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quarta-feira, 13 de abril de 2011

OS QUATRO MÉTODOS DE ORIENTAÇÃO DOS BODISATVAS

 Eihen Dogen Daisho
Os quatro métodos de orientação dos bodisatvas são doação, fala bondosa, ação benéfica e cooperação.
1- Doação
Esta "doação" significa ausência de cupidez. Não ser cúpido significa não cobiçar. Não cobiçar é o mesmo que não bajular. Mesmo se você domina os quatro continentes, para educar e ensinar corretamente, você tem antes que deixar a cobiça de lado. Dando, por exemplo, seus pertences para pessoas desconhecidas, oferecendo flores de alguma montanha distante a um Buda, ou oferecendo os tesouros de sua vida passada aos seres vivos. Seja material, seja em forma de ensinamentos, cada dádiva tem seu valor e vale a pena ser dada. Mesmo se o presente a ser dado não lhe pertence, nada impede que você faça a doação. Não importa quão insignificante seja a coisa, desde que o esforço de dar seja genuíno. Quando você sai do caminho para o caminho você chega ao caminho. Chegando ao caminho, o caminho está sempre sendo deixado para o caminho. Quando se deixa bens serem bens, bens tornam-se dádivas. Você se dá para você mesmo, outro se dá a outro. O poder das relações causais de doar vai longe, atingindo devas, seres humanos e sábios iluminados. Quando a doação é feita, formam-se imediatamente tais relações causais. O Buda disse: "Quando um praticante da doação aproxima-se de um grupo, todos notam sua presença". Você deve saber que a mente de uma pessoa assim comunica de maneira sutil com as outras. Dê, portanto, nem que seja uma pequena frase ou um verso do ensinamento. Isso será boa semente, nesta e em outras vidas. Dê o que você tem de valor, nem que seja uma única moeda ou uma única folha de grama. Isso se tornará uma forte raiz de bondade, nesta e em outras vidas. O ensinamento também é um tesouro e bens materiais também são ensinamentos. Tudo depende do desejo e da intenção de quem dá. Houve um rei que deu sua barba como medicamento para curar seu criado e uma criança que, tendo oferecido areia ao Buda tornou-se rei numa vida futura. Eles não ansiavam por gratidão, apenas compartilhavam o que tinham. Preparar um barco ou construir uma ponte também é transcendente generosidade de dar. Quando se aprende a dar, aceitar um corpo ao nascer ou largar o corpo na hora da morte são ambos atos de doação. Todo trabalho produtivo é fundamentalmente uma dádiva. Deixar flores ao sabor do vento e os pássaros ao da estação também são doações meritórias. Quando o rei Ashoka alimentou centenas de monges com a metade de uma manga, ele deu também um exemplo de grande dádiva para aqueles que recebem. Não se trata apenas de fazer o esforço da doação, é preciso estar atento e tirar proveito de todas as oportunidades de dar. As doações passadas, as virtudes de dar inerentes a você, é o que o levam a ser o que é agora. O Buda disse: "Se deves praticar o dar a ti mesmo, muito mais podes dar aos teus pais, esposa e filhos". Assim, você deve saber que, até usando alguma coisa para você mesmo, você está doando; dar para pais, esposa e filhos também é dar. Mesmo quando você dá um grão de poeira, rejubile-se com seu ato, pois corretamente você transmite uma das virtudes dos Budas e passa a praticar um dos princípios de um bodisatva. Difícil é transformar a mente de um ser que sente. Você deve mudar sempre as mentes dos seres sencientes, desde a primeira partícula até o momento em que eles encontram o caminho. No início, é dando que se faz isso. Por isso, dar é o primeiro dos seis paramitas[1]. A mente é imensurável. As coisas dadas são imensuráveis. No entanto, há um momento em que a mente transforma as coisas e há doações nas quais as coisas transformam a mente.

2- Fala bondosa
"Fala bondosa" significa que, ao olhar para os seres vivos, é preciso despertar a mente de amor e bondade e pronunciar palavras de muito carinho. É o oposto do discurso duro e cruel. Socialmente, estamos acostumados a perguntar se alguém vai bem de saúde; no budismo, existe a expressão "cuida-te" e é uma maneira respeitosa de perguntar como vai uma pessoa. Fala bondosa é aquela dirigida aos seres vivos com o mesmo carinho com que se fala aos bebês. Devemos elogiar quem tem virtudes e ter piedade de quem não as tem. Uma vez iniciada a fala bondosa, pouco a pouco esta virtude aumentará. E assim, outras falas bondosas, inauditas e desconhecidas surgirão. Nesta vida de agora deveríamos, com prazer, falar bondosamente; então, de vida em vida, nunca regrediremos. A conquista dos inimigos e a harmonização dos dirigentes se baseiam na fala bondosa. Quem ouve uma fala bondosa será tocado profundamente e nunca se esquecerá dela. Você deve saber que a fala bondosa vem da mente bondosa e a mente bondosa da semente da boa vontade. Devemos saber que a fala bondosa não é apenas o elogio a quem merece. Ela tem o poder de mudar o destino das nações.

3- Ação benéfica
Ação benéfica é o emprego de habilidades para o benefício de todos os seres, em todos os níveis. Significa cuidar do futuro próximo e do futuro distante desses seres e auxilia-los habilidosamente. Até uma tartaruga exausta ou um pardal ferido merecem um auxílio, pelo qual nenhuma recompensa é esperada. Aqui, a ação benéfica é a única motivação. Os tolos pensam que, beneficiando outros, reduzem seus próprios benefícios. Estão enganados. A ação benéfica é um princípio único, beneficiando universalmente todos os envolvidos nela. Um grande chefe da antiguidade interrompeu seu banho três vezes e três vezes deixou a refeição pelo meio a fim de atender quem vinha lhe pedir auxílio. Sua única intenção era ajudar os outros. Ele não se importava nem mesmo em auxiliar os súditos de outros chefes. Da mesma forma, você deve auxiliar igualmente amigos e inimigos. Beneficiar igualmente a si e aos outros. Com este estado de espírito, até as ervas e as árvores, as águas e os ventos são incessantemente atingidos pela ação benéfica. Você deve esforçar-se de todo coração para socorrer o ignorante.

