Diz-se que no momento em que o Buda atingiu a liberação final, ele se perguntou como os seres sencientes, ainda que manifestem a natureza ilimitada, ficam presos ao processo da roda da vida.
Buda compreendeu então que isso acontece em doze etapas e passou a explicar o processo de construção da nossa experiência convencional, do dia-a-dia, através dos 12 elos da originação
dependente. Por outro lado, os 12 elos nos conectam com a natureza última, ou natureza de Buda, pois é dela que nasce este processo.
O primeiro dos 12 elos é avidya, ignorância. É a inteligência dual, separativa, que dá origem às experiências da roda da vida.
O segundo elo é samskara, as marcas mentais sutis que condicionam nossos pensamentos e emoções.
O terceiro é vijnana, o surgimento do primeiro embrião de identidade e das escolhas baseadas nos elos anteriores.
O quarto elo é nama-rupa, ele direciona nosso futuro renascimento em um corpo. O quinto é shadayatana, a mente operando em um corpo embrionário. É aqui que surge o corpo humano.
O sexto elo é spasha, o contato do nosso corpo com o mundo exterior. Na roda da vida ele é representado por um bebê no colo da mãe ou por um casal de namorados. Quando surge spasha, surge o corpo operando no seu universo deludido. Spasha é o contato. O contato do corpo humano com o mundo é feito através dos cinco sentidos (visão, audição, olfato, paladar, tato) e da mente, considerada pelos tibetanos como o sexto sentido.
O sexto elo é spasha, o contato do nosso corpo com o mundo exterior. Na roda da vida ele é representado por um bebê no colo da mãe ou por um casal de namorados. Quando surge spasha, surge o corpo operando no seu universo deludido. Spasha é o contato. O contato do corpo humano com o mundo é feito através dos cinco sentidos (visão, audição, olfato, paladar, tato) e da mente, considerada pelos tibetanos como o sexto sentido.
Os cinco sentidos dão origem a um universo de objetos, conceitos, idéias e temas que são geridos pelo sexto sentido, a mente abstrata, que por sua vez fica limitada à linguagem. Passamos a ver o mundo a partir da limitação dos seis sentidos. Esta prisão ao sexto elo também é um exercício de luminosidade. É uma etapa construída. Podemos fazer assim ou não. Somos livres para fazer diferente.
Na próxima edição, falaremos sobre o sétimo elo.
da revista Bodisatva - http://www.caminhodomeio.org/dialogos/espiritualidade/200-revista-bodisatva-17
da revista Bodisatva - http://www.caminhodomeio.org/dialogos/espiritualidade/200-revista-bodisatva-17
VII - Na dependência do contato, geramos o sétimo elo, a sensação interdependente [VEDANA]. Enquanto o contato conhece um objeto como agradável, desagradável ou neutro, a sensação é o fator mental que experiencia o objeto como agradável, desagradável ou neutro. Sempre que conhecemos um objeto geramos uma sensação agradável, desagradável ou neutra.
VIII - O anseio interdependente [TANHA], o oitavo elo, é uma forma específica de apego, cuja função é alimentar ou ativar o potencial de renascer, deixado em nossa consciência por uma ação de composição precedente. Esse tipo de apego acontece na hora da morte. Nessa ocasião, normalmente, desenvolvemos um forte apego-ao "eu", bem como ao nosso corpo, aos amigos, às posses etc. Esse anseio ativa o potencial para o próximo renascimento.
IX - O nono elo é o agarramento interdependente [UPADANA]. Também é um tipo de apego, porém mais intenso que o anseio. O anseio compara-se ao forte desejo de fumar de alguém que abandonou o vício há pouco; o agarramento seria uma intensificação desse desejo, capaz de levar a pessoa a sair de casa para comprar cigarro. O agarramento interdependente se desenvolve depois do anseio interdependente e ativa com força ainda maior o potencial para o próximo renascimento.
