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quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Adversidades

"Se sua compaixão não inclui você, ela é incompleta."
Três horas da madrugada.
Há momentos em minha vida em que os problemas e perplexidades me deixam tão atônita que, se não fossem os Budas e Bodisatvas a quem presto homenagem, a quem abraço efusiva e afetuosamente, não sei qual seria minha atitude, não sei se teria forças para prosseguir resoluta, perseverante, firme e constante.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Dzongsar Jamyang Khyentse

"A visão que atualmente predomina sobre o budismo está repleta de estereótipos, fantasias e malentendidos. Em 'O Que Faz Você Budista' o mestre tibetano Dzongsar Jamyang Khyentse sintetiza a essência do budismo em quatro princípios básicos, cada um dos quais representa um desafio para o leitor: Você pode aceitar de que todas as coisas são impermanentes? Pode aceitar que todas as emoções conduzem ao sofrimento e que nenhuma emoção é totalmente prazeirosa? Pode aceitar que todos os fenômenos são ilusórios e vazios? Pode aceitar que o despertar está além  de todos os conceitos e não é outra coisa que a liberação da ignorância? Segundo Khyentse, só quando você for capaz de responder a estas perguntas com um inequívoco 'sim', você pode considerar-se um verdadeiro budista. Neste livro provocante, um dos lamas budistas tibetanos mais inovadores nos anima a examinar nossas crençase pressupostos mais profundos e, mais uma vez, nos convida a explorar a senda do verdadeiro budismo."

sábado, 9 de novembro de 2013

Soria Para o Medo - de Chögyam Trungpa Rinpoche - Pequenas marcações.


"Quando somos ameaçados, é muito fácil reagirmos com raiva. Quando somos agredidos, queremos devolver a agressão."

"Não tendo nada a perder, não podemos ser derrotados, Não tendo nada a temer, não podemos ser dominados."

"Se você tem medo de se enxergar, talvez utilize a espiritualidade ou a religião como uma forma de se olhar sem na verdade enxergar absolutamente nada sobre si."

"A condição de guerreiro aqui refere-se à coragem e ao destemor fundamentais."

"Precisamos abandonar a noção de um salvador divino, o que não tem nada a ver com qualquer religião que tenhamos, mas refere-se à ideia de quelguém ou algo que irá nos salvar sem que precisemos passar por qualquer sofrimento."

"Se você está mesmo interessado em se trabalhar, não pode permitir esse tipo de vida dupla, adotando ideias, técnicas e conceitos de todos os tipos, simplemente para fugir de si mesmo. Isto é o que chamamos de materialismo espiritual: a esperança de que você possa ter um bom sono, sob o efeito de sedativos e que, ao acordar, tudo estará resolvido, tudo estará curado. Assim, você não terá que passar por qualquer sofrimento ou problema."

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Meditação e o hábito de fumar.


In English: http://www.wildmind.org/blogs/on-practice/is-your-meditation-smoking-2

Quando eu estava ensinando meditação na Universidade de Montana tive uma aluna chamada Connie que estava muito preocupada com seu hábito de fumar. Na minha juventude, eu às vezes usei baseados ​​para fumar em festas e às vezes eu até comprei tabaco para que eu pudesse fazer o meu próprio e não depender de outras pessoas o tempo todo. Mas eu nunca fiquei viciado e por isso eu não tinha nenhuma experiência que eu pudesse compartilhar em desistir da erva do mal. Mas eu encorajo as pessoas a estarem atentas, e então, eu sugeri que ela realmente prestasse atenção às sensações e padrões mentais que surgiam cada vez que ela estava fumando um cigarro . Parecia uma tentativa difícil, mas era tudo que eu tinha.

Ela relatou que depois de ouvir esta sugestão, ela estava fumando muito menos. Levou mais tempo para fumar cada cigarro, e era menos provável que acendesse outro de novo imediatamente depois de terminar um cigarro. Eu me lembro que ela disse que também estava mais consciente do dissabor de fumar.

Enfim, lembrei-me de quando me deparei com uma anedota onde um fumante se aproxima de um monge budista para um conselho:

Um jovem que está em retiro e faz uma pergunta ao monge superior durante a entrevista da meditação diária.

"Eu sinto um grande desejo pelo tabaco. Estaria tudo bem se eu fumar quando eu meditar?”, ele pergunta.

O monge superior fica chocado com a sugestão e dá ao jovem um sermão sobre a necessidade de praticar a atenção plena .

No dia seguinte, o jovem retorna com outra pergunta.

"Já que eu gasto muito tempo fumando, eu estava pensando, você acha que estaria tudo bem se quando estou fumando, eu posso fumar conscientemente e transformar isso em uma prática de meditação?”

O monge superior pensou que esta era uma sugestão muito criativa e deu ao jovem a sua bênção.

Claro que, a partir de um ponto de vista o resultado é o mesmo, se você fuma durante a meditação ou medita enquanto fuma.

A razão pela qual esta história funciona é porque a palavra “meditação” está sendo usada de duas formas diferentes. O monge  inicialmente ouviu a palavra meditação como se referindo a uma atividade formal em que um esforço está sendo feito para trazer a mente a um ponto de concentração e no qual estados mentais distraídos estão sendo levados embora. Um desses estados mentais distraídos que estão sendo levados é o desejo, e então a ideia de fumar durante a meditação é um anátema. Para fumar durante a meditação (neste sentido) significaria ceder ao desejo ao invés de dar-se ao desejo.

Na segunda vez das conversas sobre meditação, o fumante coloca-as no contexto das atividades diárias, e a palavra significa algo mais como “uma abordagem atenta a tudo o que você faz”.

Se vamos fazer as coisas que envolvem o desejo, como o tabagismo, então é um passo em frente para fazê-lo com mais atenção. Mas não seria um passo em frente para tomar algo como meditação sentada e introduzir uma atividade como o tabagismo. Tome a meditação adicionando o ato de fumar, e você está indo na direção do desejo. Tome fumar adicionando a meditação, e você está indo na direção da consciência e não do desejo.

Mas isso funciona como uma técnica para reduzir a dependência do tabaco? Na verdade, sim. Uma pessoa me escreveu da Austrália para partilhar a sua experiência de trabalho em uma unidade de reabilitação de drogas.

Eu tenho ensinado esta técnica em um grupo para ajudar os clientes a trazer a consciência do vício de fumar e dependência comportamental nos últimos cinco anos. Tem sido um grande sucesso com muita gente desistir e se não, certamente trazendo uma grande quantidade de consciência de comportamento. Também aplicamos esta prática quando falamos sobre como mudar os padrões de comportamento no uso de drogas.

E um estudo recente mostrou que a meditação reduz o consumo de tabaco em 60%.

Daily Purification: A Short Vajrasattva Practice - Kyabje Lama Zopa Rinpoche


Vajrasattva (Tib. Dordje Sempa) with consort (Tib. Dordje Niema)

By Kyabje Lama Zopa Rinpoche at Soquel, CA USA 1999 (Archive # 1055, Last Updated Nov 1, 2011)
Just Reprinted!

In Liberation in the Palm of Your Hand Pabonka Rinpoche explains how the great Atisha would purify any negativity, no matter how small, immediately. Even in public or when riding his horse, as soon as he noticed a breach of his ethics, he would stop what he was doing, drop to one knee and then and there, purify it with the four opponent powers—the powers of dependence, regret, remedy and restraint. Atisha practiced purification in this way because of his deep realization of the psycho-mechanics of negative karma, especially its four fundamentals: negative karma is certain to bring suffering; it multiplies exponentially; if eradicated, it cannot bring its suffering result; and once created, it never simply disappears. Through the study and practice of Dharma, we should try to attain Atisha’s level of understanding. In the meantime, we should try to practice as he did. Therefore, out of his great compassion, Lama Zopa Rinpoche has composed this short Vajrasattva practice and requested that it be published in a pocket-sized format that is easy for people to carry round and have available at all times. Thus, we can be like the great Atisha—whenever we notice we have broken a vow or created any other kind of negative karma, we can whip out our little Vajrasattva book and purify that negativity with the four opponent powers without a second’s delay.

