O monge Mingyur Rinpoche estará no Brasil em agosto para difundir os ensinamentos do budismo tibetano. Sua agenda inclui ainda palestras sobre o seu livro Joyful Wisdom.
Mingyur Rinpoche estará no Brasil de 24 a 31 de agosto.
No Rio de Janeiro, dará o primeiro nível Dzogchen- Mahamudra, um alto ensinamento do budismo tibetano, duas iniciações (Karma Pakshi e Guru Rinpoche) e duas palestras públicas. Em São Paulo, ensinará a continuação do segundo e do terceiro nível de Dzogchen-Mahamudra a seus alunos, dará uma iniciação pública dos Mil Budas, duas palestras sobre seu livro Joyful Wisdom e outra denominada A Ciência da Meditação. Mais informações no site http://yongeybr.tripod.com/
Qual o meio mais habilidoso de não se cortar nas lâminas afiadas apresentadas pela vida? Mingyur Rinpoche, monge tibetano de 33 anos que hoje reúne milhares de alunos em todo o mundo, ensina no seu mais novo livro, Joyful Wisdom (Alegre Sabedoria), como enfrentar situações difíceis sem sofrer mais do que o necessário.
Nos monastérios onde viveu, ele era sempre o menorzinho da turma. Passava por debaixo das mesas quase sem abaixar a cabeça, corria de lá para cá como um ratinho e zanzava entre os monges mais velhos sem ser percebido. “Quando a sala de meditação estava cheia, vinha sempre alguém na minha direção para se sentar onde eu estava, pois era tão miudinho que o lugar parecia estar vazio”, conta ele.
Talvez por aparentar tamanha fragilidade e sentir-se tão desprotegido, o pequeno Yongey Mingyur sofreu muito. Tinha frequentes ataques de pânico, sentia-se amedrontado com as enormes (para ele) dimensões do monastério e atravessou noites seguidas com pesadelos horrorosos porque achava que alguém fosse acusá-lo de ter quebrado o vidro da sua janela que, um dia, apareceu rachado.
Justamente por isso, ninguém melhor do que ele para saber o que uma pessoa sente diante de uma situação que lhe parece avassaladora.
Seguindo os ensinamentos que lhe foram passados por seus mestres budistas, pouco a pouco Rinpoche começou a entender o processo de como caía nas armadilhas dos seus pensamentos e começava a sofrer. Algo que todos nós fazemos sem darmos conta.
No seu primeiro livro, Alegria de Viver, Descobrindo o Segredo da Felicidade (Campus Elsevier), Mingyur Rinpoche conta como superou seus traumas por meio da meditação. No segundo, o recém-lançado Joyful Wisdom (ainda sem tradução em português), ele explica quais atitudes e recursos temos para nos poupar do sofrimento inútil ou minimizar as dores que não se pode evitar. Acompanhe aqui algumas das preciosas lições de sabedoria do monge tibetano, ensinadas em seus livros, cursos e palestras. Com certeza elas têm a possibilidade de nos conduzir a uma vida mais plena, alegre e cheia de sabedoria.
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1 - Dê um passo para trás
Dizem os ensinamentos budistas: não importa qual a situação, sempre é possível observá-la de outra perspectiva. Uma coisa é olhar para um rio mergulhado dentro dele, outra é vê-lo da margem e vislumbrar melhor o que ele é, o seu curso e onde vai parar. “Quando estamos totalmente imersos dentro da água, ou, de maneira correlata, dos nossos sofrimentos, podemos nos afogar sem perceber”, diz Mingyur Rinpoche. Nessa situação, a água entra pelo nariz, turva os olhos, não conseguimos respirar. “Não há nenhuma vantagem em permanecer assim. Então, nem que for por um instante, precisamos tentar sair da situação para encará-la de outra maneira”, ensina. Pelo menos para inspirar um pouco de oxigênio, se afastar da turbulência, nos fortalecer. Por momentos, podemos ver que não somos o próprio rio, só estamos envolvidos nele. Dar um passo para trás e observar o que acontece de outro ângulo é essencial para desenvolver outra perspectiva."Esse afastamento da situação pode ser muito positivo. A partir desse momento, ela não tem mais o poder de nos arrastar para o fundo do poço”, afirma o mestre. Esse distanciamento nos oferece uma nova visão da realidade, mais verdadeira e abrangente.
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2 - Acolha a dor
“Os ensinamentos de Buda feitos há 2 500 anos não dizem como superar a solidão, o desconforto e o medo que preenchem nossa vida. Muito pelo contrário. Suas lições mostram que só seremos capazes de encontrar a liberdade ao aceitar os sentimentos provocados pelos percalços em que esbarramos no caminho”, relata Mingyur. Dessa maneira, podemos acolher o incômodo que as instabilidades nos trazem, sem deixar que elas possam nos imobilizar completamente. “Percebemos que estamos sofrendo, aceitamos essa condição. No entanto, não somos mais engolidos pela dor.”Uma das formas de facilitar esse processo é a meditação. Durante a prática, também podemos perceber o rio dos nossos pensamentos, e a turbulência emocional que se origina deles. “Mesmo hoje, 20 anos depois de aprender a meditar, ainda estou sujeito à maioria das emoções humanas”, conta Rinpoche. “Dificilmente seria alguém que poderia ser chamado de ‘iluminado’. Me canso, como todo mundo. Algumas vezes estou zangado, frustrado ou aborrecido. Mas agora, tendo aprendido a trabalhar com minha mente, percebi que essas experiências mudaram de nível.” Em vez de ser soterrado por elas, Mingyur aprendeu a acolhê-las e a aproveitar as lições que elas oferecem.
