça? Se realmente contemplares a impermanência, consumarás a tua prática rapidamente. Quando a hora da tua morte chegar, estarás confiante. Com tua prática consumada, não terás nenhum arrependimento. Sem esta confiança, qual terá sido o propósito da tua vida? A natureza de todos os fenômenos é vazia e sem identidade como a lua refletida na água, uma bolha, uma alucinação, uma emanação, uma ilusão, uma miragem, um sonho, uma imagem no espelho, um eco. Todo o Samsara, todo o Nirvana é assim. Reconhece todas as coisas desta maneira: nada vem, nada fica, nada vai além de qualquer descrição por palavras, além de qualquer concepção da mente. Agora é o momento de alcançares a realização que é sem sinais.”

PRECE PELO RENASCIMENTO DE SUA EMINÊNCIA CHAGDUD TULKU RINPOCHE

KON THOG TSA SUM DE SHEG KUN DU PA UANG DRAG RIG DZIN PED MA DJIN LAB TCHIE
Pelas bênçãos do poderoso Vidyadhara Pema, em quem os sugatas das Três Jóis se unem,

PED MA GAR DJI UANG TCHUG TRUL PE KU NIUR DJON TEM DRO DON TCHEN DZED DU SOL
possa a emanação de Pema Gardji Uangthug rapidamente surgir e trazer vasto benefício aos ensinamentos e seres!

Adaptado de uma prece escrita por Kyabdje Khyentse Rinpoche

Minha tchuba


Terminei de fazer minha tchuba. Ela não é só a saia. É inteira, como um vestido. Ficou linda! Verde escuro com pequenas estampas de flores esparsas.
Se eu tomar coragem de sair de casa hoje, vou ao gönpa (lugar silencioso) para o Tsog do Parinirvana do Rinpoche.
Por quê tomar coragem para sair de casa? Porque desacostumei. Saio só para médico, dentista, compras inadiáveis. Coisas inadiáveis.
Estou fazendo um certo retiro domiciliar orientado pela Lama Sherab. E, sinceramente, não estou a fim de burburinho de sangha. Por isso pergunto: o nosso Gönpa ainda é um lugar silencioso?

How to Make a Zafu

Este fui eu quem fez. ou Esse foi eu que fiz.


Como fazer um zafu

Primeiro, procure um tecido adequado para um zafu. Escolha um tecido que não vai fazer você escorregar para fora da almofada durante a meditação. Nada de sedas, cetins, faillets ou importados escorregadios. É bom escolher um algodão forte como brim, sarja e de cor preta para que você não tenha que lavar o zafu toda hora.

Você vai precisar de um tecido medindo 0,51 x 2,22m. Desenhe um retângulo de 0,15 x 0,17 x 2,22m no tecido. Adicione 1 cm em todas as medidas para a costura. Depois, desenhe dois círculos de 0,30cm de diâmetro cada um adicionando 1 cm. para a costura. O retângulo vai servir como o lado do zafu depois e os dois círculos serão o topo e a base quando o zafu estiver pronto.

Agora vem a parte mais difícil que é dobrar o retângulo. Ele deve ficar com 20 a 21 pregas quando você terminar de dobrá-lo. É importante se concentrar ao dobrar e tentar ser o mais preciso que puder. Pegue o pedaço retangular do tecido e coloque-o sobre sua mesa de trabalho. Se necessário, passe a ferro o tecido. Para fazer as dobras mais facilmente e mais precisas, meça 10 cm. da ponta do lado curto do tecido e faça uma marca com giz de alfaiate. Meça 4 cm. desta marca e faça outra marca. Meça 5 cm. desta marca e faça outra marca. Meça 4 cm....5 cm.... repetindo esta marcação como mostra o esquema até que tenha de 20 a 21 pregas.

As duas pontas do tecido retangular devem ser, cada uma dobradas 3 vezes, mas não devem ser costuradas uma na outra. Elas devem transpassar uma sobra a outra uns 6 ou 7 cm. quando o retângulo estiver costurado aos dois círculos. Costure os dosi lados compridos do retângulo pregueado e tire os alfinetes.

Pegue um dos círculos e alfinete a um dos retângulos. Prenda o círculo ao retângulo costurando em volta do círculo por, no mínimo três vezes ou com um ponto bem forte, apertado. Depois, repita o mesmo procedimento com o outro círculo.