The Power of Dependence

Taking Refuge
"I forever take refuge in Buddha, Dharma and Sangha,
I take refuge in all the three vehicles,
In the dakas and dakinis of secret mantra yoga,
In the heroes and heroines, the gods and goddesses
And in the bodhisattvas of the ten bhumis.
But most of all, I take refuge in my holy guru forever." (3x)

The Power of Regret

First recall the definition of negative karma: any action that results in suffering, usually an action motivated by
ignorance, attachment or aversion.
"Almost every action I do, twenty-four hours a day, is motivated by worldly concern, attachment to the comfort of this life. It is like this from birth to death in this life and has been like that from beginningless rebirths. Nearly every action I have ever created has been non-virtuous, the cause of suffering. Not only that, but continuously I have also been breaking my pratimoksha, bodhisattva and tantric vows. Worst of all, I have created the heaviest of negative karmas in relation to my virtuous friends-getting angry at them, generating wrong views, having non-devotional thoughts towards them, harming their holy body and disobeying their advice. Having these negative imprints on my mental continuum is unbearable. It's as if I've swallowed a lethal poison. I must practice the antidote right away and purify all this negative karma immediately, without a second's delay." In this way, generate strong feelings of urgency and regret.

Remembering Impermanence and Death

"Many people my age or younger have died. It's a miracle that I'm still alive and have this incredible
opportunity to purify my negative karma. Death is certain but its time is most uncertain. If I were to die right
now, I would definitely be born in the lower realms. Because I could not practice Dharma there I would remain in the lower realms for countless eons. Therefore, how unbelievably fortunate I am to be able to purify my negative karma right now, without even a second's delay, by practicing the Vajrasattva meditation-recitation."

Generating Bodhicitta

"But I am not practicing this Vajrasattva purification for myself alone-the purpose of my life is to release all
hell beings, pretas, animals, humans, asuras, suras and intermediate state beings from all their suffering and
its causes and lead them to unsurpassed enlightenment. In order to do this I must first reach enlightenment
myself. Therefore, I must purify all my negative karma immediately by practicing the Vajrasattva
meditation-recitation."

Visualization

"Above the crown of my head, seated upon a lotus and moon seat, are Vajrasattva father and mother. Their
bodies are white; each has one face and two arms. He holds a dorje and bell, she a curved knife and skull
cup. They are embracing each other. The father is adorned with six mudras, the mother with five. He sits in
the vajra posture, she in the lotus. Vajrasattva is my root guru, the holy mind of all the buddhas, the dharmakaya, who out of his unbearable com-passion, which embraces me and all other sentient beings, appears in this form to purify me and all others."

In this way, your mind is transformed into guru devotion-the root of all blessings and realizations of the path to enlightenment.

"On a moon disc at Vajrasattva's heart stands a hum encircled by a garland of the hundred syllable mantra. A powerful stream of white nectar flows from the hum and mantra garland and I am cleansed of all sickness, spirit harm, negative karma and obscurations."

The Power of the Remedy: Mantra Recitation

om vajrasattva samaya
manupalaya, vajrasattva denopa titha,
dido me bhava, suto kayo me bhava, supo kayo me bhava,
anurakto me bhava, sarva siddhi me prayatsa,
sarva karma su tsame, tsittam shriyam kuru hum,
ha ha ha ha ho, bhagavan
sarva tathagata, vajra mame muntsa,
vajra bhava maha samaya sattva ah hum phet

The meaning of the mantra

You, Vajrasattva, have generated the holy mind (bodhicitta) according to your
pledge (samaya). Your holy mind is enriched with the simultaneous holy actions of releasing transmigratory
beings from samsara (the circling, suffering aggregates). Whatever happens in my life-happiness or suffering,
good or bad-with a pleased, holy mind, never give up but please guide me. Please stabilize all happiness,
including the happiness of the upper realms, actualize all actions and sublime and common realizations, and
please make the glory of the five wisdoms abide in my heart.

Recite the mantra seven or twenty-one times or as many times as possible, practicing the three techniques of
downward cleansing, upward cleansing and instantaneous cleansing.

Generating Faith in Having Been Purified

"From the crown of my head, Guru Vajrasattva says, 'Son of the race2, your negativities, obscurations and
broken and damaged pledges have been completely purified.'"
Generate strong faith that they have been completely purified just as Guru Vajrasattva has said.
The power of Refraining from Creating Negativities Again
"Before Guru Vajrasattva, I vow never again to commit those negative actions from which I can easily abstain and not to commit for a day, an hour or at least a few seconds those negative actions from which I find it difficult to abstain."

Absorption

Guru Vajrasattva is extremely pleased with your pledge. Vajrasattva father and mother melt into light and
dissolve into you. Your body, speech and mind become inseparably one with Guru Vajrasattva's holy body,
speech and mind.

Dedication

"In emptiness, there is no I, creator of negative karma; there is no action of creating negative karma; there is
no negative karma created."
Place your mind in that emptiness for a little while. In this way, look at all phenomena as empty-they do not
exist from their own side. With this awareness of emptiness, dedicate the merits.
"Due to all the merits of the three times collected by me, buddhas, bodhisattvas and all other sentient beings
(which appear to be real, from there, but which are empty), may the I (which appears to be real but is empty) achieve Guru Vajrasattva's enlightenment (which appears to be real but is empty) and lead all sentient beings (who appear to be real but are totally empty) to that enlightenment (which appears to be real but is empty) by myself alone (which appears to be real but is also totally empty, non-existent from there).

"May the precious bodhicitta, the source of all happiness and success for myself and all other sentient
beings, be generated within my own mind and in the minds of all sentient beings without even a second's
delay; and may that which has been generated be increased. May I and all other sentient beings have Lama Tsongkhapa as our direct guru in all our lifetimes, never be separated for even a second from the pure path that is greatly praised by the conqueror buddhas, and actualize the complete path-the three principal paths and the two stages of Highest Yoga Tantra-the root of which is guru devotion, within our minds as quickly as possible. Just as the brave Manjushri and Samantabhadra realized things as they are, I dedicate all these virtues in the best way, that I may follow after them. Whatever dedication the three time victorious ones gone to bliss have admired as best, in the same way, I also perfectly dedicate all these roots of virtue so that I may perform good works."
ཨོཾ་བཛྲ་སཏྭ་ས་མ་ཡ་མ་ནུ་པ་ལ་ཡ།
བཛྲ་སཏྭ་ཏྭེ་ནོ་པ་ཏིཥྛ།
དྲྀ་ཌྷོ་མེ་བྷ་བ།
སུ་ཏོ་ ཥྱོ་མེ་བྷ་བ།
སུ་པོ་ ཥྱོ་མེ་བྷ་བ།
ཨ་ནུ་ར་ཀྟོ་མེ་བྷ་བ།
ས་རྦ་སི་དྡྷི་མེ་པྲ་ཡ་ཙྪ།
ས་རྦ་ཀ་རྨ་སུ་ཙ་མེ ཙི་ཏྟཾ༌ཤེ་ཡཿ་ཀུ་རུ་ཧཱུྂ།
ཧ་ཧ་ཧ་ཧ་ཧོཿ
བྷ་ག་བ་ན
ས་རྦ
ཏ་ཐཱ་ག་ཏ་བཛྲ་མཱ་མེ་མུ་ཉྩ།
བཛྲཱི་བྷ་བ་མ་ཧཱ་ས་མ་ཡ་སཏྭ
ཨཱཿ །། ཧཱུྂ ཕ་ཊ

oṃ
O Vajrasattva honour the agreement!
Reveal yourself as the vajra-being!
Be steadfast for me!
Be very pleased for me!
Be fully nourishing for me!
Be passionate for me!
Grant me all success and attainment!
And in all actions make my mind more lucid!
hūṃ
ha ha ha ha hoḥ
O Blessed One, vajra of all those in that state, don't abandon me!
O being of the great contract be a vajra-bearer!
āḥ

(The most excellent exclamation of praise)
Vajrasattva’s Samaya: O Vajrasattva, protect the Samaya
May you remain firm in me
Grant me complete satisfaction
Grow within me (increase the positive within me)
Be loving towards me
Grant me all the siddhis
Show me all the karmas (activities)
Make my mind good, virtuous and auspicious!
(The heart essence, seed syllable of Vajrasattva)
(Symbolises the four immeasurables, the four
empowerments, the four joys, and the four kayas)
(The exclamation of joy at this accomplishment)
O blessed one, who embodies all the Vajra Tathagatas
Do not abandon me
Grant me the realization of the Vajra Nature
O great Samayasattva
Make me one with you

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Gostar ou não, é irrelevante!