XX - O décimo elo, a existência interdependente [BHAVA], é uma ação mental, ou intenção, causada pelos dois elos anteriores, o anseio e o agarramento. Denomina-se "existência" por ser a causa imediata de um novo renascimento na existência cíclica; exemplifica uma causa que é chamada pelo nome de seu efeito. Intenção, em geral, é uma ação mental e sua natureza determina se a mente é virtuosa ou não. Se o fator mental intenção for virtuoso, a mente que o acompanha, com certeza, será virtuosa; o inverso ocorre no caso de um fator mental não-virtuoso.
Embora anseio e agarramento sejam delusões, na hora da morte eles podem causar uma mente virtuosa como, por exemplo, refugiar-se nos seres sagrados e orar. Nesse caso, o décimo elo - a existência dependente-relacionada - será uma ação virtuosa e, com certeza, ativará alguma marca deixada por ações de composição virtuosas; o indivíduo terá, então, um renascimento afortunado como humano ou deus. Por outro lado, se o anseio e o agarramento causarem mentes não-virtuosas, como a raiva, o décimo elo será uma ação não-virtuosa e ativará um potencial de renascer nos reinos inferiores.
XI - O décimo-primeiro elo é o nascimento interdependente [JATI]. Refere-se ao instante em que a consciência ingressa numa nova existência. No caso de um renascimento como ser humano, esse elo refere-se ao ingresso da consciência num óvulo fertilizado no útero materno.
XII - O processo de envelhecimento [JARAMARANA] inicia-se no segundo instante do novo renascimento e prossegue até a morte. O último elo, o envelhecimento e a morte interdependente, abarca esse processo de envelhecimento e a morte.
Os doze elos interdependentes revelam o processo pelo qual nos mantemos acorrentados a um ciclo descontrolado de renascimentos e mortes, com todos os seus sofrimentos associados. A causa fundamental desse descontrole é o primeiro elo, a ignorância – a mente que se agarra à existência inerente. Sob o jugo da ignorância, cometemos ações virtuosas e não-virtuosas, as causas de nossos renascimentos nos reinos superiores ou inferiores do samsara. Tais ações denominam-se de composição e constituem o segundo elo. Cada ação de composição imprime uma marca em nossa mente e a consciência que recebe essa marca é o terceiro elo [vijnana].
Os três primeiros elos costumam ser denominados causas projetantes, pois atuam como causas que nos arremessam para um futuro renascimento descontrolado. Também são chamados de causas distantes de renascimento, pois muitas vidas podem transcorrer antes que esse renascimento se efetive.
Os próximos quatro elos são efeitos projetados e explicam como iremos nos desenvolver depois que formos projetados em um novo renascimento. O quarto elo indica que os novos agregados, nome e forma, constituem a base de imputação para essa recente identidade. Na dependência dos agregados, forma-se o quinto elo, as seis fontes. Elas são as seis faculdades e dão origem ao sexto elo, o contato. Devido ao contato, geramos sensações agradáveis, desagradáveis ou neutras, que constituem o sétimo elo [vedana].
Os três elos seguintes mostram como o potencial para um próximo renascimento se estabelece e, por isso, denominam-se causas estabelecedoras. Também são chamados de causas próximas, pois antecedem imediatamente o renascimento. Quando a morte se aproxima surgem, na dependência das sensações anteriores, o oitavo e o nono elos - o anseio e o agarramento. Eles ativam o potencial para o próximo renascimento, causando o desenvolvimento do décimo elo, a existência - uma ação mental que nos transporta para o renascimento seguinte.
Os dois últimos elos são chamados de efeitos estabelecidos, pois são os efeitos correspondentes às causas estabelecedoras. Essas três causas ativam um potencial específico de renascer e dão origem ao décimo primeiro elo, o nascimento. O último elo, o envelhecimento e a morte, ocorre como resultado de termos nascido no samsara. Os dois últimos elos englobam todos os sofrimentos do samsara entre o nascimento e a morte.