4- Cooperação
Cooperação significa não-diferenciação. É não-diferenciação de si e não-diferenciação de outros. Por exemplo, no mundo humano, o Buda tomou a forma de um ser humano. Daí sabermos que ele deve fazer o mesmo em outros planos. Quando conhecemos cooperação, o eu e os outros são apenas um. Música, canção e vinho integram os seres humanos, integram os seres celestiais e integram os seres espirituais. O ser humano integra a música, a canção e o vinho. A música, a canção e o vinho integram a música, a canção e o vinho. O ser humano integra o ser humano, o ser celestial integra o ser celestial, o ser espiritual – esta lógica existe. Compreender isso é compreender a cooperação. Ação cooperativa significa forma apropriada, dignidade, atitude correta. Assim, você leva à identidade com os outros após levar os outros à identidade consigo. No entanto, a relação e/outros varia infinitamente com as circunstâncias. Um filósofo chinês do século VII dizia: "O oceano não recusa água, por isso ele é imenso. Montanhas não recusam terra, por isso elas podem ser tão altas. O sábio chinês não recusa gente, por isso ele pode ter muitos seguidores". O fato de o oceano não recusar água é cooperação. Por outro lado, a água também não recusa o oceano. Esta é a razão pela qual a água se junta e vira oceano; pela qual a terra não se acumula e vira montanha. É claro, o oceano é o oceano por não recusar o oceano, por isso ele é imenso. Porque Montanhas não montanhas, há montanhas, e altas. Porque o chefe não recusa gente, sua gente forma uma comunidade. Um soberano não afasta o povo de si. Não afastar o povo não significa deixar de punir ou de recompensar. Embora um chefe de nação recompense e puna, ele não afasta o povo. Antigamente, quando as pessoas eram simples e honestas, não havia entre povos nem punição, nem recompensa. O conceito de punição e recompensa era diferente. Ainda hoje deve haver gente que procura o caminho sem esperar recompensa. Este conceito está além da capacidade de compreensão da pessoa ignorante. Como o dirigente esclarecido compreende isto, ele não se separa do povo. As pessoas sempre formam uma nação e buscam um chefe esclarecido, mas, não sabendo exatamente a razão pela qual o sábio dirigente é sábio, elas apenas se felicitam por não serem rejeitadas pelo iluminado chefe. Elas não sabem como rejeitá-lo. Não se dão conta de que são elas que suportam o sábio chefe. Sendo assim, como a lógica da cooperação se aplica tanto aos soberanos iluminados quanto à gente ignorante, cooperação é a tarefa do bodisatva. Gentilmente, pratica a cooperação com seja quem for que encontrares. Cada um desses quatro métodos de orientação inclui os quatro. Logo, há dezesseis métodos para guiar os seres vivos.

Eihen Dogen Daisho, que transmitiu o Dharma da China ao Japão, escreveu este ensinamento no quinto dia do quinto mês do quarto ano de Ninji (1243).

[1] Perfeições: Generosidade, disciplina, paciência, perseverança (ou diligência), concentração e sabedoria.

sábado, 9 de abril de 2011

O Uso de Um Mala Tibetano por Gyatrul Rinpoche.

