É preciso ter muito cuidado ao traduzir do inglês para o português para que não se perca a linguagem comum e coloquial da língua portuguesa. Não pretendo colocar aqui uma conotação de protecionismo para com a nossa língua. Todas são universais. Mas é preciso preservar seus termos para que ela não se perca como já se perdeu. Um jovem de hoje vai ter que se valer de um bom dicionário se quiser entender Machado de Assis, José de Alencar ou Eça de Queiroz, este último, português.
Através do uso de inúmeras palavras ditas como aportuguesadas, o tão falado anglicismo e o galicismo, respectivamente palavras provenientes do inglês e francês, se interpuseram.
Vamos a alguns exemplos de anglicismo bem conhecidos: bife, futebol, tênis, home-theater, mouse, blush, remix, ranking, piercing, shopping, performance, etc.
É interessante notar que todas elas são usadas de maneira errônea no contexto da língua brasileira. Um inglês ou um estadunidense jamais vai entender que você foi a um shopping – que quer dizer fazer compras e não o local, que seria mall – para comprar um tênis – snicker em inglês – para depois comer um bife – steak.
Futebol é o football que chamamos aqui de futebol americano, porque, para eles, o nosso futebol é soccer. Blush é um verbo, to blush, ficar corado, envergonhado. Piercing, que pode ser usado como substantivo ou verbo, é perfurar algo ou as peças de aço cirúrgico que se coloca no corpo. Lembrando. Tatuagem é galicismo: tatooage em francês.
As áreas de informática, de decoração e de automóveis estão recheadas de anglicismos: browser (navegador, leitor de textos) link (ligação), site (sítio, lugar, local), homecenter (loja enorme de materiais de construção), hometheater (cinema em casa), piston, sedan, coupé, cardan, carter, diesel (motor de explosão interna).
O galicismo, por ter entrado mais cedo, no início do século XX, como um linguajar elegante, tem um número enorme de termos: boite, ballet, maquillage, rouge, baton, bidet, bouquet, boutique, buffet, champagne, cognac, bordeaux – estas três últimas são regiões da França – chalet, carnet, chique, crochet, tricot, coupon, dossier, filet, gaffe, garage, garçon, madame, mayonnaise, omelette, manicure e pedicure, purée para não citar inúmeras outras.
Voltando ao tema da tradução. A palavra inglesa wild que, ao pé da letra se traduz como selvagem deve estar de acordo com o contexto. No caso de animais a tradução seria correta, mas, wild dreams, wild thoughts, jamais seriam entendidos como sonhos ou pensamentos selvagens. São sonhos e pensamentos loucos, mas num sentido relacionado ao sexo.
Engraçado é que o inglês também usa galicismos. A noiva e o noivo comprometidos são fiancé (masculino) e fiancée (feminimo). Na hora do casamento se tornam bride (noiva) e groom (noivo) para só depois serem marido e mulher ou husband and wife. Se o casamento não der certo, tornam-se ex-wife e ex-husband. É muita mudança para o meu gosto! E em muito pouco tempo.
Ah! Esqueci-me de dizer que enquanto “digitava” este texto, “deletei”, dei “enter” e “cliquei” várias vezes...
Ana Carmen Castelo Branco
Belo Horizonte, domingo, 20 de janeiro de 2008 – 07:43h.
Boas Festas
Há 9 anos
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