sábado, 26 de outubro de 2013

A Questão Tibetana


Protesto de manifestantes favoráveis à autonomia do Tibet

"O Tibet é uma região localizada ao sudoeste da China cercada por um conjunto de países vizinhos. Índia, Mianmar, Butão e Nepal fazem fronteira com a região sul tibetana. Na parte oeste, faz limite com a conflituosa região de Jammu e Caxemira. Originária de uma antiga dinastia militar, o Tibet, desde o século VII, forma um império pacífico guiado pelos preceitos religiosos budistas. O principal cargo político tibetano é ocupado por um Dalai-lama, que acumula funções religiosas e políticas.
A Revolução Chinesa de 1949 inaugurou os conflitos atuais envolvendo a região do Tibet. A instalação do movimento liderado por Mao Tsé-Tung, buscou reorganizar os costumes e tradições tibetanas em favor dos princípios ideológicos do comunismo maoísta. Em 1951, a assinatura do Acordo dos 17 Pontos, definindo as relações entre China e Tibet, parecia direcionar as questões políticas para uma solução diplomática. No entanto, a orientação militar ofensiva da China arrastou este problema por mais de meio século, tornando a autonomia política do Tibet uma verdadeira incógnita.
Em 1959, o general chinês Chiang Chin-wu convocou o Dalai Lama para acompanhar uma festividade das autoridades chinesas na cidade de Lhasa, capital do Tibet, desde que o mesmo não contasse com nenhum tipo de segurança pessoal. O conhecimento público do estranho convite representou uma ameaça velada à integridade física do líder religioso. Em resposta, o Dalai pediu asilo às autoridades indianas. Esse foi um breve exemplo das tensões que envolveram, no último século, a China e o Tibet.
Ao longo da História, a região do Tibet sofreu com a ocupação de diversos povos e impérios. Na dinastia sino-mongol Yuan (1279-1368), estabelecida pelos reis guerreiros Gengis Khan e Kublai Khan, firmaram-se acordos para que a autonomia política da região fosse preservada. Depois de manter relações mornas com a dinastia Ming (1386-1644), o Tibet contou com a proteção militar chinesa desde a ascensão do culto budista na dinastia Quing (1644-1911).
Com o fim da era imperial chinesa, em 1911, a região tibetana preservou sua independência política. Um dos mais claros exemplos desta soberania foi notado durante os conflitos da Segunda Guerra Mundial. Mesmo com a pressão imposta pelos Aliados (China, França, Inglaterra, União Soviética e Estados Unidos), o governo tibetano recusou-se a permitir a passagem de tropas, material militar e utensílios em seus territórios.
Em 1963, tendo oficialmente ganhado o status de Região Autônoma, o Tibet ainda viveu outras situações de conflito com a China. No fim dos anos de 1980, o massacre na Praça da Paz Celestial e a entrega do prêmio Nobel da Paz ao Dalai-Lama fizeram com que a questão da autonomia do Tibet tivesse repercussão internacional. Entretanto, desde a década de 1990, a China tenta justificar a ocupação ao território devido o crescimento econômico oferecido à região nos últimos dez anos e à presença massiva de chineses da etnia han no local.
No decorrer da política opressiva dos chineses, vários tibetanos passaram a buscar o exílio. Cerca de 120 mil tibetanos vivem em países estrangeiros, sendo que a grande maioria encontra-se em território indiano. As autoridades políticas do Tibet também vivem em situação de exílio. O chamado “governo no exílio” conta com três poderes e tem sua sede fixada na cidade de Dharamshala, região norte da Índia.
A situação do Tibet abarca um confronto de perspectivas contrárias entre autoridades tibetanas e chinesas. Por um lado as autoridades chinesas reivindicam sua intervenção pelo progresso e benefícios materiais concedidos ao Tibet. Em contrapartida, os líderes tibetanos temem que a inflexibilidade política chinesa ameace as tradições religiosas e a liberdade do povo tibetano."

Por Rainer Sousa - Graduado em História

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

FALHAS DE MEMÓRIA SE ACENTUAM NA MEIA-IDADE - SAIBA COMO EVITAR.


IARA BIDERMAN colaboração para a Folha de S. Paulo RACHEL BOTELHO da Folha de S.Paulo
Um: as chaves de casa. Dois: o celular. Três: a agenda. Quatro: a senha do banco. Cinco: o problema. A senha mudou e por nada nesse mundo você consegue se lembrar da combinação de números e letras que deve digitar. Mas lembra-se perfeitamente bem de estar na meia-idade (mais de 40 e menos de 60 anos) e de já ter ouvido que as perdas cognitivas começam nessa fase da vida. Isso é verdade e, mais importante, inexorável?


Segundo Cathryn Jakobson Ramin, autora do livro "Esculpido na Areia" (352 págs, R$ 49,90, ed. Objetiva), lançado recentemente no Brasil, a perda da memória nessa fase da vida é um fato. Ao perceber que sua memória estava falhando bem mais do que o razoável para uma profissional ativa e que acabara de chegar à meia-idade, a jornalista norte-americana decidiu investigar o fato. Após saber que seus amigos também passavam pelo problema, testou métodos e tratamentos para desenvolver essa função cerebral. No livro, ela conta sobre a descoberta de que é possível preservar e até resgatar a memória perdida. Para a fonoaudióloga Ana Alvarez, autora de "Deu um Branco" (144 págs., R$ 22,90, ed. Record), entre a quarta e a quinta década de vida a velocidade para prestar atenção, processar informações simultâneas e acessar lembranças diminui. "Começamos a ter uma perda da capacidade dos órgãos de sentidos. É, por exemplo, o que ocorre com a audição, que “perde" informações, principalmente se há estímulos auditivos simultâneos. O deficit no recebimento das informações resulta em menor fixação na memória." Segundo ela, todo o processo começa junto: a menor velocidade do processamento sensorial e a necessidade de prestar mais atenção quando se está recebendo informações sonoras ou visuais demanda mais esforço para armazenar, fixar e evocar lembranças. "As funções cognitivas perdem velocidade, o processo neural começa a não ser como antes. Mas isso pode ser revertido: é possível criar novas conexões neurais com exercícios específicos e medidas como garantir a qualidade do sono", afirma Alvarez, que trabalha com reabilitação cognitiva de pacientes em São Paulo. "O cérebro é um órgão plástico. Se você o faz trabalhar, criam-se novas conexões neuronais. Isso aumenta a reserva cognitiva do indivíduo, incluindo a memória", diz Katia Osternack, neuropsicóloga e professora da Universidade Anhembi Morumbi. Osternack afirma que, a partir dos 40 anos, já é esperada uma perda sutil da memória, mas medidas de prevenção podem mudar esse curso. Exercitando o intelecto Exercícios cognitivos e físicos, aprender coisas novas, alimentação saudável e controle do estresse são atitudes preventivas que, segundo a neuropsicóloga, deveriam ser tomadas durante toda a vida. Há cerca de um ano e meio, a arquiteta Cândida Tabet, 52, percebeu que, do mesmo modo que exercita o corpo, deveria exercitar o intelecto. "A ideia era prevenir. Quero ser dona de minha inteligência e, para isso, percebi que devia trabalhar a atenção e a memória." Desde então, Cândida inclui em seu dia a dia várias atividades, que vão de jogos de computador a curso de línguas, além de prestar mais atenção ao sono e levar a academia a sério. "O efeito é extraordinário. Fiquei muito mais atenta e rápida para memorizar e lembrar." Para o neurologista Martín Cammarota, um dos coordenadores do Centro de Memória da PUC-RS, os lapsos não ocorrem somente na maturidade, mas é nessa fase que costumam trazer mais consequências. "Isso está relacionado ao ritmo de vida agitado e ao número de coisas que uma pessoa dessa idade tem que fazer", afirma. "De modo geral, o esquecimento relativo a atividades rotineiras é resultado da falta de atenção, que está centrada em problemas considerados fundamentais." O psiquiatra Cássio Bottino, do Instituto de Psiquiatria do HC de São Paulo, avalia que até os 60 anos as pessoas conseguem manter o desempenho da memória bem próximo do que era quando jovens. "Realizamos o projeto Clínica da Memória, aberto para pessoas a partir dos 18 anos. O que vimos é que, abaixo dos 60, a maioria que tinha queixas sobre a memória não tinha alterações. O que havia era muita ansiedade em relação ao desempenho." Bottino acredita que, em geral, as dificuldades com memória antes dos 60 anos estão relacionadas a outras causas, como depressão ou transtornos de ansiedade, incluindo estresse. Na opinião do neurologista Cícero Galli Coimbra, da Universidade Federal de São Paulo, a perda é "plenamente evitável", desde que a pessoa mude sua reação ao estresse e mantenha o cérebro em atividade. Segundo ele, o estilo de vida atual favorece o surgimento de doenças neurodegenerativas. "O fator emocional é o mais importante. O estresse bloqueia a produção de novos neurônios e facilita a degeneração dos que a pessoa já possui", justifica. Nas palavras de Cammarota, "desarranjos de ordem psíquica se cruzam com outro de memória. Se brigou com o namorado, por exemplo, a pessoa pode estar deprimida e não prestar atenção a coisas de que lembraria normalmente". Ele também defende que, para a maioria das pessoas com menos de 65 anos, a perda de memória não está relacionada a uma doença degenerativa. "Se você não se lembra de quem é sua mãe, eu me preocuparia, mas esquecer a reunião é normal. Para isso, há as agendas." Bottino lembra que outras doenças, como hipotireoidismo, podem causar problemas de memória. No caso, é preciso tratar a doença de base. Problemas no sistema circulatório, além de elevarem o risco de acidente vascular cerebral, também aumentam o risco de danos cognitivos no futuro. A perda de memória associada ao envelhecimento do tecido nervoso ocorre a partir dos 65 anos. Com essa idade, 1% da população já apresenta demência e, a cada cinco anos, a porcentagem duplica, segundo Coimbra. Em todos os casos, e em qualquer idade, os especialistas afirmam que o envelhecimento cerebral pode ser retardado, que é possível recuperar perdas da reserva funcional do cérebro, formar novas conexões e ter um desempenho melhor. "Cuidar do corpo como um todo, praticar atividades físicas e intelectuais estimulantes são passos fundamentais para isso", diz Bottino. Desses conselhos, é bom não se esquecer.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