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3 - Não compre o pacote todo
O cérebro humano está constantemente processando diversas faixas de informação por meio dos cinco sentidos. Ele as compara com experiências passadas, presentes e por vir, prepara o corpo para reagir de certa maneira e, ao mesmo tempo, áreas relacionadas com a memória e com a projeção do futuro são ativadas. Para facilitar esse processo de cognição, descarta algumas informações e sintetiza aquelas que selecionou num único pacote. É um sistema complexo que funciona razoavelmente bem para o que precisamos no dia-a-dia. “Mas a maneira de ele funcionar traz uma desvantagem ao ver as coisas como um todo”, diz o monge. “Dessa forma, podemos perder muitos dados importantes que teriam a capacidade de influir e modificar a nossa avaliação de determinada situação.” Ou seja, baseados em informações gerais fornecidas pelo cérebro, pensamos que a situação é de um determinado jeito, mas, na realidade, ela pode ser de outro. Trocando em miúdos, existe uma grande chance de estarmos completamente enganados.
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4 - Desconfie dos seus julgamentos
Uma história contada no livro Joyful Wisdom ilustra bem essa possível interpretação equivocada da realidade. Certa vez, Mingyur Rinpoche estava no museu de cera de Paris, quando viu uma estátua do Dalai-Lama. Era uma reprodução perfeita e vívida do líder espiritual tibetano, embora estivesse ligeiramente na penumbra. Ele então chegou mais perto para olhar todos os detalhes, pois conhece Sua Santidade bastante bem. Estava assim entretido, quando um casal se aproximou. Ele não percebeu sua presença e continuou a atenta observação. Por sua vez, os dois turistas também o observavam detidamente, pensando que Rinpoche fazia parte da cena moldada com cera: o Dalai-Lama com um monge pequenininho ao lado. “Quando finalmente eu me mexi, os dois deram um grito de pavor”, lembra. “Eu, por minha vez, levei um susto com a presença deles. Depois de nos recuperarmos do choque, e darmos boas risadas juntos, me ocorreu que esse episódio fugaz era capaz de revelar um dramático aspecto da nossa condição humana”, conta Rinpoche. “Vemos o que esperamos ver, limitados por nossa própria capacidade de observação. E o que percebemos pode não ser a realidade como ela é.” Nos agarramos em nossas percepções e conclusões, e a defendemos com unhas e dentes, sem perceber que elas têm grande chance de não serem reais. “A realidade pode bem ser diferente daquilo em que acreditamos. Para compreender o que uma situação realmente é, teríamos de estar num estado que Buda chamou de ‘iluminado’”, explica o monge no seu livro. Ou seja, num estado não limitado por nossas percepções errôneas. A iluminação é como se, de repente, se acendesse a luz de um quarto escuro e a gente fosse capaz de ver como ele realmente se apresenta. E assim poder dizer: “Nossa, aquela coisa em que eu tropeçava sempre é uma mesa! Aquela outra coisa que achava que era um criado-mudo é uma cadeira!” Traduzindo: olhamos para a vida dominados por nossas percepções, concepções e emoções. E elas são filtros que distorcem a realidade. Portanto, aceitar que nossa visão tende a ser limitada, e que podemos não ter razão em nossos julgamentos, é sempre um bom começo para diminuir e relativizar as emoções dolorosas provocadas por eles.