"Gyatrul Rinpoche nasceu no Tibet oriental em 1925. Ele passou muitos anos em retiro com alguns dos  maiores lamas e foi totalmente qualificado como um professor do budismo vajraiana na tradição Nyingma. Treinado por adeptos renomados, passou muito tempo de sua vida no Tibet em retiro meditativo antes de fugir em 1959. Em 1976, foi apontado como o representante espiritual de Sua Santidade Dudjom Rinpoche nos Estados Unidos. Em 1978, fundou o Centro de Budismo Orgyen Dorje Den.
No livro The Generation Stage in Buddhist Tantra (A Geração do Estágio no Budismo Tântrico da Snow Lion) ele explica sobre o uso do mala na prática yoga da deidade. Este excerto pode ser encontrado no Snow Lion website. Aqui está um excerto do “A Geração do Estágio no Budismo Tântrico”.
Padmasambhava disse: “O melhor tipo de mala para se usar para intensificar o número de recitações é um mala feito de alguns tipos de jóias preciosas (tib. tin o tche). Um tipo de mala comum é feito de semente de uma árvore ou fruta e um tipo inferior de mala é feito de madeira, terra, pedra ou remédio.”
Um mala feito de conchas do mar, terra, madeira ou sementes ou frutas de árvores é para ser usado para realizar sadanas e ações pacíficas. Um mala feito de ouro queimará amplos e extensivos carmas. Um mala de coral vermelho é melhor para realizar sadanas poderosas. Um mala de aço ou de turquesa é bom para atividades iradas. Um mala feito de dzi ou outras pedras preciosas pode ser usado para queimar quaisquer atividades cármicas que se estiver fazendo. Um mala feito de pedras de damasco realizará atividades amplas e extensas. Um mala feito de “lot ton” (uma pequena semente redonda e negra dentro de uma fruta) realiza atividades poderosas. Um mala feito de contas de raksha cumpre práticas iradas. Um mala feito de semente de bodhi realiza todos os dharmas. Malas feitos de madeiras de árvores queimam carmas pacíficos. Um mala de sementes de amora queima carmas poderosos. Malas de mogno realizam práticas iradas. Malas feitos de marfim, especialmente de uma presa de elefante, irá realizar todas as atividades em questão. Contas de pedra são boas para a prática ampla e expansiva. Contas feitas de remédio (dutzi) são boas para a prática irada. Malas com diferentes tipos de jóias são boas para qualquer prática. No entanto, eu sugiro não tentar fazer um mala com um tanto de contas diferentes porque, a não ser que se saiba quais combinações são efetivas, pode-se causar um resultado não positivo.
A seguir, o texto menciona os diferentes tipos de benefícios que derivam do uso de diferentes tipos de malas. Um mala de ferro ou aço multiplica a virtude que é acumulada com cada recitação de uma maneira geral. Um mala de cobre multiplica cada recitação por quatro vezes. Um mala de raksha multiplica cada recitação por vinte milhões e um de pérola, por cem milhões. Um mala de prata multiplica por cem mil e um de rubi, por cem milhões. Um mala de sementes de bodhi manifesta benefícios ilimitados para qualquer forma de prática, seja ela pacífica, vasta, poderosa ou irada. Todos devem saber o significado do mala e a melhor maneira de amarrá-lo. Amarre seu mala com três, cinco ou nove fios, e nenhum outro número. Três fios simbolizam os três kayas, cinco fios simbolizam os cinco budas, e os nove fios simbolizam os nove veículos. A conta principal, a conta do guru, pode ser composta de três contas simbolizando os três estados vajra do ser, os três kayas. A conta menor do lado de fora deve ser azul, talvez de lápis lazuli. A cor azul simboliza a mente imutável da verdade última. A conta do meio deve ser vermelha para simbolizar a fala vajra e a conta interior deve ser branca para simbolizar o corpo vajra. Seu mala deve ser abençoado por um lama e você mesmo deve abençoar constantemente o seu mala imbuindo-o com a sua energia. Você deve energizar seu mala antes de contar as recitações nele a fim de produzir real benefício. Você deve limpar sua boca, sua mão e então o seu mala antes de usá-lo. Também pode perfumá-lo com óleo de sândalo. Em seguida, imagine você mesmo como a deidade, coloque o mala em sua mão esquerda e arrume as contas com a conta do guru colocada verticalmente no centro. Recite o mantra que transforma todos os dharmas na consciência pura da sua verdadeira natureza:

OM SWABAVA SHUDDO SARVA DHARMA SWABAVA SHUDDO HAM.

Este mantra limpa e transforma percepções impuras em consciência pura e vacuidade. Da vacuidade, a conta do guru aparece como a deidade central da mandala, e as outras contas aparecem como os membros do séquito. Esta parte da prática é a meditação sobre o samayasattva. Em seguida, chamar o jnanasattva. andalaConvide os seres de sabedoria primordial para se aproximarem, conectando-os de forma que eles se dissolvem no samayasattva, exatamente como se faria em uma sadana. Convide os seres de sabedoria para virem de suas terras puras no espaço à sua frente. Eles se dissolvem em sua mala e permanecem firmes lá. Assim, cada parte de sua mala é a mandala inteira. Isso inclui a divindade central, o séquito, os assentos de lótus, os ornamentos, implementos de mão, cores, etc. Abençoar seu mala desta forma multiplica cada sílaba do que quer que você recitar o mantra 100.000 vezes, além de causar bons resultados cármicos. Portanto, é extremamente importante para fazer isso. Seu mala representa não apenas a forma da deidade, mas a fala da deidade também. Por exemplo, se você recitar o mantra de cem sílabas, a conta do guru representa a sílaba OM e as outras esferas representam as sílabas restantes. Guru Padmasambhava disse, “Sempre que você recitar mantras pacíficos, use a ponta do seu polegar para contar a mala. Ao recitar mantras amplos, use o terceiro dedo. Use o dedo indicador e o polegar ao recitar mantras poderosos, e o dedo mindinho ao recitar mantras irados. Usar apenas a mão esquerda para contar mantras. A mão direita é usada, mas raramente, por exemplo, em algumas práticas irada. Alguns livros ensinam o uso das duas mãos, mas não use a mão direita somente.” Qualquer tipo de prática que se está fazendo, seja pacífica, irada, poderoso ou expansivo (amplo), esteja sempre consciente de que o polegar é um gancho vajra que atrela poderes espirituais, deidades e outras bênçãos. Também é fácil mover as contas com o polegar. O texto não fala, mas há alguns extensos ensinamentos explicando como mover as contas sobre os malas ao realizar certas práticas. Em algumas práticas iradas, usa-se as contas com as duas mãos e assim por diante. Os ensinamentos a seguir, que explicam como cuidar de seu mala quando você não estiver usando, veio direto da boca do Guru Padmasambhava. (Visitar o site). Se o seu mala tem sido repetidamente abençoado por grandes lamas, por seu próprio professor e por si mesmo como parte de sua prática de deidade, ele deve acompanhá-lo como sua sombra. Você mantém o samaya raiz vajra do mala por nunca deixá-lo sair do seu corpo."


* O grifo é meu.

Uma expressão da natureza luminosa e vazia de nossa mente.


"Já que não existe nada sobre o que meditar, não meditar em nada mesmo,
Já que não existe nada para ser perturbado, fique estável em obsequiosidade,
Olhe de maneira desapegada para o estado de não-meditação e não-perturbação.
Auto-consciência, auto-conhecer, auto-iluminar, brilha claramente:

Essa própria alvorada é chamada mente desperta. Se alguém olhou fundo o suficiente para a natureza da mente e é capaz de tornar-se como a base daquele estado, então se torna possível usar todas as percepções dos sentidos e toda a experiência da vida, para aumentar sua própria realização. Sem jamais perder de vista o vazio básico da mente, o que quer que aconteça é reconhecido como a exibição de seu aspecto luminoso. Esse é o caso durante nosso estado de vigília diário, durante sonhos e também após a morte durante o bardo. Torna-se especificamente importante reconhecer quando as visões do bardo aparecem. Se nos tornarmos acostumados a reconhecer o que quer que surja como uma expressão da natureza luminosa e vazia de nossa mente, então não seremos levados por nenhuma aparência, por mais impressionante ou aterrorizante que ela possa ser.
 