A Moça Tecelã - Por Marina Colasanti



Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da noite. E logo sentava-se ao tear.

Linha clara, para começar o dia. Delicado traço cor da luz, que ela ia passando entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o horizonte.

Depois lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo tapete que nunca acabava.

Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça colocava na lançadeira grossos fios cinzentos do algodão mais felpudo. Em breve, na penumbra trazida pelas nuvens, escolhia um fio de prata, que em pontos longos rebordava sobre o tecido. Leve, a chuva vinha cumprimentá-la à janela.

Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e espantavam os pássaros, bastava a moça tecer com seus belos fios dourados, para que o sol voltasse a acalmar a natureza.

Assim, jogando a lançadeira de um lado para outro e batendo os grandes pentes do tear para frente e para trás, a moça passava os seus dias.

Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo peixe, com cuidado de escamas. E eis que o peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se sede vinha, suave era a lã cor de leite que entremeava o tapete. E à noite, depois de lançar seu fio de escuridão, dormia tranqüila.

Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.

Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e pela primeira vez pensou em como seria bom ter um marido ao lado.

Não esperou o dia seguinte. Com capricho de quem tenta uma coisa nunca conhecida, começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam companhia. E aos poucos seu desejo foi aparecendo, chapéu emplumado, rosto barbado, corpo aprumado, sapato engraxado. Estava justamente acabando de entremear o último fio da ponto dos sapatos, quando bateram à porta.

Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu de pluma, e foi entrando em sua vida.

Aquela noite, deitada no ombro dele, a moça pensou nos lindos filhos que teceria para aumentar ainda mais a sua felicidade.

E feliz foi, durante algum tempo. Mas se o homem tinha pensado em filhos, logo os esqueceu. Porque tinha descoberto o poder do tear, em nada mais pensou a não ser nas coisas todas que ele poderia lhe dar.

— Uma casa melhor é necessária — disse para a mulher. E parecia justo, agora que eram dois. Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor de tijolo, fios verdes para os batentes, e pressa para a casa acontecer.

Mas pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente.

— Para que ter casa, se podemos ter palácio? — perguntou. Sem querer resposta imediatamente ordenou que fosse de pedra com arremates em prata.

Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e portas, e pátios e escadas, e salas e poços. A neve caía lá fora, e ela não tinha tempo para chamar o sol. A noite chegava, e ela não tinha tempo para arrematar o dia. Tecia e entristecia, enquanto sem parar batiam os pentes acompanhando o ritmo da lançadeira.

Afinal o palácio ficou pronto. E entre tantos cômodos, o marido escolheu para ela e seu tear o mais alto quarto da mais alta torre.
— É para que ninguém saiba do tapete — ele disse. E antes de trancar a porta à chave, advertiu: — Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos cavalos!

Sem descanso tecia a mulher os caprichos do marido, enchendo o palácio de luxos, os cofres de moedas, as salas de criados. Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.

E tecendo, ela própria trouxe o tempo em que sua tristeza lhe pareceu maior que o palácio com todos os seus tesouros. E pela primeira vez pensou em como seria bom estar sozinha de novo.

Só esperou anoitecer. Levantou-se enquanto o marido dormia sonhando com novas exigências. E descalça, para não fazer barulho, subiu a longa escada da torre, sentou-se ao tear.

Desta vez não precisou escolher linha nenhuma. Segurou a lançadeira ao contrário, e jogando-a veloz de um lado para o outro, começou a desfazer seu tecido. Desteceu os cavalos, as carruagens, as estrebarias, os jardins. Depois desteceu os criados e o palácio e todas as maravilhas que continha. E novamente se viu na sua casa pequena e sorriu para o jardim além da janela.

A noite acabava quando o marido estranhando a cama dura, acordou, e, espantado, olhou em volta. Não teve tempo de se levantar. Ela já desfazia o desenho escuro dos sapatos, e ele viu seus pés desaparecendo, sumindo as pernas. Rápido, o nada subiu-lhe pelo corpo, tomou o peito aprumado, o emplumado chapéu.

Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara. E foi passando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha do horizonte.


Marina Colasanti (1938) nasceu em Asmara, Etiópia, morou 11 anos na Itália e desde então vive no Brasil. Publicou vários livros de contos, crônicas, poemas e histórias infantis. Recebeu o Prêmio Jabuti com Eu sei, mas não devia e também por Rota de Colisão. Dentre outros escreveu E por falar em amor, Contos de amor rasgados, Aqui entre nós, Intimidade pública, Eu sozinha, Zooilógico, A morada do ser, A nova mulher (que vendeu mais de 100.000 exemplares), Mulher daqui pra frente, O leopardo é um animal delicado, Esse amor de todos nós, Gargantas abertas e os escritos para crianças Uma idéia toda azul e Doze reis e a moça do labirinto de vento. Colabora, também, em revistas femininas e constantemente é convidada para cursos e palestras em todo o Brasil. É casada com o escritor e poeta Affonso Romano de Sant'Anna.

Texto extraído do livro “Doze Reis e a Moça no Labirinto do Vento”, Global Editora , Rio de Janeiro, 2000, uma colaboração da amiga Janaina Pietroluongo, da longínqua Oxford.

sábado, 12 de outubro de 2013

Do livro: Vazio Luminoso de Francesca Fremantle.


Já que não existe nada sobre o que meditar, não meditar em nada mesmo,
Já que não existe nada para ser perturbado, fique estável em obsequiosidade,
Olhe de maneira desapegada para o estado de não-meditação e não-perturbação.
Auto-consciência, auto-conhecer, auto-iluminar, brilha claramente:

Essa própria alvorada é chamada mente desperta. Se alguém olhou fundo o suficiente para a natureza da mente e é capaz de tornar-se como a base daquele estado, então se torna possível usar todas as percepções dos sentidos e toda a experiência da vida, para aumentar sua própria realização. Sem jamais perder de vista o vazio básico da mente, o que quer que aconteça é reconhecido como a exibição de seu aspecto luminoso. Esse é o caso durante nosso estado de vigília diário, durante sonhos e também após a morte durante o bardo. Torna-se especificamente importante reconhecer quando as visões do bardo aparecem. Se nos tornarmos acostumados a reconhecer o que quer que surja como uma expressão da natureza luminosa e vazia de nossa mente, então não seremos levados por nenhuma aparência, por mais impressionante ou aterrorizante que ela possa ser. Consciência de todas as aparências como mente, sem apego, Está desperta, embora ver e visto surjam. Aparências não são equivocadas, o erro vem através do apego; Conhecendo o pensamento de apego como mente, ele é auto-liberado. O texto continua: Não existe nenhuma aparência que não seja conhecida como originada da mente. Qualquer aparência que surja é a própria mente, desobstruída. Embora ela surja, como a água e as ondas do oceano, Já que elas não são duas, isso é liberado na natureza da mente. Nossa essência intrínseca é um estado da maior simplicidade, embora durante o processo de se revelar tenhamos de trabalhar com a complexidade e a confusão de nossas mentes, como elas são [estão] no presente. Pode parecer que ensinamentos como esse na verdade encorajem a não meditar ou fazer qualquer tipo de prática. Entretanto, as vidas dos grandes mestres dzogchen mostram que eles passaram muitos anos em retiro e fizeram esforços tremendos, antes que atingissem o estado espontâneo da consciência natural. Em adição, suas biografias revelam que tiveram uma fé e uma devoção extraordinárias a seus gurus e grande respeito por todos os estágios do caminho. Podem existir algumas poucas pessoas que, como resultado de práticas de vidas anteriores, possam penetrar direto na essência em um curto período de tempo, mas a grande maioria de nós precisa passar por um período mais longo de preparação. Para se basear no estado de não-meditação e não-perturbação [não-distração], precisamos praticar a meditação convencional primeiro, senão apenas permanecemos sob a influencia da perturbação/distração, quer estejamos conscientes disso ou não. Como diz o texto: Todos os seres são na realidade a essência desperta, Mas sem praticarem de fato eles não irão despertar. Mesmo que não possamos perceber aquela essência no presente, simplesmente sabendo a respeito dela e tendo fé nela fazem uma enorme diferença. Esses maravilhosos ensinamentos são como o sol num dia nublado: podemos ter completa confiança que o sol está sempre por trás das nuvens. A visão dzogchen pode impregnar subitamente todo caminho, qualquer que seja a prática na qual estejamos engajados e em qualquer estágio que tenhamos atingido. O texto conclui com este último conselho: Ver sua própria consciência de forma nua e direta, Essa Auto-liberação através da visão nua é muito profunda, Então comece a conhecer isso por si mesmo, sua própria auto-consciência!

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Praticando a Plena Consciência antes de chegar no trabalho.


"Muitas pessoas correm na parte da manhã e não tem tempo para comer. Eles pegam algo para comer no caminho para o trabalho, e comem no carro, no trem, ou em sua mesa quando chegam ao trabalho. Mas o café da manhã não é apenas para fornecer nutrientes ao seu corpo, é uma chance para desfrutar de comer, para alimentar-se, e para a prática de cultivar a gratidão e a conscientização. Quando você separa um tempo em casa para preparar o seu café da manhã, este tempo torna-se um tempo de prática. Você pode fazer tudo o que faz normalmente, mas você inspira e expira com atenção plena ao fazê-lo, seguindo sua respiração, tornando-se consciente do ar se movendo para dentro e para fora do corpo. Quando você pratica assim em sua cozinha, sua cozinha se torna uma sala de meditação.

Quando você toma seu café da manhã, mesmo que seja apenas algo frugal no início da manhã, coma de tal forma que a liberdade seja possível. Você pode mastigar cada pedaço em plena consciência, com alegria e liberdade. Enquanto comer, não pense sobre o que você tem que fazer a seguir ou todas as coisas que tem que fazer naquele dia. Sua prática é apenas estar presente para o seu café da manhã. Ele está ali para você e você tem que estar presente para o seu café da manhã. Desta forma, você pode tocar profundamente o que está bem na sua frente. O que existe é a consciência de você mesmo e o fato de que você ainda está vivo. O que existe é o seu café da manhã, um presente da terra e do céu. O que existe também pode incluir seus amigos ou sua família, sentando e apreciando o café da manhã junto com você.

Quando eu pego um pedaço de pão, gosto de olhar para ele e sorrir. O pedaço de pão é um embaixador do cosmos, oferecendo alimentação e apoio. Olhando profundamente o pedaço de pão, eu vejo a luz do sol, as nuvens e a Mãe Terra. Sem a luz do sol, sem a água, sem o solo, o trigo não pode crescer. Sem as nuvens, não haveria chuva para as culturas do trigo.

Sem a Mãe Terra apoiando toda a vida, nada poderia crescer. É por isso que o pedaço de pão que eu tenho em minhas mãos é uma verdadeira maravilha da vida. E ele está ali para nós, por isso temos de estar presentes para ele também. Coma com gratidão. Quando você coloca um pedaço de pão em sua boca, mastigue somente o teu pão e não seus projetos, preocupações, medos ou raiva. Esta é a prática da atenção plena. Você mastiga conscientemente e sabe que está mastigando o pão, o alimento maravilhoso da vida. Isto lhe traz liberdade e alegria. Coma cada pedaço do seu café da manhã assim, não permitindo se distrair da experiência de comer.

Em Plum Village, centro de meditação e prática no sudoeste da França, onde moro, temos um momento antes de comer para contemplar nossa comida. Mesmo se só possuímos um tempo muito curto para comer, ter um período de tempo para primeiramente contemplar o nosso alimento torna o momento em que o comemos muito mais agradável. Aqui estão as Cinco Contemplações que usamos, caso de você queira mantê-las sobre sua mesa e usá-las também.

As Cinco Contemplações

1. Este alimento é presente de todo Universo, ele veio da terra, do céu, de numerosos seres vivos e de muito trabalho árduo.

2.Que possamos comê-lo em plena consciência e com gratidão a fim de sermos dignos de recebê-lo.

3.Que possamos reconhecer e transformar nossas formações mentais não saudáveis, principalmente nossa ganância, e aprendermos a comer com moderação.

4.Que possamos manter nossa compaixão viva através de uma alimentação que alivie o sofrimento dos seres vivos, preserve nosso planeta e reverta o processo de aquecimento global.

5. Aceitamos este alimento para que possamos nutrir e fortalecer nossa Sangha e cultivar nosso ideal de servir a todos os seres.

Quando você vai para o trabalho na parte da manhã, tem uma oportunidade maravilhosa de tomar conhecimento de todo o mundo ao seu redor. Você abre a porta e sai para o ar fresco. Aqui está a sua chance de estar em contato com a terra, o ar e o céu. Seu primeiro passo para fora da porta já pode ser um passo em liberdade. Você não tem que ir para uma sala de meditação e abrir a porta para estar no mundo da meditação. Cada passo na Terra pode nos trazer muita felicidade, paz e liberdade.

O mesmo é verdadeiro para a respiração. Se soubermos como respirar conscientemente, cientes de nossa inspiração e expiração, cada respiração nos trará felicidade. As pessoas que têm asma ou que têm dificuldade de respiração entendem o dom precioso que é ser capaz de respirar com facilidade. Se você pode respirar suavemente, então saboreie cada respiração. Não perca um momento. Cada respiração traz felicidade, cada passo traz liberdade. Quando andamos e respiramos assim, não nos sentimos presos em nossa rotina diária ou indo para o trabalho. Em vez disso, nos sentimos livres e somos gratos por nossas vidas.

Nos Contos de Jataka, uma das primeiras coleções de literatura budista, podemos ler sobre as vidas passadas do Buda. Nessas histórias, o Buda aparece em diferentes manifestações, por vezes, como um cervo, um macaco, uma pedra ou mesmo uma mangueira. Em cada uma dessas manifestações, seja animal, vegetal ou mineral, podemos ver um Bodhisattva, um ser de grande compaixão. Quando vamos para a nossa porta da frente e damos os primeiros passos na terra, mesmo que ela esteja coberta de concreto ainda podemos ver e sentir a natureza em torno de nós, e podemos reconhecer que a natureza também é um bodhisattva. Quando olhamos profundamente para uma árvore, podemos ver que a árvore nos oferece sua beleza e que nutre e sustenta a vida. Suas folhas ajudam a limpar o ar que respiramos e fornecem um lugar seguro de refúgio para muitas aves.

Há bodhisattvas ao nosso redor e todo o nosso planeta Terra é um Bodhisattva. Ele nos  conduz muito solidamente. É muito paciente e não discrimina. Não importa o que joguemos na terra, ela abraça e aceita sem discriminação. Se jogamos flores perfumadas ou óleo perfumado sobre a terra, ou se jogamos urina, excremento ou outras substâncias impuras, a Terra pode absorver e transformar todas essas coisas. Ela tem uma grande capacidade de ser paciente e suportar. Oferece o que nos alimenta e suporta toda a vida. Dá-nos água, nos dá o ar para respirar e comida para comer. É um verdadeiro bodhisattva. Toda vez que sairmos pela porta, mesmo se estivermos apenas no caminho para o nosso carro a fim de irmos ao trabalho, podemos gastar um tempo para perceber que o grande Bodhisattva Terra está ao nosso redor, nos nutrindo e nos sustentando.

