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sábado, 31 de janeiro de 2009

Stupa guarda cinzas de Chagdud Tulku Rinpoche em Belo Horizonte

Lama Tchimed feliz e sorridente!

Lama Tchimed e a stupa. agora só falta pintar.
(Fotos do Orkut de Elisa Filgueiras)
Manhã de sábado. O Templo do Budismo Tibetano Dawa Drolma, em Casa Branca, distrito de Brumadinho, estava lotado de praticantes que foram participar do ritual de consagração da stupa de Chagdud Tulku Rinpoche, lama tibetano que teve seu parinirvana (passagem) em 2002 e, aos 4 anos, foi reconhecido como um tulku (encarnação de um mestre de meditação). Rinpoche era o mestre do templo, um iluminado, dizem os budistas.

O dia era de festa. Na parte externa, flores, incensos e bandeiras de oração que tocadas pelo vento espalhavam a força das preces contidas em centenas de mantras (sílabas em sânscrito ou poemas). Eles repetiam o mantra "om dzambala zhalen traia soha" para gerar prosperidade espiritual e material irrestritos.

Diante da stupa, pessoas de qualquer credo podem fazer pedidos para si e para a humanidade. A cerimônia foi conduzida pelo lama Tchimed Rigdzin que, aos 3 anos, foi entregue aos cuidados de um tio, também lama e, aos 12 anos, começou seu treinamento no monastério Khatok, no Tibete.

Lama Tchimed explicou que, durante um retiro no Nepal, o venerável Chagdud Rinpoche insistiu para que ele viesse para o Brasil "para dar vigor às atividades".

- Ao longo do caminho o que parecia ser obstáculo foi se resolvendo.

Ritual: A cerimônia na manhã de sábado durou duas horas e Lama Tchimed ressaltou que "todas as religiões são necessárias".

- Tenho fé e devoção nas religiões porque elas nos dão caminhos e formas legítimas de chegarmos aonde queremos. Sem fé e devoção não é possível recebermos bênçãos.

Lama Tchimed respondeu a uma indagação muito comum, principalmente entre leigos, que desconhecem a filosofia budista. Onde está Buda? Nos templos, nas estátuas?

- Procuramos por ele, mas Buda somos nós. Nossa natureza é Buda. Nossa mente é Buda. Quando meditamos alcançamos a liberação. Buda nos concede bênçãos, nós mantemos votos e somos nós próprios a alcançarmos a liberação. Sem fé e devoção nada funciona. Mas é o lama que nos mostra o caminho do Buda e nós praticamos. Buda liderou a si mesmo e meditou.

Segundo Lama Tchimed, "um lama congrega características especiais, internas, externas e secretas. Seu nome é apenas um nome, mas o que o torna um lama é a não dualidade dos fenômenos internos e externos. Tenho 40 anos de treinamento, vivi em cavernas no Tibete, mas no Brasil levo uma vida confortável, tenho cama, lençóis limpos, televisão, e essa não é a vida de um lama. Por isso não estou pronto."

Ele explicou ainda os benefícios de se ter uma stupa em um local tão próximo de Belo Horizonte.

- Ela é a representação do corpo, fala e mente do Buda. Aqui, todas as pessoas de bom carma podem se reconectar com o mestre Chagdud Rinpoche. E esses benefícios não estão restritos apenas a Casa Branca, pois são espalhados para todos os continentes e pessoas de todas as religiões. Rinpoche está aqui - assegurou.

Lama Tchimed disse que estava muito emocionado com o carinho e dedicação de toda a sanga (pessoas envolvidas naquele grupo) para a construção da stupa.

- Em apenas um ano, o sonho se tornou realidade. A stupa não poderia ser mais perfeita porque contém todos os elementos adequados como mandalas, substâncias sagradas e manuscritos legados por Buda.

Agenda A stupa, que fica no Condomínio Cachoeira das Pedras, em Casa Branca, está aberta à visitação pública.

Publicado em 27 de janeiro de 2009 por Ana Elizabeth Diniz para o jornal O Tempo

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

A falta que eu não faço.


Amanhã à noite faz uma semana que voltei prá casa e ainda não saí prá lugar nenhum. Parece que estou em retiro domiciliar com um horário de acordar, comer e dormir todo doido. Esquisito prá caramba!

Hoje fez um calor danado em BH e só agora à noite é que refrescou. O céu está meio cor-de-rosa, sabe, com aquela cor estranha que aparece no céu quando vai chover. Será que vai chover? Seria bom.