Consciência de todas as aparências como mente, sem apego,
Está desperta, embora ver e visto surjam.
Aparências não são equivocadas, o erro vem através do apego;
Conhecendo o pensamento de apego como mente, ele é auto-liberado.
 
O texto continua:
Não existe nenhuma aparência que não seja conhecida como originada da mente.
Qualquer aparência que surja é a própria mente, desobstruída.
Embora ela surja, como a água e as ondas do oceano,
Já que elas não são duas, isso é liberado na natureza da mente.
 
Nossa essência intrínseca é um estado da maior simplicidade, embora durante o processo de se revelar tenhamos de trabalhar com a complexidade e a confusão de nossas mentes, como elas são [estão] no presente. Pode parecer que ensinamentos como esse na verdade encorajem a não meditar ou fazer qualquer tipo de prática. Entretanto, as vidas dos grandes mestres dzogchen mostram que eles passaram muitos anos em retiro e fizeram esforços tremendos, antes que atingissem o estado espontâneo da consciência natural. Em adição, suas biografias revelam que tiveram uma fé e uma devoção extraordinárias a seus gurus e grande respeito por todos os estágios do caminho. Podem existir algumas poucas pessoas que, como resultado de práticas de vidas anteriores, possam penetrar direto na essência em um curto período de tempo, mas a grande maioria de nós precisa passar por um período mais longo de preparação. Para se basear no estado de não-meditação e não-perturbação [não-distração], precisamos praticar a meditação convencional primeiro, senão apenas permanecemos sob a influencia da perturbação/distração, quer estejamos conscientes disso ou não. Como diz o texto: Todos os seres são na realidade a essência desperta, Mas sem praticarem de fato eles não irão despertar. Mesmo que não possamos perceber aquela essência no presente, simplesmente sabendo a respeito dela e tendo fé nela fazem uma enorme diferença. Esses maravilhosos ensinamentos são como o sol num dia nublado: podemos ter completa confiança que o sol está sempre por trás das nuvens. A visão dzogchen pode impregnar subitamente todo caminho, qualquer que seja a prática na qual estejamos engajados e em qualquer estágio que tenhamos atingido. O texto conclui com este último conselho: Ver sua própria consciência de forma nua e direta, Essa Auto-liberação através da visão nua é muito profunda, Então comece a conhecer isso por si mesmo, sua própria auto-consciência!"

Do livro: Vazio Luminoso de Francesca Fremantle.

O Troll

Um troll, na gíria da internet, designa uma pessoa cujo comportamento tende sistematicamente a desestabilizar uma discussão, provocar e enfurecer as pessoas envolvidas nelas. O termo surgiu na Usenet, derivado da expressão trolling for suckers (lançando a isca para os trouxas), identificado e atribuído ao(s) causador(es) das sistemáticas flamewars e não os trolls, criaturas tidas como monstruosas no folclore escandinavo. O comportamento do troll pode ser encarado como um teste de ruptura da etiqueta, uma mais-valia das sociedades civilizadas. Perante as provocações insistentes, as vítimas podem (ou não) perder a conduta civilizada e envolver-se em agressões pessoais. Porém, independentemente da reação das vítimas da trollagem, o comportamento do troll continua sendo prejudicial ao fórum, pois o debate ou degenera em bate-boca ou prossegue sendo vandalizado pelo troll enquanto este tiver paciência ou interesse de atuar.
Há várias sistemáticas desenvolvidas por trolls para atuar num fórum de Internet, entre elas:Jogar a isca e sair correndo: consiste em postar uma mensagem de polêmica grande já esperando uma grande reação de cadeia e flame war. Porém o troll não se envolve mais na discussão, some após a mensagem original e se diverte com a repercussão. Uma forma mais branda é postar noticias polêmicas (às vezes mensagens não-verídicas) só para observar a reação da comunidade.
Induzir a baixar o nível: alguns trolls testam a paciência dos interlocutores, induzem e persuadem a pessoa a perder o bom senso na discussão e apelar para baixaria e xingamentos. Com isso, o troll "queima o filme", consegue que a pessoa se auto-difame na comunidade por ter descido a um nível tão baixo.
Repetição de falácias: outro método usado que induz ao cansaço, aqui o troll repete seu conjunto de falácias até que leve seu interlocutor à exaustão, alegando depois ter vencido a discussão após o abandono do oponente.
Desfile intelectual: um troll pode ter um bom nível intelectual, vocabulário sofisticado diante de outros discursantes, desfilar referências e contradizer os argumentos dos rivais por conhecimento e pesquisa, muitas vezes expondo-os ao ridículo e questionando sua formação educacional.

Insetos amam a vida. Insects love life.


Insetos gostam tanto de viver quanto nós. Um vidro de boca larga, um pedaço de papel cartão é só o que precisamos para colocá-los de volta na natureza. Seja pela vida!

Insects love life as we do. A wide-lipped jar and a piece of cardboard is all it takes to relocate them into nature. Stand for life!

A vida não dura muito. Life does not last much.


 
A vida não dura muito, a morte é duradoura.
Esforço é o dever de hoje, mesmo amanhã, a morte pode vir.
Pois está além de nossas forças, atrasar a morte e seu grande exército.

Life does not last much, death is lasting
Effort is today's duties, even tomorrow, death may come
Because it's beyond our forces to delay death and its grand army.
 