Talvez você consiga passar o início do dia de uma maneira agradável, descontraída e consciente, mas assim que você começa o seu trabalho, esquece tudo! Isso pode acontecer facilmente dirigindo-se para o trabalho no tráfego na hora do rush. Mas se você estiver em um trem ou um ônibus, terá uma oportunidade maravilhosa de apenas senta-se e estar ciente de sua inspiração e sua expiração. Você pode até mesmo fechar os olhos ou mantê-los baixos se isso te ajudar a se concentrar em sua respiração.

Se você for dirigindo para o trabalho, separe um momento ao entrar no carro, antes de colocar a chave na ignição, para lembrar a sua intenção de ser calmo, relaxado e atento ao dirigir, e não estressado ou com pressa.

Antes de ligar o carro,
Eu sei para onde estou indo.
O carro e eu somos um.
Se o carro vai rápido, eu vou rápido.

Esta consciência pode ajudá-lo a desfrutar de toda a viagem. Use cada sinal vermelho ou sinal de pare como uma oportunidade para respirar conscientemente e voltar ao momento presente. Pode ser comum pensar na luz vermelha do sinal como sua inimiga, impedindo-o de atingir seu objetivo de chegar ao trabalho na hora certa. Mas, na verdade, a luz vermelha é sua amiga, ajudando você a resistir ao impulso de correr e chamando-o de volta para o aqui e agora.

Na próxima vez que você estiver preso no trânsito, seja na estrada ou no meio da cidade, não lute. Apenas aceite. É inútil lutar. Sente-se e sorria para si mesmo. Saiba que você está vivo e que o momento presente é o único momento da vida disponível para você. Não o desperdice. Saiba que este momento tem o potencial para ser uma maravilha.

Quando você dirige para o trabalho, desta forma, sem pensar em seu destino ou no que vai fazer quando chegar, pode desfrutar de cada momento na direção. Antes de começar o meu trabalho diário de ensinar, eu não me preocupo com que perguntas as pessoas podem me fazer ou como eu poderia respondê-las. Em vez disso, do meu quarto para o lugar onde eu ensino, eu desfruto de cada passo e cada respiração totalmente, e vivo cada momento da minha caminhada profundamente. Quando chego, me sinto refrescado e pronto para oferecer respostas a todas as perguntas que são feitas.

Se você chegar no trabalho tendo praticado plena consciência enquanto se prepara em casa, e também no seu caminho para o trabalho, você vai chegar lá de uma forma muito diferente, mais feliz e mais relaxado. Você então poderá pensar de forma diferente sobre o seu trabalho e colegas de trabalho, e poderá encontrar fontes inesperadas de satisfação e alegria."

(Do livro ”Work” de Thich Nhat Hanh)
(Tradução para o português: Leonardo Dobbin)
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segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Malas: How to use Tibetan Prayer Beads