Estou meio devagar, desanimada, lerda. Hoje até achei que podia ser gripe, dengue, corpo doendo, coceiras. Será que é o remédio tibetano do Lama Rigdzin fazendo limpeza? Mas acho que é o calor mesmo. Acho que vou dormir na sala que é mais fresquinho.

Inez mandou algumas fotos, não todas, mas foi o suficiente para sentir saudades. O jeito é me mudar para Porto Alegre e ir ao templo sempre que me der vontade. Ou, melhor ainda, ser moradora do Khadro-Ling e trabalhar prá ficar lá.

Mas agora estou pensando em passar uns tempos no Odsal Ling com Lama Tsering. Ela é meio sargentona, brava e disciplina é o seu nome. Não dá mole mesmo! Mas, quem sabe, é disso que eu estou precisando. Além do mais, São Paulo é mais perto e se encher o saco tenho onde ficar na casa de uma amiga ou volto prá casa. Mas essa é a última hipótese dos meus planos.

O marido parece mais bem humorado hoje. Antes mal me dirigiu a palavra. Problema! Eu é que não vou deixar de fazer minhas coisas por conta de ninguém. Se tiver que perder, que perca.

Ah! Também esse lance de marido vai ver que nem é comigo. Paranóia minha! É pepino de trabalho e coisa de síndico do prédio. Fico louca prá ele largar esse cargo! Vizinho enche o saco mesmo, faz barulho e só sabe reclamar. E eu que me acostumei com o silêncio do Khadro Ling...

Tenho peninha da minha filha que disse que eu fiz muita falta prá ela. Mas também foi só ela. Acho que por ser mulher. Os homens da casa, nem aí!

Minha mãe mal telefonou. E, no fundo, no fundo, estou achando isso tudo muito bom. É sinal que não faço tanta falta assim e posso cair no mundo que tudo fica do mesmo jeito. Ótimo! Não sou tão importante! Já vai cortando meu ego!

Debaixo da mesa do meu computador tem um pernilongo de plantão que morde minhas pernas e pés. No calor então! Ai! Tchau!

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Tempo


Por que demorou tanto? Já faço dez anos de Nyingma. Meu Ngöndro pronto há quatro anos. Fiz outro almejando o Dzogchen com este nome atrativo de Grande Perfeição. O dinheiro nunca aparecia, nunca surgia, nunca sobrava, nunca poupava, nunca patrocinava. E eu insistindo, forçando a barra.

Um dia, desisti. Deixei de lado. Achei que não era para esta vida, que era bad karma. E fui seguindo minhas práticas normaizinhas, simplórias como simples se tornaram minhas vontades. Diria minha tia:

- Seja tudo pelo amor de Deus!

Inventei de fazer mantras curtos de Tara. Facinho... Um milhão e duzentos!
Como tudo muda, tudo é impermanente, o carma mudou também. Good karma. E o dinheiro apareceu. Não um milhão e duzentos, mas o suficiente para viajar meio Brasil ida e volta e passar vinte e dois dias no Khadro Ling vivendo, aprendendo, meditando, contemplando, fotografando, comprando, vendo, comendo, respirando e dormindo. Pouco. Vinte e dois dias. O tempo certo.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Qualidades da natureza da mente

"A mente é o mais sutil e recôndito aspecto da nossa condição relativa, mas não é difícil notar a sua presença. Basta observar os pensamentos e como eles nos enredam no seu fluxo. Se perguntarmos o que é a mente a resposta é o fluxo ininterrupto dos pensamentos que surgem e desaparecem. Ela tem a capacidade de julgar, de raciocinar, de imaginar, etc. dentro dos limites de espaço e tempo. Mas, além da mente, além dos pensamentos, existe o que se denomina 'natureza da mente', o estado verdadeiro da mente, além de quaisquer limitações. Como está além da mente, o que fazer para nos acercarmos de uma compreensão a seu respeito? Tomemos, por exemplo, o espelho. Olhamos no espelho e vemos refletidas as imagens de tudo o que está diante dele, mas não vemos a natureza do espelho. Mas o que significa a 'natureza do espelho'? Quer dizer a capacidade de refletir, descrita como a sua claridade, transparência, pureza, limpidez, condições indispensáveis para que os reflexos possam manifestar-se. A natureza do espelho não é algo que se veja, e a única forma de concebê-la será através das imagens refletidas no espelho. Da mesma forma, apenas conhecemos e vivenciamos o que esteja relacionado ao corpo, à voz e à mente. Contudo, é assim mesmo que somos levados a compreender a sua verdadeira natureza."