Adhuvam jivitam, dhuvam maranam
Ajjeva kiccamatappam, ko janna maranam suve
Na hi no samgarantena mahasenena maccuna

Nós somos o que pensamos. We are what we think.

Auguste Rodin - "Le Penseur"
Nós somos o que pensamos. Tudo o que somos surge dos nossos pensamentos. Com nossos pensamentos, fazemos o mundo. Fale ou aja com uma mente impura e problemas o seguirão como a roda segue o boi que guia o carro. Nós somos o que pensamos. Tudo o que somos surge dos nossos pensamentos. Com nossos pensamentos fazemos o mundo. Fale ou aja com uma mente pura e a Felicidade o seguirá como sua sombra, inabalável. Como pode uma mente perturbada compreender o caminho? Seu pior inimigo não pode feri-lo tanto quanto seus próprios pensamentos desarmados. Mas, uma vez planejado, ninguém pode ajudá-lo muito, nem mesmo seu pai ou sua mãe.

We are what we think. All that we are arises with our thoughts. With our thoughts we make the world. Speak or act with an impure mind and trouble will follow you as the wheel follows the ox that draws the cart. We are what we think. All that we are arises with our thoughts. With our thoughts we make the world. Speak or act with a pure mind and Happiness will follow you as your shadow, unshakable. How can a troubled mind understand the way? Your worst enemy cannot harm you as much as your own thoughts, unguarded. But once mastered, no one can help you as much, not even your father or your mother.

domingo, 27 de março de 2011

Se - Atavismo

Se minha avó não tivesse castigado covardemente o meu pai, ele seria uma pessoa mais calma, um homem menos explosivo, por vezes até mesmo violento. Se meu avô não fosse tão omisso, não permitiria que ela agisse dessa forma. Pobre coitado; morreu de câncer no estômago. Talvez não tenha tido mesmo “estômago” pra isso.

Se meu avô não pensasse só em dinheiro e, quando minha mãe chegava com uma nota dez ele não dissesse que “não fez mais que a obrigação” ela não seria uma mulher tão focada no dinheiro, incapaz de tecer um único elogio a qualquer um dos filhos. Minha avó, não dizia nada, era uma “boa mulher”, passiva, incapaz de contrariar o marido. Pobre coitada; morreu de câncer no osso malar que evoluiu para o pulmão. Talvez não conseguisse respirar mais aquele ar.

Se eu não tivesse sido educada por um pai rude, bruto e severo, fruto da educação que recebeu da própria mãe, eu não seria a pessoa que sou. Se minha mãe não fingisse que nada via quando meu irmão e meu pai me agrediam física e verbalmente, se seu único valor não fosse o dinheiro e o conforto, fruto da educação que recebeu dos próprios pais, eu não seria a pessoa que sou.

Se eu não fosse a pessoa que sou, talvez meus filhos, já adultos, não fossem focados na doença, na mudez, na privacidade extrema, exatamente como eu era quando nova!

Como se pára este atavismo?

sábado, 26 de março de 2011

A Quebra do Samaya

"Na tradição budista, as pessoas não falam muito sobre suas próprias experiências e realizações, principalmente porque o ato de se gabar tende a aumentar o senso de orgulho de uma pessoa e levá-la a utilizar mal as experiências para ganhar poderes mundanos ou obter influência sobre as outras pessoas, o que prejudica a si mesmo e aos outros. Por esse motivo, o treinamento da meditação envolve um voto ou um compromisso - conhecido em sânscrito como samaya - para não fazer uso impróprio das habilidades obtidas pela prática da meditação (...). A consequência de quebrar esse compromisso é a perda de todas as realizações e habilidades obtidas por meio da prática."

A Alegria de Viver - Yongey Mingyur Rinpoche - pág. 218
Obs: Pronuncia-se samayá.
 
"Todas as iniciações tântricas vinculam aqueles que as recebem a sérios votos conhecidos como votos de samaya. Na escola Nyingma, há 28 votos de samaya divididos em três votos raízes e 25 ramos. Os três votos raízes são:

1. o voto do corpo: venerar o guru
2. o voto da fala: praticar continuamente os mantras e mudras da deidade
3. o voto da mente: manter restritos os ensinamentos do segredo tântricos

Os outros 20 votos são colocados em quatro grupos:
1. os cinco a serem aceitos
2. os cinco a serem rejeitados
3. os cinco a serem praticados
4. os cinco a serem conhecidos
5. os cinco a serem realizados

Quais são os samayas mais relevantes? De acordo com as instruções esotéricas (man ngag) eles estão agrupados em três.
1.     o samaya da visão
2.     o samaya da prática
3.     o samaya da realização
     
Para distingui-los, o samaya da mente é não disseminar as instruções secretas para outros e os cinco aspectos a serem conhecidos são o samaya da visão. O samaya do corpo é não criar animosidade ou desprezo pelo mestre vajra e pelos irmãos vajra. Os cinco samayas a serem praticados e os cinco a não serem renunciados são o samaya da realização. O resultado destes três é a natureza da realização.

Observe como esta passagem divide os votos samaya em outro conjunto de divisões:
1. o samaya do ponto de visão.
2. o samaya de prática.
3. o samaya de realização."

quinta-feira, 24 de março de 2011

Insônia e aversões

De vez em quando o bicho pega! Anteontem passei a noite literalmente em claro. Quando comecei a cochilar já era hora de acordar e acordei com uma dor de cabeças daquelas! O humor estava do jeito que o diabo gosta! Como toda quarta-feira, desço para almoçar na casa de uma amiga e passo parte da tarde com ela. O almoço tinha um ingrediente que me caiu como uma luva: suco de maracujá! Mas não desses de garrafinha que se compra no supermercado, não, suco mesmo, do maracujá fruta! Subi pra casa a pé como sempre faço, mas desta vez num passo mais marchado pra suar, pra cansar mesmo e ver se dormia o sono atrasado. Parei no mercadinho pra comprar maracujás, três, bem graúdos! Em casa, uma só fruta deu um jarro grande de inox, uns dois litros. Encharquei-me dele! Devo dizer que costumo dormir depois da meia noite, mas ontem, pouco depois das dez, estava na cama e com sono! Dormi o sono dos justos! Mas, naquele breve período entre o acordar e o abrir os olhos, notei que tenho muitas aversões. Detesto barulho, detesto insônia, detesto um monte de coisas. Mas não consegui fazer do barulho uma cachoeira e nem da insônia um momento excelente para uma boa meditação. Eu não tomo jeito!

domingo, 6 de março de 2011

Para Christopher e anônimo. Respondendo aos comentários.