Se contemplarmos os doze elos nessa seqüência, da ignorância ao envelhecimento e morte, compreenderemos o processo do renascimento cíclico e de seus sofrimentos. Se contemplarmos os doze elos interdependentes na ordem inversa, poderemos rastrear as causas do sofrimento. O último elo reúne dois sofrimentos densos - envelhecimento e morte -, mas traz implícito todos os outros sofrimentos. A causa desses sofrimentos é o renascimento descontrolado, o décimo primeiro elo. O nascimento resulta do décimo elo, a existência, que, por sua vez, é causado pelo agarramento e pelo anseio, o nono e o oitavo elos. Essas duas formas de apego resultam das sensações anteriores, o sétimo elo. As sensações dependem do contato, o sexto elo. Esse, por sua vez, depende das seis fontes, o quinto elo. Essas fontes se desenvolvem a partir do quarto elo, nome e forma, constituído pelos cinco agregados presentes na hora do nascimento. A causa que nos faz assumir tais agregados é uma marca transportada pela consciência. A consciência [vijnana] que recebe essa marca é o terceiro elo. Quem deixa essa marca na consciencia é uma ação de composição, o segundo elo [sanskara]. A força raiz motivadora das ações de composição é a ignorância, a mente que se agarra a existência inerente. Dessa maneira, torna-se possível rastrearmos a causa do sofrimento: a ignorância, o primeiro dos doze elos.
Assim, ao contemplar os doze elos em ordem inversa, compreendemos que o renascimento cíclico é o motivo de nossos repetidos sofrimentos e que a ignorância é a causa fundamental desse doloroso processo. Entender que a causa do sofrimento é o renascimento cíclico, nos permite gerar a mente que deseja escapar de uma vez por todas do samsara. Essa mente denomina-se "mente do definitivo emergir" ou renúncia. Entender que a causa raiz do renascimento cíclico é a ignorância, nos faz compreender que afastar nossa ignorância é o método para alcançar a libertação do samsara. O antídoto direto à ignorância é a sabedoria que realiza a vacuidade. Recorrendo a métodos corretos e investindo esforço persistente poderemos desenvolver essa sabedoria. Se continuarmos, então, a meditar sobre a vacuidade com a motivação de renúncia e bodhichitta, nossa ignorância interdependente, o primeiro dos doze elos, irá diminuir gradualmente e, por fim, cessar.
A cessação completa da ignorância interdependente é a extinção da ignorância. Ao atingi-la, nossas ações deixam de ser controladas por delusões e, portanto, obtemos a extinção interdependente das ações de composição. Isso conduz à extinção interdependente da consciência e assim por diante, até a extinção interdependente do elo envelhecimento e morte. Assim, ao atingir a extinção da ignorância, superamos o renascimento cíclico e interrompemos o continuum do sofrimento. A cessação desse continuum é a libertação, ou o nirvana, o estado além da dor. Existe, portanto, uma segunda série de doze elos, desde a extinção da ignorância até a extinção do envelhecimento e morte. A primeira seqüência denomina-se doze elos interdependentes do lado da delusão; a segunda denomina-se doze elos interdependentes do lado perfeitamente purificado. A primeira explica o desenvolvimento do renascimento cíclico e do sofrimento; a outra explica sua cessação e a conquista da libertação.
Os doze elos do lado perfeitamente purificado são a mera cessação dos doze, elos do lado da delusão. Por exemplo, a extinção interdependente da consciência não é a cessação da consciência em geral, mas a completa cessação da consciência que recebe as marcas das ações de composição. A extinção interdependente da sensação é a cessação das sensações contaminadas por delusões; depois de atingir a libertação, continuamos a ter sensações, entretanto elas não são contaminadas e não resultam em anseio e agarramento na hora da morte.