"Dzogchen: The Self-Perfected State" by Namkhai Norbu Rinpoche.
Translated from the Italian by John Shane.
Edited by Adriano Clemente.
New York: Arkana, 1989.
Available at Ligmincha's Bookstore.
Traduzido para o português por Tenzin Namdrol

Camiseta branca




"A camiseta não é suja. Ela está suja. Um mestre budista costuma usar esta metáfora para nos lembrar que nossos medos, inseguranças e negatividades não são a nossa mente, mas só estão recobrindo temporariamente nossa lucidez como a sujeira em uma camiseta que pode ser lavada."

Texto escrito dentro do desenho de uma camiseta sob o vidro da mesa da recepção do Khadro-Ling.

Fui preguiçosa, desatenta e obscurecida pelo sono.

Fui preguiçosa, desatenta e obscurecida pelo sono.
Verbalmente me arrependo.
Mentalmente, lamento duplamente
por ter até mesmo vergonha de confessar
e de expressar meus outros erros e deslizes.
Abandono a culpa
mas me envergonho.
Clamo com remorso.
Recomponho meu corpo, fala e mente
e, recitando, me purifico.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Normose - Professor Hermógenes


Entrevista do professor Hermógenes, 86 anos, sobre uma palavra inventada por ele que me pareceu muito procedente: ele disse que o ser humano está sofrendo de normose, a doença de ser normal.
Pessoalmente, não o conheço e nunca participei de nenhuma oficina com ele, mas essa entrevista se encaixa muito bem para mim. Quando digo a alguém que estou ansiosa, aflita, angustiada, tem gente que até grita:
- Pára!
Umas fazem uns discursos tipo auto-ajuda, outras até debocham. Isso é muito desagradável e só faz com que nos sintamos pior, menos normais!
Segue a entrevista.

"Todo mundo quer se encaixar num padrão. Só que o padrão propagado não é exatamente fácil de alcançar. O sujeito 'normal' é magro, alegre, belo, sociável, e bem-sucedido. Bebe socialmente, está de bem com a vida, não pode parecer de forma alguma que está passando por algum problema.
Quem não se 'normaliza', quem não se encaixa nesses padrões, acaba adoecendo. A angústia de não ser o que os outros esperam de nós gera bulimias, depressões, síndromes do pânico e outras manifestações de não enquadramento.
A pergunta a ser feita é: quem espera o quê de nós? Quem são esses ditadores de comportamento a quem estamos outorgando tanto poder sobre nossas vidas? Eles não existem. Nenhum João, Zé ou Ana bate à sua porta exigindo que você seja assim ou assado. Quem nos exige é uma coletividade abstrata que ganha 'presença' através de modelos de comportamento amplamente divulgados. Só que não existe lei que obrigue você a ser do mesmo jeito que todos, seja lá quem for todos. Melhor se preocupar em ser você mesmo.
A normose não é brincadeira. Ela estimula a inveja, a auto-depreciação e a ânsia de querer o que não se precisa.
Você precisa de quantos pares de sapato? Comparecer em quantas festas por mês? Pesar quantos quilos até o verão chegar?
Não é necessário fazer curso de nada para aprender a se desapegar de exigências fictícias. Um pouco de auto-estima basta. Pense nas pessoas que você mais admira: não são as que seguem todas as regras bovinamente, e sim, aquelas que desenvolveram personalidade própria e arcaram com os riscosde viver uma vida a seu modo. Criaram o seu 'normal' e jogaram fora a fórmula, não patentearam, não passaram adiante. O normal de cada um tem que ser original.
Não adianta querer tomar para si as ilusões e desejos dos outros.
É fraude. E uma vida fraudulenta faz sofrer demais.
Eu simpatizo cada vez mais com aqueles que lutam para remover obstáculos mentais e emocionais, e a viver de forma mais íntegra, simples e sincera. Para mim são os verdadeiros normais, porque não conseguem colocar máscaras ou simular situações. Se parecem sofrer, é porque estão sofrendo. E se estão sorrindo, é porque a alma lhes é iluminada.
Por isso divulgo o alerta: a normose está doutrinando erradamente muitos homens e mulheres que poderiam, se quisessem, ser bem mais autênticos e felizes."