A cura está dentro de nós, pessoal! Afinal somos nós que vivemos vinte e quatro horas com todo nosso organismo, corpo, fala e mente! Hoje não estou bem, mas amanhã posso melhorar. Esta é a minha simples e vívida constatação da impermanência. Um ingênuo mas sábio ditado popular diz que "de hora em hora, Deus melhora". Não tenho a ilusão de que a simples leitura de um livro possa me "curar", mas ele pode me trazer algum vislumbre, um insight que eu possa aproveitar. Nunca acreditei que alguém curasse alguém, que a dor de alguém se comparasse com a nossa ou vice-versa. Nem por isso deixamos de ler, de ir ao médico, ao psicólogo ou ao psiquiatra. Eu mesma já dispensei muitos profissionais como se fechasse um livro que não me interessasse mais. No entanto, continuo lendo, continuo buscando e rezo, peço ao universo que todos os seres possam se ver livres do sofrimento e de suas causas. Mas também que todos estejam a salvo de gerar pensamentos negativos, o obstáculo mais destrutivo. Que esses pensamentos nunca surjam em nossa mente e que todos os seres estejam livres de pensamentos negativos. Seguimos em frente, eu já numa idade meio assustadora, algumas funções corporais não funcionando tão bem quanto antes, certas fraquezas tomando-me de assalto, prossigo e sei que um instante virá em que tudo terá o seu fim determinante, seja ele como for. Espero ter forças e as desejo a todos! 
Losar Tashi Delek!

sexta-feira, 4 de março de 2011

Abraçando a Raiva - Thich Nhat Hahn


Plena consciência é a capacidade de saber o que está acontecendo em cada momento, e plena consciência da raiva é ser capaz de reconhecer quando a raiva se manifestou. Se deixarmos nossa raiva sozinha, causará estrago para nosso corpo, para nossa mente e talvez para o nosso entorno. Podemos praticar a plena consciência da raiva dizendo para nós mesmos: “Inspirando, sei que a raiva está em mim. Expirando, eu sorrio para minha raiva, eu abraço minha raiva.”

A plena consciência reconhece que a raiva é raiva. Reconhecer e abraçar a raiva é uma arte, é a prática. Usualmente, lutamos contra a raiva que surge em nós. Mas na prática budista, não lutamos contra nossa raiva, nós a abraçamos ternamente.

Imagine uma mãe que está trabalhando na cozinha e ouve seu bebê chorar. Ela o ama, portanto solta o que quer que esteja na sua mão e vai ao quarto dele. Antes mesmo de saber o que está errado, ela pega o bebê e o segura ternamente em seus braços. Apenas segurá-lo carinhosamente pode ser suficiente para trazer alivio à criança e diminuir seu choro. Se a mãe continuar a segurá-lo com plena consciência, ela descobrirá o que está errado. Ele pode estar com fome, pode estar com febre, ou sua fralda pode estar apertada demais. Através da prática da plena consciência podemos abraçar nossa raiva e pacientemente descobrir porque ela surgiu.

Se a mãe descobre que seu filho está com fome, ela lhe dá leite; se a fralda está muito apertada, ela afrouxa. Portanto ao abraçar nossa raiva com carinho, podemos aliviá-la através da respiração consciente e da caminhada consciente.

Quando a energia da raiva começa a emergir, precisamos da prática da plena consciência. Podemos pensar que para liberar nossa raiva temos que fazer algo imediatamente para confrontar a pessoa que pensamos que está nos fazendo sofrer. Ao invés disso, podemos respirar e dizer: “Inspirando, sei que a raiva se manifestou em mim. Expirando, tomarei muito cuidado com a energia da raiva em mim.”

Podemos pensar que dizer ou fazer algo muito forte para punir a outra pessoa é o caminho para encontrar alívio. Mas isto apenas irá escalar o sofrimento. A outra pessoa sofrerá mais, e ela irá buscar alívio nos punindo de volta.

Se alguém nos faz sofrer, é porque esta pessoa também está sofrendo. Alguém que não sabe lidar com seu sofrimento permitirá que ele vaze, e nos tornaremos vítimas do seu sofrimento. Sabemos que alguém que sofre tanto assim precisa de ajuda e não punição. Quando começamos a ver isso, a compaixão nasce, e não sofremos mais. Compaixão é o antídoto para a raiva. Uma vez que estamos motivados pelo desejo de ajudar a outra pessoa a sofrer menos, estamos livres de nossa raiva.

Às vezes é importante comunicar nosso sofrimento para a outra pessoa. Podemos fazer isso usando a prática do “Começar de Novo”. Sentamos juntos em um momento onde possamos estar plenamente presentes. Há três estágios: no primeiro nós “regamos as flores” da outra pessoa, sinceramente expressando nossa apreciação pelas suas boas qualidades. No segundo expressamos lamento por qualquer coisa que vemos que possamos ter feito para contribuir para o conflito. No terceiro, expressamos nosso sofrimento sem culpa ou julgamento.