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5 - Aceite que sofrer faz parte da vida
Sofremos por diferentes razões. Mas uma das distinções mais cruciais, no entanto, é saber distinguir o sofrimento “natural” do sofrimento “autocriado”. O primeiro inclui tudo aquilo que não podemos evitar na vida. Classificados nos textos budistas como as dores ligadas ao nascimento, envelhecimento, doença e morte, são experiências que fazem parte das transições mais importantes da existência. Eles se apresentam como condições naturais que envolvem o desconforto físico. Mas há outro tipo de sofrimento que se desenvolve com base em avaliações psicológicas autocriadas, experiências que surgem de nossa interpretação de fatos e eventos, como ressentimento ou raiva contra as pessoas que não vivem do jeito que a gente gosta, inveja de quem tem mais do que nós ou uma ansiedade paralisante quando não há a mínima razão para isso. “Esses sentimentos dolorosos gerados por nossas concepções são baseados em histórias que contamos a nós mesmos, fortemente enraizadas em nosso inconsciente, sobre não ser suficientemente bom, rico o bastante, bonito ou seguro na medida certa, ou outras formas parecidas”, diz Rinpoche. O sofrimento autocriado é essencialmente uma invenção mental. “É como eu mesmo pude constatar com relação à minha própria ansiedade e medo, não é menos doloroso do que o natural.”“Mas, em vez de ficar julgando com pensamentos como ‘Por que eu estou sozinho?’, ‘Será que tem um jeito de sair disso?’, ‘Não quero mais sentir tal coisa de jeito nenhum!’, poderíamos olhar para esses sentimentos dolorosos e dizer que há solidão, há ansiedade, há medo, como se essa dor fosse uma condição não pessoal, mas algo que simplesmente faz parte da vida”, aconselha o monge. É uma maneira de compreender a Primeira Nobre Verdade ensinada por Buda: a de que o sofrimento (dukkha) existe e de que é uma condição natural da humanidade.“A palavra dukkha é traduzida no Ocidente, de uma maneira um tanto pesada, por sofrimento. Mas o termo se refere mais a um desconforto, algo que incomoda, aquela coisa que raspa no peito mesmo quando a gente está feliz”, explica o monge tibetano. “Aceitar que essa dor existe e que pertence ao nosso mundo, e não ficar o tempo todo lutando contra ela como algo a ser subjugado, é o primeiro grande passo para cessar aquilo que nos faz sofrer.”
Da Revista Bons Fluidos - Junho de 2009 -Direção de arte • Camilla Sola Texto • Liane Alves
3 comentários:
Para mim,este jovem Mestre é um tanto controverso.
Eu,tive o prazer de marcar um encontro pessoal com o,Venerável Mingyur Rimpoche,devido a duvidas que me assolavam o espírito,e em nada me foi transmitido o que tenho vindo a ler,e a ouvir do próprio.
Afinal,parece que frente há realidade da vida de cada ser,é que se transmite a verdade.
Tudo o resto,pergunto-me:-se não serão meras promessas???
Em relação há vida particular do Mestre Mingyur Rimpoche,realmente vê-se que teve momentos na infância conturbados,mas perfeitamente normais em relação a toda a criança que normalmente passa por uma fase de insegurança,de baixa auto estima.
Mas,na minha mera opinião,e de acordo com o que tenho vindo a ler sobre o Mestre Mingyur Rimpoche,não me parece que se possa afirmar que este Mestre esteja devidamente qualificado para avaliar o sofrimento dos outros a partir do seu.
Existem sofrimentos tão profundamente dolorosos,que não se baseam apenas naquilo que os outros pensam de nós mas,o que os outros fazem de nós...Isto é sofrimento real,não imaginação!!!
Como este,foi o meu caso pessoal,com todo o respeito...respeito o sofrimento que Mingyur Rimpoche passou em criança,(afinal vivemos no mundo relativo,aquilo que para mim é pouco,para outro é tudo),não creio que Mingyur Rimpoche esteja capacitado para avaliar com justiça,as sequelas impostas por terceriros nas nossas vidas.
Contudo admiro o Mestre Mingyur Rimpoche por tentar ajudar os seres humanos,a partir da sua experiência de infância.
Mas,para mim toda ajuda que obtive deste Mestre foram estas palavras:"A SUA VIA SEMPRE FOI MUITO DÍFICL,E VAI CONTINUAR A SER!"
Nada que eu já não soubesse...mas ok...é porque nada mais tinha para me dizer!!!
Talvez fosse tudo. Tenho um grande problema de saúde mental. Hoje, ele é limitante nesse exato momento para eu tomar a decisão de me tornar um monge. Nesse exato momento mesmo. Minha vida sempre foi muitississsimo difícil. Ainda assim, apenas conversar com um grande Mestre não vai me curar. Uma frase bonita dele provavelmente também não vai me curar. Agora a prática das 6 perfeições, acumulação de méritos e sabedoria vão ser de verdadeira ajuda. E estão sendo. Meu sofrimento reduziu bastante, e minha aceitação do problema também. Nesse exato momento estou decidindo minha vida sobre ser um monge Sakya, e sei que ainda assim terei grandes problemas com minha mente.
Hoje eu não sou nada, mas sei perceber o intenso sofrimento das pessoas. Sei que Sua Santidade Dalai Lama também percebe, que é o Mestre que mais estudei. Ele não deve ter passado os problemas que passei mas sei que, apesar de minha mínima realização, ou nenhuma realização, entendo como a Grande Sabedoria nos faz ver o sofrimento e a verdade onde quer que ela esteja.
Jamyang Khyenrab
O zen budismo acima de tudo é exercício, por isso a meditação e acima de tudo, a compreensão que os atos mais banais do cotidiano, podem nos despertar reflexão e que este mundo é sofrimento, o zen budismo ajuda-nos a existir com o sofrimento a partir de uma relação de equilíbrio, mas não de negação, e os mestre são praticas que nos mostram que é possível conquistar esse equilíbrio, mas eles não realizam por nós, por isso não podemos vê-los como detentores de um poder especial que nos trará resposta, as quais nos já temos, pois estão dentro de nós e na capacidade que temos de diluirmos o osso "eu", para que as ilusões da personalidade sejam desfeitas.
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