Quando terminar, você terá um zafu ao avesso. Ele deve ter uma fenda na lateral, onde as pontas do retângulo se transpassaram. Use esta fenda para encher o zafu com kapok. Se não tiver kapok, use alguma outra fibra. É importante que o zafu fique muito bem estofado, cheio para que ele não fique macio ao praticar meditação.

domingo, 16 de novembro de 2008

Ani-la


"We cannot experience anything in our life unless this fenomena we call mind interpretes it to be a certain way. So it means that our mind is the source of all our experience. We cannot experience anything unless our mind tells us what's happening".

"Não podemos experimentar nada em nossas vidas a não ser que este fenômeno que chamamos mente interprete-as de certa maneira. Então, isto significa que a mente é a fonte de todas as nossas experiências. Não podemos experimentar nada a não ser que nossa mente nos diga o que está acontecendo".
Bikksuni Ani Zamba Chözön.
Prece de Longa Vida para Ani Zamba Chozön
Pelas bênçãos do Senhor Nascido do Lótus,
pela aspiração de Arya Tara,
através da verdade da originação interdependente,
possa a vida de Ani Zamba Chozön
permanecer firme e beneficiar seres como eu.
Escrito pelo notório Dzongsar Khyentse Norbu Rinpoche, sob a mira de uma arma de fogo, a pedido de Dzamba Thinley.

Quem são os demônios?

Para cultivar o eu, devemos subjugar os demônios. Isso não significa brigar com os outros, mas livrar-se das próprias aflições. O propósito do cultivo é, portanto, adornar-se com tolerância e compaixão. (Hsing Yün)

As Duas Verdades

Isso não está acontecendo.
Eso no está passando.
Questo non sta succedendo.
This is not happening.
Ça n'est pas en train d'arriver.
.
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(-"-)
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^^^^^^
vvvvvvvvvvv

sábado, 15 de novembro de 2008

Dalai Lama

"Enquanto está buscando essa certeza dentro de si mesmo, se a sua mente anda por todos os lugares pensando: 'Talvez isso seja melhor, ou talvez aquilo...', agarrando-se em uma coisa atrás da outra, acabará não chegando a lugar algum. Por isso é importante que comece chegando a uma decisão e prossiga com base nessa decisão. Você precisa 'decidir com absoluta convicção que não há nada além disso."

"Dzogchen, A Essência do Coração da Grande Perfeição" - Sua Santidade, o Dalai Lama - Editora Gaia - pág. 78.

Free Tibet


Significados

Autoconfiança: confiança em sí próprio; segurança íntima de procedimento; crédito; fé; esperança firme; crença.

Autocontrole: equilíbrio

Benevolência: boa vontade; complacência; afeto; estima.

Confiança: (autoconfiança)

Desapego: falta de apego, de afeição; desprendimento; simplicidade.

Equilíbrio: harmonia; boa proporção; estabilidade mental e emocional; moderação; prudência; autocontrole; autodomínio.

Flexibilidade: maleabilidade; docilidade; brandura; compreensão; complacência.

Harmonia: disposição bem ordenada entre as partes de um todo; paz; coerência; proporção.

Humildade: virtude que nos dá o sentimento da nossa fraqueza, modéstia; respeito; reverência; submissão.

Libertação: desobstrução; desembaraço; tornar-se livre; desobrigação.

Otimismo: posição ativa e confiante; atitude em face dos problemas que consiste em considerá-los passíveis de solução.

Paz: ausência de lutas; tranqüilidade; concórdia; harmonia; sossego; repouso; silêncio.

Perseverança: pertinácia; constância; firmeza; persistência; prosseguimento; continuidade; permanência.

Ponderação: reflexão; meditação; consideração; tino; prudência; juízo; circunspecção; bom senso.

Renascimento: nascer de novo: recrescimento; reatividade; reimpulsionamento; renovação; revigoramento; rejuvenescimento; ressurgimento; reaparecimento; desabrochamento; renovação; recomeço.

Serenidade: calma; tranqüilidade; mansidão; sossego; paz; clareza; suavidade.