Quando expressamos nosso ferimento, há três frases importantes que os ensinamentos budistas sugerem. Estas frases são o antídoto para o sofrimento. A primeira é, “Querido, eu estou com raiva. Eu estou sofrendo e quero que você saiba.” A segunda é “Querido, eu estou fazendo o melhor que posso”. A terceira é “Por favor, ajude-me”.

Quando dizemos a primeira frase - “Querido, eu estou com raiva. Eu estou sofrendo e quero que você saiba disso.” - estamos sendo abertos e dividindo o que está acontecendo conosco. É importante que não neguemos nossa própria raiva e sofrimento. Às vezes sofremos por causa da outra pessoa, e quando ela vem e pergunta, “Querido, você está bem, está com raiva de mim?” dizemos “Eu estou bem, porque estaria com raiva?”. Ou quando a outra pessoa põe a mão no nosso ombro, tentamos evitar seu toque e dizemos, ”Deixe-me só, não me toque!”. Estas são formas de punir alguém, queremos dizer a esta pessoa que podemos sobreviver muito bem sozinhos.

Portanto, ao invés disso, é muito importante ser direto. Podemos também querer adicionar, “Eu não sei por que você disse tal coisa para mim, por que fez tal coisa para mim. Por favor, explique.” A coisa importante é dizer para a outra pessoa que estamos com raiva e que estamos sofrendo. Se pudermos escrever esta sentença, já sofreremos menos. É um milagre.

A segunda frase é ainda menor, “Eu estou fazendo o melhor que posso”. Isto significa que estamos praticando a respiração consciente e a caminhada consciente e tomando conta de nossa raiva. Portanto a segunda sentença é um convite indireto para a outra pessoa fazer o mesmo, voltar para reexaminar a situação, e ver o que ela possa ter feito que tenha contribuído para o conflito.

Às vezes não queremos fazer o outro sofrer. Apenas somos inábeis. Temos que aprender a falar em termos de mais ou menos hábeis ao invés de termos como bom ou mau, certo ou errado. Na tradição budista falamos de estados inábeis da mente, como a raiva ou medo.

A última sentença é “Por favor, ajude-me”. Quando somos capazes de escrever a terceira frase, nosso sofrimento se dissipa. Mesmo se a outra pessoa ainda não leu a mensagem, já nos sentimos muito melhor. Reconhecemos nossa interdependência, não somos capturados pelo orgulho. No verdadeiro amor não há lugar para orgulho. Sabemos que precisamos da outra pessoa para nos ajudar a sair da nossa situação.

Tenho muitos amigos que pegam um pedaço de papel do tamanho de um cartão de crédito, escrevem essas três frases e guardam na carteira. Cada vez que a raiva vem, eles pegam o “cartão”, lêem enquanto inspiram e expiram, e então eles sabem exatamente o que fazer.

Quando o nosso amado nos fere, ficamos com raiva e sofremos. Estamos na margem do sofrimento. Como somos bodisatvas, queremos atravessar para a margem da paz. Não dizemos, “Outra margem, por favor, venha de forma que eu possa pisar em você.” Não, temos que atravessar! E entendimento, prajñaparamita, é uma das maneiras de atravessar. Quando entendemos a outra pessoa, vemos seu sofrimento e também que ela não sabe lidar com este sofrimento. Ela sofre, portanto faz a si mesmo e aos que estão a sua volta sofrerem. Quando somos capazes de olhar com olhos de entendimento como estes, de repente estamos na outra margem. Este entendimento traz a outra margem imediatamente.

O Buda disse que há muitas maneiras de lidar com sua raiva, e uma maneira é praticar a paramita chamada dana, que significa doação. Você dá um presente para a pessoa que você está sentindo raiva. Usualmente quando estamos com raiva de alguém, queremos puni-la. Mas o Buda nos aconselha a fazer o oposto. Faça algo que a faça feliz. Ofereça algo para ela, e de repente sua raiva desaparecerá e você se encontrará na outra margem. Você pode querer tentar isto. Você sabe do que seu amado gosta, portanto compre um lindo presente e esconda em algum lugar. E um dia quando ficar com raiva dele, lembre-se do conselho do Buda e ofereça o presente para ele. Então ambos estarão na outra margem imediatamente.

A outra pessoa precisa de amor, e se pudermos prover isso para ela, através do entendimento, nossa raiva se dissolverá. O tempo que leva para atravessar para a outra margem pode ser muito curto. É um milagre! Como um bodisatva, queremos apenas dar. E estamos dispostos a dar qualquer coisa que pudermos.

As coisas mais valiosas para dar são entendimento e compaixão. Todos no mundo anseiam por entendimento, compaixão e amor. Como um bodisatva, como um praticante, podemos produzir entendimento e compaixão. Quando olharmos profundamente para a situação, não culparemos mais, sentiremos compaixão.

(Do livro “Together we are one”– Thich Nhat Hanh)
(Traduzido por Leonardo Dobbin)
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quinta-feira, 3 de março de 2011

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Quando o mestre morre.

O problema da devoção é idêntico. Caso não seja solidamente estabelecida, a devoção corre o risco de ser efémera. Certos budistas, tibetanos ou outros, têm uma grande devoção por um mestre espiritual. Mas assim que esse mestre morre perdem-na de um momento para o outro. Como consideram que acabou tudo, os seus centros budistas locais fecham. No entanto, em termos absolutos, não faz qualquer diferença o mestre estar ou não presente em carne e osso. O mestre representa a natureza última do espírito e a sua compaixão não é limitada pela distância. Aquele que reconhece esta dimensão do mestre corre poucos riscos de se apegar à sua forma humana. Mesmo que o mestre tenha deixado o seu invólucro corporal, ele sabe que a partir da esfera do Corpo Absoluto as suas bênçãos e a sua actividade estão sempre presentes. Quer o mestre esteja ou não entre nós não muda nada. É sempre possível meditar sobre ele *.