Quando atingirmos a libertação não seremos mais projetados em renascimentos controlados pelas delusões, contudo, experienciaremos renascimentos incontaminados. O renascimento incontaminado não tem a natureza do sofrimento e não causa sofrimentos futuros. A maioria dos Destruidores de Inimigos hinayana obtém esse tipo de renascimento numa Terra Pura e ali permanece, por longos períodos, em estado de tranqüila paz. Por outro lado, os elevados Bodhisattvas continuam a renascer entre os seres no samsara, a fim de poder beneficiá-los. Esse tipo de renascimento não é contaminado, pois é causado por compaixão, não por delusões. Se um elevado Bodhisattva renascer como ser humano, aos olhos dos outros, ele, ou ela, parecerá um ser humano comum. No entanto, esse Bodhisattva estará totalmente livre dos sofrimentos do samsara e trabalhará com alegria para beneficiar os outros.
Ao contemplar os doze elos interdependentes do lado perfeitamente purificado, nossa mente tornar-se-á mais elevada, pois nos sentiremos capazes de superar, por completo, o sofrimento e suas causas. Faremos isso ao abandonar totalmente a ignorância que se agarra à existência inerente dos fenômenos.
Embora o sutra refira-se extensamente às instruções sobre a natureza convencional dos doze elos interdependentes, seu ensinamento principal é que nenhuma das seqüências de doze elos aparece à excelsa percepção do equilíbrio meditativo de um Ser Superior. Isso ocorre porque elas são verdades convencionais. Ainda que a compreensão dos doze elos seja muito importante, devemos entender que são fenômenos meramente imputados, ou seja, carecem de existência inerente.
CORAÇÃO DA SABEDORIA – Geshe Kelsang Gyatso
VIII - O anseio interdependente [TANHA], o oitavo elo, é uma forma específica de apego, cuja função é alimentar ou ativar o potencial de renascer, deixado em nossa consciência por uma ação de composição precedente. Esse tipo de apego acontece na hora da morte. Nessa ocasião, normalmente, desenvolvemos um forte apego-ao "eu", bem como ao nosso corpo, aos amigos, às posses etc. Esse anseio ativa o potencial para o próximo renascimento.
IX - O nono elo é o agarramento interdependente [UPADANA]. Também é um tipo de apego, porém mais intenso que o anseio. O anseio compara-se ao forte desejo de fumar de alguém que abandonou o vício há pouco; o agarramento seria uma intensificação desse desejo, capaz de levar a pessoa a sair de casa para comprar cigarro. O agarramento interdependente se desenvolve depois do anseio interdependente e ativa com força ainda maior o potencial para o próximo renascimento.
XX - O décimo elo, a existência interdependente [BHAVA], é uma ação mental, ou intenção, causada pelos dois elos anteriores, o anseio e o agarramento. Denomina-se "existência" por ser a causa imediata de um novo renascimento na existência cíclica; exemplifica uma causa que é chamada pelo nome de seu efeito. Intenção, em geral, é uma ação mental e sua natureza determina se a mente é virtuosa ou não. Se o fator mental intenção for virtuoso, a mente que o acompanha, com certeza, será virtuosa; o inverso ocorre no caso de um fator mental não-virtuoso.
Embora anseio e agarramento sejam delusões, na hora da morte eles podem causar uma mente virtuosa como, por exemplo, refugiar-se nos seres sagrados e orar. Nesse caso, o décimo elo - a existência dependente-relacionada - será uma ação virtuosa e, com certeza, ativará alguma marca deixada por ações de composição virtuosas; o indivíduo terá, então, um renascimento afortunado como humano ou deus. Por outro lado, se o anseio e o agarramento causarem mentes não-virtuosas, como a raiva, o décimo elo será uma ação não-virtuosa e ativará um potencial de renascer nos reinos inferiores.
XI - O décimo-primeiro elo é o nascimento interdependente [JATI]. Refere-se ao instante em que a consciência ingressa numa nova existência. No caso de um renascimento como ser humano, esse elo refere-se ao ingresso da consciência num óvulo fertilizado no útero materno.
XII - O processo de envelhecimento [JARAMARANA] inicia-se no segundo instante do novo renascimento e prossegue até a morte. O último elo, o envelhecimento e a morte interdependente, abarca esse processo de envelhecimento e a morte.
