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quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Infância


Nesta foto eu tinha 3 anos e meio. Escolhi-a porque quero me lembrar e lembrar a todos que a vida anda. Mais que a fila. Talvez eu não tenha mais nenhuma célula de pele que eu tinha nessa idade. Minhas orelhas foram furadas para colocar brincos. Não. O que está aí é um pingo d'água. Trombei o carro e feri a boca por dentro. Já não é tão bonita. Os dentes de leite caíram e nasceram outros. Os cisos já foram extraídos. Cabelos? Cortados inúmeras vezes! Isso é óbvio, mas ninguém atenta. O corpo cresceu, menstruei, tive filhos, menopausei e estou, aos 57 anos de idade, em climatério, envelhecendo, adoecendo, me curando mais lentamente, me cansando mais facilmente.
Resolvi optar por permitir comentários dos leitores. Preciso aprender a lidar com críticas. Aprender a ser detestada, posto que já fui detestável!
Sofro de pânico, depressão, ansiedade. Acho que desde que nasci, talvez até em vidas prévias. É só prestar atenção no olhar desta criança que um dia fui.
Hoje tomo medicamentos, tenho uma psicanalista-psiquiatra e pareço ser uma pessoa alegre. No fundo, só eu sei.

Ainda carrego o mesmo nome. Vejo uma grande diferença nas minhas formas, na sensações, nas percepções, nas formações mentais, na consciência. A realidade não é mais a mesma. Mudei muito e, se me perguntarem se sou a mesma pessoa, a melhor pergunta será: eu não sou a mesma e nem sou alguém diferente. Eu intersou.

Um comentário:

Angie Pimenta disse...

Este post me despertou,e 10 minutos antes eu pensava em olhar minhas fotos de infância,para frear certos impulsos aos quais não cederei,de pensar com orgulho e com a vaidade;Pensei por um instante,ainda que nem de longe tenha algum dinheiro ou plano de executar uma mudança estética - mas porque as vezes meu rosto me deixa insatisfeita,como se o semblante expressasse velhice desde que eu era criança...

Importante explicitar...a mulher é uma totalidade incrível,mas se traçamos uma síntese bem breve,vemos no gênero feminino: o antes,a puberdade,a vida hormonal e sexual,a gênese dos filhos,e o climatério - por toda a vida material corpórea nos acompanham tais químicas,e numa síntese há tanto nesses 'intervalos',de sentimento,sonhos,e de um mundo que chamamos de 'confusão' ou subjetividade,por faltar adjetivos melhores e não polarizados...talvez porque os do gênero oposto nos classifique,mas ainda bem,que Lispector ao menos registrou bem esse mundo a mais,sem nome ainda que faça jus a grandeza desses 'intervalos'.

Postagem de palavras muito profundas e inspiradoras.

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