* - No Budismo Vajrayana, o mestre autêntico, a quem o discípulo se liga intimamente, tem por única finalidade revelar a este último a sua verdadeira natureza. Num primeiro tempo, a fé no mestre permite ao discípulo abrir-se a uma realidade mais profunda e ao mestre fazer com que o espírito do discípulo amadureça. No final do caminho, mestre e discípulo são um só: aquele que decobriu a verdadeira natureza do seu espírito, inseparável do «Corpo Absoluto» de Buda, o conhecimento e a compaixão desde sempre presente. Por esta razão, quem se apegar à forma exterior do seu mestre é incapaz de compreender esta realidade e tudo o que retira da sua ligação com o mestre não é mais do que retiraria da relação com um ser comum.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Vislumbre do dia - Glimpse of the day - Sogyal Rinpoche

"De todas as práticas que eu sei, a prática de Tonglen, em tibetano, "dar e receber", é uma das mais úteis e poderosas. Quando você se sentir bloqueado em si mesmo, Tonglen abre-lhe a verdade do sofrimento dos outros; quando seu coração está bloqueado, ele destrói as forças que estão obstruindo-o e, quando você se sente distante da pessoa à sua frente que está com dor, está amarga ou desesperada, ele ajuda você a encontrar dentro de si e, em seguida, revelar o brilho de sua verdadeira natureza amorosa e expansiva. Nenhuma outra prática que conheço é tão eficaz em destruir o auto-apego, a auto-indulgência, a auto-absorção do ego, que são as raizes de todo o nosso sofrimento e toda dureza do coração. Simplificando, a prática de Tonglen de dar e receber é assumir o sofrimento e a dor dos outros e dar a eles a sua felicidade, bem-estar e paz de espírito."

"Of all the practices I know, the practice of Tonglen, Tibetan for “giving and receiving,” is one of the most useful and powerful. When you feel yourself locked in upon yourself, Tonglen opens you to the truth of the suffering of others; when your heart is blocked, it destroys those forces that are obstructing it; and when you feel estranged from the person who is in pain before you, or bitter or despairing, it helps you to find within yourself and then to reveal the loving, expansive radiance of your own true nature. No other practice I know is as effective in destroying the self-grasping, self-cherishing, self-absorption of the ego, which is the root of all our suffering and all hard-heartedness. Put very simply, the Tonglen practice of giving and receiving is to take on the suffering and pain of others and give to them your happiness, well-being, and peace of mind."

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Um sonho dentro do sonho.

Belo Horizonte, 21 horas, Galo 4, Zêro 3. Prá mim não faz nenhuma diferença porque quem me conhece sabe que não estou nem aí prá futebol, nem na Copa. Não perco, nem ganho nada com isso. Enquanto atleticanos soltam foguetes, vejo um filme: "Unstopable" com Denzel Washington. Muita adrenalina e eu, ficando aflita, me lembrei que estou dentro de um sonho dentro de um sonho e que só preciso apertar um botão prá parar tudo. Pausa. Subi para o terraço, sentei na minha cadeira favorita pra ver o céu e o tempo mudando, a lua a mais de um quarto embaçando-se nas nuvens. Venta e parece que vai chover enfim! Tá calor demais! Meu filho músico* no quarto com uma bluezeira alta me fez cantar e dançar. http://www.youtube.com/watch?v=NU0MF8pwktg música que ofereço ao meu baixista Leonardo "Mussum", amigo que "roubei" do Guto. É assim que chamo meu filho.

É incrível como se pode viajar de uma coisa prá outra, de um sonho pro outro, de uma situação prá outra. Até Dzongzar Khyentse Rinpoche disse que é bom escutar de tudo, até Marylin Manson, mas não chego a tanto! Um dia ainda escuto de acordo com o conselho dele. Desço e ouço no YouTube o mesmo blues Pride and Joy do Stevie Ray Vaughan e volto pro filme adrenalínico do Denzel Washington com a certeza de que tudo é um reflexo na água, uma bolha, uma alucinação, uma ilusão, uma miragem, um sonho, uma imagem no espelho, um eco. EMAHO!
*

sábado, 5 de fevereiro de 2011

TER e SER / HAVING and BEING

"O filósofo Erich Fromm previu uma sociedade baseada na obsessão por bens. Ele acreditava que os seres humanos tinham duas orientações: TER e SER. Uma pessoa com uma orientação para TER busca adquirir e possuir coisas, propriedade, até pessoas. Mas, uma pessoa com uma orientação de SER, foca-se na experiência da qual derivam significados de doar, comprometer e dividir com outras pessoas. Infelizmente, Fromm previu uma cultura guiada pelo materialismo e comércio como a que vivemos hoje. Ela é condenada à orientação de TER, o que leva à insatisfação e ao vazio. Quando levamos em consideração que nos anos 60 não existia essa coisa de 'self storage' nos Estados Unidos e hoje há mais de 600 milhões de metros quadrados dedicados a isso, nos faz pensar que Fromm tinha razão."

"The philosopher Erich Fromm forecasted a society based on the obsession with possessions. He believed that humans had two guidelines: HAVING and BEING. A person with a guide to HAVING seeks to acquire and possess things, property, even people. But a person with an orientation BEING focuses on the experience from which they derive meaning to donate, engage and share with others. Unfortunately, Fromm provided a culture driven by materialism and commerce as we live in today. It is ordered to the orientation of HAVING, which leads to disatisfaction and emptiness. When we consider that in 60's there was no such thing as "self storage" in the United States and today there are over 600 million square meters dedicated to it, makes us think that Fromm was right."

CSI (Crime Scene Investigation) Las Vegas - 11ª Temporada, 5 episódioº.