Um Altar em Casa - Kyabje Bokar Rinpoche


Para atingirmos a iluminação verdadeira, totalmente pura, perfeita e onisciente, é necessário unir as duas acumulações: de mérito e de sabedoria. Sem esta dupla acumulação, a iluminação não é possível. A acumulação de mérito é de tal importância que, sem ela a acumulação de sabedoria não poderia existir. Existe uma relação interativa entre o mérito e a sabedoria. A acumulação de mérito situa-se no campo conceitual, sendo também chamada de “meios”. A acumulação de sabedoria é não conceitual, ela também é designada por “conhecimento”. Se nós falarmos de “meios-conhecimento” ou de “mérito-sabedoria”, o sentido é o mesmo. Entre cada um destes termos existe uma colocação. Diz-se: “sem se apoiar no relativo, impossível de atingir a iluminação; sem se apoiar na iluminação, impossível de atingir a liberação.” Para atingir a iluminação, é necessário então unir as duas acumulações. Para nós que somos principiantes, é na acumulação de méritos que devemos nos dedicar mais, pois ela nos permite progredir rapidamente.
No contexto das oferendas que nós apresentamos no altar, a acumulação de mérito faz referência a três pontos:
1- O objetivo de acumulação: são os Budas e os Bodisatvas, o campo de mérito superior das qualidades inimagináveis. Primeiro é necessário ter fé e devoção para com eles.
2- A intenção perfeitamente pura: devemos pensar que estamos fazendo essas oferendas com o objetivo que nós mesmos e todos os seres possamos fazer as duas acumulações e atingir a Iluminação.
três- A matéria perfeitamente pura: são as oferendas materiais e as oferendas produzidas pela imaginação. As oferendas materiais são constituídas pela série tradicionalmente chamada “as sete oferendas”, mesmo que sejam oito, as duas primeiras reunidas para contarmos como uma. Estas oferendas são: a água para beber, a água pura ou para lavar, as flores, o incenso, a luz (a lamparina), a água perfumada, a comida e a música. Cada uma correspondente a uma parte da realização da essência da natureza da mente.
* A água para beber: ela possui 8 qualidades ( frescura, sabor, limpidez, ...) Quando a oferecemos, pensamos que com ela oferecemos todos os rios, os mares e todas as águas puras do universo. É a oferenda representada à boca dos Budas. Ela terá como resultado diminuir a sede produzida pelo calor das paixões.
* A água pura ou água para lavar é oferecida aos corpos dos Budas e Bodisatvas. Oferecê-la lavará nossa mente das negatividades e dos véus que a deturpam.
* As flores: aos olhos dos Budas e Bodisatvas nós oferecemos as flores colocadas no altar, assim como todas as flores do mundo. Por esta oferenda, se abrirá em nossa mente o lótus da felicidade.
*O incenso: nós oferecemos o incenso do altar, assim como todos os perfumes, naturais ou preparados, que perfumam o universo. Com esta oferenda, nós realizaremos a não realidade de todos os fenômenos, similares a um sonho ou a uma criação mágica.
*A luz: além da lamparina a óleo ou da vela acesa no altar, nós oferecemos o sol, a lua, as estrelas, todas as luzes naturais ou artificiais que iluminam o mundo. Com isso nós realizaremos o ser da clara luz.
*A água perfumada: oferecida ao corpo de Buda como todas as essências e todos os perfumes do mundo, ela conduz à realização da vacuidade última de todos os fenômenos, unido à compaixão para com todos os seres que sofrem por não possuírem esse conhecimento.
*A comida: estão colocados no altar, todos os alimentos saborosos e nutritivos. Daqui nascerá a realização da força das sabedorias e das qualidades da Iluminação.
*A música: pelos objetos que a representam são oferecidas todas as músicas e todas as harmonias do universo. Esta oferenda atingirá por conseqüência a realização do som próprio da realidade última e a alegria das qualidades da palavra da Iluminação.
Nós fazemos estas oferendas com alegria, fé e minúcia. “O estado de espírito” já desenvolverá um fruto rápido e poderoso. Estas oferendas não são limitadas. Podemos também oferecer riquezas e bens materiais, o que nos ajudará a nos purificar. Por outro lado, o esforço físico que temos nas oferendas (encher os potes, esvaziá-los, limpá-los) contribui para a purificação dos atos negativos executados pelo corpo. Atingir a Iluminação é obter os dois corpos de Buda: o corpo absoluto e o corpo formal (que se apresenta sob dois aspectos: corpo de glória e corpo de emanação). A acumulação de mérito nos leva a conseguir o corpo formal. A acumulação de sabedoria, isto é, a meditação sobre a não realidade dos fenômenos, sobre a natureza da mente e sobre a vacuidade, nos leva a conseguir o corpo absoluto. Assim se diz:
“Por esta virtude possam todos os seres unir o mérito e a sabedoria, e obter os dois corpos santos que resultam do mérito e da sabedoria”. Se não efetuarmos as duas acumulações, não obteremos os dois corpos e não obter os dois corpos, quer dizer não obter a iluminação.
Tilopa dizia a Naropa:
“Enquanto a realidade não nascida não é atingida, a qual é ligada a aparência dos fenômenos,
das duas acumulações, similares a duas rodas de uma carroça, Naropa, não te separe jamais”.
Comentário de Bokar Tulku Rinpoche:
Um pequeno altar em casa, para que? Para falar a verdade, os Budas, Bodisatvas, os seres liberados e todas as expressões da Iluminação não precisam de nossas oferendas. Eles derramam suas bênçãos permanentemente. Mas o vaso ou o pote que nós somos está quase sempre virado para baixo: a benção cai no fundo e escorrega pelos lados, nada penetra. Se os Budas não precisam de nossos sentimentos para nos abrir as portas de sua compaixão, nós precisamos, dirigir a eles nossos pensamentos para receber a luz. A oferenda é um meio precioso para fazer funcionar esse movimento para com os Budas. Tantas coisas, pequenas e grandes, preenchem nosso cotidiano e nossa mente, que para pensar nos Budas e no Mestre, nos resta muito pouco tempo. Assim, se ocupar regularmente, com amor e carinho, de um pequeno altar, já é uma certeza de pensar pelo menos por alguns instantes neles todo dia. E ainda, a cada vez que nós vemos o altar nos lembramos de sua presença. Nossa casa se torna um pouco a casa deles. Mas por que, nós podemos perguntar, todos esses objetos, essas manipulações, essa limpeza exterior? Não é o espírito que conta? Sim é o espírito. Mas em nossa casa, os objetos nos lembram uma viagem, as fotos nos lembram uma determinada pessoa. A disposição dos móveis e das coisas cria o ambiente que tanto gostamos. Porque nosso espírito não se basta com a lembrança da criança amada? Porque nosso espírito precisa de uma mesa de mogno, de papel de parede pintado de flores e de cortina de veludo para se sentir à vontade? Temos que admitir, os objetos ocupam na nossa vida, isto é, em nosso espírito, um lugar importante. Nós temos tanto zelo ao escolhê-los! Então por que não deixá-los nos falar um pouco sobre o sagrado! Quando nós renunciamos a todos os objetos deste mundo, como Milarepa, pode ser que também não precisaremos mais destes objetos sagrados. Enquanto isto, a escolha do que nos envolve tem grande influência em nossa mente. “Objetos inanimados, vocês têm então uma alma?” Fazer oferendas, por mais simples que elas sejam, no altar, representa em primeiro lugar a nossa consideração às diversas expressões da Iluminação. Quando presenteamos um amigo, o objeto vale menos do que ele representa: nossa amizade e nossa estima. Nós também não sentimos necessidade de dar uma forma material ao nosso sentimento. A oferenda, também tem seu significado muito mais baseada na atitude interna de nosso gesto: fé, confiança, devoção, respeito, humildade do que no próprio objeto. O exemplo de Gueshe Ben ficou famoso no Tibet. Gueshe Ben era um monge em retiro, seguidor de um generoso mestre. De bom coração e boa mente, ele, porém não era aplicado. Ele tinha descuidado tanto de seu altar, que de oferendas só tinham o nome. Cobertas de manchas e de poeira, totalmente indignas da glória dos Budas para quem eram destinados. Eis que um dia seu mestre lhe anuncia sua visita. Logo aparecem na mente de Gueshe Ben: impossível receber seu benfeitor nesta desordem, que visto por este prisma lhe dava vergonha. Assim, ele pôs-se a limpar o altar, tirou o pó, esfregou as manchas deixadas pela manteiga das lamparinas e poliu. Tudo ficou brilhando. Como o mestre iria ficar contente! Feliz com certeza o mestre ficaria, mas o fato é que esta sua atitude era uma hipocrisia. Sem hesitar, ele pegou o barro, encheu as mãos e começou a jogar no altar que ele havia limpado com tanto vigor. E assim foi dito que a oferenda feita dessa maneira foi a mais bela oferenda que ele podia apresentar. A oferenda permite desenvolver as virtudes espirituais, pois ela participa das duas acumulações:
Acumulação de mérito: todo ato “positivo” produz mérito, isto é um potencial kármico carregado de felicidade e se nossos anseios vão nesse sentido, orienta nossa mente para a liberação. Nós precisamos desse mérito. Costuma-se dizer que o acumulo é tão importante quanto o objeto ou a pessoa a quem se dirige o ato positivo é sagrado.
Acumulação de conhecimento primordial: o conhecimento primordial é a descoberta que o ser faz sobre sua própria natureza, além de toda dualidade. A oferenda contribui no desenvolvimento deste conhecimento a medida que nos aprofundamos na compreensão que, do ponto de vista superior, quem oferece, o objeto oferecido e a quem oferecemos são na essência um só. Vivendo, no momento, na ignorância e na dualidade, nós enxergamos o Buda como externo e ele nos aparece como tal. Quando nós deixamos de ser alienados, nos tornando o que somos realmente, então nós seremos o Buda ”Iluminado“ e os conceitos de externo e interno, de um ou múltiplo, de eu e outro se apagarão.
Material necessário:
Nós temos no presente livreto o método para montar um pequeno altar, bem simples, assim como algumas dicas e receitas, as quais o leitor nos desculpará a simplicidade. O autor dessas linhas, não sendo muito jeitoso, procurou facilitar o trabalho de seus irmãos desajeitados. 
Resumindo, o que é necessário?
Um suporte
Uma estátua ou foto
Sete potes
Uma lamparina a óleo
Pavio de lamparina
Água
Arroz
Flores
Incenso
Uma fruta ou biscoitos
Um pequeno instrumento musical ou concha
Óleo
Nada muito difícil de achar. O principio é simples: a estátua (ou a foto) representa de maneira visível a Iluminação, a transcendência, diante de quem são apresentadas as oferendas, manifestação de nossa devoção.
O suporte: uma prateleira, a parte de cima de uma cômoda, o apoio de uma lareira servem muito bem. A orientação do altar não importa muito. Por definição, ele está sempre a Leste: não o leste geográfico, mas o leste interno. Se diz: “Onde se vê o yogui? Onde é o leste.” A educação budista pede que tudo que respeitamos se coloque no alto. Assim não colocamos o altar perto do chão, mas na altura da cintura ou mais acima. A mesma educação considera uma ofensa esticar as pernas em direção a um Lama ou a uma representação sagrada. Dessa maneira, não podemos colocar o altar ao pé da cama. Se for necessário, nós podemos cobrir o altar com um belo tecido (cor de vinho, amarelo, branco,...) e se quisermos podemos colocar acima um vidro feito sob medida. É mais fácil de limpar: basta limpar com um pano úmido. A estátua ou uma foto: o espírito de um ser Iluminado tem em comum com o espaço, ser onipresente e infinito. Nada impede que nós gostemos de encontrá-lo num corpo igual ao nosso, e que, sem esse encontro a comunicação seria bem difícil. Assim, sabendo que nossas oferendas são dirigidas à Iluminação onipresente e infinita, nós a tornamos mais acessível por uma representação simplesmente presente e finita. Nós colocamos no altar, eventualmente, um pouco acima do suporte principal, uma estátua ou uma foto, normalmente de Buda, mas também pode ser de Tchenrezi, de Tara, de Mandjurshri, de outro Yiedam ou de um mestre espiritual do passado ou do presente. Nós podemos, é claro, colocar vários: as manifestações da Iluminação são infinitas. Neste caso a estátua de Buda ocupa o lugar central e mais alto. A estátua pode ser pintada: o rosto e o pescoço de cor de ouro, os cabelos azul escuro e não preto . Pode também estar vestida de um quadrado de brocado amarelo. A foto pode ser envolvida de uma kata (echarpe de seda branca). Em todo caso, é muito importante que elas sejam “vivas” e para isso, abençoadas. Mais do que uma simples representação, elas se tornam a partir daí, a presença mesmo do que elas representam. A estátua ganha vida estando “recheada”: nós colocamos dentro mantras escritos e, se conseguirmos, relíquias, substâncias sagradas e materiais preciosos (ela tem que ser então oca). O melhor seria pedir a um Lama executar esse processo. Não esqueça de acrescentar ao seu pedido uma oferenda, como pede o costume. Quanto a uma foto, seja ela uma representação de uma tangka ou uma foto de um mestre, ela é abençoada por uma inscrição no verso, uma abaixo da outra as três sílabas OM, AH, HUNG, (respectivamente situadas na testa, na garganta e no coração) em tibetano, que traduzidas representam o Corpo, a Fala e a Mente de Buda. Nós podemos fazer nós mesmos ou pedir a um Lama.

Origem das oferendas
Aí está então colocada a representação viva daquele ou daqueles a quem dirigimos nossas oferendas. Nós vamos colocar na frente dela as oito oferendas tradicionais. Da esquerda para a direita: a água para beber, a água pura, as flores, o incenso, a luz, a água perfumada, a comida, a música. Assim são sete potes e uma lamparina. Há muito tempo atrás, Na Índia, quando um convidado muito importante era recebido no palácio de um rajah, para aliviá-lo do calor da viagem lhe ofereciam primeiro algo para beber, para tirar a poeira da estrada lavava-se seus pés em segundo; depois para descansar e também para demonstrar a estima que se tinha por ele, lhe eram apresentados as flores, o incenso, as luzes, os perfumes. Enfim lhe ofereciam uma refeição ao mesmo tempo em que os músicos o divertiam com suas harmonias. Que hóspede de maior dignidade e gloriosa majestade podemos receber se não a manifestação para nós visível da Iluminação infinita? Também nós lhe apresentamos, com o maior respeito, estas mesmas humildes oferendas.