Os doze elos interdependentes revelam o processo pelo qual nos mantemos acorrentados a um ciclo descontrolado de renascimentos e mortes, com todos os seus sofrimentos associados. A causa fundamental desse descontrole é o primeiro elo, a ignorância – a mente que se agarra à existência inerente. Sob o jugo da ignorância, cometemos ações virtuosas e não-virtuosas, as causas de nossos renascimentos nos reinos superiores ou inferiores do samsara. Tais ações denominam-se de composição e constituem o segundo elo. Cada ação de composição imprime uma marca em nossa mente e a consciência que recebe essa marca é o terceiro elo [vijnana].
Os três primeiros elos costumam ser denominados causas projetantes, pois atuam como causas que nos arremessam para um futuro renascimento descontrolado. Também são chamados de causas distantes de renascimento, pois muitas vidas podem transcorrer antes que esse renascimento se efetive.
Os próximos quatro elos são efeitos projetados e explicam como iremos nos desenvolver depois que formos projetados em um novo renascimento. O quarto elo indica que os novos agregados, nome e forma, constituem a base de imputação para essa recente identidade. Na dependência dos agregados, forma-se o quinto elo, as seis fontes. Elas são as seis faculdades e dão origem ao sexto elo, o contato. Devido ao contato, geramos sensações agradáveis, desagradáveis ou neutras, que constituem o sétimo elo [vedana].
Os três elos seguintes mostram como o potencial para um próximo renascimento se estabelece e, por isso, denominam-se causas estabelecedoras. Também são chamados de causas próximas, pois antecedem imediatamente o renascimento. Quando a morte se aproxima surgem, na dependência das sensações anteriores, o oitavo e o nono elos - o anseio e o agarramento. Eles ativam o potencial para o próximo renascimento, causando o desenvolvimento do décimo elo, a existência - uma ação mental que nos transporta para o renascimento seguinte.
Os dois últimos elos são chamados de efeitos estabelecidos, pois são os efeitos correspondentes às causas estabelecedoras. Essas três causas ativam um potencial específico de renascer e dão origem ao décimo primeiro elo, o nascimento. O último elo, o envelhecimento e a morte, ocorre como resultado de termos nascido no samsara. Os dois últimos elos englobam todos os sofrimentos do samsara entre o nascimento e a morte.
Se contemplarmos os doze elos nessa seqüência, da ignorância ao envelhecimento e morte, compreenderemos o processo do renascimento cíclico e de seus sofrimentos. Se contemplarmos os doze elos interdependentes na ordem inversa, poderemos rastrear as causas do sofrimento. O último elo reúne dois sofrimentos densos - envelhecimento e morte -, mas traz implícito todos os outros sofrimentos. A causa desses sofrimentos é o renascimento descontrolado, o décimo primeiro elo. O nascimento resulta do décimo elo, a existência, que, por sua vez, é causado pelo agarramento e pelo anseio, o nono e o oitavo elos. Essas duas formas de apego resultam das sensações anteriores, o sétimo elo. As sensações dependem do contato, o sexto elo. Esse, por sua vez, depende das seis fontes, o quinto elo. Essas fontes se desenvolvem a partir do quarto elo, nome e forma, constituído pelos cinco agregados presentes na hora do nascimento. A causa que nos faz assumir tais agregados é uma marca transportada pela consciência. A consciência [vijnana] que recebe essa marca é o terceiro elo. Quem deixa essa marca na consciencia é uma ação de composição, o segundo elo [sanskara]. A força raiz motivadora das ações de composição é a ignorância, a mente que se agarra a existência inerente. Dessa maneira, torna-se possível rastrearmos a causa do sofrimento: a ignorância, o primeiro dos doze elos.