Apegar e desapegar

APEGAR: manter por insegurança; duvidar da abundância; não viver pelo medo de deixar de ter; acumular; somar para ter a sensação de ser. Dar-se o direito de possuir, de usufruir, de dedicar-se à satisfação do desejo; estar de acordo com a vontade; partilhar com abundância; mobilizar; reciclar; fazer do pronto algo diferente; fazer do aparente estático um movimento contínuo; ponderar sobre o necessário e importante; validar os efeitos da ponderação; estar em harmonia com o que é oferecido pela Vida, pelo Cosmos; possuir e estar com o que nos pertence; abrir-se para a obtenção; movimentar os impulsos da renovação.

DESAPEGAR: Não acumular excessos ou coisas desnecessárias, nada aplicáveis, pouco aproveitáveis; estar em posse apenas do que satisfaz e preenche; não ocupar espaços externos e internos com supérfluos; estar consciente do que não é necessário ter ou cultivar; deixar-se com lugares livres para a aquisição e posse do que é desejo de momento ou do momento; estar desocupado para poder se ocupar; estar disponível para a ocupação.

Anglicismo, galicismo e tradução.

É preciso ter muito cuidado ao traduzir do inglês para o português para que não se perca a linguagem comum e coloquial da língua portuguesa. Não pretendo colocar aqui uma conotação de protecionismo para com a nossa língua. Todas são universais. Mas é preciso preservar seus termos para que ela não se perca como já se perdeu. Um jovem de hoje vai ter que se valer de um bom dicionário se quiser entender Machado de Assis, José de Alencar ou Eça de Queiroz, este último, português.

Através do uso de inúmeras palavras ditas como aportuguesadas, o tão falado anglicismo e o galicismo, respectivamente palavras provenientes do inglês e francês, se interpuseram.

Vamos a alguns exemplos de anglicismo bem conhecidos: bife, futebol, tênis, home-theater, mouse, blush, remix, ranking, piercing, shopping, performance, etc.

É interessante notar que todas elas são usadas de maneira errônea no contexto da língua brasileira. Um inglês ou um estadunidense jamais vai entender que você foi a um shopping – que quer dizer fazer compras e não o local, que seria mall – para comprar um tênis – snicker em inglês – para depois comer um bife – steak.

Futebol é o football que chamamos aqui de futebol americano, porque, para eles, o nosso futebol é soccer. Blush é um verbo, to blush, ficar corado, envergonhado. Piercing, que pode ser usado como substantivo ou verbo, é perfurar algo ou as peças de aço cirúrgico que se coloca no corpo. Lembrando. Tatuagem é galicismo: tatooage em francês.

As áreas de informática, de decoração e de automóveis estão recheadas de anglicismos: browser (navegador, leitor de textos) link (ligação), site (sítio, lugar, local), homecenter (loja enorme de materiais de construção), hometheater (cinema em casa), piston, sedan, coupé, cardan, carter, diesel (motor de explosão interna).

O galicismo, por ter entrado mais cedo, no início do século XX, como um linguajar elegante, tem um número enorme de termos: boite, ballet, maquillage, rouge, baton, bidet, bouquet, boutique, buffet, champagne, cognac, bordeaux – estas três últimas são regiões da França – chalet, carnet, chique, crochet, tricot, coupon, dossier, filet, gaffe, garage, garçon, madame, mayonnaise, omelette, manicure e pedicure, purée para não citar inúmeras outras.

Voltando ao tema da tradução. A palavra inglesa wild que, ao pé da letra se traduz como selvagem deve estar de acordo com o contexto. No caso de animais a tradução seria correta, mas, wild dreams, wild thoughts, jamais seriam entendidos como sonhos ou pensamentos selvagens. São sonhos e pensamentos loucos, mas num sentido relacionado ao sexo.

Engraçado é que o inglês também usa galicismos. A noiva e o noivo comprometidos são fiancé (masculino) e fiancée (feminimo). Na hora do casamento se tornam bride (noiva) e groom (noivo) para só depois serem marido e mulher ou husband and wife. Se o casamento não der certo, tornam-se ex-wife e ex-husband. É muita mudança para o meu gosto! E em muito pouco tempo.

Ah! Esqueci-me de dizer que enquanto “digitava” este texto, “deletei”, dei “enter” e “cliquei” várias vezes...

Ana Carmen Castelo Branco
Belo Horizonte, domingo, 20 de janeiro de 2008 – 07:43h.