A escolha dos potes
É necessário uma série de sete potes idênticos, de tamanho adequado ao altar, geralmente, pequenos. Mas o material será valioso, bonito e nobre, mais a nossa oferenda será valiosa, bonita e nobre. No Tibet, os potes eram por tradição de prata ou cobre e do mesmo formato. Hoje nós encontramos na Índia esses mesmos potes e, de vez em quando, em alguns centros de Dharma na Europa. A prata é sem dúvida o melhor material, em razão do seu valor. Esse grande valor é, porém um fator que encarece e às vezes fica inviável. Mas se vocês têm meios de adquirir não hesite. Os potes de cobre têm a vantagem de serem confeccionados da maneira tradicional e bem esfregados brilham muito. Mas eles emboloram rapidamente e exigem muito cuidado. Nos resta o que podemos encontrar mais facilmente. Cristal, vidro, porcelana ou mesmo metal prateado, é possível encontrar coisas muito bonitas. A regra básica: que seja belo, digno e limpo. Vamos examinar agora as oito oferendas uma a uma:

Primeiro e segundo potes - Água para beber e água pura
Na prática, mesmo que o objetivo seja diferente, a mesma água serve para encher os dois primeiros potes: uma água clara, limpa e potável. Nós podemos tornar a oferenda mais preciosa preparando água com açafrão.

Receita de água com açafrão:
Colocar uma pitada de açafrão, de preferência em pedacinhos, e deixar ferver em 1 litro de água. Deve-se colocar açafrão suficiente para obter uma bonita coloração amarelo-alaranjado. O açafrão em pedaços é mais aconselhável do que em pó para obter um resultado melhor, porém é difícil de encontrar e muito caro. Preparar a água com açafrão todas as manhãs seria o ideal. O melhor é preparar o suficiente para encher uma garrafa e utilizar um pouco todos os dias. Nós veremos, mais tarde, como encher os potes cada manhã e esvaziá-los a cada noite.

Terceiro pote: As flores
Quando um pote não está destinado a conter água nós enchemos de arroz sobre o qual colocamos o objeto oferecido, nesse caso a flor. O melhor é usar arroz branco redondo de preferência. Podemos, como para a água enriquecê-lo com açafrão.

Receita de arroz com açafrão:
Ingredientes: 1 kg de arroz cru e açafrão
Preparar, primeiro, 100 ou 200 ml. de água com açafrão bem concentrada. Utilizaremos a água quente ou fria, isso não tem importância. Lavar bem o arroz e depois deixar secar espalhando numa bandeja. Uma vez seco, colocar numa tigela, jogar aos poucos a água com açafrão, sem encharcar, sovar o arroz até que ele pegue uma cor amarelada. O pote será primeiro preenchido de arroz, depois coloca-se uma ou duas flores, naturais ou de seda. Pode-se também colocar sobre o arroz um pequeno vaso com flores. Além desse vaso, podemos enfeitar o altar com um bouquet ou um vaso bem florido.

Quarto pote: O incenso
O quarto pote recebe o incenso basicamente são colocadas algumas hastes de incenso no arroz. Incenso tibetano, indiano, japonês, ou qualquer um do nosso gosto. Atenção: este incenso colocado no arroz não pode ser queimado. O incenso a ser queimado é colocado num outro recipiente, como, por exemplo, um pote comum, cheio de arroz ou de areia, posicionado no chão em frente ao altar. Ascenda o incenso que preferir. Uma haste de incenso que se quebra ou que cai deixa um rastro forte no chão. É melhor colocar um prato largo o suficiente em baixo do pote que tem o incenso a ser queimado.

A luz
As lamparinas tibetanas à base de manteiga, na maioria das vezes, são de prata ou cobre. Por ser difícil de encontrar, podemos substituí-las por um recipiente de vidro ou cerâmica. O vidro tem a vantagem de deixar a chama visível mesmo quando o nível do óleo diminui. Aliás, é mais prático encher o recipiente de óleo de que de manteiga. Um óleo de boa qualidade se torna uma oferenda mais bela e generosa do que se colocado um óleo de qualidade inferior. É aconselhável colocar um pires embaixo do recipiente caso espirre ou transborde o óleo. Para uma chama ideal, o melhor é encontrar um "pavio" especial geralmente encontrado em lojas de artigos religiosos. É também aconselhável colocar água no fundo do recipiente. Assim o "pavio" não queimará e também evitaremos que o recipiente esquente demais quando o "pavio" chegar perto do fundo. Dessa maneira uma lamparina a óleo pode ficar acesa dia e noite sem perigo. Podemos eventualmente substituir a lamparina por uma vela, ou por uma "vela elétrica" ou também por uma lâmpada de potência fraca. A desvantagem das velas é que não duram muito e pode ser perigoso deixar queimando na nossa ausência. A tradição pede que não se assopre nunca uma vela, pois seria apagar a chama de sua própria vida. Apagamos então a vela com um gesto dos dedos, ou chacoalhando ou ainda com a ajuda de um objeto específico (uma colher pequena, por exemplo).

Quinto pote - A água perfumada
É a mesma água que os dois primeiros potes. Podemos acrescentar algumas gotas de perfume: água de rosas, lavanda, etc. Alguns perfumes reagem na água e outros podem prejudicar os metais, portanto é melhor ter cuidado.

Sexto pote - A comida.
O pote está cheio de arroz, sobre o qual colocamos uma bela fruta, um biscoito, etc. O ideal é trocar a oferenda antes que se estrague. Podemos também colocar nesse pote uma pequena forma de farinha, chamada chelzé, representando a oferenda da comida.

Sétimo pote - A música
Colocamos sobre o arroz que preenche o pote o símbolo de um instrumento musical, o mais freqüente uma concha ou um pequeno sino.

Os sete potes devem estar precisamente alinhados e separados um do outro por um espaço do tamanho de um grão de arroz; costuma-se dizer que o espaço muito grande entre os potes representa um distanciamento do mestre. A luz é colocada seja na frente da estátua (atrás dos potes), seja entre o 4º e o 5º pote.

Método para as oferendas quotidianas:
Os potes contendo água são cheios a cada manhã e são esvaziados a cada noite. Os que contêm arroz permanecem continuamente. Podemos renová-los a cada lua cheia. O arroz pode ser dado aos pássaros, aos peixes ou outro animal.
Manhã:
Os três potes de água estão vazios e virados para baixo. Para enchê-los nos servimos de um recipiente especialmente para isso e enchemos os potes da esquerda para a direita. Vire o primeiro pote e coloque a água equivalente à 1/3 da quantidade total. Depois vire o 2º pote e segurando o 1º jogue um pouco da sua água no 2º pote. Fazer o mesmo para o terceiro pote, dessa vez, jogando a água que está no 2º pote. Fazer isso de maneira que cubra o fundo dos potes. Depois é só encher os potes de água quase até a boca. Após tudo isso se deve abençoar as oferendas. Nós podemos fazê-lo seguindo diversos métodos, os quais veremos aqui os mais simples. Para fazer a bênção, nós podemos pegar um pouco da água do pote de água perfumada (5º pote), seja mergulhando uma haste de incenso, seja umedecendo o anular direito, espirramos nas oferendas. Ao mesmo tempo, recitamos três vezes o mantra OM AH HUNG (representando o Corpo, a Fala e a Mente dos Budas). Um método mais elaborado consiste em dizer três vezes o mantra RAM YAM KAM OM AH H.UNG. Neste caso as três primeiras sílabas purificam e as três seguintes abençoam. RAM representa o fogo que queima as impurezas, YAM o vento que as varre e KAM a água que lava. Após a benção, em sinal de homenagem, fazemos três prostrações em frente ao altar.
Noite

Esvaziamos os potes de água da direita para a esquerda, depois os enxugamos e os viramos para baixo até a manhã seguinte. Nós jogamos essa água num lugar limpo: na natureza, num pote de flor ou se não tiver opção na pia. Existe um método de oferendas simplificado, que consiste em encher sete potes somente de água. Nesse caso enchemos os sete potes cada manhã e esvaziamos a cada noite.