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quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Uma carta de Ani-la, a monja Ani Zamba.



"Estou (...) sentada aqui contemplando como o caminho do budismo está sendo introduzido no Brasil e se os chamados professores e guias da tradição budista estão realmente atentos às necessidades dos alunos ou não. A introdução de várias abordagens de um caminho budista como este não é tão facilmente entendida e muitas vezes mal compreendida ou mal interpretada. Alguns dos remédios/métodos que supostamente devem curar nossas neuroses são muitas vezes complexos e para muitos, tão complexos até para começar a entender como tomar ou aplicar à nossa mente e à nossa percepção da vida diária.
Cada tradição ou linhagem do caminho budista tem seus métodos e práticas particulares pelos quais podemos trabalhar com o fenômeno chamado “mente”. Certa vez perguntaram à Sua Santidade, o Dalai Lama qual era a diferença entre as quatro grandes escolas do budismo tibetano. Ele respondeu que era como os quatro cantos de uma bandeja de ouro.
Como sabemos, o Buda deu oitenta e quatro mil ensinamentos na sua vida. Este é um extraordinário acervo de conselhos que responde às necessidades de diferentes seres com vários tipos de capacidades mentais. Isto foi planejado para nos introduzir à nossa confusão e hábitos neuróticos que condicionam a maneira com que experimentamos a vida. Estes ensinamentos nos dão as ferramentas que precisamos para trabalhar com os componentes de nossa neurose. Precisamos entender que a nossa confusão é que é o caminho. Sem confusão não haveria liberação da confusão que leva a terminologia de “Iluminação”.
Estes métodos profundos nos dão um modo de remover nossa confusão e ignorância que agora atuam como um filtro para distorcer a maneira que vemos a vida e que assim resulta em sofrimento.
Eu vejo pessoas indo e vindo. Elas chegam com um monte de expectativas, com uma certa idéia de que elas vão ser salvas de alguma forma sem o menor esforço de suas partes. Esta idéia do salvador, seja Cristo, Buda ou nosso próprio professor não nos ajuda a trilhar o caminho. Precisamos entender que o professor externo é somente uma representação simbólica do professor interno que é a nossa própria natureza de sabedoria e é só um meio para nos conectar com a natureza de sabedoria que todos temos. Como revelar o que já está lá? Como descobrir o que está escondido pelas nossas camadas de condicionamento mental? Precisamos ouvir e estudar os ensinamentos de novo e de novo. Mas isso ainda não é suficiente. Também temos que contemplar o que ouvimos, analisar se o que ouvimos faz sentido para que possamos desenvolver a convicção para integrá-los dentro do nosso mais profundo ser através do processo da meditação que é não conceitual, direto no sabor do significado de todos estes ensinamentos. É quando vocês vêem através da pura percepção. Então, o que surge é pura aparência já que não há mais filtros de fixação dualística. Ela somente é o que é. Finalmente despertamos. Não há mais sono de confusão ou ignorância e assim, não há mais condições que resulta em sofrimento."
Ani Zamba Chozön - 26 de novembro de 2008.

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