Assim, ao contemplar os doze elos em ordem inversa, compreendemos que o renascimento cíclico é o motivo de nossos repetidos sofrimentos e que a ignorância é a causa fundamental desse doloroso processo. Entender que a causa do sofrimento é o renascimento cíclico, nos permite gerar a mente que deseja escapar de uma vez por todas do samsara. Essa mente denomina-se "mente do definitivo emergir" ou renúncia. Entender que a causa raiz do renascimento cíclico é a ignorância, nos faz compreender que afastar nossa ignorância é o método para alcançar a libertação do samsara. O antídoto direto à ignorância é a sabedoria que realiza a vacuidade. Recorrendo a métodos corretos e investindo esforço persistente poderemos desenvolver essa sabedoria. Se continuarmos, então, a meditar sobre a vacuidade com a motivação de renúncia e bodhichitta, nossa ignorância interdependente, o primeiro dos doze elos, irá diminuir gradualmente e, por fim, cessar.
A cessação completa da ignorância interdependente é a extinção da ignorância. Ao atingi-la, nossas ações deixam de ser controladas por delusões e, portanto, obtemos a extinção interdependente das ações de composição. Isso conduz à extinção interdependente da consciência e assim por diante, até a extinção interdependente do elo envelhecimento e morte. Assim, ao atingir a extinção da ignorância, superamos o renascimento cíclico e interrompemos o continuum do sofrimento. A cessação desse continuum é a libertação, ou o nirvana, o estado além da dor. Existe, portanto, uma segunda série de doze elos, desde a extinção da ignorância até a extinção do envelhecimento e morte. A primeira seqüência denomina-se doze elos interdependentes do lado da delusão; a segunda denomina-se doze elos interdependentes do lado perfeitamente purificado. A primeira explica o desenvolvimento do renascimento cíclico e do sofrimento; a outra explica sua cessação e a conquista da libertação.
Os doze elos do lado perfeitamente purificado são a mera cessação dos doze, elos do lado da delusão. Por exemplo, a extinção interdependente da consciência não é a cessação da consciência em geral, mas a completa cessação da consciência que recebe as marcas das ações de composição. A extinção interdependente da sensação é a cessação das sensações contaminadas por delusões; depois de atingir a libertação, continuamos a ter sensações, entretanto elas não são contaminadas e não resultam em anseio e agarramento na hora da morte.
Quando atingirmos a libertação não seremos mais projetados em renascimentos controlados pelas delusões, contudo, experienciaremos renascimentos incontaminados. O renascimento incontaminado não tem a natureza do sofrimento e não causa sofrimentos futuros. A maioria dos Destruidores de Inimigos hinayana obtém esse tipo de renascimento numa Terra Pura e ali permanece, por longos períodos, em estado de tranqüila paz. Por outro lado, os elevados Bodhisattvas continuam a renascer entre os seres no samsara, a fim de poder beneficiá-los. Esse tipo de renascimento não é contaminado, pois é causado por compaixão, não por delusões. Se um elevado Bodhisattva renascer como ser humano, aos olhos dos outros, ele, ou ela, parecerá um ser humano comum. No entanto, esse Bodhisattva estará totalmente livre dos sofrimentos do samsara e trabalhará com alegria para beneficiar os outros.
Ao contemplar os doze elos interdependentes do lado perfeitamente purificado, nossa mente tornar-se-á mais elevada, pois nos sentiremos capazes de superar, por completo, o sofrimento e suas causas. Faremos isso ao abandonar totalmente a ignorância que se agarra à existência inerente dos fenômenos.
Embora o sutra refira-se extensamente às instruções sobre a natureza convencional dos doze elos interdependentes, seu ensinamento principal é que nenhuma das seqüências de doze elos aparece à excelsa percepção do equilíbrio meditativo de um Ser Superior. Isso ocorre porque elas são verdades convencionais. Ainda que a compreensão dos doze elos seja muito importante, devemos entender que são fenômenos meramente imputados, ou seja, carecem de existência inerente.
CORAÇÃO DA SABEDORIA – Geshe Kelsang Gyatso
Nenhum comentário:
Postar um comentário